Black Hole escrita por juliananv


Capítulo 25
Capítulo 25 Verdade


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora. Problemas de família.
Revisor anda meio... ocupado.



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      Bella começou a se mexer. Já fazia muito tempo que ela dormia; sabia pela sua respiração que agora ela estava realmente acordando. Ela havia falado muito durante a noite, na maior parte das vezes chamando por mim e implorando para que eu ficasse, isso fazia o meu peito doer. Contudo, houve um momento mais duro, foi quando Bella chamou por ele:


 


            - Jake...


 


            Saber que ele também tinha espaço nos sonhos dela não foi nada agradável. O pior foi ver claramente que ele a fazia feliz: ela sorriu enquanto chamava seu nome. Foi uma única vez, mas bastou para abalar ainda mais a pouca confiança que eu tinha.


 


            Todas as vezes que ela falou o meu nome ao longo da noite, seu semblante era de sofrimento, dor. E, em nenhum momento, ela disse que me amava... Antes ela sempre dizia isso enquanto sonhava, o tempo todo. Estava com medo de que, quando finalmente despertasse, Bella me mandasse embora. Ela estaria certa em fazer isso.


 


            Beijei a sua testa, temendo ser a última vez; senti o seu cheiro, despedindo-me. Ela estava acordada, mas não abria os olhos. Esperei impaciente.


 


            -Oh!


 


            Bella me olhou e rapidamente fechou os olhos, apertava os pulsos contra eles. Cheguei mais perto do seu rosto, queria poder beijá-la, passei o tempo todo me controlando para não fazer isso, não queria acordá-la. Ela estava muito cansada, precisava dormir. Quando ela abriu novamente os olhos, parecia estar surpresa. Esperava que eu fosse uma boa surpresa para ela, mas em se tratando da Bella eu não podia ter certeza de nada.


 


            - Eu a assustei? – perguntei ansioso.


 


            Bella me olhava franzindo a testa e eu, a cada segundo, ficava mais ansioso e temeroso. Respeitei o fato de ela precisar organizar os seus pensamentos e eu aproveitava o tempo para olhá-la. Bella parecia ainda ter dificuldade em me olhar nos olhos, desviava-os de mim. Ela estava absolutamente deslumbrante mesmo assim, toda amassada e descabelada, por ainda estar despertando. Ela deu um pulo antes de falar:


 


            -Ah, droga!


 


            Foi como se o meu corpo pudesse ficar ainda mais frio; entrei em pânico. Ela não me queria ali, era isso. Mesmo sabendo que isso era possível, não estava preparado; o buraco em meu peito pareceu voltar e crescer rapidamente. Ela iria me pedir para sair; sabia que nunca a mereci antes, agora ainda menos. Não queria ouvir as palavras que ela iria me dizer; suspirei fundo antes de falar novamente:


 


            - Qual é o problema, Bella? – ela me olhava feio.


 


            - Morri, não é? - Bella sussurrou. - Eu me afoguei. Droga, droga, droga! Isso vai matar o Charlie.


 


            Olhei para ela tentando entender o que dizia. Esperava por tudo, pela fúria dela, pelo desprezo ou até mesmo, ainda que fosse impossível de acreditar, que ela continuasse me amando da mesma maneira que antes. Menos isso.


 


            - Você não está morta – disse suavemente.


 


            - Então por que não estou acordando?


 


            Ela devia ter se tornado sonâmbula enquanto estive fora.


 


            - Você está acordada, Bella – ela balançava a cabeça.


 


            - Ah, sim, claro. É o que você quer que eu pense. E depois vai ser pior quando eu acordar. Se eu me acordar, o que não vai acontecer, porque estou morta. Isso é péssimo. Pobre Charlie. E Renée e Jake...


 


            Odiava ver o nome dele saindo dos lábios dela. Contudo, o que realmente me pegou de surpresa foi ela estar pensando que eu podia fazer qualquer coisa que fosse para lhe causar alguma dor. Ela falava como se eu a estivesse enganando, que quisesse que ela sofresse. Impossível. Isso acabaria comigo.


 


            - Entendo que você possa me confundindo com um pesadelo. Mas não imagino o que pode ter feito para parar no inferno. Você cometeu muitos assassinatos enquanto estive fora?


 


             - É claro que não. Se eu estivesse no inferno você não estaria comigo.


 


            Suspirei aliviado. Ela não parecia que me mandaria embora, não naquele momento pelo menos. Bella parou de me olhar e começou a tomar consciência de que estava acordada. Ela corou, para a minha total felicidade:


           


            - Então, tudo aquilo aconteceu mesmo?


 


            Ela olhou em meus olhos. Consegui ver claramente o quanto ela ainda estava magoada comigo. A dor que eu vi ali me fez lembrar de como eu mesmo me sentia havia alguns dias. Nunca conseguiria me livrar da culpa por ter feito o meu amor sofrer.


 


            - Depende – sorri. - Se está se referindo a nós quase sermos massacrados na Itália, então, sim.


 


            - Que estranho! Eu fui mesmo à Itália. Sabia que eu nunca tinha ido mais longe do que Albuquerque?


 


            Definitivamente ela estava dormindo. Depois de tudo o que ocorreu, ela só pensava em quão longe havia ido? Ela ainda conseguia me surpreender.


 


            - Talvez você devesse voltar a dormir. Você está incoerente.


 


            - Não estou mais cansada.


 


            Bella se espreguiçava, eu olhava para ela me perguntando se algum dia eu conseguiria olhá-la sem me impressionar com a sua beleza. Ela era tudo o que eu podia querer. E milagrosamente ela estava ali, viva. Entretanto, sentia-a meio evasiva. Bella parecia estar escolhendo as palavras, evitava me olhar. Estava sendo um covarde: tinha medo de perguntar o que ela obviamente queria esconder de mim. Imaginava se ela pudesse realmente ter alguma coisa mais seria com o lobo; só pensar já doía muito.


 


            - Que horas são? Por quanto tempo fiquei dormindo?


 


            - Agora é só uma da manhã. Então, umas catorze horas.


 


            Bella parecia estar disposta a falar de qualquer coisa que não fosse nós dois. Isso estava me deixando completamente maluco.


 


            - Charlie?


 


            Primeira consequência com que eu teria de lidar, se ela ainda me aceitasse: o Charlie. Teria que conquistar novamente a confiança do pai dela. Charlie estava completamente certo por me odiar tanto, no lugar dele faria o mesmo. Na verdade, eu me odiava verdadeiramente por tudo que aconteceu, muito mais do que ele.


 


            - Dormindo. Você deve saber que eu estou quebrando todas as regras agora. Bem, não tecnicamente, uma vez que ele disse que eu nunca voltaria a passar pela porta, e eu entrei pela janela... Mas, ainda assim, a intenção era clara.


 


            - Charlie proibiu sua entrada aqui em casa? - Bella olhava, brava.


 


            - Esperava outra reação?


 


            Seus olhos pareciam estar tomados por algo que eu nunca havia visto antes. Assustei-me com a intensidade do sentimento que eu não conseguia nomear. Ela suspirou para se controlar antes de falar:


 


            - Qual é a história?


 


            - O que quer dizer?


 


            - O que eu vou dizer a Charlie? Qual será a minha desculpa para ter desaparecido por... Quanto tempo fiquei fora, aliás?


 


            - Só três dias. Na verdade, eu estava esperando que você tivesse uma boa explicação. Eu não tenho nenhuma.


 


            Nem havia pensado nisso. Estava concentrado em vê-la dormir, em tentar me controlar perto dela. Esqueci completamente que ela teria de dar uma explicação para o Charlie. Ela estava distante, estranha, não parecia a doce garota que eu conheci.


 


            - Ótimo – ela disse sarcasticamente.


 


            - Bom, talvez Alice pense em algo.


 


            Ela alternava o olhar que eu tanto amava com um olhar diferente, receoso, cauteloso. Sabia que ela ainda gostava de mim, mas não conseguia ver se isso seria o suficiente para que conseguisse me perdoar.


 


            - Então... O que você andou fazendo até três dias atrás?


 


            Eu nunca revelaria para ela o quanto isso tudo me fez sofrer; mesmo que Bella não me quisesse, jamais eu contaria as coisas que fiz. Ela não precisava saber disso. Fazia parte da personalidade dela colocar o sentimento dos outros na frente dos dela; se eu desconfiasse que ela estaria comigo por pena, que estaria desperdiçando a sua curta vida só para me fazer sentir melhor... não seria certo, não seria justo.


 


            - Nada de terrivelmente emocionante - disse.


 


            - É claro que não!


 


            Consegui entender aquela emoção: fúria! Bella me olhava como se estivesse em fúria. Não conseguia entender os seus motivos.


 


            - Por que está fazendo essa cara?


 


            - Bom... Se no final das contas você fosse só um sonho, esse seria o tipo exato de resposta que você daria. Minha imaginação deve estar acostumada.


 


            Suspirei aliviado. Ela ainda parecia me considerar digno de estar pelo menos na sua presença.


 


            - Se eu contar, você vai enfim acreditar que não está tendo um pesadelo?


 


            - Pesadelo! – esperei até que ela me levasse a sério. – Talvez... Se você me contar.


 


            - Eu estava... caçando – optei por parte da verdade.


 


            - É o melhor que pode fazer? Isso, definitivamente, não prova que estou acordada.


 


            Não queria ter de revelar a verdade para ela, era desnecessário e constrangedor. Contudo, devia a ela tudo, minha própria existência e sanidade. Não contaria tudo, mas alguma explicação eu teria que dar.


 


            - Não estava caçando para me alimentar... Estava me testando em... seguir rastros. Não sou muito bom nisso – admiti constrangido.


 


            - Que rastros você estava seguindo?


 


            Ela me lançou o mesmo olhar curioso que eu tanto amava. Fiquei envergonhado em ter de admitir para ela o quão idiota e imprudente eu fui e como os meus atos a colocaram em perigo.


 


            - Nada de importante.


 


            - Não entendi.


 


            Contrariado, comecei a contar para Bella o quanto eu me sentia culpado não só por tê-la abandonado, mas também por deixá-la desprotegida:


 


            - Eu... Devo-lhe desculpas. Não, é claro que eu te devo muito, muito mais do que isso. Mas você precisa saber... precisa saber que eu não fazia a menor idéia. Não percebi a confusão que estava deixando pra trás. Pensei que aqui fosse seguro para você. Muito seguro. Não fazia idéia de que Victória voltaria. Devo admitir, quando a vi daquela vez prestei muito mais atenção aos pensamentos de James. Não vi que ela podia ter esse tipo de reação. Tampouco que ela tivesse tamanho vínculo com ele. Acho que agora percebo porquê... Ela era tão confiante com relação a James que nunca lhe ocorreu a idéia de ele falhar. Foi o excesso de confiança que encobriu os sentimentos dela por ele... Isso me impediu de ver a intensidade entre os dois, o vínculo que existia ali.


 


            Enquanto me explicava, o rosto da Bella foi se transformando, ela estava tomada pelo pânico e pela dor. Não conseguia entender. Antes de nos separarmos, eu conseguia ler pelo menos a sua fisionomia. Estava tudo diferente agora, Bella parecia diferente. Havia algo que eu não conseguia entender. Às vezes ela me olhava, parecia que me queria, e, segundos depois, tudo estava diferente. Continuei assim mesmo, ela tinha o direito de saber como eu me sentia:


 


            - Não que haja alguma desculpa para o que eu deixei para você enfrentar. Quando soube do que contou a Alice... o que ela própria viu... quando percebi que você colocara a sua vida nas mãos de lobisomens, imaturos, voláteis, a pior coisa que há lá fora, além da própria Victoria. Por favor, entenda que eu não fazia idéia de nada disso. Sinto-me aflito, aflito no meu âmago, mesmo agora, quando posso sentir você segura em meus braços. Eu sou o mais miserável pretexto para...


 


            Ela me interrompeu com o olhar duro, parei de respirar:


 


            - Pare com isso!


 


            Ela suspirou profundamente e fechou os olhos;parecia estar organizando os seus pensamentos. Esperei em total desespero. Do nada, Bella abriu os olhos e começou a falar sem nem mesmo parar para respirar:


 


            - Edward... Isso tem que parar agora. Não pode pensar nos fatos deste jeito. Você não pode deixar que essa... essa culpa... domine a sua vida. Não pode assumir a responsabilidade pelo que me acontece aqui. Nada disso é culpa sua, apenas faz parte de como a vida é para mim. Então, se eu tropeçar na frente de um ônibus ou o que quer que aconteça na próxima vez, precisa perceber que não cabe a você assumir a culpa. Não pode simplesmente sair correndo para a Itália porque se sente mal por não ter me salvado. Mesmo se eu tivesse pulado daquele penhasco para morrer, isso teria sido opção minha, não culpa sua. Sei que é da sua... da sua natureza assumir a culpa por tudo, mas não pode deixar que isso o leve a esses extremos! É muito irresponsável... Pense em Esme, Carlisle...


 


            Ouvia as palavras dela chocado. Como ela podia pensar que o que eu fiz foi por me sentir culpado? Claro que eu também me sentia culpado; contudo, isso não era nada comparado com a dor que eu sentia por ter acreditado que ela havia morrido. Agora quem estava enfurecido era eu:


 


            - Isabella Marie Swan! Você acha que pedi aos Volturi para me matarem porque eu me sentia culpado?


 


            - E não foi?


 


            - Sentindo culpa? Intensamente. Mais do que você pode compreender.


 


            - Então... Do que está falando? Não entendo.


 


Olhava para ela e parecíamos dois estranhos. Não conseguíamos nos entender. Resolvi ser claro com ela. Se ela decidisse me mandar embora, lidaria com isso depois. Agora tínhamos que nos entender de uma vez.


 


            - Bella, eu fui aos Volturi porque eu pensei que você estivesse morta – tentei controlar a intensidade da minha voz. - Mesmo se eu não tivesse nada a ver com a sua morte, mesmo que não fosse a minha culpa, eu teria ido à Itália. Claro que eu devia ter sido mais cuidadoso... Devia ter falado diretamente com Alice, em vez de aceitar o relato repassado por Rosalie. Mas, na realidade, o que eu devia pensar quando o garoto disse que Charlie estava no enterro? Quais eram as chances? As chances... As chances sempre estavam contra nós. Um erro depois do outro. Nunca mais vou criticar Romeu -ela me olhava confusa.


 


            - Mas ainda não entendo. Essa é toda a questão para mim. E daí?


 


            - Como? – como e daí?


 


            - E se eu estivesse morta?


 


            Tinha visto pela memória da Alice que a Bella se lembrava da nossa última tarde tranquila antes do seu aniversário. Eu disse que não seria capaz de viver sem ela; antes eu só imaginava isso, agora cada célula do meu corpo tinha absoluta convicção. Será que ela não acreditava mais no meu amor? Fui tão convincente assim?


 


            - Não se lembra de nada do que eu lhe disse antes?


 


            - Lembro-me de tudo o que disse – ela falou secamente. - Incluindo as palavras que anularam todo o resto.


 


            Não resisti e passei o dedo pelos lábios dela, ela recuou.


 


            - Bela, parece que você é vitima de um mal entendido – sorri esperançoso que este fosse o problema, com isso eu podia lidar. - Pensei que já tivesse explicado com clareza. Bella, não posso viver em um mundo onde você não exista.


 


            - Eu estou... Confusa.


 


            Conseguia claramente ver que ela acreditava que eu não a queria. Precisava explicar a ela tudo, o porquê de me sentir obrigado a abandoná-la, a mentir para ela.


 


            - Eu minto muito bem, Bella, tenho que ser assim.


 


            Fiquei em pânico com a fisionomia de dor dela. Comecei tudo errado, como sempre. Sem ter os pensamentos da Bella para me guiar, eu sempre falava besteira, sempre me atrapalhava.


 


            - Deixe-me terminar! – implorei. - Eu minto bem, mas, ainda assim, você acreditar em mim com muita rapidez. Foi... doloroso. - Eu ainda não conseguia entender como ela foi capaz de acreditar em mim tão rapidamente. Isso me magoava, a falta de fé que ela tinha por meu amor. - Quando estávamos na floresta, quando eu lhe disse adeus – suspirei fundo, isso ainda doía. - Você não ia aceitar - sussurrei. - Eu sabia. Não queria fazer aquilo... Parecia que fazer aquilo ia me matar... Mas eu sabia que se eu não conseguisse convencê-la de que eu não a amava mais, você ia levar muito mais tempo pra retomar a sua vida. Eu esperava que, se você achasse que eu havia seguido em frente, você faria o mesmo.


 


            - Um rompimento sem dor – ela falou tão baixo que se eu não fosse o que era não a teria ouvido.


 


            - Exato. Mas nunca imaginei que seria tão fácil fazer você acreditar! Pensei que seria praticamente impossível... Que você teria tanta certeza da verdade que eu teria de mentir por horas para pelo menos plantar a semente da dúvida em sua mente. Eu menti, e lamento muito... Lamento porque magoei você, lamento por ter sido um esforço inútil. Lamento não tê-la protegido do que sou. Menti para salvá-la, e não deu certo. Perdoe-me.


 


            Ela me olhava estranhamente, não falava nada, mal respirava. Esperei. Ela continuou em absoluto silêncio. Estava ansioso. Voltei a falar, havia tanto que eu queria dizer a ela:


 


            - Mas como pôde acreditar em mim? Depois de todos as milhares de vezes que eu disse que a amava, como pôde deixar que uma palavra anulasse a sua fé em mim? Pude ver isso nos seus olhos, que você sinceramente acreditou que eu não a queria mais. A idéia mais absurda e mais ridícula... Como se houvesse algum modo de eu existir sem precisar de você!


 


            Esperei novamente e nada. Bella parecia incapaz de falar novamente, ela parecia ter se esquecido de como isso era tremendamente difícil para mim. Olhei profundamente em seus olhos. Estava começando a me preocupar com seu estado, ela estava praticamente imóvel. E se ela não me quisesse e estivesse apenas preocupada em como me dizer? Tentando me proteger de mim mesmo, Bella era assim. Estava nervoso, ansioso, não conseguia para de falar:


 


            - Bella! Francamente, o que você estava pensando?


           


            Ela começou a chorar, entrei em pânico. Odiava vê-la assim.


 


            - Eu sabia! Sabia que estava sonhando – ela sussurrou dolorosamente.


 


            - Você é impossível – sentia-me impotente, ela não confiava mais em meu amor. - Como posso explicar isso de modo que acredite em mim? Você não está dormindo e não está morta. Estou aqui e amo você. Sempre amei você e sempre amarei. Fiquei pensando em você, vendo o seu rosto em minha mente, durante cada segundo que me ausentei. Quando lhe disse que não a queria, foi o tipo mais atroz de blasfêmia.


 


            Ela me olhava, claramente pensando que eu mentia. Isso estava me deixando amedrontado. E se ela fosse incapaz de acreditar em mim novamente, o que eu podia fazer?


 


            - Não acredita em mim, não é? Por que pode acreditar na mentira, mas não na verdade?


 


            - Me amar nunca fez sentido para você.


 


Suspirei e me concentrei para fazer o que eu estava maluco de vontade desde que nos encontramos em Volterra. Mesmo que o monstro parecesse que estava sob controle, eu ainda poderia machucá-la com a minha força, ela era tão delicada como um fino cristal.


 


            - Vou provar que está acordada.


 


Inacreditavelmente, ela tentava me evitar, o que me deixou extremamente ferido.


 


            - Não, por favor – ela implorou.


 


            Parei em pânico. Ela devia estar mentindo para mim, ela amava o lobo agora. Tomei coragem e perguntei de uma vez o que eu precisava saber; meu mundo podia acabar depois disso, mas o suspense não estava me ajudando também:


 


            - Por que não?


 


            - Quando eu acordar... – eu ia protestar, ela estava acordada! – Tudo bem, esqueça isso... Quando você partir de novo, já será bem difícil sem isso.


 


Ele se afastou um centímetro, para olhar para o meu rosto.


 


            - Ontem, quando eu ia tocar em você, você estava tão... hesitante, tão cautelosa, e no entanto ainda está assim agora. Eu preciso saber o porquê. É por que cheguei tarde demais? Por que a magoei muito? Por que você deixou tudo mesmo para trás, como dei a entender que fizesse? Isso seria... muito justo. Não vou contestar sua decisão. Então, não tente poupar os meus sentimentos, por favor... Só me diga agora se você ainda pode me amar ou não, depois de tudo que a fiz passar. Pode?


 


            - Que tipo de pergunta idiota é essa?


 


            - Só responda. Por favor – esperei a resposta dela sem conseguir respirar. Meu mundo estava prestes a ruir novamente, tinha absoluta certeza disso.


 


            - O que sinto por você jamais vai mudar. É claro que amo você... E não há nada que você possa fazer com relação a isso.


 


            - Era tudo o que eu precisava ouvir.


 


            Fui invadido por uma felicidade e por um alívio tão grande que nem dei tempo a ela para negar. Nós nos amávamos, nós nos queríamos, ela me disse; eu tinha certeza do amor que a Bella sentia por mim, ela arriscou tudo o que tinha. Segurei seu rosto e a beijei. Tudo ficou para trás, a dor, o medo. Victoria, Volturi, os lobos, nada mais importava; ela importava. Ela me queria, sentia isso em seus lábios, em seu corpo; era como se eu estivesse queimando. Nada parecido com o que a Jane fazia; era um fogo diferente, amor, paixão, loucura, tudo misturado. O corpo da Bella respondia a todos os meus toques de maneira intensa, muito mais do que antes. Agora, ambos compreendíamos que era impossível vivermos um sem o outro. O gosto dela era muito melhor do que eu me lembrava. Contrariado, comecei a me afastar. Ela estava ofegante e eu também; mas eu era forte, ao contrário da Bella. Não queria que ela desmaiasse em meus braços novamente.


 


            - Bella... – sussurrei, deitei a minha cabeça em seu coração. O meu milagre pessoal estava vivo, não me cansava de repetir isso a mim mesmo.


 


            Quando ela e eu conseguimos controlar a nossa respiração, senti que ela ficou tensa novamente. Será que ainda duvidava depois de tudo, depois disso?


 


            - A propósito. Não vou deixar você – senti-a congelar em meus braços. - Não vou a lugar nenhum. Não sem você. Só a deixei antes porque queria que tivesse a oportunidade de ter uma vida humana feliz e normal. Podia ver o que estava fazendo com você... Mantendo-a constantemente à beira do perigo, tirando-a do mundo a que pertencia, arriscando sua vida em cada momento em que estava comigo. Então eu precisava tentar. Tinha que fazer alguma coisa, e parecia que o único caminho era deixá-la. Se eu não achasse que você ficaria melhor sozinha, jamais teria tido coragem de partir. Sou egoísta demais. Só você podia ser mais importante do que o que eu queria... do que eu preciso. O que quero e preciso é ficar com você, e sei que nunca serei forte o bastante para partir de novo. Tenho desculpas demais para ficar.... Felizmente! Parece que você não consegue ficar segura, por maior que seja a distância que eu coloque entre nós.


 


            - Não me prometa nada!


 


            Sua voz era enérgica, ela nunca antes usara este tom comigo. Acomodei-me melhor para poder olhá-la nos olhos. E ainda estava lá o olhar que confirmava: Bella não acreditava mais em mim. Mesmo me amando, ela parecia ser incapaz de se entregar a mim novamente. Teria de lutar para reconquistá-la. Eu merecia isso. Eu menti para ela.


 


            - Acha que estou mentindo para você agora?


 


            - Não... não mentindo – ela claramente mentia. –Você pode estar sendo sincero... agora. Mas e amanhã, quando pensar em todos os motivos da sua partida? Ou no mês que vem, quando Jasper me der uma dentada? - Precisava fazer alguma coisa, ela tinha de acreditar no meu amor! - Você pensou bem na primeira decisão que tomou, não foi? Vai terminar fazendo o que acha que é certo.


 


            - Não sou tão forte como você pensa. O certo e errado deixaram de significar grande coisa para mim; ia voltar de qualquer modo. Antes de Rosalie me dar a notícia, eu já deixara de tentar viver uma semana de cada vez, ou mesmo um dia de cada vez. Lutava para suportar uma única hora. Era só uma questão de tempo... – não revelaria a ela que eu estava voltando, não queria dar motivos para a Bella e a Rose não se entenderem - e não muito... para eu aparecer na sua janela e implorar que me recebesse de volta. Eu imploraria com prazer agora, se assim você quisesse.


 


            - Não brinque, por favor – ela torcia o nariz.


 


            - Ah, não estou brincando. Poderia, por favor, procurar ouvir o que estou lhe dizendo? Vai me deixar tentar explicar o que você significa para mim?


 


Esperei até ter certeza de que ela prestava total atenção em mim, que não estava tendo uma discussão interna.


 


            - Antes de você, Bella, minha vida era uma noite sem lua. Muito escura, mas havia estrelas... Pontos de luz e razão... E depois você atravessou o meu céu como um meteoro. De repente tudo estava em chamas; havia brilho, havia beleza. Quando você se foi, quando o meteoro caiu no horizonte, tudo ficou negro. Nada mudou, mas os meus olhos ficaram cegos pela luz. Não pude ver as estrelas. E não havia mais razão para nada.


 


            - Seu olhos vão se acostumar.


 


            - Esse é o problema... Eles não conseguem.


 


            - E suas distrações?


 


            Sorri. O que ela imaginava ser uma distração, para mim eram desculpas, pretextos; forçava-me a fazer de tudo para não voltar. Acabei me transformando em um suicida, essa era a única explicação para o meu comportamento imprudente. Inconscientemente, eu já estava buscando pela morte.


 


            - Só fazem parte da mentira, meu amor. Não existe distração para a agonia. Meu


coração não batia havia quase noventa anos, mas isso era diferente. Era como se meu coração não estivesse ali... Como se eu estivesse oco. Como se eu tivesse deixado com você tudo o que havia aqui dentro.


 


            - Engraçado.


 


            - Engraçado?


 


            Ela estava tão magoada comigo a ponto de ter mudado; Bella era incapaz de se divertir com o sofrimento de quem quer que fosse.


 


            - Eu quis dizer estranho... Pensei que fosse só comigo. Também faltaram muitos pedaços de mim. Não consegui respirar por muito tempo – ela suspirou profundamente. - E meu coração. Esse estava definitivamente perdido.


 


            Doía muito saber o quanto eu a havia feito sofrer sem necessidade, bem como que agora ela corria mais riscos por meus erros. Não podia deixar que a Bella soubesse o quanto isso me magoava, ela não precisava sofrer mais e eu faria de tudo para que isso não acontecesse. Não mediria esforços para que eu nunca mais viesse a ser a causa de seu sofrimento. Escutava as batidas do seu coração enquanto me fazia essa promessa. Somente os desejos dela importavam.


 


            - Então rastrear não foi uma distração? – Bella perguntou.


 


            - Não. Nunca foi uma distração. Era uma obrigação.


 


            - Como assim?


 


            - Embora eu nunca estivesse esperado nenhum perigo vindo da Victoria, não ia deixar que ela se safasse – ouvi o coração da Bella acelerar de medo. – Bem, como eu disse, fui péssimo nisso. Eu a rastreei até o Texas, mas depois segui uma pista falsa até o Brasil... E ela na verdade tinha vindo para cá. – Enfurecia-me saber disso. – Eu nem estava no continente certo! E nesse meio tempo, pior do que meus piores temores...


 


            - Você estava caçando Victoria? - ela gritou em pânico.


 


            Não entendi a razão. Era óbvio que eu nunca permitiria que ela vivesse. E agora era ainda pior: só de pensar em seu nome, eu era tomado de fúria. Bella estava pálida. Ficamos em silêncio, esperando para ver se Charlie havia acordado. Quando ficou claro que não, voltei a falar baixo:


 


            - Não me saí bem. Mas farei melhor da próxima vez – prometi a ela.


 


            - Isso está.... fora de cogitação.


 


Ela temia por mim, estava claro; isso me deixou envaidecido. Mas eu não podia permitir que ela vivesse; Bella nunca estaria segura com a Victoria livre.


 


            - É tarde demais para ela. Posso ter deixado escapar a outra oportunidade, mas não agora, não depois...


 


            - Você não prometeu que não ia embora? – ela me interrompeu, sua voz trêmula de medo. – Isso não é lá muito compatível com uma longa expedição de rastreamento, não é?


 


            - Vou cumprir a minha promessa, Bella. Mas Victoria... vai morrer logo.


 


            - Não sejamos precipitados. Talvez ela não volte. O bando de Jake deve tê-la espantado. Não há motivo para procurar por ela. Além disso, tenho problemas maiores do que Victoria.


 


            - É verdade, os lobisomens são um problema.


 


            -Não estava falando do Jacob. Meus problemas são muito maiores do que alguns lobos adolescentes se metendo em encrencas.


 


            Odiava ver que ela falava o nome dele com tanto carinho. Escondi o ciúme doentio que isso me causava. Não faria nenhum bem se ela ou ele soubessem disso. Deixaria brechas em meu relacionamento com a Bella, brechas que poderiam ser ocupadas com ele. Eu não era burro para permitir que ele tivesse este poder. Entretanto, o pior era que ela não conseguia ver o quão perigoso era estar na presença de lobisomens. Tudo bem, dormir agarrada a um vampiro também não era muito seguro.


 


            - É mesmo? Então qual seria o seu maior problema? O que, em comparação, faria da volta da Victoria uma questão menor?


 


            - Que tal o segundo maior problema?


 


            - Tudo bem – aceitei relutante. Ela nunca respondia às minhas perguntas mesmo.


 


            - Existem outros que virão atrás de mim – relaxei, isso no momento não era o meu maior problema.


 


            - Os Volturi são o segundo maior problema?


 


            - Você não parece se incomodar.


 


            - Bem, temos muito tempo para pensar no assunto. O tempo para eles significa algo diferente do que para você, e até para mim. Eles contam os anos com você conta os dias. Não me surpreenderia que você tivesse 30 anos antes de passar pela cabeça deles de novo.


 


            Senti que ela novamente enrijeceu em meus braços, seu coração se acelerou. Não gostei de senti-la assim novamente, Bella não precisava ter medo. Nunca permitiria que nada viesse a feri-la. Segurei gentilmente o rosto delicado dela em minhas mãos. Ela chorava, isso me feria, vê-la sofrer... era demasiadamente difícil para mim.


 


            - Não precisa ter medo. Não vou deixar que eles a machuquem – tentava acalmá-la.


 


            - Enquanto você estiver aqui.


 


Suspirei:


 


            - Nunca mais a deixarei.


 


Ela ainda duvidava:


 


            - Mas você disse 30. O quê? Você vai ficar mas deixar que eu envelheça assim mesmo? Tudo bem.


 


            - É exatamente isso que eu vou fazer. Que escolha eu tenho? Não posso viver sem você, mas não vou destruir a sua alma.


 


Esse era outro problema que me consumia: Bella tinha pavor de ficar mais velha que eu. Era praticamente impossível negar a ela o que ela queria, principalmente porque uma boa parte de mim concordava com ela.


 


            - Isso é mesmo...


 


            - Sim?


 


            - Mas e quando eu ficar tão velha que as pessoas vão pensar que eu sou a sua mãe? Sua avó?


 


            - Isso não significa nada para mim. Você sempre será a coisa mais linda do meu mundo. É claro que... se você ficar mais madura do que eu. Se quiser algo mais... eu entenderei Bella. Prometo que não vou atrapalhar se você quiser me deixar.


 


            - Entende que um dia eu vou morrer, não é?


 


Esta era a parte mais dolorosa do meu plano: saber que em algum momento ela morreria. No meu futuro, eu passaria novamente pela agonia de perdê-la. Fazia-me titubear, mas tinha de ser forte, não podia acabar com as chances dela de ter o direito ao paraíso.


 


            - Vou logo depois de você, assim que puder.


 


            - Isso é seriamente... doentio.


 


            - Bella, é a única maneira certa.


 


Inacreditavelmente, depois de tanto tempo separados, tínhamos a mesma discussão. Algumas coisas parecem não mudar jamais...


 


            - Vamos recapitular por um minuto. Lembra-se dos Volturi, não é? Não posso ficar humana para sempre. Eles vão me matar. Mesmo que só pensem em mim quando estiver com 30 anos, acha mesmo que vão esquecer?


 


            - Não. Eles não vão esquecer. Mas...


 


Ela me interrompeu, nervosa; seu coração batia descompassado:


 


            - Mas?


 


            - Tenho alguns planos.


 


            - Esses planos. Esses planos estão baseados em minha permanência como humana?


 


            - Naturalmente.


 


            Ela me olhava brava, mas não desviei o olhar. Ela não podia descobrir o poder que tinha sobre mim, isso arruinaria tudo. Se Bella soubesse que era quase impossível que eu lhe negasse algo, tudo estaria perdido. Ela se afastou de mim. Entrei em pânico. Uma parte do meu cérebro, a menos sensata, se perguntava se não era somente isso que ela queria de mim, a imortalidade. Isso é muito tentador. Sabia que era idiotice. Ela deu provas mais do que suficientes de que era a mim que ela queria. Faria tudo por isso, abria mão da sua alma se fosse preciso. Contudo, mesmo assim, aquela voz irritante não se calava.


 


            - Quer que eu saia?


 


            - Não. Eu estou saindo.


 


Ela me olhou, seu corpo se moveu minimamente em minha direção, fiquei esperançoso que ela voltasse para o meu lado. Ela recuou, levantou-se e começou a andar pelo quarto. Parecia estar procurando algo.


 


            - Posso perguntar aonde você vai?


 


            - Vou até sua casa.


 


            - Tome seus sapatos. Como pretende chegar lá?


 


            Gelei quando recordei da promessa da Alice. Não podia permitir que ela fosse até lá. Não enquanto Alice ainda estava determinada a fazer isso. Teria de arrumar uma maneira de impedir que a minha irmã o fizesse. Mas como parar Alice? Ela é impossível de ser refreada. Fingi concordar.


 


            - Na minha picape.


 


            - Isso provavelmente vai acordar o Charlie.


 


            - Eu sei. Mas, sinceramente, do jeito que as coisas estão, vou ficar de castigo por semanas mesmo. Que problemas mais eu posso ter?


 


            - Nenhum. Ele vai me culpar e não a você.


 


            Não gostava de tentar manobrá-la, sabia que ela era tão ou mais teimosa do que eu. Ela estava definitivamente decidida a ir para a minha casa. Olhando em seus olhos, eu vi que era uma batalha perdida, mas não conseguia abrir mão de tentar impedir.


 


            - Se tiver uma idéia melhor, sou toda ouvidos.


 


            - Fique aqui.


 


Coloquei todo a minha determinação em meus olhos. Isso funcionaria com qualquer outro humano; obviamente, Bella não era como a maioria.


 


            - Nada feito. Mas você pode ficar, sinta-se em casa.


 


            Bella se virou para a porta. Antes que ela conseguisse dar um passo, eu bloqueei o seu caminho. Ficamos medindo força, um olhando nos olhos do outro. Bella se virou para a janela, obviamente pensando em se jogar de lá. Com o seu histórico, não podia arriscar. A janela não era tão alta quanto o penhasco, mas, se ele não a intimidou, a janela muito menos. Desisti, ela iria de qualquer jeito. Precisava pensar, teríamos uma discussão enorme quando chegássemos em casa.


 


            - Tudo bem. Vou te dar uma carona – aproximei-me e senti o seu calor acalmando o meu desespero.


 


            - Tanto faz. Mas acho que talvez devesse estar lá também.


 


            - E por que isso?


 


            - Por que você é muito apegado às suas opiniões, e tenho certeza de que vai querer ter a oportunidade de expressá-las.


 


            Estava tenso. Bella visivelmente estava fazendo algo que era importante. E eu não estava gostando do que via em seus olhos.


 


            - Minhas opiniões sobre que assunto?


 


            - Não se trata só de você. Você não é o centro do universo, sabe disso. Se você vai trazer os Volturi até nós por algo tão idiota quanto me manter humana, então a sua família deve se pronunciar.


 


            Já conseguia ter alguma noção do que ela pensava, mas não queria acreditar nisso. Bella era muito mais engenhosa do que eu poderia supor.


 


            - Se pronunciar sobre o quê?


 


            - Minha mortalidade. Vou colocá-la em votação.


 


            Realmente, ela era muito mais esperta do que eu.


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Notas finais do capítulo

Capítulos finais até dia 20.

bjos



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