Intervenção Divina escrita por Mayy Chan


Capítulo 1
One Shot


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que antes era um conjunto de histórias, mas eu achei mais legal mudar para um monte de one-shots



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Eu sabia que aquela não era uma boa ideia. Por mais que eu amasse implicar sempre com a garota de cabelos castanhos e olhos verdes, eu sabia que deixar Katherine Marie Gardner nervosa nunca era uma boa ideia. Me lembro ainda do dia em que eu coloquei chocolate em cima do telhado do seu chalé. Vamos dizer que eu nunca vou mais ter a mesma relação com anémonas.

Andava vagamente, em direção ao chalé 4, ou como gostava de chamar: Casa do Sete Anões. Eu sei que é estranho, mas essa manhã eu acordara com um bilhete escrito " Faça uma pegadinha com ela". Eu poderia até achar que havia sido escrito por um dos meus irmãos, mas, acredite, nenhum de nós usamos caneta com tinta dourada e muito menos algum de nós de uma letra, no mínimo, legível.

Não sabia o porquê de a primeira pessoa que eu tenha pensado foi Katie e pior ainda: Por que eu tinha que fazer uma pegadinha com ela? Eu achei que fosse uma letra de algum deus, pois no bilhete tinha a marca do meu pai escrito em letras brilhantes como o Sol e quase tão grandes quanto o envelope. Vamos dizer que meu pai não gostava muito de ser discreto.

O fato de eu estar de frente ao chalé da deusa da agricultura, mais conhecida como Senhora Chata, não me tranquilizava nem um pouco. Naquela manhã eu mal comera cereal e a primeira coisa que eu vou fazer é uma pegadinha com o local sagrado de todos os filhos dela. Já acostumado, eu pulei a janela com uma enorme facilidade.

Estranho. O chalé está completamente vazio, como se chamasse os filhos de Hermes para uma boa pegadinha, ou um roubo de artefatos. De fato estava tudo muito fácil, rápido e prático. Receoso, entro no chalé com o medo do que me espera. Vai que Deméter que me mandara aquele bilhete?! Vai que os filhos dela estavam prontos para a vingança sobre o chocolate no telhado? Sinto medo do fácil e isso me faz sentir um completo idiota.

Vou em direção a cama de Katie. Vazia e arrumada. Bem que eu queria estar dormindo, mas não queria que nenhum dos integrantes do Olimpo tentassem me sacrificar na fogueira. Eu me abaixo e procuro por alguma coisa útil de baixo da cama. Por mais que uma caixa azul bem clarinho com um laço vermelho não me parecesse útil, alguma coisa prendia minha atenção nela. Eu a abri como se fosse alguma coisa de extremo valor, pois se Katie descobrisse que eu havia mexido em suas coisas, eu era um homem morto.

Eu abri lentamente, como se fosse uma coisa extremamente frágil. O que eu vi definitivamente me surpreendeu. A caixa estava repleta de fotos de todos os tipos: antigas e recentes, grandes e pequenas, preto e banco e coloridas. As fotos tinham desde Percy e Annabeth até Ártemis e o que eu achava ser Hefesto. Dentro dela também havia duas cartas. Quando li o conteúdo, eu não sabia se ficava feliz por ela ou triste. "Minha filha, devo te informar que nós vamos ter que nos mudar para Londres. Arrume suas coisas. Nós partimos em duas semanas. Beijos, John Gardner" e outra que falava "Muito obrigada por me avisar papai. Estarei pronta."

Vamos dizer que por mais que a minha relação com a filha de Deméter não seja muito boa, alguma coisa me fazia não querer que ela fosse embora. Filhas de Afrodite que não venham me encher o saco, mas eu sentia uma pontada de culpa e isso me fazia ficar triste. Katie já havia me dito que sairia do acampamento se eu não parasse de fazer pegadinhas porque ela não aguentava mais acordar já desconfiada de tudo. Sei que peguei um pouco pesado com a morena, mas nunca levei suas ameaças à sério. Será que ela cansou dessa vida cheia de desconfianças das minhas pegadinhas, ou estava apenas sendo obrigada pelo pai?

Ouço um barulho da porta se abrindo junto com uma risadinha feminina e baixa, como se uma menina se relembrasse de uma piada já contada ou aquela risadinha de garotinha estupidamente apaixonada.

— O que você está fazendo aqui Stoll?! Por que está mexendo nas minhas coisas?!

Katie mal chega e já vai tirando tudo das minhas mãos. Eu olho para ela. Toda suja de terra e cabelos bagunçado, exatamente assim que se encontrava a filha de Deméter. Ela me olhava da mesma forma em que minha mãe faz quando está nervosa comigo.

— Oras! Eu estava vendo se eu havia deixado meu lápis cair dentro da sua caixa de fotos! — digo com um sorriso sarcástico. Eu realmente não tenho noção do perigo.

— Mesmo sabendo que você falou sarcasticamente, eu faço a seguinte observação: primeiramente, não teria motivos para você sair andando por aí com um lápis na mão e ele cair "acidentalmente" em um chalé com portas fechadas e vigas nas janelas. E segundo: caixas não se abrem sozinha Stoll. Por favor, se for mentir, arrume pelo menos uma frase sarcástica com o possível de sentido que cabe dentro dessa sua cabecinha vazia.

— Elementar, minha cara Katie. Eu realmente não vim aqui para pegar um lápis idiota. Primeiro fato a se realçar: sou filho de Hermes, eu não pego o que é meu, eu roubo o que é dos outros. Segundo fato: eu não usaria meu precioso tempo para ficar dentro da Casa dos Sete Anões.

— Como se o chalé de Hermes não fosse o mais mal arrumado de todo o acampamento! Mesmo com suas desculpas esfarrapadas, eu tenho que te perguntar: quais são suas intenções impuras de se fazer nesse chalé?

— Eu vim aqui para poder falar com a vossa majestade, Katherine Marie Gardner.

— Como você sabe meu nome completo? Pelo que eu sei, apenas minha mãe o conhece. — cada dia essa morena fica mais esperta!

— Vejo que tem ficado mais espertinha, morena.

— Vejo que tem ficado mais irritante, prodígio de Hermes.

Prodígio de Hermes. Quão sabia aquela menina podia ser, se não usasse o sarcasmo em suas frases. Prodígio de Hermes, eu me atrevo a dizer que isso não passa da mais linda e pura verdade. Vamos combinar que agora eu estou largando o meu lado "prodígio" escondendo que eu sei que ela vai embora. Eu sei que isso não é a única coisa que escondo, mas prefiro que mal minha mente saiba disso. Eu me livro dos meus pensamentos e respondo a garota de olhos verdes:

— Eu apenas estou descobrindo um pouco mais sobre você. Agora eu já tenho uma noção maior do que te irrita, então fica bem mais fácil de te tirar do sério.

— Travis, será que é difícil você só me contar que viu minhas fotos? Eu estava te olhando pela porta. Acredite, se eu deixei a janela escancarada, eu tinha um plano. E falo certo "tinha". Quando você leu a carta, eu acabei tendo que apelar para o famoso plano "D".

Talvez tentar fugir do assunto com a menina que se encontra na minha frente, seja bem mais difícil do que fazer uma pegadinha com um dos "Três Grandes". Pelo menos Poseidon é lerdo, Zeus só se preocupa com o quanto ele é amado e Hades, bem, Hades é um caso a parte.

— Não seria o "B"?

— Não. O "A" era invadir o seu chalé e trocar todos os seus mantimentos por cereal, mas você mal me deu tempo e veio para o meu. O "B" era te atacar no caminho com algumas videiras, mas você é mais rápido que meus poderes. O "C" era deixar você ver as fotos até achar uma foto sua sem os dois dentes da frente que está escrito "Cuidado", mas você nem viu a foto e já viu as cartas. O "D"...

— Deixa eu adivinhar. Você queria que eu me sentisse culpado pela sua partida?

— Bem, minha intenção nunca foi essa, mas se foi isso que sentiu, devo afirmar que a sua percepção do plano "D" foi melhor do que a minha.

Eu me entreguei? Isso é inaceitável para uma cria de Hermes! Nós não entregamos a nós mesmos, nós entregamos os certinhos e seguidores fiéis dos ensinamentos de Atena. Não que eu tenha problemas com Atena, só que o fato de corujas poderem torcer a cabeça em 360 graus me faz pensar que Atena está sempre olhando quando eu faço pegadinhas com o chalé 6. Devo admitir que ter a deusa da sabedoria e estratégia em batalha como inimiga, não me parece muito favorável. Isso é quase tão desfavorável como ter Deméter como inimiga. Acredite, trigo pode ser bem mais enjoativo do que você pensa.

— KitKat, você vai embora por causa das pegadinhas?

Sei que isso me entregou. Usava esse apelido quando nós tínhamos doze anos para irritá-la mas depois acabou virando motivos de piadinha porque esse é o chocolate predileto dela. Eu estava jogando minhas armas no chão bem no meio do campo de batalha. Sabe, eu sempre senti alguma coisa diferente pela morena, mesmo que eu nunca vá admitir. Alguma coisa naqueles olhos verdes, nos cabelos cor de chocolate, na pele pálida e naquele sorriso de quem sabe mais do que você me faziam desistir de resistir.

— Quem me dera. Eu vou porque meu pai precisa de mim.

Nunca tinha pensado na possibilidade de perder Katie. A morena havia feito parte de toda a minha vida. Era com ela que eu fazia pegadinhas, irritava, brincava. "Só se dá valor quando se perde". Nunca acreditei nessa frase e tinha certeza que se ela fosse verdade, filhas de Deméter eram uma exceção. Agora eu posso dizer que estava completamente enganado. Eu posso ter percebido meio tarde, mas Katie Gardner é e sempre foi a minha inspiração, o meu motivo para fazer tantas pegadinhas, a minha melhor amiga, a menina que sempre estava do meu lado, a pessoa mais irritantemente bonita do mundo. Eu sempre tentei chamar a atenção dessa morena irritante, que ama me provocar, mas eu achava que era só porque ela é chata.

Eu dou um passo à frente. Resolvo não pensar muito para não acabar me arrependendo. Quando vejo, já estou sentindo a respiração lenta da cria da deusa da agricultura. Eu coloco as mãos em volta da sua cintura e começo a encarar os olhos dela. Os olhos verde folha, os cabelos cor de terra (ou chocolate), a pele clara como algodão e o cheiro de morangos já declaravam que ela é diferente da maioria das outras mulheres da minha vida. Ela não tem o cheiro de um perfume caro da minha mãe e nem o cheiro de coisas recém-roubadas de todas as minhas irmãs queridas. Katie Gardner tem um cheiro só dela, todo especial.

— Stoll, vai ficar me encarando ou vai virar homem e tomar uma atitude?! — eu já disse o quanto eu adoro essa menina?

Eu puxo ela para mim e tomo seus lábios para mim. Gosto de morango. Katie garantia um beijo calmo, colocando as mãos em meus cabelos os bagunçando. Logo ela tenta me soltar mas eu a puxo para um outro beijo. Esse já era mais estilo Travis Stoll: roubado. Já não é mais um beijo para expressar os meus sentimentos guardados, e sim para poder mostrá-la que não quero que ela me abandone. Solto um grunhido em protesto quando ela me solta.

— Stoll, você levou à sério quando eu disse que ia embora?

Eu queria puxá-la para mais um beijo mas, no fundo, sentia que essa não era uma ideia muito boa. Eu apenas fiz que sim com a cabeça. Pensei seriamente que ela iria me dar um murro no meio do meu nariz mas o que ela fez me surpreendeu mais ainda: ela sorriu. Não era um daqueles sorrisos do tipo: "Você vai ver só!" e sim um sorriso gentil e meio tímido.

— Sim, Katie. Você me diz que vai embora então eu penso que você VAI embora. Essa é a regra da mentalidade humana.

— Travis, eu só estava brincando. É que eu recebi uma carta escrita "Se vingue dele", então eu resolvi me vingar de você.

— E eu recebi uma escrito "Faça uma pegadinha com ela". Tenho uma leve impressão de que Afrodite quis nos pregar uma peça.

Ela se aproxima lentamente em minha direção. Saber o que fazer, eu obviamente não sabia. Pra mim, ser filho de Hermes sempre era uma vantagem, pois podia ser mais rápido do que os outros, mas agora eu estava realmente sem nenhuma reação digna. Ela se aproximou de mim, puxou meus cabelos e me deu um beijo lento e calmo.

Não sei se isso é ou não um namoro, mas sei que estou verdadeiramente, incontrolavelmente, intensamente e completamente apaixonado pela filha prodígio de Deméter. Katherine Marie Gardner, talvez acrescentar Stoll nesse nome seja uma boa ideia para um futuro.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado *.*