Gabe estava chorando.

Na boa, nunca vi alguém chorar de felicidade tanto assim por ter apenas ganhado uma competição. Parecia que ele tinha ganhado na loteria ou algo assim, achei que ele merecia um Oscar pela cena.

No intervalo todos foram para um refeitório provisório perto do Anfiteatro. Kevin foi cumprimentar o Gabe, aparentemente eles eram velhos amigos. Amanda foi procurar o Nico (Desconfiei que os dois estavam in Love) e Mary foi comprar mais néctar e chocolates para o próximo evento que eu participaria.

O Duelo de Marte é uma homenagem aos deuses em geral, foi o Frank Zhang quem teve a idéia. O vencedor ganha a Espada de Marte, é uma espada muito poderosa que foi usada por Átila, o Huno. Então, quem ganha fica com a espada até os próximos jogos e tem direito de liderar uma missão (quando tiver uma).

Um anúncio ecoou no lugar. “Participantes do Duelo de Marte, favor comparecer na arena rapidamente”.

Kevin me acompanhou até a arena.

– Você está ansioso não é? – Disse ele, olhando pra mim. – Não se preocupe aposto que isso vai acabar quando você receber o primeiro golpe. A maioria dos participantes são filhos de Ares e Marte, eles são duros na queda.

– Caramba, você é ótimo em motivar as pessoas.

Ele me deixou em frente à arena, disse que iria torcer por mim (eu duvido) e foi para a arquibancada. Todos os participantes estavam alinhados em frente a um pequeno palco, tinha uma tela que mostrava uma tabela com números de 1 á 16 nos lados (oito números num lado e oito números no outro) e um “VS” bem grande no centro da mesma.

Uma musica começou a tocar no mesmo momento em que feixes de luzes coloridos começaram a brilhar em toda arena. Ao lado da tela tinha uma lona, Leo saiu por ela sorridente e vestindo um terno, como um apresentador de TV. Seus cabelos estavam escovados para trás (com muito gel), tinha um microfone perdurado na orelha e estava acompanhado por duas belas garotas loiras. Elas vestiam roupas normais do acampamento. Fiquei pensando na necessidade disso tudo.

– Bem vindos participantes – Disse ele, sorridente – e todos os nossos espectadores!

O povo da arquibancada aplaudiu.

– Por favor, todos participantes peguem uma bolinha nessa caixa – Ele apontou para a caixa sendo segurado por uma das garotas – Cada bolinha tem um numero, assim vamos decidir os confrontos!

Cada um dos participantes pegou uma bolinha. A minha era a de numero 13. “O número do azar...”. Olhei para e tela e vi que lutaria no quinto duelo e contra o numero 07. “O numero da sorte...”. Uma segunda tela maior surgiu no palco, nela mostrava números de 01 a 16 com os nomes dos participantes correspondentes e seus pais divinos.

– Vamos ver... numero 07, numero 07... ali! Ahn... Chloe Moore?

***

Meu primeiro duelo seria com a Chloe. Eu não a via desde a nossa briga, na verdade ninguém a viu nessas ultimas semanas. Me sentei num banco de madeira que ficava no canto da arena. A área do duelo era um circulo no centro da arena que era demarcado por uma linha branca. Se sair do circulo, você era desclassificado.

Os dois primeiros participantes entraram no circulo. A escolha de armas era livre, então podia escolher o que quiser. Léo os apresentou para o publico, como numa luta de boxe.

– Desse que lado, o participante número 03, usando uma espada e escudo. O recruta! Johan Bergman, Filho de Hermes!

Johan Bergman tinha uns 15 anos de idade. Cabelos negros e olhos castanhos, queixo e lábios finos, também era magro só que forte. Usava a habitual roupa do Acampamento Meio-Sangue – Camiseta laranja e calça jeans.

– Do outro lado, o participante número 15, usando um machado e escudo. O carrasco de basiliscos, Max Burns! Filho de Marte.

Max era o maior garoto de 16 anos que já vira na vida. Media quase dois metros de altura, seus cabelos castanhos estavam cortados num estilo militar, também era muito musculoso e tinha cara carrancuda. Tive pena do pobre Johan, o cara tinha até uma alcunha, “O carrasco de basiliscos”. “Johan, nos conhecemos a pouco tempo, mas irei ao seu enterro amigo.”

Percebi que pensar assim foi um equívoco quando o duelo começou. Johan se movia muito rápido e apesar de ele não atacar, o machado de Max nem chegava perto de acertá-lo. Infelizmente (para Johan) Max se enfureceu e o golpeou, Johan defendeu, mas logo em seguida Max usou o escudo para golpeá-lo, Johan não esperava por essa e levou o golpe bem no rosto.

Ele cambaleou para a extremidade do circulo quase saindo, todos pensaram que o duelo já estava acabado quando Max avançou com toda velocidade em cima de Johan para dar o ataque final. Só que Johan no ultimo segundo foi para o lado e saiu do caminho, mas ergueu o pé que fez Max tropeçar a sair do circulo.

– O vencedor do primeiro duelo de hoje (apesar de desonesto) é... Johan Bergman!

Alguns aplaudiram e outros fizeram “Uh!” de desaprovação, mas não importava ele passou para a próxima etapa.

O segundo e terceiro duelos foram muito rápidos.

No segundo foi um filho de Belona (numero 04) contra uma de Atena (numero 02). Um duelo difícil de prever, mas a garota de Atena usou uma lança e escudo com maestria para vencer. No terceiro foi bem ridículo, uma garota filha de Hécate (numero 14) contra uma filha Ares (numero 05), acho não preciso dizer quem ganhou.

O quarto duelo estava prestes a começar.

Pelos gritos do público parecia que era o mais esperado até agora. Léo chamou os números 08 e 12, os dois se levantaram e percebi o porquê de tanta empolgação. O duelo seria entre Percy Jackson e Clarisse La Rue.

Um cartaz desceu perto do palco dizendo A Revanche do Século: Percy VS Clarisse!

Percy vestia uma armadura sobre sua camiseta do Acampamento, se dirigia tranquilamente para o centro do circulo. Clarisse aparentava ter 20 anos, era uma garota muito grande e (assustadora!) forte, vestia o mesmo que Percy e seus cabelos castanhos escuro estavam presos por uma bandana vermelha. Ela ia pro centro do circulo olhando cruelmente para Percy.

A revanche era coisa séria, pelo menos pra ela.

– Desse lado, a participante numero 8, usando uma lança e escudo. A ex-Líder do Chalé de Ares, aquela que recuperou o Velocino de Ouro, a matadora de Drakons e Agente do FBI, Clarisse La Rue!

Clarisse ergueu a lança, aplausos e gritos infestaram a arena.

– Do outro lado, o participante numero 12, usando apenas uma espada. O Herói e Salvador do Olimpo, aquele de derrotou Cronos, que assassinou o minotauro, Um dos Sete da Profecia dos Gigantes, conselheiro do Acampamento Meio-Sangue e atual Campeão do Duelo de Marte... – Leo fez uma pausa – Peeeeercy Jackson!

Ao ouvir o nome a platéia foi ao delírio, gritaram e aplaudiam sem parar. Percy teve que fazer um sinal de “Acalmem-se” sorrindo. Clarisse não estava de cara boa.

Os aplausos cessaram e Leo começou a partida sem mais delongas.

O duelo começou bem equilibrado. Nenhum movimento era desperdiçado e um erro podia ser fatal. Percy brandia Contracorrente sagazmente contra Clarisse, que apesar de grande era tão rápida quanto ele. Ela atacou Percy na altura da coxa (Golpe baixo...), graças aos seus reflexos ele inclinou pro lado a tempo, mas isso o fez perder um pouco de equilíbrio. Isso bastou para que Clarisse usasse o escudo como arma. Percy rolou no chão sem ar. Estranhamente ele começou a rir ao se levantar.

– Do que está rindo idiota? – Perguntou Clarisse.

– Não nada, só que a força dessa pancada... – Ele pegou um pouco de ar – foi que nem de mulherzinha.

Nota mental: Percy não tem amor à vida!

O povo da arquibancada se silenciou depois de ouvir tais palavras. Uma aura vermelha escura começou a emanar de Clarisse, seus olhos brilhavam de fúria.

– Hum... Cla-clarisse... – Chamou Leo com nervosismo – é proibido sabe... matar no Duelo... você pode ser desclassificada e receber um sermão daqueles.

– Está tudo bem Leo, eu não poderia chamar isso de “Revanche do Século” se não lutássemos com tudo que temos, é um risco que quero correr. – Disse Percy sério, mas sem tirar o sorriso da cara – Não concorda Clarisse?

Clarisse lançou a lança como resposta, que teria atravessado a cabeça de Percy se ele não tivesse desviado por pouco. Um corte no topo da orelha começou a sangrar, estava na cara que ele não esperava por essa. Clarisse não parou, sacou a espada do cinto e investiu contra ele.

Os próximos momentos foram tão rápidos que foram quase impossíveis de ver. Clarisse, a garota monstro, fez uma sequência de golpes muito rápidos e mortais contra Percy, que se recuperou do choque e defendeu de quase todos. Um dos golpes acertou seu peito, fazendo um corte longo e raso através da armadura.

Percy mal pegou fôlego quando recebeu um soco no rosto. Ele rolou pro canto e recuou. O ar em volta dele começou a circular sobre ele, como um mini-tornado. Clarisse já estava próxima de atacar quando uma rajada de ar úmido bateu nela, atrapalhando-a, Percy avançou e atacou com sua espada. Ela defendeu e eles trocaram golpes até que ela chutou Percy bem no estomago. Foi forte o suficiente para ele cair de joelhos e deixar cair a espada. Clarisse chutou a espada para o lado e usou o escudo novamente para bater em cheio no rosto dele.

– Então... – Disse ela – Ainda parece de mulherzinha ou de uma Filha de Ares?

Percy sorriu.

– Mulherzinha...

Clarisse ergueu a espada para o golpe final. Percy ainda estava de joelhos e desarmado, o povo da arquibancada estava ficando tenso. Ele poderia morrer. Clarisse desceu a espada com muita força e velocidade, mas sua lamina não alcançou nada, pois um jato de chamas vindo de Leo a derreteu instantaneamente.

Leo estava com o punho em chamas com uma expressão séria.

– O Duelo acabou! A vencedora é Clarisse La Rue.

“Ele derreteu uma espada de bronze celestial? Incrível”. Entrei no circulo para ajudar Percy, que estava ferido.

A raiva e aura vermelha dela desapareceram, mas ela ainda tinha os olhos cruéis. Ajudei Percy a se levantar, mas Clarisse o pegou pela gola e disse:

– Jackson! Por que não lutou sério? Eu podia ter te matado!

– Não tem água aqui...

– Mentiroso! Eu sei que você tem água “dentro” de si, espera, você estava me testando Jackson? – Percy não respondeu – Me diz droga!

– Eu estava. Peço desculpas, era necessário até pra você...

– Por quê?

– Isso não é um assunto para conversarmos aqui. – Ele olhou pra mim – Depois do Campeonato conversamos.

Percebi que a ultima frase também foi direcionada a mim e pela sua expressão, a coisa era séria. Leo quis começar logo o próximo duelo, pois o povo da arquibancada estava ficando impaciente.

Eu já estava no circulo quando Chloe apareceu no meu lado. Ela estava diferente, tinha uma expressão séria e dura, seus cabelos estavam presos por uma fita, apenas a mecha azul estava solta. Vestia apenas roupas normais do Acampamento – Camiseta e saia – e protetores de couro nos braços e panturrilhas. Eu estava com uma camiseta do Acampamento e usava apenas protetores de couro nos braços.

– Nesse lado, a participante número 07, usando uma espada. A aprendiza de Percy Jackson e Líder do Chalé de Fantasio, Chloe Moore!

O povo da arquibancada aplaudiu e assoviou.

– Desse lado, o participante número 13, usando... com que você vai lutar? – Apontei para meu cinto – um cinto... O recruta Filho de Tânatos. Benjamin Briggs!

Não sei o que mais me surpreendeu, a quantidade de aplausos ou pelo fato de eles saberem de quem eu sou filho. Nunca contei pra ninguém, nem pro Nico.

Leo iniciou o duelo.

Chloe desembainhou a espada. Era uma parecida com a de Percy, só que seu cabo tinha gravuras e a lamina tinha uma inscrição em grego antigo, εφιάλτες (efiáltes). Meu grego estava meio enferrujado.

– O que significa Efiáltes? – Perguntei invocando minha espada e escudo (Eu ouvi um “Oh” vindo da arquibancada.)

Chloe me atacou. Defendi com facilidade, mas no impacto visualizei uma imagem de Akhlys por um momento. Defendi novamente e vi o cocatrice que matou Mia. Recuei rapidamente.

– O que foi isso? – Perguntei surpreso.

– Efiáltes significa... Pesadelos. – Disse ela sorrindo.

– Pesadelos? – Ela estava usando uma arma mágica. Isso não era permitido, mas por mim estava tudo bem. As coisas seriam mais interessantes assim. – Legal.

Recomeçamos a disputa. Eu evitava me defender com minha espada, mas era difícil, numa hora ou outra eu era forçado a me defender. Então eu via a morte de meus amigos e de minha mãe, Akhlys e aquele maldito cocatrice. Aquilo estava me lembrando do piores momentos da minha vida. Isso tirava minha concentração, por isso recebi vários golpes e cortes de presente.

Percebi que não podia atacar também, pois o efeito seria o mesmo. Me lembrei na minha pistola que eu podia usá-la como um blefe. “Desista ou vai levar ferro!”. Mas tinha medo de desse uma impressão errada para os outros.

– Você tem medo de seus pesadelos Benjamin? – Perguntou ela sorrindo.

– Você nem imagina o quanto. – Digo sorrindo. Ela ficou séria.

– Então vou terminar isso agora.

Ela atacou com velocidade. Saquei minha pistola que ficou centímetros do peito dela. Ela hesitou com medo. Ataquei com minha espada e ela desviou pro lado e tento me golpear, larguei a pistola e peguei no pulso que empunhava sua espada no momento certo e torci. Ela largou a espada e a peguei no ar com a outra mão. Logo em seguida eu a ataquei com sua própria arma.

Vi uma garota de uns 13 anos de cabelos longos, usava um vestido de seda cor pêssego, estava coberta de sangue e ao lado dela tinha um cara enorme de terno, seu rosto era cheio de cicatrizes. Uma família inteira estava morta no chão, o cara de terno sorria com satisfação e a garota não tinha expressão, apenas olhava pros cadáveres, como se fossem formigas insignificantes.

Quando voltei a ver normalmente, Chloe estava de joelhos no chão, chorando. “Merda...”. Eu tinha visto as piores lembranças dela, me aproximei dela para consolá-la, mas de repente me veio uma dor de cabeça familiar e o famoso pressentimento de perigo.

As portas de arena começaram se abrir devagar. Uma pessoa toda ensanguentada passou mancando por ela. Ele era muito magro e fraco, empunhava uma espada e suas roupas estavam rasgadas e sujas.

Leo encarou o rosto seco e os olhos vagos do sujeito.

– Frank? – Chamou ele, surpreso.