POV – Nico

Uma hora antes de quase morrer, acordei numa cama que não me pertencia.

O quarto era branco e limpo, na parede tinha uma escultura de mármore de uma pomba branca de asas abertas segurando um ramo de oliva no bico. Me levantei e fui até uma cômoda com várias fotografias em cima.

Uma fotografia tinha uma família, provavelmente um pai, uma mãe e um par de garotos gêmeos de uns sete anos, era possível ver o Grand Canyon atrás deles. Numa outra os dois gêmeos novamente, mas com Amanda entre eles, que a abraçava amorosamente.

No meio de tantas fotografias (aparentemente) familiares encontrei duas fotos curiosas. A primeira era da Inauguração do Posto Avançado, lá estavam Amanda, Chloe e Kevin fazendo poses engraçadas; os falecidos Christopher (filho de Hefesto), Malcolm (filho de Atena), Vicent Becker e Chris Rodrigues, que estava grudado numa Clarisse sorridente; Will Solace; Percy e Annabeth de mãos dadas; Jason com o braço por cima dos ombros de Leo e a outra na cintura da Piper; Hazel, Frank e Dakota do joelhos... todos que tiveram uma importância significativa da construção da instalação estavam lá.

Na outra era eu. A foto me mostrava em perfil, sangrando e olhando pra lua refletida no lago. Eu me lembrei desse dia, era o ultimo dia da Guerra, quando Percy e os outros venceram Gaia na Grécia.

– Oi. – Disse Amanda atrás de mim, ela segurava roupas sociais masculinas e um vestido branco – O que está fazendo?

– Vendo as fotografias, como conseguiu essa? – Perguntei apontando pra minha foto.

– Eu roubei. – Disse ela sorrindo e deixando as roupas na cama – Eu queria ter a foto de todos os meus amigos, igual aquela – Ela apontou pra foto da Inauguração – já que você não tinha ido naquele dia, roubei essa do Mural de Registros.

– Hum... Mas sabe, essa foto não parece meio assustadora pra você? – Digo, a pegando pela cintura. Ela corou – Que tal outra hora a gente tirar umas fotos.

– Como? – Disse ela, se aproximando e me beijando. – Do jeito que está agora?

– O que?

Foi então que percebi que estava apenas de cueca e uma camiseta que não é minha.

– Mas que droga! O que é que ta acontecendo comigo? Toda hora eu estou pelado, cadê minhas roupas? – Amanda começou a rir.

– Eu as tirei quando você dormia, elas estavam sujas e eu não queria que sujassem minha cama. – Ela pegou as roupas na cama e jogou pra mim – Aqui. Veste essas, temos uma festa pra ir, lembra?

Vi as roupas sociais que não era minhas (eu não tenho roupas assim).

– De quem são essas roupas?

– Do Kevin, peguei no quarto dele.

– Estou começando a achar que você é Cleptomaníaca.

– Calado! Vesti logo, estamos quase duas horas atrasados.

Vesti rapidamente a camisa social preta e o blazer. Peguei minha calça jeans e vesti os all-stars. Me virei e Amanda já estava pronta, terminou de escovar os cabelos e fui até a porta.

– Vamos?

– Vamos. – Digo.

POV – Jason

– Harpy!! – Gritei.

O silencio total tinha se dissipado, que foi substituído por uma gargalhada cruel. O rapaz loiro se virou pra mim e disse:

– Isso é tudo o que você tem Grace?

– Seu desgraçado você vai pagar caro por isso! – com minha força restante disparei raios nele, mas ele desviou com facilidade, depois me deu um chute bem na cara. Foi como bater a cara no concreto.

. – Sejamos sinceros Grace, você não chance. Você só tem uma espada, seu braço está quebrado e seu deus de estimação está morto. Vai ser muito chato matar você, até pensei que você seria um desafio, mas é só uma fracote com sorte de ser filho de Zeus, que dizer Júpiter. – Ele me pegou pela gola da camisa e preparou o soco – Te vejo no inferno.

Ele estava prestes a me matar quando uma flecha acertou sua perna, em seguida outra atravessou o braço que me segurava. Ele me largou e caí no chão sem forças. Então ele procurou o sujeito que o flechou com raiva. Seus olhos encontraram um garoto loiro de óculos vestindo um smoking rasgado, sangue escorria em sua mão que segurava um arco composto preto de ultima geração.

– Ops! Errei a cabeça. – Disse Kevin.

– É mesmo, – Disse Mary ao lado dele, atrás deles notei Benjamin e Chloe saindo do salão – e ainda você se diz filho de Apolo. Que vergonha.

– Calada! – Victor retirou a flecha da perna e jogou pro lado – Mary se prepara!

Victor pegou uma pedra e jogou em Kevin, que deu apenas um passo pro lado para desviar. Victor avançou sobre ele e tentou golpeá-lo várias vezes com seus punhos, mas Kevin se abaixava, inclinava e recuava rapidamente. Desviando dos golpes com facilidade e com um sorriso sarcástico na cara.

– Mary se abaixa! – Gritou ele de repente, rolando pro canto.

Um inseto metálico gigante saiu do chão e pulando sobre Mary. Se ela não tivesse abaixado o inseto com certeza teria caído em cima dela, provavelmente matando-a. O inseto era parecido com uma formiga, só que era todo feito de um material metálico, talvez umas das últimas adaptações dos Ciclopes Urânios.

– Por que tem Myrmecos aqui! – Gritou Mary, pegando uma espada e escudo no chão.

Ela desferiu um golpe que cortou uma das patas do monstro, mas pelo menos dez que saíram do buraco rapidamente. Um deles lançou um jato de acido nela, ela defendeu com escudo, que começou a derreter em seu braço, ela tirou o escudo rapidamente.

No chão o escudo se dissolveu por completo, virando uma possa de metal quente.

– Mary sai daqui! – Gritei, tentando me levantar.

Disparei um raio num dos myrmecos, que virou pó em instantes. Talvez por que o metal de seu corpo seja um condutor de eletricidade, facilitando sua morte. Isso me animou um pouco, eu estava apanhando desde que cheguei no salão. Continuem matando as formigas, mas duas saíram do salão perseguindo a Mary.

Kevin estava lutando apenas com as mãos nuas, pois Victor havia destruiu seu arco. A luta parecia muito equilibrada, Kevin conseguia desviar e defender dos socos destruidores de Victor e sempre revidava. A fúria de Victor só aumentava quando recebia os golpes, consegui ver sinais de cansaço nele. A luta não ia demorar pra acabar.

Kevin sempre foi um ótimo lutador, é faixa preta em duas artes marciais alem de ser perito no arco e flecha. Um dos melhores de ambos os acampamentos.

Um som de apito ecoou pelo salão. Victor parou e sorriu cruelmente.

– O que foi? – Perguntou Kevin – Lembrou de uma piada?

– Não, muito melhor. – Ele começou a andar pra saída.

– Ei aonde você vai? – Kevin pegou um o arco no chão e preparou a flecha, pronto pra disparar. – O que aconteceu pra você parar de lutar?

Victor parou, virou a cabeça e respondeu:

– Os reforços chegaram.

POV – Benjamin

Eu e Chloe estávamos chegando no Hall de Entrada quando ouvimos um som parecido com de um apito, só que era mais agudo. Nesse momento, nos juntamos com um pequeno grupo de semideuses que vigiavam a escadaria. A única entrada pro Posto Avançado.

O líder do grupo chama-se Dakota, filho de Baco. Conhecido por ficar “bêbado” por beber um suco vermelho com três vezes mais açúcar que o normal. Ele é centurião e líder da quinta coorte, era alto e tinha cabelos encaracolados escuros.

– Dakota! – Chamou Chloe – qual é a situação?

– Até agora, tranquilo. Só apareceram algumas dracanae. E lá no salão?

– Destruímos todos os telquines, e Kevin e Mary ficaram pra ajudar o Jason. Ele está lutando contra um dos semideuses. – Disse ela. – Percy também, mas não sei onde.

– E o Nico? – Perguntou Lacy.

– Eu não sei, deve estar lutando também.

A porta do Dormitório abriu e Nico e Amanda saíram por ela. Eles estavam bem vestido e possivelmente indo pra festa. Ele nos notou e ergueu uma das sobrancelhas.

– Ei pessoal, aconteceu alguma coisa? Por que estão machucados?

– É que...

– Por que você não está? – Interrompi – Onde você estava em quanto a gente lutava?

– Dormindo, – Disse ele – Vocês lutavam contra o que?

– Ah, eu não sei. Talvez contra monstros que estão matando tudo mundo enquanto você dormia! – Digo com raiva. Nico fechou a cara e disse:

– O que você quer que eu faça? Peça desculpas? Eu não ouvi nenhum barulho de explosões ou gritos, se tivesse eu teria vindo na hora. – Ele olhou para Dakota e perguntou – Quem está invadindo?

– Alguns monstros liderados pelos semideuses sequestradores. E há batalhas acontecendo no salão e no estábulo, achamos que é por lá que eles estão entrando.

– Acabei de saber que na casa do farol também, tem um grupo protegendo a entrada. E estão aguentando bem. – Completou Lacy.

Minutos depois, as portas da Ala de Recreação – onde ficava o salão de festas – se abrem. Mary passou por eles correndo com duas formigas metálicas gigantes atrás dela. Todos rapidamente ergueram seus escudos e lanças para se defender do monstro.

– Isso não vai adiantar! – Gritou ela – O acido deles é muito forte!

Nico pegou uma espada qualquer e se adiantou na formação, invocando um esqueleto em seguida. O esqueleto usava uma arma de franco-atirador, ele deitou no chão e preparou a arma. Depois, Nico avançou sozinho contra uma das formigas. Ele cortou algumas patas da formiga e quando ela ia espirrar seu acido um projétil a atingiu bem no olho, interrompendo-a.

Bastou para ele transformar a formiga em pó dourado. A segunda formiga estava se aproximando da formação pra das umas cuspidas de acido mortal, o atirador começou a disparar nela, mas ela não parou e o atacou com o acido. O esqueleto dissolveu em questão de segundos e a formiga se preparou para nos atacar.

Fui minha vez de tomar à dianteira, invoquei minha pistola e uma espada pra enfrentar o inseto. Dei uns tiros inúteis de aviso nele, mas nada adiantou. Ela cuspiu um jato de acido, mas desviei na hora. Corri e a golpeei entre os olhos, mas o metal em seu corpo o preveniu da morte certa, então cortei suas patas dianteiras logo em seguida, imobilizando-o. Eu ia dar o golpe final quando Mary interveio.

– Espera! Deixa comigo, é uma questão pessoal.

– Ok... – Digo sem entender.

Ela estendeu o braço na direção do inseto e raízes cheias de espinhos saíram da terra agarrando o inseto. O Myrmecos começou a se retorcer até explodiu numa nuvem dourada.

– Legal. – Digo.

Voltamos pro grupo que nos receberam com “muito bom!”, “incrível”, “foi rápido demais”. Até que um barulho vindo de cima da escada chamou nossa atenção. Pareciam gritos de guerra e explosões, depois um rugir de um monstro. Todos prepararam suas armas e fizeram uma formação em frente à escada.

A porta de acesso abriu e dois garotos começaram a descer as escadas e pararam bem na nossa frente. Um se vestia num estilo gótico, camiseta e calça jeans preta com caveiras estampadas, uma blusa de couro preto com espinhos, que combinava com a coleira que ele usava e tinha longos cabelos escuros, pele pálida, olhos de peixe morto e era bem magro.

O outro usava uma camiseta cinza escuro de uma banda que não conhecia, touca, uma calça jeans manchada de sangue e um cachecol vermelho, que estranhamente combinava com seus olhos. Eles tinham um tom vermelho-sangue que o deixava, literalmente, com um olhar sanguinário.

Olhei para os outros e vi que eles olhavam todos para uma direção, chocados. Até que notei algo na mão do cara de olhos sanguinários. Era algo circular e peludo, embaixo sangue gotejava lentamente.

– Ei Gutierrez – Chamou o cara gótico – Por que você trouxe essa cabeça mesmo?

Gutierrez levantou a cabeça e sorriu.

– Não lembro Darius, ah deixa aqui. – Ele largou a cabeça, mostrando sua face.

A face de uma pessoa que eu uma vez chamei de amigo, que me traiu e que eu nem sabia que estava no Posto Avançado. A face de Richard Walker.

Gutierrez começou a se aproximar com um sorriso simpático, senti meu coração e minha respiração acelerar, meus músculos enrijecerem, minha mão começou a tremer e um calafrio intenso tomou meu corpo. Eu não conseguia me lembrar quando eu senti algo parecido, então vi a cabeça de Richard e me lembrei. No dia em que Mia morreu, eu senti algo parecido muito com isso, fazia tanto tempo que pensei que não sentiria novamente...

Medo.