Escondido Para Amar escrita por Laura Dias
E era sempre a mesma rotina. Acordar, ir pra escola - não necessariamente estudar - voltar pra casa e de vez em quando, contra minha vontade, ir para a casa da minha tia no outro bairro. Desenhava as vezes para passar o tempo. Não quero me gabar, mas eles eram realmente bons. Até estava planejando fazer um mangá, mas fiquei sem fazê-lo.
Na escola, nada diferente. A mesma coisa normal de sempre. Lembro do meu primeiro dia de aula no Colégio Avante. Tinha acordado tarde e se não me apressasse eu não entraria mais na aula. Me levantei da cama com um só pulo, tomei um banho de cinco minutos, engoli o café da manhã às pressas, dei um "bom dia" pro meu pai, e fui correndo pra escola. Cheguei no limite de horário. Às sete e quarenta e cinco da manhã em ponto. Era meu primeiro ano no ensino médio e estava empolgado para ver o que me esperava nessa nova fase da minha vida. Abri a porta da sala e o professor já estava administrando sua aula. Imediatamente todos os olhos voltaram-se para mim enquanto entrava. Não sou tão tímido quanto pareço, mas foi desconfortante ter cinquenta alunos voltados para mim. O professor nem notou a minha presença, apenas continuou a explicação. Era um professor alto, bonito, voz impactante, bem vestido. Depois que eu o vi, entendi porque as meninas da sala prestavam tanta atenção na aula dele.
Só havia uma cadeira vazia na ultima fileira próximo a parede. Sentei atrás de um garota de cabelos loiros escuros, pálida, nariz maior que o normal, mas bonita. Olhei pro lado e a vi conversando e rindo bastante com outra garota. Pele escura, cabelos pretos. E também tinha um garoto do lado. Pareceu-me que estava perturbando-as. Era alto, usava óculos, e sempre com aquele casaco que usa até hoje. Acho que ele não lava.
Eles não me deram atenção. Acho que assim como o professor, não notaram a minha presença. A aula passava, e eles sempre conversando e rindo. Pareciam se conhecer a muito tempo. Até que enfim a aula do professor bonitão acabara. Enquanto havia a troca de professores, algo me chamou atenção. A garota do nariz grande deslocou a mão. Ou pelo menos foi o meu primeiro pensamento ao ver a situação. Ela estava mostrando para os amigos aquela aberração que deve chamar de mão. "Jesus Cristo!" exclamei. E ri tão alto que chamou a atenção deles. A mão dela faziam movimentos estranhos e engraçados. Eram muito flexíveis. Dava agonia só de observar.
Ela enfim notou minha presença e junto com seus amigos começamos a rir juntos.
- Como?! - exclamei novamente.
Ela olhava pra mim sorrindo como se fosse a coisa mais normal do mundo.
- Ela não tem osso. - disse a sua amiga de cabelos pretos.
Isso só me fez rir ainda mais. E sem perceber, fui me socializando com a turna. Em especial, com eles.
- Oi, tudo bem? - disse ela já segurando minha mão e me comprimentando. - Meu nome é Laura.
- O meu é Marcus.
Conversamos e depois ela me aprensentou seus amigos. Lucas, o menino do casaco. Thalita, a menina da qual as pessoas insistiam em chamá-la de "Thayná, a índia" pela incrível semelhança. Rapidamente me tornei parte do pequeno grupo. Minhas manhãs realmente ficaram divertidas.
Depois do meu primeiro e longo dia no Colégio Avante, retorno em casa e me deparo com um estranho deitado no sofá. Moro com meu pai José, minha madrasta Cláudia e a filha dela Kailane. E naquele momento, eu estava sozinho na casa. Só eu e o estranho. "Seria ladrão?" pensei. Que ladrão em sã consciência estaria jogado no sofá vendo televisão ao invés de ter fugido com a televisão e o sofá? Ideia descartada. Fiquei observando aquele rapaz por um tempo. Branco, cabelos loiros. Aparentava ter seus 20 anos de idade. Parecia estar em casa. Quando ele se vira e se depara comigo. Ali. Parado. Feito um idiota.
- E ai. Marcus, né?
- Ahn... Sim. E você é...?
- Ah desculpa, meu nome é Rômulo, sou irmão da Cláudia. Vou passar um tempo aqui com vocês.
Ele disse alguma coisa, mas não ouvi. Tinha distraído-me com aqueles olhos verdes.
- Desculpa, o que? - perguntei.
- Sou Rômulo, irmão da Cláudia.
- Ah, uffa! Por um segundo pensei que iria ser assaltado.
- Bom, estou deitado aqui desde de manhã. Acho que não seria um bom ladrão. - ele disse, e me arrancou um sorriso. - Já almoçou? - ele perguntou.
Já eram duas horas da tarde e ainda não tinha almoçado.
- Ainda não. Tô ficando verde de tanta fome. - disse eu, e ele sorriu.
Conversamos, comemos, e hora e outra ele me fazia rir e eu cuspia a comida. Meu pai chegaria às seis horas, e até lá eu e o Rômulo passamos a tarde juntos.
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