Teias Do Destino escrita por San Costa, AngusMarcos, Babi Solatano


Capítulo 3
Capítulo 2 - Fleches do passado




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Fleches do passado

Clara

Onze anos antes.

Mamãe, aonde vai?

—Vamos fazer um piquenique.

E o papai?

—Essa será uma tarde só das garotas.

Minha mãe falou sorrindo, sorri de volta, admirando-a. Parecia uma boneca, pele branca com um tom rosado nas bochechas, os olhos azuis e o cabelo. Minha amiga, apesar de não ter muito tempo para mim.

A tarde toda mamãe?

—Sim, Clarinha! Todinha!

O meu sorriso aumentou, finalmente teria minha mãe só para mim!

Nós estávamos em um dos pátios de nossa casa, o castelo dos Bianucci. Ele era enorme, com janelas grandes, belos lustres e várias escadarias. Muito bonito! Tínhamos vários empregados, e meus avós moravam conosco.

Durante toda a tarde nos divertimos, brincamos, corremos, minha mãe colocou uma toalha no chão, sobre ela, uma cesta cheia de coisas gostosas que trouxe do castelo.

Somente quando o céu escureceu, percebemos o tempo, logo anoiteceria. Minha mãe lembrou-se do meu pai e o quanto ele estaria preocupado, enquanto a ajudava a pôr o que sobrou na cesta, ela me jogou no chão e começou a fazer cócegas.

— Não... Mamãe... Por favor.

Aquele, com certeza foi o dia mais feliz da minha vida.

Até que, no caminho de volta para o castelo, ouvimos um barulho estranho. Mamãe imediatamente se pôs à minha frente. Pouco depois, vimos três homens aparecerem no descampado logo adiante.

— Ora, ora, o que temos aqui? — Um dos homens disse com um sorriso no rosto, eles deram um passo pra frente.

Um outro disse em meio a uma gargalhada baixa:

— Pois não é a tão formosa senhora Bianucci?! A senhora não sabe que é perigoso andar pelas estradas ao anoitecer, milady?

Mamãe se virou para mim e disse o mais baixo possível.

— Corra, Clarinha, corra rápido!

Dei dois passos pra trás, então eles a seguraram, o terceiro homem deu um passo em minha direção.

— Não encoste nela! Seu desgraçado! Meu marido o matará! — mamãe gritou.

O homem que vinha para o meu lado, retrocedeu, socou o rosto de minha mãe, um grito escapou da minha garganta antes que eu pudesse evitar.

Vi quando eles rasgaram as roupas dela, quando a machucaram, fechei meus olhos, imobilizada pelo pavor, ouvi sua voz carregada de dor... Dizia meu nome, tirei minhas mãos dos olhos, para encontrar o oceano do seu olhar, naquele momento, revolto. Implorando uma misericórdia que não viria, li em seus lábios a frase muda “eu amo você” e em seguida o grito de comando que assombra meus sonhos até hoje.

— CORRE!

Corri, sem olhar para trás, a vida deixava minha mãe naquele momento. Sua última respiração, aquele olhar, toda a cena, atormentando minha mente.

O choro me atrapalhava, mas corri o mais rápido que pude.

Ouvia a risada deles cada vez mais alta, tropecei e cai, fechei os olhos, apertando-os com força, esperando a dor que eles me causariam e então tudo era silêncio.

Não vi muito mais que isso, lembro–me de ver homens dormindo na relva da floresta, em posições pouco confortáveis e erradas para adultos dormirem.

Mãos muito brancas a fechar os olhos e acariciar os cabelos de minha mãe, um castelo lindo como plano de fundo de uma casa discreta entre as árvores. Quando finalmente consegui manter meus olhos abertos, vi uma mulher, incrivelmente linda, rosto fino, cabelos negros, que brilhavam nos fracos raios de sol. Estava à minha frente, sua pele branca parecia reter aquele brilho, seus olhos eram de um vermelho intenso e brilhante, um brilho diferente, quando me vi neles, de alguma forma, não tive medo.

Miley

Chamo-me Miley Wayne, sou meio vampira e meio humana. Meus pais são Enzo Wayne e Pietra Wayne, eles são vampiros, nós nos alimentamos de sangue humano. Mas apenas dos humanos malvados.

Meu pai tem um dom, ele pode mover objetos com o poder da mente, isso se chama telecinésia. Eu faço algo parecido, além dos objetos posso mover pessoas, projetar-me no espaço, ler mentes, entretanto, prefiro dar privacidade às pessoas. Principalmente, à minha caça. Felizmente, já tenho controle sobre a telepatia.

Não posso dizer o mesmo quanto à telecinésia. Essa coisa de mover objetos e pessoas ainda é complicada. Um dia enquanto dormia, acordei dando de cara com o teto. Contudo, gosto disso, sinto-me livre quando tiro os pés do chão. Essa sou eu!”

Repeti pela milésima vez o lema em minha mente, algo que faço para recuperar meu controle.

— Miley! — Olhei para meu pai, mas ele não estava na minha frente, como há três segundos. Estava a dois metros de distância do chão.

Bom, ao menos parte do meu controle... Ainda bem que dessa vez não o arremessei.

—Desculpe, pai. — Coloquei-o no chão.

— Concentre-se, mocinha! Pense, sua vida depende disso. Novamente.

Ele se posicionou à minha frente e recomeçamos com o treinamento, e assim a tarde passou.

Minha mãe havia saído e disse que voltaria antes do anoitecer.

Pensando nela...

Mamãe! — Disse, saltitando até ela. Mas parei no meio do caminho, mamãe estava com uma garotinha nos braços, ela tinha cabelos caramelos e o coração batendo ferozmente, era humana.

Uma humana miúda até para uma criança. Meu pai veio até mim, pegou-me no colo e nós fomos até elas o mais devagar possível.

— Pietra, quem é essa garotinha? — Meu pai perguntou olhando para a menina inconsciente.

— Eu a encontrei na floresta. —Mamãe disse.

“Ela estava caída no chão e tinha alguns homens atrás dela... Então a salvei.” As palavras não foram ditas e meu pai, assim como eu, percebeu que mamãe escondia algo, mesmo em seus pensamentos. Não insisti em descobrir, pois toda a minha curiosidade estava voltada para a garotinha.

— O que vamos fazer com ela? — Perguntou meu pai. Mamãe deu de ombros e entrou na casa.

Mãe, qual é o nome dela? Perguntei sentando-me perto da garotinha que estava deitada na cama de um dos quartos da casa.

— Não sei querida, vamos esperar ela acordar.

Em dado momento o sono acabou me vencendo, adormeci nos braços do papai. Acordei, na manhã seguinte agitada, não conseguia lembrar como parei na cama, me levantei querendo saber sobre a garota.

— Bom dia, querida. — Mamãe a cumprimentou gentilmente.

— Onde estou? Quem são vocês? Cadê minha mãe? — A garotinha perguntou, olhando com espanto para cada um de nós.

— Eu te trouxe para minha casa, você caiu, bateu a cabeça, não estava em condição para me dizer onde mora. — Minha mãe disse. Em seguida, fez as apresentações. A garota assentiu, sua mente era um papel em branco o que instigou ainda mais minha curiosidade.

— Quanto a sua mãe, do que você lembra? — Continuou mamãe.

A menina abaixou a cabeça e chorou. Chorou como um bebê aflito. Revivi, junto com ela, momentos nada agradáveis, mas só me dei conta, que estava em sua mente e chorando seu choro quando os braços de papai me embalaram e tiraram-me do quarto. Minha mãe já a abraçava em seu colo...

Tomamos café. Bem, nossa hóspede e eu, tomamos café, em silêncio. Fiz um tremendo esforço para não escutar o que as três figuras, à mesa, estavam pensando e no entanto era bom não ser a única a comer.

— Não quero voltar pra casa. — Por fim, disse, Clara. Depois que terminamos de comer.

— Olha, lindinha... — Meu pai disse, mas logo foi interrompido.

— Clara. — Falou a menina.

— Então, Clara, você tem que voltar para a sua gente. Já estamos no fim de nossa temporada aqui, voltaremos para casa em breve, sua família deve estar à sua procura.

Eu mencionei que não moramos em Florença?! Pois é, moramos na Groelândia, na cidade Ilulissat.

— Não posso! — Foi o que a menina disse. “Eles não me aceitariam” — Foi o que ela não disse.

Clara

Hoje

Pietra e Enzo se tornaram meus pais desde então. Não posso reclamar de minha sorte, sempre foram amáveis comigo, bons pais, afinal nunca me senti insegura ou ameaçada na presença deles, talvez quando me revelaram o que eram ou quando fui transformada. É talvez.

Aprendi a ama-los. Adorava quando o pai me levava para passear em suas costas, o vento em meus cabelos, as árvores passando como borrões, a sensação de liberdade como se estivesse voando, amo o brilho da pele de minha mãe e toda a sabedoria deles. Amo a Miley e seus dons. Minha mãe não possui dom, ou possui o de amar, já meu pai é outra história.

— Enzo, coloque isso no lugar! — Mamãe ralhou certa vez na hora do jantar, quando ainda jantávamos.

Miley e eu riamos muito, ela possui o mesmo dom e adorava que a bronca não fosse só para ela.

Levaram-me à casa da Groelândia e me ensinaram a passar despercebida pelos humanos já que Llulissat, conta com apenas 4.546 habitantes.

A pequena população conseguia ser uma das maiores dessa nação, mas todo mundo conhecia todo mundo, o que dificulta um pouco nossa caça. E quando a montanha de gelo derrete, atravessamos os mares para minha terra natal, que nessa época é fria, uma fuga constante dos dias ensolarados.

Minha infância foi um tanto quanto longa, o mesmo não vale para a Miley que cresceu, surpreendentemente, rápido.

Aos meus dez anos ela já aparentava uns dezessete, pronta para ir à escola. O que foi impossível, devido as constantes viagens de caça. Nossos pais ensinaram tudo o que precisávamos aprender, tudo mesmo.

As lembranças mais gostosas, de minha infância, os momentos que nunca esquecerei, eram da hora de dormir.

Conte-me uma história. — Costumava pedir, mesmo já tendo passado da idade para isso.

Pietra nunca perguntava qual eu queria.

— Era uma vez uma princesa, muito linda, com sua pele rosada e os cabelos caramelos, a marca de sua família, ela era muito amada e muito feliz, morava num lindo castelo em Florença, todos os dias...

Ela sempre contava a mesma história, minha história, evitando a parte desagradável. Lembrando-me sempre de onde vim e quem eu sou.


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