Acordo meio desorientada, que horas são? A luz do sol ultrapassa as cortinas e o calor invadiu o quarto. Pego meu celular embaixo do travesseiro e olho a hora, já passa das onze.

Levanto, coloco as minhas pantufas e desço as escadas. Penny está sentada no sofá com um vestido rodado azul claro de bolinhas brancas, um lacinho no cabelo e sapatilha.

–Ei Penn – sento ao lado dela e a dou um beijo no rosto. – Você está uma gatinha, quem te arrumou assim?

–A Doroteia – Penny sorri.

–E onde está o seu irmão? Ainda dormindo? – pergunto.

–Não! Ele foi encontrar uma amiga dele – ela diz.

–Ah – digo. – Vou comer alguma coisa.

Entro na cozinha e a Doroteia está mexendo alguma coisa em uma panela, o cheiro está ótimo. Doroteia trabalha e cuida de mim desde que eu era criança, mesmo quando a vida da minha mãe e minha virou de cabeça para baixo ela estava lá e até agora. Doroteia tem os olhos castanhos mais claros e gentis que eu já vi na vida, ela é adorável e quase uma segunda mãe para mim.

–Bom dia Mel – ela sorri.

–Bom dia Dora – dou um beijo na sua bochecha. – Como foi o final de semana?

–Ótimo, meus filhos mandaram lembranças e a Olivia um convite, está em cima da mesa – ela abre um sorriso caloroso. – E como foi o seu final de semana?

–Ah, fala para eles que eu mandei um beijo, daqui a pouco eu olho o convite, eu estou faminta. Chato – suspiro.

–Chato? Com um pedaço de mau caminho como o Pietro aqui? Eu te conheço desde quando você era menor que a Pennellopy, e por isso não acredito em você – ela me da uma piscada.

–Você é uma figura Doroteia – reviro os olhos rindo. – Tá, não foi totalmente chato, mas ele é chato, convencido e principalmente idiota, mas também é legal.

–Chato e legal ao mesmo tempo? – ela ri. – Mas que o garoto tem saúde tem não é?

Sento em uma cadeira, na mesa tem panqueca de chocolate, suco de morango, torradas e ovos mexidos. Pego uma torrada, coloco os ovos e dou uma mordida.

–Um pouco – ri.

–Um pouco? Só porque você tem namorado não quer dizer que não possa admirar a beleza alheia, Melanie.

–Ele é quase meu irmão também – falo.

–Não mesmo – Doroteia suspira. – E além do mais, como eu já disse admirar a beleza alheia não é pecado, nem que seja irmão da sua irmã e mesmo que seja mais bonito e legal que o seu namorado – ela enfatiza a última parte.

–Não começa – eu brigo.

Doroteia revira os olhos.

...

Termino o meu banho e coloco uma blusa lilás, short de cintura alta e faço uma trança de lado. Doroteia tirou a bagunça de roupas da minha cama e colocou as coisas para lavar. Meu celular vibra no meu criado-mudo, olho a tela e é numero desconhecido, o sangue se esvai do meu rosto.

Não!

Deixo meu celular tocando lá em cima e vou para a sala. Doroteia está lá com a Penny e a Penny a ouve atenciosamente.

–Oi – falo.

–Mel, a mãe da Vivy ligou, ela já vai vir pega-la – Doroteia diz.

Sento no sofá.

–Ah, ok. Vem cá – abro os braços para a Penny e ela vem, pego ela e a sento no meu colo. – Sabe as regras não é?

Ela afirma com a cabeça.

–Tudo bem, agora um beijo – sorri.

–Eu vou te ligar antes de dormir – ela sorri e me da um beijo na bochecha.

–Eu não vou estar em casa então você pede para a tia Júlia ligar para o meu celular, ok?

–Sim.

–Ai, eu vou sentir sua falta bolinha – choramingo.

–Só é um dia Melanie – Doroteia ri e revira os olhos. – Se controle e deixa de ser babona.

Mostro a língua para ela. Levanto do sofá com a Penny no colo e pego a bolsa dela.

–Velha rabugenta – falo para a Doroteia rindo.

–Menina! – Doroteia repreende rindo.

–Te adoro – ri.

Um carro buzina lá fora, provavelmente a Júlia. Olho pela janela e ela está saindo do carro. Saio de casa e coloco a Penny no chão e ela corre até a Júlia.

–Tia Jú – Penny sorri.

–Ei linda – Júlia pega ela no colo e a da um beijo no rosto.

–Oi Júlia – falo sorrindo.

–Oi querida – ela coloca a Penny no chão e me abraça.

–Todas as coisas dela estão ai, as fraldas também, foi a minha mãe que arrumou então, eu não sei as coisas que ela colocou ai – mordo o lábio.

–Ah, tudo bem – ela sorri. – Vou cuidar bem dela.

–Sei que vai – sorri.

–Vamos Penny? – Júlia olha para Penny e ela balança a cabeça dizendo que sim.

–Até amanhã – aceno com a mão para a Penny.

–Beijo Mel – ela manda beijo com a mão.

Sorrio para elas. Júlia acomoda a Penny e depois vai embora. Volto para casa e ligo a TV, me deito no sofá e encaro o teto. Tenho um dia de folga e ninguém para curtir comigo, tenho outros amigos além da Livie, Soph e Kaio, mas não tão íntimos para convidar para sair.

–Mel – Doroteia diz aparecendo na sala. – Vou indo agora, volto mais tarde para fazer o jantar, vou com a Olivia pegar o vestido de noiva.

–Ai meu Deus, eu me esqueci de ver o convite, é sobre o casamento? Eles finalmente marcaram a data? – me sento.

–Sim – ela vibra. – Vão se casar semana que vem porque a barriga de quatro meses já começou a aparecer, eles compraram uma casa linda em um condomínio, o Alex é um bom homem, vai cuidar bem dela.

–Fala para ela que eu com certeza vou – sorri.

–Ela vai ficar muito feliz, te adora como se você fosse uma irmã – Doroteia diz.

...

Depois de me empantufar de tantas fatias da torta de camarão que a Doroteia fez, pego minha bolsa e os cartões de crédito que a minha mãe deixou, estou pronta para sair quando a porta abre e o Pietro aparece.

–Oi – ele diz.

–Oi – eu digo. – Vou sair.

–Vai aonde? – pergunta.

–Na livraria, preciso de coisas para fazer mais tarde – suspiro.

–Você tem coisas para fazer mais tarde. Vai sair comigo – ele sorri.

–Sair com você? – arqueio uma sobrancelha. – Para onde?

–Segredo.

–O que? Eu não vou sair com você, sei lá para onde – reviro os olhos. – Deus sabe onde é que você vai me levar.

–Tenha um pouco de fé Devito – ele pisca.

–Discutimos quando eu voltar – falo e pego minha chave na mesa de centro.

–Vou com você. Só para ter certeza que não vai se perder no caminho – Pietro sorri.

–Como se eu nunca tivesse ido lá – coloco a mão na cintura.

–Só para garantir, vamos – ele abre a porta. Eu passo por ele e o espero na calçada enquanto ele fecha a porta.

–O que quer comprar na livraria? – ele vem até mim e começamos a andar.

–O que se compra numa livraria? – sorri.

–Sabe o que quis dizer, que livros? – me olha.

–Hm, Belo Desastre, Desastre Iminente e A Última Carta de Amor – falo.

–Hm, interessante – ele diz.

–Onde você esteve à manhã toda? – pergunto.

–Com uma amiga – deu de ombros. – Velha amiga.

–Velha amiga? E com velha amiga você quer dizer...?

–Uma amiga que não é nova – ele ri.

–Você é um idiota – suspiro.

–Eu sei você me chamou disso umas cinquenta vezes só nesse final de semana – ele revira os olhos. – Você também é uma chata.

...

Chegamos à casa pouco mais das seis, depois da livraria fomos a sorveteria e ficamos andando pelo , eu com duas sacolas cada uma com três livros e o Pietro com um embrulho de presente dentro de uma sacola.

–Agora eu acho que você devia se arrumar, coloca uma roupa legal e fica com cara de adulta – ele pisca.

–Para onde vamos? – choramingo.

–Não vou te falar – ele sorri. – Vai logo. Vou te levar para jantar antes de irmos.

Vou para o meu quarto, tranco a porta e vou para o banheiro. Ligo meu Ipod e começa a tocar Katy Perry, Last Friday Night. Eu me dispo e entro no chuveiro, faço questão de passar uma eternidade lá dentro. Ouço o Pietro bater diversas vezes na minha porta. Saio do banho e me enrolo no roupão, seco o meu cabelo e deixo-o liso como seda. Vou para o meu closet e pego a roupa que vou usar.

Coloco o meu vestido sem alça preto de renda cortado nas laterais e que parece ter sido feito em medida de tão bem que caí no meu corpo, um salto de nove centímetros Peep Toe preto. Eu ainda não sei como consigo andar direito em cima dele, mas eu consigo.

Faço um make claro, nos olhos faço o delineador, lápis de olho e só uma sombra muito clara que não da nem para ver, mas na boca coloco um batom vermelho fosco.

Saio do quarto e vejo que o Pietro não está mais no dele. Desço as escadas e o vejo jogado no sofá assistindo televisão, paro no segundo degrau e quando me olha fica de boca aberta.

–Estou adulta o suficiente para você? – pergunto.

–Você está... Linda – ele diz ainda de boca aberta e levanta do sofá.

–Eu sei – sorri. – Mas obrigada. Você também não está nada mal.

Como eu já disse ele é mais bonito que o Taylor Lautner, eu não sei como pode ser isso, mas é. Pietro está com uma camiseta branca, jaqueta preta e um lindo All Star vermelho.

–Eu sei – ele pisca. – Vamos? Você passou quase duas horas lá dentro, como pode?

Sorrio para ele e reviro os olhos.

–Vamos.

Pietro apaga as luzes da casa e vamos para a garagem. Entramos no carro, Pietro abre a porta da garagem com o controle, ele sai de lá e fecha com o controle.

–Onde vamos comer? Estou com fome – digo.

–Em qualquer lugar. Aonde quer ir? – ele pergunta.

–Subway – falo.

–Então vamos lá – ele sorri.

...

–Eu adoro os sanduiches daqui – falo enquanto termino de comer o meu no carro.

–Eu sei, agora termina logo que já estamos chegando, você tá comendo esse sanduiche há quase meia hora – ele reclama.

–É grande – falo.

–E eu terminei o meu cinco minutos depois que chegou – ele me olha e depois volta a olhar para frente.

–Porque você come igual a um porco – retruco.

–Chegamos – Pietro diz estacionando em uma vaga.

–E eu terminei – sorri. Eu me olho no retrovisor e vejo que o batom ainda está intacto.

Pietro sai do carro, eu saio atrás dele e ele trava o carro. O lugar que o Pietro me trouxe é a boate, não qualquer boate é a Forever 17, uma das melhores boates daqui. Posso ver as luzes brilhando lá dentro e a musica estrondava e corpos se jogando lá dentro.

–A fila tá enorme Pietro – resmungo.

–Relaxa – ele sorri.

Pietro pega minha mão e atravessa a rua comigo, ele passa direto pela fila e fala com os seguranças, um dos caras sorri para ele e aperta sua mão.

–Pode entrar Pietro – o cara fala.

Pietro sorri para ele e para o outro segurança. E então estamos dentro e em um momento eu estou bebendo algum drink com álcool que o Pietro me trouxe e depois mais outro e mais outro e o Pietro também, e então estamos dançando e está tocando I Feel So Close e estamos dançando juntos e minhas mãos estão jogadas para cima e passo elas nos seus braços e seguro um pouco no seu pescoço e seus braços estão passeando por a minha cintura, eu sorri e ele sorri para mim. Levanto os braços pulando e jogo a cabeça para trás, estou feliz de estar aqui e em nenhum outro lugar; fecho os olhos por um momento e quando os abro encontro os olhos verde-esmeralda do Pietro e eles estão escuros e parecem estar pegando fogo, ele está com o seu sorriso mais sexy nos lábios e de repente é só isso.

Olhos e olhos.

Braços e braços.

E quase... Lábios e lábios.