Serenata Dos Sinos escrita por Matheus Henrique


Capítulo 1
O Início de uma Nova Jornada


Notas iniciais do capítulo

Pessoal! Comecei esse novo projeto! Mas não se preocupem com a fic de CDZ, ela está devidamente concluída, basta apenas postar por aqui. Espero que todos gostem dessa nova história. Boa leitura.



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Quando se é jovem, no mundo em que vivemos, as expectativas com o nosso futuro são muitas. E à medida que o tempo vai passando as pessoas esperam cada vez mais e mais de nós, quando são poucas aquelas que realmente se preocupam com o que deveria ser notado por todos: O que nós realmente pensamos sobre isso? Quais são as nossas expectativas? Bem, quanto a mim, nunca tive que me preocupar com isso.

Não sei bem o que aconteceu quinze anos atrás, mas, segundo o Dr. Vincent eu apareci em sua porta com um bilhete que dizia:

“Antes de mais nada, gostaria de dizer que sinto muito, não sei bem se vocês terão condições de cuidar deste garoto, mas eu sei que, com esforço, você conseguirá. Seu nome é Matt, ele tem apenas um ano e devido a vários problemas que tive não poderei dar a vida que sempre sonhei para meu filho. Então gostaria que você pudesse fazê-lo. Sei que já estou pedindo muito ao fazê-lo assumir tamanha responsabilidade, mas ainda tenho um pedido. Deixo-o ser o que ele quiser.”

Meio sem escolha, e meio balançado com a carta que havia lido naquele dia o doutor me acolheu, deu-me educação, roupas limpas, comida e até uma irmã, que, ironicamente, estava completando um ano de idade quando fui deixado na porta de seus pais, desde então comemoramos nossos aniversários juntos, já que na carta não havia referência à verdadeira data do meu nascimento.

Como bom samaritano que sempre foi desde que consigo me lembrar, o doutor fez a vontade de minha mãe e me deixou livre para escolher o caminho que julgasse melhor. O que eu escolhi? Bem...

Eu quero ser um grande treinador Pokémon.

E é claro que a esposa do Dr. Vincent, Marina, achou a ideia ousada.

Ela sempre foi uma das melhores pessoas que eu já conheci, e Emma, minha irmã, se parece muito com ela. Elas nunca me julgaram ou ao doutor por ter aceitado cuidar de mim, muito pelo contrário. Marina sempre foi uma grande mãe para mim, e Emma me ajudava com as coisas que estavam ao seu alcance, como as atividades da escola, por exemplo.

Marina e o Dr. Vincent, quando jovens, formaram uma grande equipe de treinadores ao lado do nosso tio Jimmy. Que possui dois troféus da Liga Pokémon de Jotho, sendo o segundo maior vencedor da liga, logo atrás de uma pessoa de codinome “Red”, que conquistou quatro. Apesar dessa pequena diferença de conquistas o tal Red morava numa pequena cidade, no continente vizinho, chamado Kanto, o que fazia de Jimmy o maior vencedor do torneio que vive no continente.

Além disso, os três protagonizaram a maior batalha que houve no continente quatro anos antes de aposentarem suas jornadas. O ocorrido tinha a ver com um pokémon lendário chamado Raikou, que havia sido sequestrado por uma organização criminosa que planejava capturar a lenda e, com seu poder, derrubar os governos dos cinco continentes (Kanto, Johto, Howen, Cinooh e Ishuu), porém, graças a eles, o Raikou foi salvo e não foi visto desde então.

Após a aposentadoria dos três, Dr. Vincent, que na época era filho do Prof. Elm, renomado pesquisador do continente, deixou que os pokémons de seus amigos ficassem nas instalações do laboratório, e foi convivendo com eles que o desejo de ser treinador cresceu em mim. Como Marina guardava recordações da época como um dos maiores tesouros que possuía, deu-me total apoio.

Quanto a Emma, nós sempre fomos muito apegados. Durante toda a nossa infância era difícil que se ouvissem os vizinhos contando histórias sobre mim nas quais não houvesse ela e vice-versa. Eu talvez possa sentir-me culpado pelo que ela resolveu fazer com seu futuro. Ela que ser médica de pokémons (ao contrário do que muitos possam pensar não existem apenas enfermeiras Joy no nosso mundo), e por isso decidiu que seguiria jornada comigo para aprender bastante sobre pokémons e poder entrar numa faculdade.

Naquela segunda-feira acordei bem cedo e após um longo banho vesti as roupas que havia comprado para o início da jornada. Era dia 23 de setembro e eu e minha irmã completávamos 15 anos, a idade ideal para escolher nosso primeiro parceiro pokémon. Olhando-me no espelho e vendo meu reflexo, mal podia conter minha ansiedade, pois havia passado a noite em claro tentando decidir qual seria o ideal para o inicio da jornada, mas não conseguia escolher.

Nós tínhamos três opções: Cyndaquil. Este foi o primeiro parceiro do tio Jimmy e tudo que eu sabia sobre ele é que era um pokémon de fogo. Tododile, um pokémon em forma de jacaré, do tipo água. E, por fim, Chikorita, tipo planta, que foi o parceiro do meu pai, Dr. Vincent.

Interrompendo meus pensamentos, a porta bateu.

– Pode entrar! – Falei, e Emma entrou no quarto, vestida de uma forma bem atlética e confortável. Os cabelos castanhos estavam presos em uma “maria-chiquinha” e uma touca branca bem curta estava sobre a cabeça. Usava uma blusa rosa de gola alta que estava coberta por uma jaqueta feminina branca, cujos pulsos das mangas eram exatamente da mesma cor que a blusa. Seu short era feito de lycra nas cores preta com um detalhe diagonal verde em cada perna, abaixo das canelas à mostra havia um par de tênis que misturava todas as cores usadas nas roupas dando um equilíbrio perfeito a todo look. – Você está linda...

– Verdade? – Ela falou ficando com as orelhas vermelhas o que lhe dava um toque do pai na aparência. – Obrigada... Você nunca me elogiou assim antes.

– Sério? – Falei surpreso.

– Bem... Não importa. – Ela se aproximou de mim e estendeu uma caixa que ela escondia atrás das costas. – Eu comprei isso para você, vai te dar sorte na jornada.

Peguei a caixa e abri com entusiasmo. Dentro havia um delicado colar que repousava sobre uma superfície acolchoada, o pingente dourado tinha formato de uma pokébola.

– É lindo, Emma. – Falei completamente surpreso com a riqueza de detalhes. – Muito obrigado, mas também tenho uma coisa pra você.

Após colocar o colar no pescoço, fui até minha cama e, debaixo dela puxei uma caixa antiga, abri e tirei duas pokébolas verdes com detalhes em vermelho.

– Aqui, uma delas é para você. – Disse estendendo a mão para ela.

– Isso é de verdade! Onde você conseguiu isso?! Nós não tínhamos permissão de possuir uma pokébola até hoje! – Ela disse completamente alarmada.

– Semana passada... – Comecei a explicar. – quando estava voltando da casa do tio Jimmy uma mulher de capa me parou na rua e falou que vinha nos observando, disse que achou nossa amizade forte e bonita. Deu-me essas duas pokébolas e disse que elas tinham o poder de fazer o pokémon capturado se tornar amigo do seu parceiro mais rápido. – Ela olhava pra mim perplexa. – O nome é Friend Ball. Não sei se ela estava falando sério, mas quero que a use quando for capturar seu primeiro pokémon.

Ela simplesmente olhou para mim agradecida.

– Temos que descer... – Disse ela. – A nossa jornada começa daqui a pouco.

Sem falar mais nada ela saiu porta a fora e eu pude ouvir seus passos descendo a escada. Voltei-me para o espelho para ver o belo contraste que meu novo colar causava em minha blusa preta que estava coberta por uma jaqueta azul.

Pela primeira vez percebi que seria ótimo ter Emma comigo na jornada, ou ela seria muito solitária.

Descendo as escadas pude ver que nossa mãe havia preparado uma mesa de café-da-manhã completa, com frutas, queijos e leite. Sentei-me ao lado de Emma e logo em seguida Marina veio com uma cesta de pães.

– E aqui estão nossos novos treinadores. – Disse ela com um sorriso estranho no rosto. – Feliz aniversário, crianças. Hoje é uma data muito importante para vocês dois então comam bastante.

– Não será problema nenhum. – Eu já estava com a faca em mãos partindo vários pedaços de queijo, ao contrário de minha irmã, que mordiscava uma maçã sem muito entusiasmo.

– Algum problema querida? – Disse Marina.

– Vou sentir saudade... – A voz de Emma estava embargada e pude ver lágrimas em seus olhos. – Prometo que vou ligar sempre. Todos os dias.

– Ah, minha filha...

Marina deu a volta na mesa, abraçou a filha e começou a chorar também. E não era a primeira vez que eu me sentia um intruso. Tudo bem que falei que sempre fui bem recebido pela família, eles me acolheram e deram-me tudo que sempre quis, mas aquele tipo de coisa eles nunca poderiam e dar. Um abraço da minha mãe. Da minha verdadeira mãe.

– Eu tenho uma coisa pra vocês depois... – Disse marina puxando dois aparelhos do bolso, entregando-me o azul de dando o rosa para Emma. – Eles se chamam Pokégear e têm várias funções, uma delas é de celular, então me liguem se precisarem de qualquer coisa, certo? Meu número, o do Vincent e o de Jimmy já estão salvos na memória.

Apesar de tudo eu amava aquela mulher. Por tudo que ela havia feito pro mim, mesmo não tendo a menor obrigação de cuidar de mim, ou mesmo de me aceitar. E eu era agradecido por tudo que ela havia feito por mim, e agora eu me via hesitando na minha idéia de seguir jornada pela primeira vez em muito tempo.

– Certo, crianças, terminem de comer e vão para o laboratório, Vincent espera vocês lá.

Depois do que creio que tenha sido quase meia hora, eu e Emma nos levantamos e andamos em direção a porta, mas antes que eu pudesse sair, Mariana me chamou.

– Matt?

– Sim, mãe?

– Posso falar com você um instante?

Emma nos olhou fechou a porta deixando-me a sós com nossa mãe, que fez algo inesperado quando me abraçou forte e transmitiu o máximo de carinho que eu jamais esperei receber.

– Você é meu filho. – Disse ela. – Não importa o que pense, ou o que te digam, nunca duvide de que você é meu filho. E, mesmo que encontre sua mãe biológica em sua jornada, continuará a ser meu filho. Nunca duvide disso.

Seu rosto estava grudado ao meu e suas palavras acariciavam delicadamente meus ouvidos. Pela primeira vez em quinze anos eu pude entender todo a amor que aquela mulher sentia por mim. Não consegui dizer nada então simplesmente envolvi sua cintura e retribuí seu abraço.

– Certo, vá logo. – Disse ela, após alguns minutos. – Seu pai o espera...

Fiz que sim com a cabeça e atravessei a porta. Do lado de fora Emma me esperava com um sorriso no rosto.

– Está chorando, Matt? – Perguntou ela, com um meio sorriso nos lábios.

– Não são lágrimas... – Disse, passando o braço no rosto. – É suor masculino.

Demos, então, à volta na casa para podermos ir para o laboratório que ficava logo atrás. Caminhamos em silêncio, cada um absorto em seus próprios pensamentos e minha indecisão quando ao pokémon que iria escolher só aumentava.

Ao chegarmos ao laboratório a primeira coisa que vimos nos causou espanto. Grande parte da nossa vizinhança da cidade de New Bark estava a nossa espera com faixas de incentivo e mensagens legais. Todos fizeram grande barulho quando nos viram chegando e gritavam palavras de incentivo. Emma, é claro, cumprimentou a maioria deles antes de entrar no laboratório.

Uma vez lá dentro Carie, a assistente do Dr. Vincent, recebeu-nos com os braços abertos, seus óculos tortos davam a ela uma expressão um tanto quanto maluca, mas ela era um pessoa doce.

– Aí estão eles! – Disse ela, abraçando-nos, e ao fazer isso quase engoli meio quilo de sua enorme cabeleira loira. – Estive tão ansiosa que mal consegui dormir. Como se sentem?

– Nervosos... – Emma fez o favor de responder por nós dois. – Onde está papai?

– Na sala de exames. Sigam-me!

Acompanhamos Carie até uma porta que havia a nossa esquerda. Ao passarmos nos vimos em uma sala pequena e bem iluminada onde havia uma mesa redonda onde se podiam ver três pokébolas novinhas, e dentro de cada uma delas havia um grande parceiro em potencial.

– Ah, você já está aqui?! – Nosso pai caminhou em nossa direção sorrindo e sem soltar o celular. – Tudo bem, venha depressa que os garotos já estão no laboratório. – Ele, então, desligou o aparelho. – Então, finalmente chegou o dia! Nervosos?

– Estamos esperando mais alguém? – Perguntei, curioso.

– Ah, sim. O sobrinho do Prof. Gary disse que queria começar a sua jornada em Johto e eu disse que nosso laboratório está de braços abertos para ser seu primeiro ponto de parada.

– Espere um pouco... – Eu estava surpreso. – O Prof. Gary vive em Pallet, certo? E se o garoto que está vindo é sobrinho dele, isso quer dizer que ele é filho de Red?!

– Exatamente! – Papai mostrava um enorme sorriso no rosto. – Ele também que ser um pesquisador e disse que Johto tinha uma fauna pokémon mais ampla para seus estudos.

A porta bateu levemente, interrompendo o doutor em seu relato sobre os sonhos do garoto. Ele correu até a porta e a abriu.

Um garoto alto que usava calça jeans e tênis vermelhos combinando com sua jaqueta fechada. Um boné surrado e laranja cobria sua cabeça e escondia seus cabelos ruivos. Ele parecia bem nervoso ao cumprimentar o doutor. Veio até nos e apertou nossas mãos.

– Bom dia. – Disse ele. – Meu nome é Chris. É um prazer conhecê-los.

– Meu nome é Matt, e esta é minha irmã Emma. – Adiantei-me. – Você é mesmo filho do Red?

– Sou... – Ele falou colocando a mão na nuca, parecendo desconfortável.

– Você pode me falar o verdadeiro nome dele?!

– Cara... – Ele pôs o braço ao redor do meu pescoço e sussurrou: – Isso é segredo de estado.

A risada estrondosa do Dr. Vincent encheu o laboratório enquanto Chris me soltava e fazia um pedido de desculpas silencioso.

– Com licença, doutor, mas meu tio pediu-me para lhe entregar isso. – O garoto estendeu um envelope e uma pokébola para meu pai que aceitou.

Após ler a carta que havia no envelope ele assentiu e falou:

– Seu pai não precisa se preocupar, devolverei o Lapras assim que a jornada de vocês começar. E você pode ficar com o pokémon que sobrar, já que esse mês apenas meus filhos iniciarão uma jornada, mas você terá que esperar a decisão deles, tudo bem?

Chris fez que sim com a cabeça e meu pai se voltou para nós.

– Então crianças,chegou a hora! Hoje vocês irão escolher o primeiro...

– NÃO TÃO RÁPIDO! – Uma voz incisiva e urgente soou através da porta que se escancarou logo em seguida e um tio Jimmy usando roupas curtíssimas e um boné que mal entrava na sua cabeça atravessou-a ofegante. – Vocês vão mesmo escolher o primeiro pokémon sem minha presença?!

Todos estavam perplexos com a cena e ainda mais espantados ao ver o vestuário que ele havia escolhido para a ocasião.

– Jimmy... – Falou meu pai retirando os óculos e pressionando a ponte do nariz entre os dedos polegar e indicador. – Você não acha que sua antiga roupa de treinador está um pouco – Ênfase no “um pouco”. – curta de mais para você?

– Besteira! – Falou ele. – Caiu como uma luva. – Ele parou o olhar um minuto em Emma e toda sua euforia passou. – Emma... Olhar você agora é como voltar ao passado...

– Ela está a cara da mãe, não é? – Falou Dr. Vincent também olhava para minha irmã (que quase sumia de vergonha) com um olhar nostálgico.

– E esse aqui, quem é? – Perguntou Jimmy, olhando para Chris. – Acho que já vi ele em algum lugar...

– Me chamo Chris, senhor. Sou filho de Red e Misty.

– Eu não acredito! Aquele danadinho casou-se mesmo com a líder do ginásio de Cerulean? – Disse ele rindo. – Enfim, você veio escolher seu primeiro pokémon em Johto, hein...

– Não senhor... Na verdade eu já tenho meu primeiro pokémon. Mas o doutor me permitiu ficar com o que não for escolhido pelos meninos.

– Então você trouxe seu inicial de Kanto? Posso ver?

– Claro...

O garoto puxou uma pokémon que estava presa ao cinto e apertou o botão central para aumentá-la, logo em seguida jogou a esfera para cima, que se abriu e uma luz branca saiu em direção ao chão. Quando a luz enfraqueceu pode-se ver um pequeno animal de quatro patas com um bulbo nas costas.

– Bulbasaur... – Falou a criatura.

– Nossa! É um Bulbasaur! – Exclamou Jimmy passando a mão na cabeça no pokémon. – Eu me lembro que seu pai havia conseguido, de alguma forma, capturar os três iniciais de Kanto. Ele era um gênio... Aposto que ainda é.

– Obrigado, senhor... – Disse Chris.

– Me chame de Jimmy.

– Jimmy, se você já cansou se ser inconveniente, eu irei recomeçar a cerimônia com as crianças, sim? – O tio olhou para meu pai com uma cara carrancuda e encostou-se na parede. – Se ninguém mais tiver algo a dizer... Ótimo. – Continuou após uma breve pausa. – Hoje se inicia uma jornada cujas aventuras são inimagináveis e conhecimento e habilidade são imprescindíveis. Mas, toda jornada deve começar de alguma forma então eis que eu lhes dou três opções de escolha para seu primeiro parceiro pokémon. Agora só cabe a vocês a decisão, uma decisão muito importante, pois há um tipo certo de parceiro para cada um de nós. Agora é com vocês.

Eu e Emma nos entreolhamos indecisos. Apesar de ter passado a noite tentando me decidir nenhuma escolha, ou decisão havia sido tomada, como poderia fazer isso agora, em tão poucos segundos?

– Eu não sei o que escolher... – Confessei.

– Não se preocupe. – Disse Emma. – Façamos o seguinte. Papai irá embaralhas as pokébolas para que nós não saibamos qual está em qual, então eu, você e Chris pegaremos uma e veremos o que acontece.

– Por mim tudo bem... Chris?

– Concordo.

O Dr. Vincent apertou um botão ao lado da mesa e as plataformas onde se encontravam as esferas começaram a girar bem rápido, quando pararam cada um de nós se prostrou a frente de uma.

Com a mão um tanto trêmula, estiquei o braço e segurei a minha. Olhei para ela por uns instantes e percebi vários olhares em minha direção, que sugeriam que eu deveria ser o primeiro a ver que pokémon havia escolhido. Fechei então os olhos e gritei:

– VAI!

Atirei a pokébola para o alto, esta se abriu e um pequeno animal quadrúpede com uma delicada folha na cabeça sorriu para mim.

Chiko, chiko!

– É um Chikorita! – Falei sorrindo, enquanto ele vinha até mim e farejava meus sapatos.

– Na verdade é “ela”. – Falou o doutor. – A Chikorita desse mês é uma fêmea. Parabéns, Matt... Meu pokémon inicial também foi uma Chikorita.

– Obrigado, pai... – Ajoelhei-me apare acariciar a cabeça de minha nova parceira, mas essa mordeu a manga da minha jaqueta e de alguma forma escalou meu braço muito rápido até chegar ao meu ombro onde se pendurou confortavelmente.

– Então... Juntos, Chris? – Falou Emma.

– Juntos.

Ambos abriram suas pokébolas e um Totodile praticamente voou em na direção de Emma assim que se viu liberto, envolvendo-a em um abraço tão forte que fez com que caísse no chão.

Já o Bulbasaur de Chris se assustou quando um pequeno Cyndaquil ativou o fogo de suas costas a centímetros dele, mas logo ambos se farejavam em sinal de paz.

– Totodile foi o pokémon inicial da mamãe, não foi, pai? – Perguntou Emma, que já conseguira controlar seu parceiro que parecia um bebê em seus braços.

– Sim! – Adiantou-se o tio Jimmy. – E o Cyndaquil foi o meu! Chris, você tem o inicial do maior campeão de Johto e o do segundo maior... Talvez queira dizer que você pode se tornar uma lenda, garoto.

– Não quero me tornar uma lenda, senhor... – Disse ele – Apenas um pesquisador.

– Você é muito modesto... – papai retomou o controle da situação, empurrando tio Jimmy para o lado. – Mas na carta diz que seu tio me enviou mais alguma coisa, Chris...

– Ah, claro... Quase esqueci! – Chris puxou a mochila e abriu um bolso pequeno, de lá tirou três aparelhos vermelhos e entregou dois ou doutor, guardando um para si. – Aqui está.

– Essas estão um pouco diferentes das que eu tinha no meu tempo. – Ele examinava os aparelhos com curiosidade. – Existe alguma nova função que o Prof. Gary não tenha me falado?

– Sim senhor... – Chris abriu o aparelho e mostrou a interface. – Essas pokédex foram desenvolvidas pelo meu tio, que as batizou de National Dex. Elas conseguem dar informações mais precisas sobre os pokémons de todos os cinco continentes.

– Sério?! – O doutor parecia impressionado. – Então ele juntou cinco dispositivos de catalogação de pokémons em um só? Isso é incrível.

– Ele espera que seja um padrão para todos os novos treinadores... – Chris parecia sem jeito.

Meu pai, então, conectou os aparelhos ao computador e fez algumas análises, enquanto todos esperavam ansiosos.

Em particular, já havia ouvido falar na Pokédex. Era um dispositivo bem simples que podia lhe dar informações bem úteis dos pokémons que um treinador viesse a encontrar em sua jornada e poderia dar dados mais precisos das criaturas que você capturava, como por exemplo, altura e peso médios, natureza em particular (curioso, agressivo, paciente...). Ela também armazenava o local e nível de experiência nos quais ele havia sido capturado.

Como um todo, um instrumento essencial para quem não tem grande conhecimento sobre pokémons e deseja iniciar uma jornada. Um aparelho perfeito para mim.

– Chris, você poderia analisar seu Cyndaquil com sua National Dex para mim? – Perguntou meu pai.

O garoto apenas abriu o aparelho, como se fosse um livro qualquer, e apontou uma espécie de lente de câmera fotográfica para seu novo parceiro, e ele começou a descarregar uma torrente de informações numa voz robótica.

Cyndaqui. Pokémon tipo fogo. Consegue gerar fogo em suas costas ao entrar em combate, o que intimida seus inimigos. No nível atual, suas técnicas são: Empurrão e olhar penetrante. Capturado pelos arredores da cidade de New Bark, no continente de Johto. Altura: 0,50m. Peso: 7,9Kg.

Todos ficaram em silencio esperando o veredicto do Dr. Vincent que olhava atentamente para o aparelho quando este terminou de dar as informações, mas quem se adiantou em falar foi Chris:

– Bom, em sua função de voz ela só dá essas informações, mas em sua memória estão salvos os mapas dos continentes, então ela também mostra a área em que se pode encontrar o pokémon, sem que tenha sido capturado. Caso seja, ela informa o tamanho da pegada e o som que ele emite além de comparar, em imagem, o tamanho da criatura ao de uma pessoa de um metro e meio de altura.

– Entendo... – Disse meu pai com um sorriso carinhoso no rosto. – É perfeito para os novos treinadores.

Ele ainda falou mais algumas palavras de incentivo antes de entregar os dispositivos para mim e Emma, mas, após o que pareceu muita relutância, ele cedeu.

Mas antes de sairmos de volta à para nos despedirmos das pessoas e seguirmos viagem ele me puxou pelo ombro para podermos conversar a sós.

– Matt, espero que esteja consciente de que, em sua jornada, as chances de encontrar sua mãe biológica são bem remotas. Sabe disso, não sabe?

– Sei sim... – Falei um tanto desconfortável com o assunto. – Talvez ela nem esteja no continente, então não alimento muitas esperança em encontrá-la.

– Desculpe-me... – Ele me abraçou. – Eu não queria que você perdesse as esperanças, mas também não quero que crie expectativas que talvez não se concretizem... Não podemos controlar esse tipo de coisa.

– Não se preocupe...

Ficamos em silêncio por alguns minutos, onde ele transmitia o mesmo tipo de afeto que senti com Mariana, mas sem palavras, como de costume. Meu bom e velho pai nunca fora bom com palavras.

– Enfim... Apesar de remotas as chances de você encontrá-la, não são impossíveis. – Ele retirou um envelope do bolso do jaleco e ergueu para mim. – Caso encontre-a, quero que dê isto a ela, mas prometa que não vai ler.

Eu relutei em aceitar a carta. Seja lá o que estivesse ali, minha insegurança dava-me a impressão de que era algum tipo de insulto a ela por ter me largado na porta de um desconhecido, deixando-o sem escolha além de criar a criança. Mas meu lado confiante me lembrou que sempre tentei dar o mínimo de trabalho possível aos meus pais de criação, não consigo me lembrar de ter feito algo sério que os fizessem ficar realmente irritados, ou gastassem uma fortuna em dinheiro... Não queria dar-lhes motivos para me abandonarem.

Depois de um milésimo de segundo de relutância, peguei a carta.

– Prometo que não lerei.

Meu pai apenas assentiu com a cabeça e juntos saímos do laboratório para a rua, onde Emma e Chris nos esperavam ao lado de nossa mãe, que me ergueu uma grande mochila verde.

– Aqui tem comida suficiente até chegarem em Violet City, roupas limpas, e alguns materiais que talvez possam precisar. – Disse ela com lágrimas nos olhos. – Não esqueça de me ligar.

Ela me abraçou por alguns minutos e depois abraçou o doutor.

Para não prolongarmos o momento de despedidas, nos apressamos em sair do terreno do laboratório e irmos em direção a Rota 29, que dava acesso à próxima cidade.

Antes de passarmos pelos portões de New Bark dei-me o luxo de olhar mais uma vez para as casas que deixávamos para trás.

– Muitas lembranças? – Chris parou ao meu lado.

– Você nem faz idéia... Você vai seguir viagem conosco?

– Se vocês não se importarem...

– Claro que não, certo Matt? – Emma, que estava mais a frente, voltou e pôs o braço sobre meus ombros. – Adoraremos ter mais companhia.

Com essas palavras, e mais um amigo, nos voltamos para os portões da cidade e os atravessamos.


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Notas finais do capítulo

Foi isso, minha gente! Espero que todos tenham gostado e não deixem de comentar. Qualquer erro de português cancerígeno, é só me avisar nos reviews que eu vou correndo consertar. ATÉ A PRÓXIMA, MINHA GENTE! o/