Black Hole escrita por juliananv


Capítulo 1
Capítulo 1 Festa




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Eu sei o quanto ela estava triste com a chegada desta data, 13 de setembro. Eu entendia perfeitamente a razão do seu desespero e no fundo eu também estava angustiado: o nosso tempo juntos estava se aproximando do fim; os humanos têm uma vida muito curta.


 


            Olhei para ela durante toda a noite. Nada muito diferente do que eu estava acostumado a fazer nestes últimos meses. No entanto, esta noite eu procurava algo novo, qualquer sinal em seu rosto perfeito que indicasse a passagem do tempo. Obviamente não encontrei nada. Um dia, contudo, esse momento iria chegar. Não que isso pudesse mudar o amor descontrolado que eu sinto por ela; nada no mundo tinha esse poder.


 


            Bella estava muito inquieta, debateu-se a noite toda. Não gosto quando ela dorme assim, pois me angustia a possibilidade de que algo a fizesse sofrer; mesmo que só um sonho, era insuportável para mim essa sensação de impotência.


 


            -Humm, vó...


 


            Ela estava sonhando com a avó, então não deveria ser nada muito desagradável.


 


            O dia estava amanhecendo, e eu ainda precisava tentar refrear Alice. Ainda que pequena fosse a chance de algum sucesso, não podia desistir. Dei, então, um rápido beijo em Bella e corri para casa.


 


            Alice estava agitadíssima com os preparativos e não pude deixar de me divertir com a situação. Afinal, a ultima festa de aniversário que fizemos foi para Emmett, em 1935. Já fazia muito tempo que deixamos de comemorar os aniversários.


 


            E ai, Edward, Bella está mais feliz?


 


            - Alice, você sabe tão bem quanto eu que ela odeia este tipo de coisa. Por favor, você não pode desistir desta festa? Nós poderíamos levá-la para jantar em Port Angeles ou Seattle...


 


            - De maneira nenhuma! Você sempre me decepciona, Edward. Sabe que isso não é só importante para mim. Esme também ama este tipo de comemoração e Bella merece o melhor. Mesmo que ela embirre um pouco, no final ela vai gostar, será muito divertido. - E, com uma piscada, ela voou pela casa para continuar com os preparativos.


 


            Não sei por que ainda me dava ao trabalho de discutir com essa baixinha teimosa, Alice é incorrigível.


            - Edward! - Esme me chamou enquanto descia as escadas segurando várias velas cor-de-rosa. - Acho que você vai gostar da surpresa. Adivinhe quem vem para a festa? - Neste momento fiquei totalmente tenso, não gosto de vampiros estranhos perto de Bella; com a sorte dela, nada de bom podia resultar de tal aproximação.


 


            - Relaxe, Edward! - disse Alice, que descia a escada logo atrás de Esme, praticamente soterrada por mais velas cor-de-rosa. - Pare de ser tão pessimista! Você anda tão dramático, acho que é coisa de humanos...


 


            - Tá legal. Mas e aí, quem está chegando?


 


            - Emmett e Roseli. Não é maravilhoso? - Esme estava transbordado de alegria, nada agradava mais minha mãe do que ter toda a sua família reunida.


 


            - Jura? Como Emmett conseguiu realizar a proeza de convencer Roseli a vir? Ela sempre é tão egocêntrica...


 


            - Não seja tão mesquinho com ela, Edward - ralhou Esme. - Eu sei que ela é meio difícil, mas ela ama esta família, você sabe muito bem disso. - O olhar bondoso de Esme sempre me deixava com uma enorme sensação de gratidão; não poderia ter escolhido uma pessoa melhor para ser minha mãe nesta minha semi-vida. Tenho certeza de que, se minha verdadeira mãe Elizabeth pudesse ter escolhido alguém para tomar o seu lugar, ela teria escolhido Esme.


 


            - Tudo bem, mãe. Mas será que Roseli vai conseguir se comportar? Já não será muito fácil para Bella ficar feliz com o seu aniversário e, quando souber da festa, então sei que não vai ficar nada satisfeita. - Bom, muitas vezes ela me surpreende, mas não creio que desta vez isso irá acontecer. E se Roseli for grosseira? As coisas podem virar um fracasso total!


 


            - Não se preocupe com isso, filho, eu vou falar com ela. Não que isso seja necessário, Roseli nunca me envergonharia deste jeito.


 


            Às vezes minha mãe não consegue ver nossos defeitos. Ela sempre nos via com os olhos do coração. Entretanto, eu conhecia Roseli muito bem, teria de monitorar os seus pensamentos a noite toda. Não permitiria que nada magoasse o meu amor.


 


            - Alice, você tem certeza de que Bella iria enlouquecer se eu desse para ela um carro? Aquela picape, - balancei a cabeça - não sei quanto tempo mais posso aguentar, às vezes tenho medo que Bella se corte e pegue tétano... - tremi só em imaginar.


 


            - Edward, você já viu, mostrei isso milhares de vezes! Mas é você que sabe, o pescoço é seu. No entanto, eu não pegaria tão pesado assim. Tenha paciência. Quem sabe no natal?


 


            Concordei, apesar da má vontade. Eu logo ia ter de dar um jeito logo naquela coisa... Quando a picape quebrasse, Bella iria precisar de um carro novo; seria o meu momento! Já até escolhi o modelo perfeito.


 


            - Bom, Esme, - disse Alice - volto assim que puder para te ajudar a terminar. Vamos, Edward! Não vai querer chegar depois da Bella, vai?


 


            Você não vai com essa roupa para a escola, repetir um modelito é imperdoável!


Sem mencionar que está toda amassada, será que eu posso...


 


            - Muito obrigado, mas não! Eu me arrumo sozinho, e te encontro no carro em meio segundo.


 


            Alice me olhava com decepção. Ela realmente não desistia.


 


            Chegamos à escola, o dia estava perfeitamente nublado, sem nenhuma brecha entre as nuvens que permitisse a passagem de raios de sol. Menos de um minuto depois, comecei a ouvir aquela “geringonça” chegando - aquilo não podia ser classificado na categoria de automóveis. Porém, eu até que lhe era um pouco grato, pois com a sua escandalosa aproximação eu sabia que ela estava mais próxima. Senti, então, como se meu corpo todo relaxasse.


 


            Ouvi o seu coração se acelerar quando os nossos olhares se cruzaram. Todas as vezes que a olhava nos olhos perdia-me em sua profunda beleza. Eu não conseguia acreditar na sorte que tinha: como era possível que o meu anjo, o meu tudo, me olhasse daquele jeito, como se eu fosse algo bom, e não um mostro?


 


            Não acredito nisso, olha a cara dela! Edward, você não a deixou dormir? E agora, como ela vai ficar perfeita para a festa? Aposto que ela não vai me deixar cuidar disso... Alice estava furiosa.


           


            - Ela está perfeita, Alice. E eu, apostar com você? Nunca!


 


            Alice bufou; eu só pude rir. Tudo bem que ela estava com um pouco de olheiras, mas era sempre linda, mesmo com aquele beicinho de tristeza. Bella estava realmente muito irritada, o que era engraçadíssimo; tinha que me controlar para não rir.


 


            Ela desceu da picape, bateu a porta com força e veio em uma velocidade extremamente lenta (até mesmo para um humano...), tentando não cair, como sempre. Quando ela se aproximou, pude sentir o seu cheiro e o monstro que habitava em mim despertou furioso. O impulso de atacá-la era ainda maior agora, já que ele tinha provado do gosto de seu doce sangue. - Que droga, Edward, controle-se! Como era irritante  eu me sentir assim.


           


            Inspirei profundamente, pelo nariz, e senti minha garganta queimar. Essa dor já me era tão familiar que, quando eu não a sentia, me fazia falta; bom, não pela dor, mas pelo que ela representava: Bella estava próxima, ela ficaria junto de mim.


 


            - Alice, ela vai ficar furiosa com você, esconde logo este presente! - Sugeri, frustrado.


 


            Que droga, Edward! Faça-me o favor de jogar no meu time desta vez! Sei que ela vai gostar do nosso presente, quero estar junto para ver sua reação.


 


            - Você é terrivelmente convencida, sabia? - Muito rápido, para que ninguém além de mim pudesse ver, Alice virou-se e mostrou-me a língua.


 


            Bella se aproximava e a sua tristeza me trazia aquele impulso de protege-la, como quando a vi pela primeira vez.


            Alice, abusada como sempre, correu e tomou a frente da situação: ela não queria perder a oportunidade de ser a primeira a irritar Bella. Se eu não conhecesse bem minha irmã e não soubesse que ela a amava verdadeiramente, eu estaria muito irritado agora. Mas, sendo Alice quem era, eu só podia rir da situação.


 


            Edward, olha a cara dela, chega a dar dó... Você tem que dar um jeito nisso! Use um pouco do seu charme para colocar Bella num clima melhor; que falta faz o meu Jasper nestas horas... Os pensamentos de Alice eram sarcásticos.


 


            - Feliz aniversário Bella! - disse Alice.


 


            -Shhh! - Sussurrou Bella, corando. Extremamente constrangida, ela olhava para todos os lados, na esperança de ninguém ter ouvido.


 


            Alice, porém, não estava nem um pouco preocupada em ser discreta.


 


             Edward, prepare-se: vou iniciar o assunto da festa. Não precisa ficar tão tenso, vou com calma. E vê se me ajuda, ela vai dar só um pequeno piti. Entretanto, ao contrário de você, Bella sempre acaba cedendo às minhas vontades. - Claro, pensei. Bella tendia a pirar de culpa e Alice sabia manipular as pessoas como ninguém.


 


            - Bella, quer abrir seu presente agora ou depois? – Perguntou Alice.


 


            - Deixa de ser falsa, Alice! - falei tão baixo que só ela podia me ouvir.


 


            - Nada de presentes! – Bella já estava escarlate.


 


            - Por favor, dê um tempo a ela. - Sussurrei para Alice.


 


            Tudo bem, mas ainda temos que falar da festa, eu previ que será muito pior se ela for pega de surpresa.


 


            Enquanto caminhava em minha direção, Alice tentava distraí-la, perguntando se havia gostado dos presentes que ganhou de Charlie e Renée, uma maquina fotográfica e um álbum para guardar as fotos que viesse a tirar. Rapidamente fugindo do tema “aniversário”, Bella disse que sim.


 


            Eu me concentrava em observar Bella durante a conversa. Ignorava todo o “falatório” das pessoas em minha cabeça e fitava seus lábios, a maneira como eles se moviam perfeitamente enquanto ela falava, e controlava o desejo que eu tinha de beija-la e tocar sua delicada pele... Parecia que, ao invés de ajudar a me conter, às vezes ela queria me atrapalhar; Bella sempre tendia a se esquecer de quem eu sou quando estamos nos beijando. Uma grande parte de mim se sentia enormemente envaidecido com isso, porém eu também me preocuva, e muito, com esta situação. A falta de medo de Bella sempre me deixava inquieto.


            Mais um passo e eu pude finalmente pegar a sua mão. O contato com a sua pele quente sempre me inundava com várias ondas de correntes elétricas que pulsavam sobre todo o meu corpo. Olhando para ela, ouvi o seu coração vacilar e delicadamente levantei minha mão que estava livre e toquei em seus lábios; ela deu uma leve estremecida e, então, sorriu. Acalme-se, Edward, não vai pegar bem se você a agarrar aqui. Controle-se!


 


            Dei um longo suspiro antes de falar com ela.


 


            - E então, como discutimos, não tenho permissão para lhe desejar um feliz aniversário, é isso mesmo? - É claro que eu já sabia a resposta, mas não consegui não provocá-la.


 


            - É. É isso mesmo. - Irritada feito um gatinho, hilário.


 


            - Só estou verificando. - Eu não conseguia parar, eu adoro ver a expressão dela quando está assim, constrangida e irritada ao mesmo tempo. - Você bem que podia ter mudado de idéia. A maioria das pessoas parecem gostar de aniversários e presentes. – É claro que com ela seria diferente. Quando foi que Bella se pareceu com a maioria das pessoas? Ela é especial, ela é única.


 


            Alice riu, até tinha me esquecido de sua presença perto de nós. Quando Bella estava perto de mim o resto do mundo parava de existir.


 


            - É claro que você vai gostar - disse Alice. - Todo mundo tem que ser gentil com você hoje e fazer as suas vontades, Bella. Qual a pior coisa que pode acontecer?


 


            Neste momento a fisionomia de Bella, que já estava frágil, desmoronou de vez. Ela realmente estava muito infeliz.


 


            - Ficar mais velha - ela disse em um sussurro, com os olhos cheios de lágrimas, o que me fez balançar; eu podia pôr um fim neste sofrimento.


 


            Como se pudesse ler minha mente, Alice me mostrou de novo Bella imortal, Bella vampira. “Não!”, eu pensei com toda a força do meu ser. Eu nunca vou fazer isso com ela, não vou acabar com a sua alma. Não vou condená-la também.


 


            Na tentativa de tentar mudar o clima, Alice tagarelava que ter dezoito anos não era grande coisa... Bella não se deixava distrair com facilidade.


 


            - É mais do que o Edward. - Bella sussurrou novamente.


 


            Eu suspirei. É muito difícil para mim negar qualquer coisa a ela. Mesmo que essa coisa fosse errada.


 


            - Tecnicamente – disse Alice. – Mas só por um ano.


 


            Não pude deixar de pensar novamente que dali a alguns anos ela iria começar a envelhecer. Eu daria tudo, faria qualquer coisa para poder envelhecer com ela. Mas isso me foi negado quando me tornei esta coisa desprezível que sou.


            Agora, Edward! Alice pensou, para chamar minha atenção e quebrar o clima de velório que estava começando a tomar conta de mim.


 


            - A que horas você vai sair de casa? - Alice começou bem calma, mas, conhecendo-as como eu conhecida, isso logo iria mudar.


 


            - Não sei se vou para casa. – Bella já havia entendido o que estava por vir, ela é muito rápida nisso.


 


            - Ah, por favor, Bella! – pronto, Alice já estava começando a perder a sua curta paciência – Não vai estragar a nossa diversão desse jeito, vai?


 


            - Pensei que no meu aniversário eu pudesse fazer o que eu quisesse. – Os olhos de Bella se estreitaram, ela estava tentando aparentar fúria, mais parecia uma gatinha irritada novamente (eu amo quando ela faz isso, Bella fica muito sexy assim, bravinha). Mas eu precisava intervir antes que Alice transformasse isso em uma batalha.


 


            - Eu vou apanhá-la em casa logo depois da escola. – Disse da maneira mais suave que consegui enquanto fazia carícias em sua mão com os meus dedos.


 


            Precisa se esforçar mais, Edward, pensava Alice, cheia de petulância. Ela começou a me imaginar abraçando Bella e tentando convencê-la a aceitar a festa entre um beijo e outro. Viu? Assim seria muito mais fácil, ela não iria conseguir dizer não. Sem contar que você ia ficar bem feliz também... Franzi o cenho para Alice.


           


            - Menos, Alice. - Falei bem rápido, só para ela ouvir.


 


            - Tenho que trabalhar – Bella ainda tentava se esquivar do que era inevitável.


           


            - Na verdade, não tem – falou a baixinha irritante, ela sempre estava um passo à frente. Pobre Bella - Já falei com a Sra. Newton sobre isso. Ela vai trocar seus turnos. E me pediu para lhe dizer “Feliz Aniversário”.


 


            Os lábios de Bella ficaram ligeiramente mais brancos, ela se debatia procurando uma saída.


 


            - E... Eu ainda não posso ir. Eu bom, ainda não vi Romeu e Julieta para a aula de inglês.


 


            - Alice, por favor, vamos só leva-la para jantar fora. Podíamos fazer uma noite de casais, ia ser bem legal... Tudo bem que a gente só iria fingir comer. - Só Alice me ouviu implorar por Bella, mas é claro que, sendo o monstrinho irritante que era, ela nunca iria ceder.


 


            Edward, basta! Ou você me ajuda com a festa ou a coisa vai ficar feia, eu previ! Eu detesto quando ela faz isso.


 


            Bufando, Alice contra-atacou:


 


            - Você conhece Romeu e Julieta de cor. - Falando isso, Alice fez uma careta.


            Tinha de reconhecer, Bella estava melhorando em resistir a Alice.


 


            - Mas o Sr. Berty disse que precisávamos apreciá-lo plenamente... Era o que Shakespeare pretendia.


 


            - Você já viu o filme. - Alice podia discutir com ela a manhã toda, pois sabia que no final iria vencer. Era até divertido ver o cabo-de-guerra das duas.


 


            - Mas não a versão dos anos 60. O Sr. Berty disse que era a melhor. - Bella se agarrava a este filme como se ele fosse um bote-salva-vidas.


 


            Edward, a aula já vai começar, se você não me ajudar a convencê-la, vou levá-la amarrada para a festa! Não estou há dias me concentrando nisso para desperdiçar o meu maravilhoso talento! Os pensamentos de Alice eram presunçosos.


 


            Por fim, tive que intervir:


           


            - Relaxe, Alice. Se Bella quer ver um filme, então pode ver. É o aniversário dela.


 


            - Viu? - Bella acrescentou, relaxando um pouco, imaginando que eu a livraria deste constrangimento.


 


            No entanto, antes que Alice pensasse em cumprir suas ameaças, acrescentei:


 


            - Vou levá-la por volta das sete. Isso lhe dará bastante tempo para preparar tudo.


 


            O sorriso de vitória de Alice foi estonteante, mas o que me preocupava era o semblante triste do meu amor; não suporto ver Bella sofrer, mesmo por um motivo tão bobo como este. Ela precisa se acostumar a ser paparicada, se vai ficar comigo enquanto viver, isso fará parte de sua vida diariamente.


 


            - Parece ótimo – Alice acrescentou. – Nos vemos à noite, Bella! Vai ser divertido, você verá.


 


            Não se esqueça de avisá-la que Emmett e Roseli estão a caminho, será melhor assim. Enquanto Alice pensava isso, deu um delicado beliscão na bochecha rosada de Bella, numa fraca tentativa de animá-la, e correu para não perder a sua primeira aula.


 


            - Edward, por favor... – ela começou a me pedir. Que droga, eu nunca consigo negar nada a ela... Tinha que fazê-la parar de falar, caso contrário Alice arrancaria a minha cabeça.


 


            Então, coloquei o meu dedo frio em seus lábios quentes:


 


            - Discutiremos isso mais tarde. Vamos nos atrasar para a aula.


 


            Enquanto seguíamos para nossa primeira aula, eu ia pensando o que poderia fazer pela Bella para que ficasse mais animada no dia de hoje e rapidamente me lembrei do que ela achava que mais queria neste momento. Não, isso eu não posso fazer, eu não vou fazer. Bella não sabe o que está me pedindo, ela não tem noção do que perderia quando mudasse. Nem depois de cem anos eu não tinha certeza se preferia ter morrido de gripe a me tornar um monstro. Não posso condenar a razão de minha existência ao mesmo destino amaldiçoado que o meu.


 


            Agora assistíamos a quase todas as aulas juntos. Graças às minhas habilidades de convencer as pessoas, diferentemente de Bella, a secretária da escola, Srta. Cope, sempre atendia aos meus pedidos. Por que com Bella tudo tinha que ser tão difícil? Bem, fazia parte de seu charme ser tão teimosa e eu não queria que ela mudasse em nada: ela era perfeita daquele jeito.


           


            Quando chegamos em nossa sala, percebi que Mike estava novamente tendo pensamentos inadequados com a minha namorada. É impressionante como um humano tão comum e insignificante podia me irritar tanto. Queria de algum jeito conseguir nunca mais “ouvir” esse garoto...


 


            O dia seguiu normalmente. Se não fosse por Bella, a escola hoje estaria muito tediosa, como sempre foi antes de ela aparecer e iluminar minha vida. Nunca havia imaginado que um dia fosse gostar de ir para a escola.


 


             Pensei o dia todo em uma maneira de deixar Bella um pouco mais feliz. Pareceu-me, afinal, que Alice tinha razão: eu teria que “distrair” Bella novamente. Ainda me lembrava da primeira vez que fiz isso, antes daquele infeliz jogo de beisebol. Não gostava de pensar em como fui imprudente daquela vez; se tivesse levando em conta os medos de Bella com a corrida, talvez nada tivesse acontecido.


 


            Será que eu devia desistir da festa? Será que Bella podia sentir que algo ruim fosse acontecer? Ah, quanta bobagem! Estava ficando paranóico com sua proteção. Bella foi à minha casa quase todos os dias nos últimos seis meses e nunca nada aconteceu que a colocasse em perigo. Acho que estava mesmo sendo pessimista.


 


            Quando chegamos à cantina da escola, Bella estava um pouco mais animada. Sentamos juntos em nossa mesa; Alice nos acompanhava. Emmett, Jasper e Roseli tinham se “formado” novamente (já perdi as contas de quantas formaturas participamos ao longo dos anos).


 


            Eu não fazia a mínima questão de dividir a mesa com os “amigos” de Bella. No entanto, era importante para ela ter esse tipo de relacionamento e eu não queria que a minha presença a privasse de nada. Alice parecia se divertir muito, ela gostava de interagir com humanos.


 


            Se eu revelasse para Bella o que seus amigos pensavam dela isso poderia mudar; mas eu nunca seria capaz de magoá-la dessa maneira era imperdoável. Bella, porém, tinha dois amigos que realmente gostavam dela, Angela e Ben, que agora estavam namorando, graças ao teatro que Emmett e eu fizemos. Ben não gostava muito de mim, o que não causava surpresa, pois fingi me interessar por Angela, na tentativa de fazer com que ele tomasse coragem e a convidasse para o baile. Acertei em cheio. Agradava-me muito ter feito isso, pois eles se completavam. O amor que Ben sentia por Angela era puro e verdadeiro; ela merecia isso, sempre foi uma boa pessoa, uma boa amiga para Bella.


 


            Acabei me surpreendendo quando vi que aprendi a gostar de uma humana como amiga, o que era muito estranho para mim. Frequentei tantas escolas e universidades ao longo de décadas e nunca tinha “ouvido” um humano por tanto tempo para poder descobrir como alguns deles são realmente bons. Angela era uma daquelas pessoas raras, gostava disso; ter uma amiga humana era uma experiência muito diferente das com que estava acostumado. Devia isso também a Bella, que sempre me deu mais do que eu a ela.


 


            O resto do dia passou rápido. O tempo sempre corria quando eu estava com ela.


           


            No final da aula, Bella já estava sorrindo de novo. Aquela ruga que aparecia entre seus olhos quando ela estava nervosa ou irritada já havia sumido. Dava-me um enorme prazer ver Bella segura e feliz, e isso ao meu lado era tudo o que eu poderia querer da vida.


 


            Enquanto andávamos pelo corredor da escola de mãos dadas, ouvi Alice pensando em meu nome muito alto:


 


            Edward... Edward , você vai ter que ficar com ela a tarde toda, eu estou vendo que ela vai tentar se livrar desta festa de algum jeito, e, com vocês juntos, as chances são praticamente nulas. Vou com o seu carro, você vai com ela na picape, sinto muito por isso.


 


            Eu estava planejando caçar. Desde que me vi apaixonado por Bella passei a caçar com maior freqüência; já era muito difícil ficar ao lado dela com a sede sob controle; ainda que não estivesse com sede, só ia caçar por excesso de cuidado. Tinha prometido a mim mesmo que nunca relaxaria nos cuidados com ela, mas passar o dia todo com Bella era muito irresistível. Depois da festa eu a levaria embora e iria caçar antes de escalar sua janela novamente.


 


            Fui com ela até sua “geringonça”, como fazia todos os dias. Porém, abri a porta do carona para Bella. Ela me olhou com irritação, parecia se sentir traída.


 


            Já era tão difícil andar nesta coisa, com Bella dirigindo era ainda pior. Tinha pavor de que ela batesse e se machucasse. Seus reflexos eram muito lentos, o que, entretanto, acabava combinado direitinho com a picape, que era mais lenta do que ela.


 


            - É meu aniversário, não posso dirigir? – Ela detestava quando eu dirigia sua geringonça, mas eu nunca imaginei que fosse tanto assim. Embora quisesse esquecer que dia era hoje, mesmo assim usou isso para proteger a picape do que ela considerava mais perigoso em mim: meu modo de dirigir. Bella bobinha.


 


            - Estou fingindo que não é seu aniversário, como é do seu desejo.


 


            - Se não é meu aniversário, então não tenho que ir para a sua casa hoje à noite...


 


            Bella teimosa.


 


            - Muito bem... - Fechei a porta do carro, passei por ela sentindo o calor do seu corpo, e fui abrir a porta do motorista para ela. – Feliz aniversário.


            - Shhhh! – Bella corou novamente; fingindo irritação, ela entrou no carro. Será que ela realmente pensou que eu ia aceitar a sua proposta? Às vezes ela era tão sonhadora...


 


            Entrei no carro, que já estava impregnado com o seu cheiro. Embora já estivesse habituado a isso, em algumas ocasiões a queimação se intensificava e esta foi uma delas. O gosto do veneno em minha boca fez com que eu vigiasse mais de perto o monstro.


 


            Para que Bella não percebesse a minha angústia, resolvi provocá-la:


 


            - Seu rádio tem uma recepção horrível. – Bingo, ela já estava nervosa. Ficaria ainda mais irritada à noite, quando ganhasse o rádio novo de Emmett, Jasper e Roseli.


 


            - Quer um bom sistema de som? Dirija o seu próprio carro. – Ela bem que tentou ser grosseira comigo, mas fazia isso de forma tão suave que me encantava; as poucas vezes em que ela tentava ser rude era mas sedutor do que grosseiro, não consegui não rir.


 


            Quando ela parou na garagem de sua casa, eu queria acalmá-la um pouco, então decidi que era hora de deixá-la “tonta”. Cheguei bem perto dela para falar:


 


            - Devia estar de bom humor, hoje é o seu dia.


 


            - E se eu não quiser ficar de bom humor? - a respiração dela já estava mais forte e irregular, a vitória seria fácil e extremamente prazerosa para mim.


 


            - Isso é péssimo. – Disse antes de me render ao desejo que eu segurei o dia todo, Nada no mundo se comparava aos lábios de Bella, o gosto, o calor. Era indescritível a sensação de prazer e felicidade que me inundavam quando a beijava, nenhum sangue que provei em meus primeiros negros anos de vampiro se comparava a isso. A única sensação que me proporcionou tal prazer foi o gosto do seu doce sangue; no entanto, provar o seu sangue, mesmo que para salvá-la de se transformar em um mostro, me deixou muito culpado, o que não acontecia depois de beijá-la.


 


            Essa lembrança fez com que eu voltasse à realidade. Então, antes do que eu gostaria, separei-me dela. Claro que ela resistiu um pouco, como sempre.


 


            - Seja boazinha - sussurrei em sua bochecha com a maior delicadeza que pude; peguei gentilmente suas mãos e coloquei em volta da cintura dela.


 


            Se ela imaginasse a dor que me causava ter de fazer isso... Ter que me afastar dela era a pior sensação possível, mas eu prometi a mim mesmo que só assim poderia ficar perto dela; se perdesse o controle uma única vez, eu iria embora.


 


            Finalmente pude entender como Emmett se sentia. Demorou quase 10 anos para que ele conseguisse se controlar perto de Roseli; para ele era mais fácil, pois Roseli era mais resistente que Bella.


 


            Sentia-me envaidecido quando ouvia o coração da Bella se comportar assim, ele estava frenético, era como se cantasse para mim: “tum-tum, tum-tum”, “te amo, te amo”.


 


            Parecia que ela podia ler minha mente; colocou gentilmente a mão em seu coração, enquanto tentava se controlar.


 


            - Acha que um dia vou superar isso? – ela me pegou de surpresa ao falar, sua voz ainda estava irregular graças à sua respiração ofegante. – Que meu coração um dia vai parar de tentar pular do meu peito sempre que você toca em mim?


 


            - Eu realmente espero que não. – Eu amava quando isso acontecia; Bella às vezes tinha cada idéia...


 


            Ela revirou os olhos se divertindo.


 


            - Vamos ver os Capuletos e os Montequios se dilacerando, está bem?


 


            - Seu desejo é uma ordem. – Era melhor mesmo sairmos dali antes que eu perdesse o controle.


 


            Depois de colocar o filme, Bella se sentou longe de mim. Isso era intolerável! Então, gentilmente, puxei-a pela cintura, ela veio e se encostou em mim como se fosse a melhor coisa do mundo para ela. Ainda me surpreendia, encantava e amedrontava a coragem com que Bella se aproximava de mim, agindo como se eu fosse um humano comum. Ela parecia se esquecer de como eu podia ser perigosamente mortal, especialmente para ela...


 


            Senti um leve arrepio em suas costas - ela não gostava de sentir frio -, então puxei uma manta velha que estava no sofá para cobri-la.


 


            - Sabe, nunca tive muita paciência com Romeu. – Sabia que isso seria um insulto para ela; Bella ama os clássicos.


 


            - O que há de errado com Romeu? – Às vezes eu conseguia mesmo adivinhar suas reações: ela ficou ofendida.


 


            - Bem, antes de tudo, ele está apaixonado por Rosalina... Não acha que isso o deixa meio volúvel? E então, minutos depois do casamento, ele mata o primo de Julieta. Não é muito inteligente. Um erro depois do outro. Será que ele poderia destruir sua felicidade de uma maneira mais completa?


 


            Romeu realmente me irritava. Achava-o muito temperamental, não conseguia se controlar e acabava fazendo uma burrada atrás da outra.


 


            - Quer que eu veja o filme sozinha?


 


            ­Que absurdo, onde ela estava com a cabeça? Até parece que eu iria deixar de aproveitar um minuto que fosse perto dela, o nosso tempo juntos estava correndo, isso sempre me deixa totalmente desesperado.


            - Não, vou assistir com você de qualquer jeito. Você vai chorar?


 


            - É provável, se eu estiver prestando atenção.


 


            - Então não vou distraí-la.


 


            Só por Bella eu ia aguentar assistir mais uma vez esse filme; os professores das escolas sempre escolhiam o mesmo filme para passar para os alunos e, no decorrer de meus muitos anos de estudante, perdi a conta de quantas vezes fui obrigado a assisti.


 


            Então me concentrei em fazer carinhos em Bella, em brincar com o seu cabelo, sentir o delicioso cheiro do seu shampoo de morango. Era engraçado como até as coisas mais banais em minha vida haviam mudado por causa dela: geralmente, a comida humana tinha um odor repugnante; entretanto, a partir do momento em que Bella chegou para encantar o meu mundo, passei a gostar do cheiro de morango.


 


            Comecei a sussurrar as falar de Romeu no ouvido de Bella, senti a familiar corrente elétrica percorrendo o meu corpo. O desejo de beijá-la beirava o incontrolável, porém a curiosidade de vê-la chorar também era grande.


 


            Quando ela começou a chorar, fiquei maravilhado com a sua beleza; o seu cheiro também mudava suavemente com as lágrimas era irresistível, sempre irresistível.


 


            Quando chegou a cena em que Romeu toma o veneno e morre, eu me lembrei dos planos alternativos que fiz na primavera passada.


 


            - Devo admitir que tenho um pouco de inveja dele aqui - confessei para ela.


 


            - Ela é linda. - Que absurdo! Essa garota é totalmente sem graça. Eca!


 


            - Não o invejo por causa da garota – Bella às vezes viaja –, mas pela facilidade do suicídio.


 


            Senti o corpo todo dela se enrijecer; será que eu falei demais novamente?


 


            - Como é? – Ela falou um pouco alto demais.


 


            Agora que comecei, teria de me explicar:


 


            - Foi uma idéia que tive certa vez e eu sabia, pela experiência de Carlisle, que não seria simples. Nem tenho certeza de quantas maneiras Carlisle tentou se matar no começo... Depois de perceber no que estava se transformando. E ele claramente ainda goza de excelente saúde.


 


            Ela se virou. Quando fitei seu rosto fiquei assustado, Bella estava pálida.


 


            - Do que está falando? – Sua voz indignada e seu olhar em total desespero. – O quer dizer, essa história de que pensa nisso de vez em quando? - O seu coração falhou enquanto me interrogava.


            - Na primavera passada quando você estava... – sempre relutava em pensar nisso -... quase morta – falar da possibilidade de sua morte me causava tanta dor que era insuportável pensar nisso. Bella me olhou em pânico. Droga, tinha que abrir esta minha boca grande. Tentei falar de forma mais suave para acalmá-la – É claro que eu me concentrava em encontrar você viva, mas parte de minha mente fazia planos alternativos. Como eu disse, não é fácil para mim como é para um humano.


 


            Bella ficou muito quieta durante um minuto e eu comecei a me frustrar com o silencio. Ela devia estar com muito medo lembrando do ataque de James, de sua quase morte. Eu tinha de fazê-la pensar nisso? A dificuldade que sentia por não conseguir ler sua mente me fazia cometer erros gigantescos. Eu devia ter me afastado dela, como sou burro.


 


            - Planos alternativos?


 


            É claro que ela ainda não tinha dado o assunto por encerrado.


 


            - Bem eu não ia viver sem você – Não entendia porque tinha de falar isso para ela, era uma coisa tão óbvia. – Mas não tinha certeza de como fazer... Eu sabia que Emmett e Jasper não me ajudariam... Então pensei em talvez ir para a Itália e fazer algo para provocar os Volturi.


 


            - O que é um Volturi? – Ela me perguntou, muito brava.


 


            - Os Volturi são uma família. – Não deveria falar isso para ela, não queria assustá-la ainda mais: James era uma piada perto do poder dos Volturi. E quanto menos Bella soubesse sobre o meu mundo, melhor para ela. – Uma família muito antiga e muito poderosa de nossa espécie. São a coisa mais próxima que nosso mundo tem de uma família real, imagino. Carlisle morou com eles por pouco tempo em seus primeiros anos na Itália, antes de se estabelecer na América... Lembra a história?


 


            Ela estava me olhando forma tão estranha, meio furiosa, desesperada, talvez uma pitada de pânico.


 


            - De qualquer modo, não se deve irritar os Volturi. A não ser que se queira morrer... Ou o que quer que aconteça conosco.


 


            Ela me olhava de um jeito que parecia estar se descontrolando, fazendo-me recordar de quando estava com ela no hospital em Phoenix: logo depois de acordar, achou que eu ia abandoná-la e perdeu completamente o senso. Eu estava a ponto de implorar para que ela me dissesse o que estava pensando, quando ela segurou o meu rosto com toda força (não que me machucasse, era mais provável ela se ferir):


 


            - Você nunca, nunca, jamais pense em nada parecido de novo! – Então, era esse o problema, ela estava preocupada comigo. Meu coração parecia que ia bater novamente, o horror que vi em seus olhos não eram por lembrar do ataque de James, mas por pensar que eu poderia me matar; ela realmente me ama! Como eu poderia viver se isso acontecesse? De qualquer modo, esse sempre foi o meu plano, viver ao seu lado mantendo-a humana; quando seu coração parasse de bater eu não teria mais motivos para existir.


            Eu precisava acalmá-la.


 


            - Eu jamais a colocarei em risco de novo, então esta é uma discussão inútil.


 


            - Me colocar em risco! Pensei que tínhamos combinado que todo azar era minha culpa. Como se atreve a pensar deste jeito?


 


            Ela estava se descontrolando de novo, se continuasse assim teria que beijá-la para que conseguisse se acalmar. Eu sempre arranjo uma desculpa para atravessar a fronteira... Deixe de ser ganancioso, Edward!


 


            - O que você faria, se a situação se invertesse? – Não que isso realmente fosse possível de acontecer, mas eu fiquei curioso, queria conhecer este lado dela que me era obscuro.


 


            - Não é o mesmo caso. – Ela era muito rápida em se esquivar.


 


            - E se alguma coisa acontecesse com você? – ela ficou pálida como um fantasma e seus olhos se encheram de lágrimas. – Gostaria que eu acabasse comigo mesma?


 


            Fiquei mais gelado do que nunca, a dor de imaginar isso me atingiu de forma violenta. Controlei o impulso de agarrá-la para impedir tal insanidade. Porém, parte do meu cérebro conseguia entender o que ela queria dizer.


 


            - Acho que entendo um pouco – falei relutante, embora ainda me agarrase a essa opção. – Mas o que eu faria sem você?


 


            - O que estava fazendo antes de eu aparecer e complicar a sua vida. – Ela falava isso de uma maneira tão calma, sem fazer idéia de como a minha vida era vazia e tediosa sem ela.


 


            - Parece tão fácil do jeito que você fala?


 


            - Devia ser. Eu não sou assim tão interessante.


 


            Eu estava prestes a tentar mais uma vez que ela se visse de verdade quando ouvi o carro de Charlie se aproximando.


 


            - Discussão inútil – foi tudo que pude dizer.


 


            Com muita má vontade, afastei-me de Bella, para que não nos tocássemos mais. Charlie tinha um ciúme violento dela, o que piorou muito depois dos acontecimentos da ultima primavera, e eu tinha de respeitá-lo.


 


            Charlie era o único que concordava comigo no sentido de que o ataque de James fora minha culpa. Não que ele sonhasse com essa possibilidade, um ataque de vampiro, mas ele às vezes se perguntava se não havia sido eu que provoquei de alguma forma a queda de Bella da “escada”.


 


            - Charlie? - Bella adivinhou, após o meu sorriso.


            - Oi, pessoal – Charlie sorriu, os pensamentos dele não eram tão impenetráveis quanto o de Bella, mas também não era claro como e de todas as outras pessoas. Não conseguia absorver todas as palavras, embora entendesse o sentido de suas idéias.


 


- Pensei que ia gostar de uma folga da cozinha e dos pratos em seu aniversário. Está com fome? -          Bella pareceu gostar muito da idéia do pai.


 


            - Claro, obrigada, pai.


 


            Enquanto eles comiam, eu fingia ver televisão. Eu não entendo... nunca come...  medo de ficar gordo... vaidoso.


 


            Divertia-me com os pensamentos de Charlie.


 


            Ao perceber que acabaram de comer, fui até a cozinha. Bella estava sentada de frente para o pai em uma pequena mesa quadrada.


 


            - Importa-se se eu pegar Bella esta noite? - Perguntei ao pai dela.


 


            - Tudo bem – Charlei falou, meio relutante. Havia pensando em passar esta noite com Bella, afinal era o primeiro aniversário dela em que eles estavam juntos. Lembrou-se, porém, do jogo e ficou um pouco mais consolado. – Os Mariners vão jogar contra os Sox esta noite. Então não serei uma boa companhia...


 


            Ele jogou a câmera nova de Bella para que ela pegasse. Na hora percebi que isso não iria dar certo, pois se Bella mal conseguia andar sem cair imagine pegar uma câmera em movimento... Agarrei-a antes que ela perdesse o seu presente.


 


            - Boa pegada – Charlie ficou realmente impressionado. - Se fizerem alguma coisa divertida na casa dos Cullen hoje, devia tirar umas fotos. Sabe como sua mãe é... Ela vai querer ver as fotos mais rápido do que você pode tirá-las. - Eu gostava muito de Renée, seus pensamentos eram quase infantis.


 


            - Boa idéia, Charlei. – Concordei com ele.


 


            Imediatamente, Bella ligou a câmera e tirou uma foto minha.


 


            - Funciona – fingi espanto.


 


            - Que bom – Charlie concordou. – Ei, dê um alô a Alice por mim. Ela não tem aparecido – Ele realmente amava Alice como a uma filha.


 


            - Faz três dias, pai - Bella lembrou a Charlie.


 


            - Tudo bem, divirtam-se – Charlie estava ansioso para ver o jogo.


            Caminhamos lentamente até a geringonça, abri a porta do carona para ela, e, como que por milagre, Bella não se queixou.


 


            Era muito difícil para mim controlar a velocidade quando dirigia, respeitava o fato de Bella sentir medo quando eu corria, agora dirigir esta geringonça, era um inferno total, me sentia engatinhando sobre gelo escorregadio, mal saiamos do lugar, hah.


 


            - Vá com calma -  Bella protestou.


 


            Aproveitei a chance para tentar persuadi-la mais uma vez.


 


            - Sabe o que você ia adorar? Um pequeno e lindo cupê Audi. Muito silencioso, muita potência. – Imagina-la dentro de uma carro deste me deixava excitado.


 


            - Não há nada de errado com minha picape. E por falar em supérfluos caros, se sabe o que é bom para você, não gaste dinheiro nenhum com presentes de aniversário.


 


            - Nem um centavo.


 


            - Ótimo.


 


            - Pode me fazer um favor?


 


            - Depende do que for. – Sempre desconfiada.


 


            - Bella o último aniversário de verdade que tivemos foi o de Emmett, em 1935. Relaxe um pouco e não seja difícil demais esta noite. Todos estão muito animados. – Alice então mal se aguenta.


 


            - Tudo bem, vou me comportar. – Ela pareceu relaxar um pouco.


 


            - Preciso avisa-la. – Me lembrei do alerta de Alice.


 


            - Por favor.


           


            - Quando eu digo que estão todos animados... Quero dizer todos eles.


 


            - Todos? – Ela ficou nervosa, a presença de Roseli sempre deixava Bella tensa, eu nunca falei da antipatia que Rose nutria por Bella, mas minha agradável irmã não fazia esforço nenhum para esconder isso, e Bella nunca foi tonta.


 


            - Emmett queria estar aqui.


 


            - Mas... Roseli?


 


            - Eu sei Bella. Não se preocupe ela vai se comportar bem. – se ela sabe o que é bom para ela, vai deixar Bella em paz.


 


            Depois de um minuto de silencio, em que deixei Bella absorver a noticia, tentei fazer com que ela pensa-se em outras coisas.


            - E, então, já que não me deixa comprar o Audi para você, não há nada que


gostaria de aniversário?


 


            - Você sabe o que eu quero. – Bella sussurrou as palavras, sabendo o quanto me incomodava aquele assunto, hoje ela estava muito difícil mesmo.


 


            - Hoje não Bella, por favor.


 


            - Bom talvez Alice me dê o que eu quero. – Ela nem podia imaginar, as discussões que eu já tive com Alice a esse respeito. Por sorte Carlisle me apoiava inteiramente nesta questão. Grubhi com a lembrança disso.


 


            - Este não será o seu ultimo aniversário, Bella.


 


            - Isso não é justo.


 


            Precisava me acalmar, este assunto sempre me tirava do eixo. Quando Bella não estava me pressionando a este respeito Alice vinha e tomava o seu lugar. As duas ainda iam me enlouquecer.


 


            Quando começou a aparecer os primeiros sinais da festa, senti o corpo de Bella se contrair, a temperatura no carro se elevou um pouco, sinal de que ela começava a corar.


 


            Podia ouvir a animação dentro da casa, todos já sabiam que ela estava chegando e se preparavam para recebe-la em grande estilo. Ouvi a risada de trovão de Emmett, estava com muita saudade do meu irmão.


 


            Bella gemeu. Tive de segurar o riso.


 


            - Isto é uma festa. Procure levar na esportiva. – Parecia mais que ela estava indo para um matadouro, se eu não a conhecesse tão bem iria imaginar que ela estava com medo da minha família. O que seria mas sensato, afinal o que era uma festa de aniversário comparado a passar a noite cercada de sete vampiros.


 


            - Claro. Tenho uma pergunta. – Ela sempre tinha perguntas.


 


            - Se eu revelar este filme, vocês vão aparecer.


 


            Em quanto eu abria a porta do carro para ela descer não conseguia parar de rir, Bella era muito engraçada. Ela estava tão nervosa que praticamente tive de empurrá-la pelas escadas de casa, quando chegamos na porta ela suspirou profundamente, se preparando para a festa.


 


            Quando abri a porta a única coisa que pude pensar foi.


 


            Ela vai pirar, vai fugir, não tem jeito, Alice se superou desta vez.


 


            A sala estava coberta por velas cor-de-rosa, flores e todas estas quinquilharias que mulher normalmente gostam – menos a Bella é claro.


            Para apóia-la caso desmaia-se e para segura-la caso tentasse fugir, abracei o seu delicado por traz e dei um beijo na sua cabeça, queria poder conforta-la.


 


            Fuzilei Alice com os olhos, e me dirigi a ela, falando bem baixo para que Bella não nos ouvisse.


 


            - Alice, você piro de vez? Porque teve que exagerar tanto, olhe para Bella. Ela esta em pânico, você me paga.


 


            Há, relaxa Edward, ate parece que eu estou maltratando ela. Você me conhece perfeitamente, eu não faço nada pela metade.


 


            Carlisle e Esme se aproximaram para se desculpar com Bella, eles se sentiam constrangidos por não conseguirem refrear Alice.


 


            Esme a abraçou gentilmente, e deu um beijo em sua bochecha. Carlisle se desculpou.


 


            E ai Edward, vejo que Bella ainda continua humana. Pensou Emmett tentando me provocar, eu só revirei os olhos e o ignorei.


 


            Roseli estava no canto da sala, junto de Emmett, visivelmente contrariada por estar aqui. Seus pensamentos variavam entre sumir daqui, ou ficar para observar esta cena degradante. Fingi que não ouvia os seus pensamentos, iria ignorá-la, ao menos que ela se aproximasse de Bella.


 


            - Você não mudou nada – Emmett tinha que tocar justamente neste assunto, ele era delicado como um hipopótamo – Eu esperava uma diferença perceptível, mais aqui está você, com a mesma cara vermelha de sempre.


 


            - Muito obrigada, Emmett. – Bella respondeu ainda mais vermelha.


 


            - Anda Emmett. - Alice sussurrou.


 


            - Preciso sair por um segundo. - Emmett piscou para Alice - Não faça nada de divertido na minha ausência. - Emmett sinceramente gostava muito de Bella, ele a achava extremamente divertida, e vivia pensado que a vida andava menos tediosa com Bella por perto. Mas como ele não podia contar isso a Roseli.


 


            Dirigi a Alice um olhar de interrogação, por que ela mandou Emmett sair.


 


            Emmett, vai instalar o som novo na picape, assim ela não poderá recusar. - Baixinha esperta.


 


            Alice soltou a mão de Jasper e veio cheia de entusiasmo para a frente de Bella.


 


            Jasper se distanciou um pouco da gente, ele respeitava o meu pedido, de se manter um pouco afastado de Bella. Eu me sentia mal por isso, sabia que Jasper gostava dela, ele apreciava o clima tranqüilo que emanava da Bella. Certa vez me disse, que se impressionava com a calma que Bella sentia quando estava conosco.


            Mais mesmo assim eu ainda tinha um certo receio de permitir a aproximação entre eles, era difícil para Jasper controlar a sua sede, de todos ele era o que mais sofria.


 


            - Hora de abrir os presentes. – Alice não se cansava de torturar Bella. Alice puxou Bella para longe de mim, em direção á mesa no canto da sala.


 


            Fui atrás das duas, com medo das reações de Bella.


           


            - Alice, pensei ter dito a você que eu não queria nada...


 


            - Mas eu não dei ouvidos. Abra. – disse Alice em quanto entregava para Bella uma caixa prateada com uma etiqueta dizendo que o presente era de Jasper, Emmett e Roseli.


 


            Bella abriu o presente, que estava vazio e meio confusa agradeceu.


 


            O que ela acha que vai fazer com uma caixa vazia. Roseli riu para o meu completo espanto, mas não comentei nada.


 


            Viu pensou Esme, ela está começando a se afeiçoar a Bella também. Não é ótimo Edward. Eu te disse que era só uma questão de tempo, eu conheço a minha filha.


 


            Carlisle também estava satisfeito, ele não gostava deste clima de desavença em nossa família.


 


            Emmett estava um pouco irritado por perder as trapalhadas de Bella.


 


            E Jasper sentido a confusão de Bella se apressou em explicar.


           


            - É um sistema de som para sua picape. Emmett esta instalando agora mesmo para que você não possa devolver.


 


            - Obrigada Jasper, Roseli – então ela falou um pouca mais alto – Obrigada Emmett.


 


            Emmett deu uma de suas enormes gargalhas.


 


            - Abra agora o meu e o de Edward – disse Alice.


 


            Imediatamente Bella se virou com os olhos ligeiramente apertados de indignação.


 


            - Você prometeu. Ela me acusou.


 


            Antes que eu pudesse me defender, Emmett voltou para a sala, prevendo um piti hilário e imperdível de Bella, até Japer se aproximou um pouco mais para não perder a cena.


 


            - Não gastei um centavo. – Desta vez era verdade mesmo, e para controlar a possível fúria de Bella, passei a mão em seu rosto fingindo tirar uma mexa solta de seu cabelo, sua feição se suavizou um pouco.


           


            Muito de má vontade ela se virou de volta para Alice, deu um profundo suspiro e estendeu a mão como se Alice fosse cortar fora os seus dedos.


 


            - Pode me dar.


 


            Emmett riu da cena de Bella.


]          


            Bella pegou o pacote, se virou para olhar para mim.


 


            Congelei. A visão na cabeça de Alice, era horrível. Bella iria fazer um minúsculo corte no dedo, e Jasper perderia o controle e atacaria Bella.


 


            - NÃO.


 


            Só consegui prender a respiração empurrar Bella para longe, quando me virei Jasper já estava vindo.


 


            Agarrei ele com toda minha força, se tivesse de matar Jasper faria isso. Ele nunca, jamais machucaria Bella, não enquanto eu estivesse por perto.


 


            Podia ouvir os pensamentos de todos, os meus instintos de defesa estavam acionado, ninguém passaria por mim. Queria me virar para checar se Bella tinha se machucado quando a empurrei, mais não podia desviar minha atenção nem um milésimo de segundo que fosse, tinha de usar toda a minha concentração para defende-la. Sua vida dependia inteiramente de mim. Novamente eu era o protetor.


 


            - Segure Jasper. - Sussurrou Alice para Emmett. – Não quero que eles se machuquem.


 


            Emmett pareceu se recuperar do choque e enquanto se aproximava pensava para me avisar.


 


            Edward estou totalmente sobre controle, não vou me aproximar da Bella, só quero tirar Jasper daqui, ante que a coisa piore ainda mais.


 


            Edward, por favor não machuque Jasper.- Alice estava em pânico, se culpava por não ter visto há tempo de evitar o desastre. Dividida entre o desespero de que eu machucasse o seu amor, ou que Jasper de alguma forma conseguisse passar por mim e matasse Bella - procurava enlouquecida mente em nosso futuro o que ia acontecer.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês curtam a minha versão.



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