POV – Annabeth

A batalha que se seguia no Acampamento era brutal.

Os monstros não paravam de descer a colina, fazendo com que a nossa linha de frente enfraquecesse aos poucos. Eu sabia que ela não iria durar, era o exercito de autômatos de bronze que a mantinha intacta. Leo as comandava com controles em seu braço metálico.

Eu estava um pouco atrás, coordenando reforços e matando os monstros que passavam a linha. Frank estava no céu, com sua forma de dragão, destroçando monstros voadores. Junto com ele, estavam as Caçadoras montadas em pégasos, combinando o voo dos pégasos e a mira perfeita delas. O resultado era uma arma fatal. Eu não via Hazel fazia um tempo, ela montou no cavalo super rápido dela e saiu brandindo sua espata.

Mas o que me preocupava no momento era Chaos. Ele estava imóvel, apenas observava a batalha. E isso me deixava irritada, não sabia o que ele pensava ou esperava.

Assim que retirei a faca de um monstro, que virou pó, Frank-dragão desceu até perto de mim e se transformou em Frank antes de chegar ao chão. Ele parecia sem fôlego.

– Annabeth, você não vai acreditar!

– O que ouve?

– Calipso está aqui! Ela está numa espécie de altar de pedra móvel, era quase impossível de se notar, mas a visão de dragão é realmente boa e por isso eu a vi. – A boa noticia é que Calipso está viva, a má noticia é que tem um exercito entre ela e nós. Um resgate é impensável agora, mas se ela está aqui, quer dizer que ela tem algum valor para eles – O que faremos?

– Eu... não sei. Avise Leo, mas peça para ele vir falar comigo, ele pode ter o impulso de ir sozinh... – Eu notei um sorris torto no rosto de Frank, alem das sobrancelhas levemente erguidas. – Você já contou pra ele, né?

– É.

– E ele já foi não atrás dela, não é?

– É.

– Ótimo. – Digo. Frank colocou uma flecha em seu arco e disparou contra um ciclope que se aproximou – Me leve até ele, eu vou ajudá-lo.

– Certo e desculpe.

Frank voltou a sua forma de dragão e se curvou levemente para que eu subisse em suas costas. Ele esticou as enormes asas de morcego e levantou voo.

***

POV – Jason

Assim que atravessamos a última muralha, nosso grupo fez uma pausa perto das enormes árvores que cercavam as proximidades. Kevin pousou delicadamente o corpo de Mary no chão e andou até mim, que fazia o mesmo com a Piper, que ainda dormia.

– Ei Jason, posso falar com você?

– Claro.

Ele me afastou do grupo e me perguntou:

– O que acha que devemos fazer com a Naomi?

Naomi tinha acordado durante a travessia pela cidade, mas não teve nenhuma reação hostil. Apenas seguiu calada (as vezes ela parava e vomitava, culpa do Kevin).

– Não sei, alias, por que a deixou viva?

– Porque ela é gostosa. – Eu o encarei – Ela é minha irmã, eu não a mataria. Na verdade, não mataria ninguém. – Eu deixei escapar um “hunf” e Kevin me encarou com expressão séria – Você matou Victor, não foi? Cara, matar monstros é uma coisa, pessoas é outra.

– Eu não me arrependo. – Digo.

– É isso que me assusta. Você mudou e você sabe disso, matar não te faz diferente deles.

– Sim, faz. Meus motivos eram totalmente diferentes.

– Como sabe?

Eu não estava gostando do rumo dessa conversa, mas essa pergunta me surpreendeu. Por que eles estão contra nós? Por que querem que os deuses sejam destruídos? Eu não sabia.

– Meus motivos eram o bastante pra mim, mas quero saber o deles. Sua irmã vai nos contar.

***

Naomi estava amarrada numa raiz a alguns metros de distancia dos outros. Ela fuzilou Kevin com os olhos assim que viu.

– Oi, maninha.

– Não me chama assim!

– Ok, ok. – Disse ele, sorrindo, logo depois de sentar-se ao lado dela, eu fiquei de pé – Naomi, quero que responda algumas perguntas.

– Foi para isso que me deixou viva? Então, esqueça!Eu não vou entregar meus parceiros.

Parceiros? Então eles nem tinham alguma consideração um pelo outro, nem ao menos para chamar de amigo.

– Vocês não eram amigos? – Perguntou Kevin, que deve ter pensado o mesmo que eu.

– Nenhum deles são meus amigos, principalmente Victor. Ele era um babaca. Nosso grupo era unido por causa do nosso objetivo em comum, nada mais que isso.

– Que objetivo em comum? – Perguntei.

Ela hesitou por alguns segundos, mas ela não tinha mais nada a perder.

– Conquistar nossa existência. – Eu e Kevin nos entre olhamos. Que diabos elas está falando? – Não façam essas caras de idiotas, sei que não entenderam. Vocês sabem o quanto é difícil ser um semideus nos dias atuais? Celulares, internet, até ligações telefônicas podem dar sua localização a um monstro babaca.

– Sabemos disso.

– Mas vocês sabem por que isso acontece? São os deuses. Tudo é por causa deles! Depois da Segunda Guerra Mundial, Zeus, Poseidon e Hades fizeram um acordo sobre ter relações com humanos, já que seus filhos eram os mais “poderosos” e também tinha a profecia que um filho de um deles poderia selar o destino do Olimpo.

– Sabemos disso. – Repeti.

– O que vocês sabem é apenas a metade. Não foram apenas esses três deuses que “assinaram” esse acordo, todos os deuses primordiais foram forçados a concordar se não Cronos ganharia colegas de prisão. Alem de reduzir a prole de alguns deuses menores, e quando digo reduzir quero dizer... exterminar.

– Não diga besteiras! – Exclamei.

– É a verdade! – Exclamou ela, de volta – Mas a preferência iria ficar muito obvia, por isso os monstros vão atrás de todos, mas só os filhos “daqueles” deuses são a missão principal. Mas sei que depois de alguns anos, os deuses perderam controle e agora esta no jeito que está por causa disso.

– Que filhos de deuses menores?

– Filhos de Fantasio – Chloe –, seus filhos podem manipular a mente humana, imagine se algum deles resolvesse ir contra o Olimpo e criar um exercito? Cratos – Gabe –, o poder grego, imagine um filho revoltado dele querendo matar os deuses, a presença dos deuses o fortalece, destruir alguns não seria uma tarefa difícil. Filhos de Perses – Victor –, um filho do deus da destruição... não precisa de muito esforço pra saber o que aconteceria. E os filhos de dois deuses populares hoje em dia...

– Pax e Tânatos. Amanda e Ben. – Disse Kevin, ele olhou pra mim preocupado – Tudo faz sentido agora. O Sir, Gutierrez, Darius são todos filhos de deuses primordiais... e Chloe e os outros, filhos raros de deuses que quase não tem filhos nos registros. Foi tudo calculado.

– É. – Disse Naomi – Tudo por causa da maldita auto-preservação. Os deuses querem viver e governar pra sempre, eles vão fazer de tudo para continuar onde estão, acima de todos.

Eu afastei as milhares de perguntas que tinha as cabeça para focar na qual importava no momento.

– Onde você e Kate entram nisso? Vocês são romanas. E Isabel?

– Eu sou descendente de Joana D’arc, uma semideusa filha de Pax, como o sabichão ali descobriu – Kevin fez uma careta, ele não gostou do apelido –, a Profecia da Ruína podia se referida a mim, sorte que não. Kate entrou nessa por vingança, os deuses a abandonaram... nada mais. E Isabel, ela já era namorada do Lance quando o recrutamos, ela veio junto.

– Você disse que foram recrutados, por quem?

– Neil, um garotinho, mas um semideus muito poderoso.

– De quem ele é filho?

– Não sei, não consegui descobrir.

Eu e Kevin demos uma pausa na interrogação para absorver tanta informação. Até Kevin perguntar pra mim:

– Conquistar a existência, mostrar para o mundo que você existe, que não está sozinho... não acha que esse é um bom motivo?

Era, pior que era. Eu não aguentaria viver assim. Ser um filho proibido que só sua existência podia despertar o ódio dos deuses. Nesse momento entendi um pouco como era ser o Benjamin.

– Acho... – Eu me virei pra ela. – Naomi, sei que agora você quer que o mundo se exploda, mas eu quero tirar todos os semideuses dessa ilha vivos, por isso eu quero que você colabore comigo. Vamos sair daqui juntos e quando chegarmos ao continente, eu te libertarei e você irá para onde quiser. Temos um acordo?

Ela pensou um pouco.

– Ok. – respondeu ela. – Atravessar a floresta é muito perigoso, eu conheço um aqueduto abandonado que desemboca na praia, podemos ir por ele.

– Ótimo, maninha. – Disse Kevin, com um sorriso.

Ela revirou os olhos, mas deixou escapar um leve sorriso.

– Certo, vamos sair daqui.

***

POV – Nico

– Chloe, do que diabos você está falando? – Perguntei, ainda surpreso.

– Do plano do Ben, Nico! Eu descobri!

Ben manteve segredo sobre seu plano desde o começo da missão. Eu também não insisti pra saber, pois Benjamin sempre foi um cara reservado com seus pensamentos, mas ele sempre o revelava quando era preciso.

– Explique-me.

– Tá, mas é meio confuso. Certo, tudo começou ao ataque no Empire State, que resultou na sua destruição. – A explicação já começou com outra surpresa, eu não fazia que isso tinha acontecido – E nada planejado aconteceria sem a morte do Percy, então posso afirmar que...

Ela se interrompeu ao ver minha expressão de descrença. Percy tinha morrido. Eu tinha até estranhado por ele não ter aparecido em Atlântida, mas então imaginei que ele tinha decidido defender o Acampamento.

– Como... ele morreu?

– Tânatos o matou, – Ela abaixou a cabeça – ele morreu nos defendendo.

Eu engoli o grito de raiva que quase deixei escapar, defender seus amigos era típico do Percy, mas nunca imaginei que morria fazendo isso. Chloe notou minha reação, ela logo se arrependeu de ter me dado essa noticia tão de repente.

– Nico, você...

– Continue – Digo interrompendo-a, não era hora de luto – Por que Ben destruiu o Empire State?

– Intimidação. Com a destruição do principal símbolo dos deuses nos Estados Unidos, Benjamin supôs que os deuses se isolariam, se preparando para o futuro confronto contra ele. Parece que foi exatamente o que aconteceu, já que os semideuses estão lutando sozinhos agora.

Estava claro que a intimidação tinha funcionado, Ben consegui fazer o que os titãs mal chegaram perto.

– Então, estamos sozinhos e sem apoio dos nossos pais.

– Sim, por causa do isolamento, talvez nem saibam o que está rolando no acampamento. Então, após a morte de Percy, Ben sabia que Poseidon não iria ficar parado após seu único filho ser morto por Tânatos. Sabendo disso, Ben decidiu usar isso a seu favor. Poseidon e Tânatos iriam ter um confronto, – Ela apontou pra cima – como está acontecendo agora e Ben crê que Poseidon se tornará vitorioso, causando na morte ou enfraquecimento do Tânatos.

Nessa parte é até compreensível, Ben nunca gostara de seu pai e nunca se importou em demonstrar isso. Ele o odiava o suficiente para tentar matá-lo.

– Onde a Amanda entra nessa historia?

– Eu estava chegando lá. Com Tânatos fraco, Ben iria honrar seu titulo, Entendeu? – Ela completou antes que eu pudesse responder – Ela se tornaria o Herdeiro e abandonaria sua humanidade, assim, se tornando o novo Deus da Morte.

Me surpreendi com as palavras de Chloe, Nunca pensei sobre o titulo “Herdeiro” representava. Mas estava claro pra mim que... Ben havia desistido. Ou não.

– Então, ele... mataria Amanda, pra conseguir algo...

– Algo...?

– Eu não consegui ver até o final. Mas sei que matando Amanda ele conseguiria poder para finalizar seu plano.

Eu me lembrei automaticamente da Lenda de Arya, quando a princesa deu sua vida ao Deus da Morte, ele teve o poder de salvar todos os sobreviventes de Atlântida antes que a ilha fosse consumida pelo mar. Então eu percebi, Ben podia matar Amanda e usar esse poder que ganharia para salvar todos ou a mataria apenas para acabar com toda esperança, ou seja, não importava a decisão...

Eu iria perder a pessoa que mais amo pelas mãos do meu melhor amigo.