Eu sentia você se distanciando mais e mais. A cada passo, seu ou meu, uma nova lágrima escorria por meu rosto e um pedaço de minha alma parecia se desprender de mim.

Você é a segunda pessoa com a qual realmente me importo, que realmente amo, que perdi graças à minha pesquisa. Talvez seja esse o preço que devo pagar pelo poder divino que despertei em meio aos homens...

As lágrimas corriam por meu rosto com mais intensidade quando comecei a correr em direção à batalha. Essa era a única solução, eu sabia disso, tanto quanto você, mas meu coração se recusava a aceitar e lutava contra minha decisão. Mas o deus incolor deve ser detido. Ele não iria parar até destruir tudo, até mesmo minha família.

A primeira família que tive depois de décadas isolado naquele dirigível. O meu pequeno clã, que se reuniu naturalmente ao meu redor, que se tornou especial para mim antes mesmo que eu soubesse quem eu mesmo era.

Chorei sorrindo tristemente ao lembrar a noite que passamos acordados, você me perseguindo, e eu fugindo com a ajuda da Neko. Você cuidará bem dela, não é mesmo, meu Cão Negro?

Meu fiel amigo, que confiou em mim quando eu mesmo duvidei. Você tentou me matar enquanto achei que era inocente, mas ficou ao meu lado quando eu mesmo passei a achar que era culpado... Você deve ser completamente louco... Mas... O que eu poderia fazer? Pouco a pouco sua loucura me conquistou... E jurou-me sua lealdade fazendo meu coração, que durante tantos anos foi uma rocha fria, tremer dentro de meu peito. Eu deveria ter perguntado mais sobre sua vida, descoberto mais sobre você, seu passado... E enquanto pensava eu corria, para fazer a pior e última besteira de minha vida.

Eu parei os golpes daqueles dois idiotas, enquanto o deus incolor lutava para se libertar, mas consegui avisar o rei vermelho do presente que lhe trouxe.

Senti seu punho e seu poder atravessando meu peito. Meu corpo não se moveu, não sentiu nada, mas minha alma gritou dentro de mim. Eu tive medo, pela primeira vez em muito tempo. Tive a consciência de que era o fim, de que estava acabado, de que jamais poderia tocar, ouvir ou ver aquele que descobri amar. Eu jamais poderia ter você ai meu lado, meu amado Kuroh. Enquanto minhas últimas fagulhas de consciência se apagavam, rezei para que você entendesse. Para que me perdoasse.

Agora, não consigo enxergar nada ao meu redor. É tudo branco aqui. Para cima, para baixo, para qualquer um dos lados, se é que eles existem, vejo apenas um infinito branco e luminoso. Não, parece que o deus imortal realmente não morreu, mas poderia ficar preso aqui para sempre...

Só conseguirei sair daqui graças a você, Kuroh.

Em minha mão, a mesma que lhe estendi para que se levantasse como parte de meu clã, posso ver uma fita, tão negra quanto seu cabelo, firmemente amarrada em torno de meu pulso. A escuridão dessa fita será meu guia nesse infinito branco. Ela me levará até você novamente. Ela fará com que eu possa dizer, finalmente, que eu te amo.