Destemido escrita por ImRav3nclaw


Capítulo 4
Decisão


Notas iniciais do capítulo

Esse demorou mais do que o esperado, desculpem por isso.



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A CURIOSIDADE DEVERIA SER SUA MAIOR MALDIÇÃO, pois se não tivesse insistido tanto para explorar a ilha, não estaria naquele túnel frio, assustador e escuro, onde o garoto não enxergava nada além de seu nariz.

Pensou na sua cama na gruta, nos belos jardins de Calipso, no bosque de cedros... Em todos os lugares em que preferiria estar naquele momento, até mesmo na entrada da caverna, onde Calipso o aguardava, será que estava bem? Será que estava sentindo frio? E se tudo aquilo fosse apenas uma armadilha para mantê-lo longe e pegá-la? Por que alguém naquela ilha iria querer fazer mal a ela? Existiria mais alguém naquela ilha? Por que alguém em qualquer lugar do mundo iria querer fazer mal a ela? Estaria ela inquieta esperando por ele? Estaria bem? Ele tinha vontade de voltar correndo e verificar por conta própria, mas fazer isso significaria estar fugindo do que quer que teria de fazer, ele sentia que era importante. Então ignorava o ímpeto de correr que chegava a cada cinco segundos e seguia em frente.

Ele tropeçava a cada nove passos, o chão era quase tão horrível quanto o cheiro. Ele quis saber de onde o cheiro vinha, mas achou melhor não descobrir, talvez a escuridão fosse uma coisa boa depois de tudo.

Um ponto de fumaça brilhante esverdeada apareceu, isso fez o garoto se perguntar se estaria perdendo a sanidade mental, ou tendo alucinações por causa do escuro... Provavelmente os dois.

A fumaça tomou forma de um cão selvagem e logo haviam outros animais feitos de fumaça ao redor de Leo. Lobos, raposas, coelhos, panteras, tigres e até mesmo pequeninas aranhas brilhando em verde, laranja, rosa e azul. Os animais o guiaram pela caverna, iluminando o caminho e fazendo o lugar parecer menos assustador.

Alguns metros depois Leo viu o primeiro cristal, era como os cristais da gruta, porém tinham um brilho sujo e escuro. A quantidade de cristais ficava cada vez maior até que ele se viu em uma câmara feita de cristais onde a caverna acabava. Tudo era feito de cristais, as paredes, o teto, o chão, o trono encostado á parede e os suportes para fogo como aqueles que se vê em luais. Os animais pararam em formação ao seu redor e deitavam no chão. Um tigre rosa, que mudava constantemente de cor, andou até o trono. O tigre assumiu a forma de uma jovem mulher, aparentava uns 20 anos de idade, tinha longos cabelos e olhos felinos, usava um vestido esvoaçante que flutuava ao redor de seus pés e pernas, com tiras soltas que se enrolavam em seus braços e cintura, ela parecia um fantasma do arco-íris, hora rosa, hora verde, hora azul...

–Leo Valdez, - disse a mulher. - Filho de Hefesto. Aproxime-se.

Sua voz soava tão antiga e poderosa que ele não pôde deixar de obedecê-la.

–Quem é você? - ele perguntou, parecia hipnotizado pela beleza da mulher, não que estivesse atraído por ela ou algo do tipo, afinal, ela era velha para ele. Mas emanava algum tipo de magia que o deixava em transe.

–Eu? - perguntou ela erguendo uma sobrancelha azul - Sou Ogígia, o espírito da ilha, o que deu a ela tal nome. Você pode pensar em mim como uma espécie de Delfos, mas eu não preciso de um hospedeiro mortal.

–Então, você pode fazer profecias e coisas sinistras desse tipo? - ele perguntou.

–Eu posso ver o que ocorre no mundo lá fora, - disse ela levantando-se do trono. - Apesar de ser uma ilha fantasma, esse lugar precisa de algo conectado ao mundo exterior. Do contrário, você nunca nem ninguém nunca a teria encontrado.

–Isso é muito legal e tudo o mais, mas por que estou aqui, cara de fumaça?

O rosto dela se contorceu, obviamente não ficara feliz com sua insolência.

–Viestes aqui por conta própria, - ela respondeu secamente. - Deverias saber.

Ele pensou por um segundo.

–Meus amigos, - ele se lembrou. - Pode me mostrá-los?

–Como queira. - ela disse com um sorriso, obviamente era o que esperava ouvir.

O cenário ao seu redor se dissolveu e foi substituído por um extremamente familiar, ele estava a bordo do Argo II, em sua cabine. Andou até o convés, onde Percy, Annabeth, Piper, Jason, Hazel e Frank se encontravam, seus rostos estavam exatamente do jeito que ele se lembrava. Talvez um pouco mais tristes.

–Não podemos continuar com isso, - Annabeth disse. - Não dá mais.

–O que quer dizer com isso? - perguntou Jason, ele tinha os olhos inchados. Piper apertou a sua mão.

–Percy e Frank estão ficando exaustos e ainda não o encontramos. - Annabeth falou - Temos de aceitar que ele se foi.

–Ele não está morto. - disse Hazel.

–Eu também não quero acreditar nisso, Hazel, - Annabeth disse massageando as têmporas. - Mas são os fatos.

–Não, - Hazel disse com uma voz esganiçada. -Ele não está morto. Eu sei, eu sentiria se a alma dele chegasse ao mundo inferior, mas não senti.

–Então temos de continuar a procurar. - Disse Frank, colocando-se atrás de Hazel com as mãos nos ombros da garota.

Annabeth concordou com um meneio de cabeça, preocupada. E os outros se retiraram, com exceção de Percy.

–Não se preocupe, Annabeth. - ele disse - Vai ficar tudo bem.

–Eu só não quero que vocês se esforcem atoa. Vocês estão exaustos, estão nisso há mais de um mês.

UM MÊS? ELE ESTAVA DESAPARECIDO HÁ UM MÊS?

–Nós vamos encontrá-lo. - ele disse.

–Mas e se nós não o encontrarmos? - ela perguntou.

Percy pareceu reagir de forma estranha ao ouvir a expressão "e se", como se aquilo tivesse algum efeito sobre ele.

–Não sei, apenas não sei. - Ele ouviu a voz de Percy dizer.

Então tudo desapareceu enquanto as palavras de Percy ecoavam no ar.

Ogígia reapareceu diante de seus olhos. Estava deitada de lado em seu trono, como naquelas pinturas onde criados davam uvas na boca de gente importante.

Ela jogou a cabeça para trás, bocejou e disse:

–Ué, já voltou?

Por algum motivo, ele sentiu raiva.

–O que isso quer dizer? - ele perguntou.

Ela soltou um suspiro como se aquilo fosse óbvio e ele burro demais para perceber.

–Será que eu tenho que explicar tudo para você? - ela perguntou - É simples, você está aqui há tempo demais e ainda não se decidiu.

–Decidi o que? - ele perguntou, aborrecido.

Ela revirou os olhos.

–Se vai ficar ou partir. Seus amigos devem saber se ainda precisam lhe procurar, ou se devem desistir. Você precisa dar uma posição a eles, e deve isso a Calipso também.

–É claro que eu vou partir! Eles precisam de mim... Mas Calipso, sinto que ela também, e não quero deixá-la.

–Então ambos precisam de você, - ela bocejou outra vez. - A questão é: Quem precisa mais?

Ela sorriu maliciosamente e ergueu as sobrancelhas.

–Eis aqui algo para te ajudar a se decidir.

Foi aí que o fogo começou.

Labaredas enormes apareceram a sua volta, queimando tudo em que tocavam. Estalactites e estalagmites de cristais explodiram e alguns cacos o atingiram, cortando-lhe a pele.

–Vão, pequeninos. Vão - a voz dela ecoou. - Deixem um recado para que esse garoto magrinho não se demore demais e tenhamos que trazê-lo ao nosso encontro outra vez.

Os animais pularam sobre ele. Por mais que fossem feitos apenas de fumaça, suas garras pareciam bem sólidas contra a pele. Arranharam, morderam e o derrubaram no chão.

Leo estava apavorado.

Ele se levantou e, cambaleante, correu o mais rápido que pôde. Os animais o perseguiram, juntamente com a risada de Ogígia que ecoava nas paredes estreitas.

Quando finalmente atingiu a saída da caverna, caiu de cara no chão.

–LEO! - gritou Calipso, que foi ao seu encontro.

Quando a garota de aproximou, qualquer vestígio de fogo ou dos animais de fumaça desapareceu. Como se sua presença os anulasse.

–F-foi horrível, - ele disse. - Havia...

–Shh, - ela disse. - Não me conte, eu sou proibida de saber o que há lá dentro. Consegue se levantar?

Ele acenou positivamente com a cabeça.

Ela precisou apoiá-lo o caminho todo, quando chegaram á clareira, ela o levou para dentro da sua casa.

–Eu não deveria permitir que entrasse aqui, mas você perdeu sangue demais com esses cortes. Não há tempo.

O interior da casa era impressionante.

A mobília era simples, delicada e discreta como a própria Calipso, ela o levou para o quarto e deitou-o na pequena cama de solteiro. Pegou uma jarra de água e um pano e começou a limpar os ferimentos do garoto.

–Quanto tempo até eu estar bom? - ele perguntou.

–São apenas cortes e arranhões, você estará novo em folha pela manhã. Mas considerando seu tom de voz cansado, amanhã à noite.

Depois de limpos, ela espalhou uma coisa pastosa e verde sobre os ferimentos e então cantou. Cantou com uma voz doce e suave que fez Leo querer se levantar e dançar rodopiante em volta de uma fogueira e ao mesmo tempo fechar os olhos deixando que as palavras o embalassem em um sono profundo. Ele podia sentir a pele se curando por debaixo da gosma.

Ela limpou a gosma esverdeada e na pele apenas restaram linhas rosadas onde ela passou uma espécie de pomada e depois cobriu com gaze. Calipso foi até um armário de onde tirou uma pequena pilha de roupas brancas, entregou um conjunto de calça e camisa para ele. E manteve algo com ela.

–Mude de roupa, passará a noite aqui. - ela disse e se retirou.

Calipso voltou minutos depois vestindo uma camisola folgada de seda com forro de algodão, era larga como aquelas batas hippies. De certa forma, combinava com ela. Os cabelos estavam soltos e molhados.

–Precisa de alguma coisa? - perguntou.

–Não. - ele respondeu.

Ela se aproximou, dando um beijo de leve em sua testa.

–Nesse caso, boa noite.

A garota estendeu um lençol no chão e deitou-se.

–O que está fazendo? - ele perguntou.

–Você está com a cama. - ela respondeu com simplicidade.

–Não seja boba. Eu sou magrelo, você pode dormir aqui.

Ela corou.

–Ei, - disse ele ao ver a reação dela. - Eu sou apenas um pirralho, não precisa se preocupar.

Ela se levantou e, com cautela, deitou-se na beirada da cama, o mais afastada dele o possível. Leo virou-se de costas, tentando deixá-la mais confortável e começou a pensar sobre o que teria de fazer. Ambos precisavam dele, mas quem precisava mais? Calipso era solitária e com certeza ficaria arrasada caso ele partisse. Mas seus amigos o procuravam incansavelmente, cada aspecto de desempate em que pensava, trazia prós e contras para ambos os lados, tornando sua escolha mais difícil.

Ele sentiu quando ela rolou para seu lado, ele se virou para ela e viu que estava chorando.

–Você vai partir, não é?

Apenas palavras dela o fizeram notar que por mais que ele parecesse confuso, sua escolha já havia sido feita.

–Vou.

–Então irá assim que acordar.

Ele sentiu as lágrimas quentes em sua camisa quando ela o abraçou e adormeceu ao som de seu choro baixo.

Seu último pensamento foi: Dessa vez não existe Leo para todo mundo.


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