Devia ter dito que lhe amava, devia ter lhe dado um primeiro e último beijo antes de você partir, devia ter te dado o abraço mais apertado e afetuoso que já dei em uma pessoa. Mas não fiz isso, simplesmente deixei você ir para aquela guerra fria e sangrenta sem ao menos desejar boa sorte.

Agora aqui estou eu, dividindo a cama com um velho porco a quem fui prometida, uma pessoa sem coração que se auto proclama meu marido, uma pessoa cruel, uma pessoa que me machuca tanto fisicamente quanto psicologicamente todos os dias e noites, uma pessoa que simplesmente não se importa com os outros. Como eu gostaria que você estivesse aqui. Todas as noites acordo clamando seu nome, implorando para que você volte da guerra, torcendo para que quando eu acorde seja você que esteja ao meu lado e não ele.

Então, tomo minha decisão, irei fugir... Para dar-lhe um último Adeus antes que eu morra, pois se não morrer pelas pancadas que recebo todas as noites, irei morrer por essa doença que está me consumindo por dentro.

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Acordo em meio à madrugada e me levanto, sem fazer o menor barulho possível, para que não acorde aquele velho que está em cima da cama, pego a corda que já tinha reservado no dia anterior e jogo-a pela janela. Desta vez não tomo muito cuidado, pois vejo aquela criatura se remexer e percebo que logo ele irá acordar.

Começo a descer pela parede, bem vagarosamente e cuidadosamente, até que finalmente consigo sair daquela prisão que chamava de casa, e uma estranha alegria começava a invadir meu corpo, mas como eu disse, só começava, pois quando olho para cima vejo a luz do quarto sendo acesa e ouço um grito forte, grosso e repleto de ódio. O desespero e o medo começam a tomar conta de mim, eu fico paralisada, se eu ficar parada aqui certamente irei morrer. Então percebo que só me resta uma opção: Sair correndo dali e achar algum local para me esconder.

Começo a correr em uma velocidade incrível e sobrenatural. Da onde tirei toda esta força? Não sei, ou talvez eu saiba, acho que o que conseguiu me mover naquele instante não foi o desespero, nem o medo, mas sim a necessidade que eu tinha de te encontrar e dizer-lhe tudo o que sentia antes que meu dia chegasse. Correndo pelas ruas escuras e molhadas desta cidade, piso em cacos de vidro, e meus pés começam a doer por estar descalça, olho para trás e vejo que aquele velho está vindo atrás de mim, e apesar de estar em uma distância considerável, continuo correndo o mais rápido que posso, pois mesmo daquela idade ele é rápido. De repente olho para o lado e vejo um campo, e á frente deste campo tem o que parece ser um bosque. Aquele parecia ser um local perfeito para eu me esconder, naquela hora, achava que esta era a melhor idéia para o momento, mas estava enganada. De repente, vejo uma figura estranha saindo do bosque e vindo em minha direção, ela estava há minha frente, e começava a se incorporar, era um homem, disso tinha certeza, e ele aproximava mais e mais... Até que consigo ver quem era.

Por um estranho momento achei que fosse chorar, não sabia o “porque” de você estar aqui, mas uma felicidade imensa tomou conta de mim, era você quem apareceu em minha frente, meu melhor amigo, meu príncipe, meu nobre, meu guerreiro que tinha voltado da guerra, meu Natsu Dragneel e mesmo um meio aquela escuridão, podia ver aquele sorriso que tanto amava em seu rosto. Você estava usando apenas vestes brancas, e ao seu redor havia um brilho inexplicável.

Mas foi aí que lembrei... Antes de morrer, minha mãe havia me falado, que quando uma pessoa morre, se transforma em um espírito, em uma alma livre, e que quando você vê um, percebe que mesmo estando na terra ele está calmo. Foi por isso que aquele velho que estava me seguindo não o viu e continuou vindo atrás de mim. A idéia de você ter morrido na guerra, me assombrou por um momento, mas e daí? Você havia voltado para me buscar. Você não dizia nada, apenas me encarava com seus belos olhos ônix e com seu sorriso calmo e tranqüilo no meio do rosto.

Até que ouço um baque, e sinto uma dor extrema em meu estomago, olho para baixo e vejo sangue, muito sangue. Aquele velho atirou em mim. Sei que agora é a minha vez de partir, olho para frente, e vejo que você não deu um passo, continuando a me encarar com o mesmo olhar de antes, mas sem o sorriso agora. Não desviando uma vez se quer.

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Tudo começa a escurecer, você que antes era um belo cavalheiro, com vestes brancas e um sorriso belo começou a se tornar um borrão. Não irei desviar o olhar, quero morrer olhando em seus olhos, que mostravam uma calmaria extrema e que também me acalmava. Sinto que chegou a hora. Apesar de estar morrendo, me sinto muito feliz, pois você veio me buscar. Mas antes de perder totalmente a consciência ouço você dizer uma coisa que sai quase como um sussurro. E assim parto.

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Tudo escureceu. Não ouso nada e não sinto nada. Dizem que quando você morre, você vê um filme da sua vida passar diante de seus olhos. Mas era mentira. Eu esperava ver um filme nosso. Desde o dia que nos conhecemos quando éramos apenas crianças sonhadoras, até o dia em que brigamos e você foi chamado para servir no exército. Mas não aconteceu nada. Tudo foi simplesmente tomado pela escuridão.

De repente vejo uma luzinha surgir, e essa luzinha vai aumentando e aumentando até tomar toda a minha visão. Eu acordo, e estou em um campo, no mesmo campo em que morri só que antes ele estava completamente assustador e aterrorizante, agora estava sendo tomado por uma beleza incrível, ele estava totalmente florido, com apenas rosas e margaridas brancas. Minhas vestes que antes estavam tomadas pelo sangue haviam se transformado em um lindo vestido branco.

Procuro por você sem saber se vou achá-lo ou não. Mas ao menos desta vez eu estava certa. Olho para trás e lá está você, parado em minha frente, com o mesmo sorriso que carregava, naquele momento aterrorizante. Mesmo um pouco tonta, vou correndo em sua direção. Você me dá um abraço forte e me gira no ar. Olhando fixamente nos meus olhos você diz:

–Eu te amo Lucy.

–Finalmente posso dizer que também te amo, meu guerreiro.

E assim partimos juntos, para uma vida sem dor, sem sofrimento, sem morte, sem nenhum Adeus, um lugar onde exista apenas amor. Estamos realmente indo para o Paraíso.

Fim