Charming escrita por Mirchoff


Capítulo 5
Capítulo IV - Jasper


Notas iniciais do capítulo

Hey, galera!
Feliz Natal atrasado, e um ótimo 2014 pra vocês. Obrigada por acompanharem a fic!
Boa leitura.



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Jasper suava frio.

Ao entrar naquele salão, ele imediatamente quis voltar atrás. Se fechasse as portas rapidamente, talvez ninguém o notasse. Ele poderia se trancar dentro do quarto e só aparecer dias depois.

Mas, trinta e cinco cabeças se viraram para ele. O príncipe sentiu todos os ossos de seu corpo virarem pedra e o cérebro se tornou gelatina.

Ele analisou-as por alguns segundos antes de continuar a andar. Tinha que chegar até a segunda mesa completamente são e sem deixar que seu nervosismo o entregasse.

– Senhoritas. – Deus, ele não tinha ideia do que falar. Aliás, como se falava? Era como se sua língua tivesse virado pedra.

Optou por fazer reverências. Dezesseis garotas de um lado, dezesseis do outro, e uma em cada ponta. Quais eram os nomes delas, mesmo?

– Eu diria algo inteligente, ou sei lá. – revelou. Podia sentir o olhar mortífero de sua mãe, e ouviu as risadinhas do pai. Que raios Jasper estava fazendo? – mas, a fome é maior. Voltem a comer, por favor. Eu farei o mesmo.

Uma vozinha no fundo de sua mente repetia para que ele não tropeçasse. Seria um vexame e ele não saberia onde por a cara. E se tropeçasse? Deus!

Não tropece, pensou. Por favor, não tropece.

Jasper não sabia o que estava acontecendo consigo mesmo. Ele nunca foi assim, nunca ficou nervoso na frente das pessoas. Ele fazia o papel de príncipe que fica no canto e só fala quando lhe convém.

Mas havia tantas garotas ali... Ele não queria fazer o papel de palhaço.

E sentiu os pés se enroscarem no tapete. Raios o partam! Sentiu-se cambalear, cairia a qualquer momento.

Merda! – exclamou.

Recuperou o equilíbrio e ergueu o rosto a tempo de ver a expressão da mãe se contorcer numa careta desgostosa.

Sorriu, desafiador. Os risos das selecionadas já nem importavam tanto assim: Jasper amava envergonhar a mãe. Ele tinha certeza de que algo do tipo "Onde foi que eu errei?" estava se passando na mente da rainha.

Isso o deixava mais feliz que tudo. Era a prova concreta de que não importava o quando Ella tentasse, ele nunca seria como Aron.

Jasper inclinou-se sobre a segunda mesa, roubando uma torrada do prato de Phoebe. A irmã apenas revirou os olhos, tentando não rir, ao passo que Ella só faltou ter um colapso nervoso.

A princesa tinha completado quinze anos poucas semanas antes. Ela era um tanto parecida com Jasper. Eram os mesmos cabelos negros, os lábios bem desenhados, e até aquela mecha rebelde que nunca parava no lugar era compartilhada. Embora Phoebe tivesse os olhos castanhos do pai, ninguém tinha dúvida de que ela e Jasper eram irmãos.

– Querido, sente-se. – a mãe indicou o espaço vago ao seu lado, mas o príncipe apenas balançou a cabeça.

– Hoje não. – Ella ergueu as sobrancelhas para o sorriso de Jasper, que dera meia volta.

– Jasper... – Aron desviou a atenção de seu prato e olhou para o – Jasper, sente-se aqui.

Ele apenas balançou com a cabeça, ouvindo a rainha murmurar qualquer coisa em tom irritado.

Algumas selecionadas voltaram os olhos para ele, surpresas. Jasper puxou uma cadeira sentou-se em frente à Lily.

Ela não parecia tê-lo notado.

– Vossa Alteza... – ouvira uma garota murmurar, confusa. – o que faz aqui?

Ah! – exclamou ele. – eu apenas decidi almoçar aqui com vocês. Fala sério, aquela outra mesa não tem graça nenhuma. Isso é sopa de beterraba?

Ele tentava dividir sua atenção entre todas e, Deus, isso era difícil. Quando já tinha respondido pelo menos cinco vezes que sua cor preferida era cinza, finalmente pode dar uma espiada em Lily.

A garota usava um vestido claro muito bonito. Os ombros nus eram tão pálidos que Jasper se perguntou como era possível que a pele de alguém fosse tão clara e delicada. Ao passo que a maioria das garotas trajava vestidos em tons de vermelho e azul, e um tanto decotados e cheios de detalhes, o vestido de Lily era simples. E perfeito.

O príncipe rezou para que ninguém tenha notado quando ele se abaixou um pouco na cadeira. Esticou a perna e, bingo!, tinha atingido o joelho da garota.

Ela deu um pulo, um tanto surpresa. As sobrancelhas franziram-se e o rosto atingiu um tom rubro.

– Você me chutou. – murmurou, incrédula. Jasper sorriu.

– Supondo que fosse o único modo de fazê-la olhar para mim. – e levou a taça de vinho aos lábios, observando Lily por cima da borda. Ela parecia completamente surpresa com seu gesto.

Talvez não tivesse levado a sério o que Jasper lhe disse sobre seguir as regras.
Isso o fazia querer sorrir. Ele simplesmente amava a ideia de surpreendê-la.

Quando a garota preferiu a torta de frango a conversar com ele, Jasper teve vontade de chutá-la novamente. O que era aquilo? Por que ela não olhava para ele?

O broche no vestido rosa da garota ao seu lado tinha um "Lacey" em letra cursiva, talhada em prata.

Jasper sorriu para ela, que se inclinou um pouquinho em sua direção. Deus, Lacey estava fazendo com que seu decote ficasse à mostra. Pra falar a verdade, a maioria das garotas ali fazia isso.

– Desculpe, senhoritas. – disse, tentando se afastar de Lacey. Ele podia sentir o perfume doce e extremamente enjoativo. – mas eu ainda não decorei seus nomes. Você é... ?

Uma garota com traços orientais, ao lado de uma ruiva, demorou um pouco para responder. Jasper se irritou com o riso debochado de Lacey. Quem aquela garota pensava que era?

– Me chamo Olivia, Vossa Alteza. – ela tinha uma voz gentil e baixa. O príncipe sorriu, se virando para a próxima.

–x-

– Garotas, eu falo com vocês depois.

Jasper tentou ser o mais gentil possível. Ele tinha encontrado Olivia e outra garota cujo nome era Haylee, e elas pareciam dispostas a segui-lo por onde quer que ele fosse.

Deus! Ele precisava de ar. E privacidade. Talvez uma cama. E duas doses de uísque, por favor.

As garotas pareceram desapontadas, mas assim que Jasper virou o corredor, pôde ouvi-las dando gritinhos só por ter falado com ele.

Que coisa mais ridícula, pensou, não é como se eu fosse algum tipo de astro teen. Ou talvez sim. Argh.

Jasper abriu as portas de seu quarto, se sentindo aliviado por estar sozinho. Mas, de repente, a cama já não lhe parecia tão convidativa. Suspirou, derrotado.

Recostando-se nas portas de madeira maciça, observou o ambiente. O quarto de Jasper sempre fora seu motivo de maior orgulho.

Não que ele fosse do tipo bagunceiro. Ele jogava, sim, as roupas no chão e as deixava lá, mas as recolhia assim que começava a tropeçar em tudo. Tirando esse pequeno detalhe, o quarto era extremamente arrumado. Tudo ficava em seu cantinho.

Era um cômodo grande, as paredes num tom de cinza mais claro do que ele gostaria. Não era de teto abobadado, como o de sua irmã e alguns outros quartos, mas Jasper gostava do lustre antigo pendurado ali. Não era de cristal, e sim um daqueles lustres pesados de ferro e velas. Ele nunca as acendia, gostava daquele jeitinho derretido. A iluminação do quarto era função das lâmpadas discretas nas paredes e cantos do teto.

Ele percorreu os olhos pelas paredes. Eram lisas, e acima de sua cama havia um mural de fotos. Jasper amava fotografia. Tinha o pressentimento de que era a única coisa que ele fazia que a mãe aprovava. Ella lhe deixava um beijo estalado no rosto toda vez que o via com uma câmera pendurada no pescoço.

O príncipe pendurara diferentes tamanhos e tipos de porta retratos. Pequenos, grandes, médios, redondos, quadrados. Uma porção ainda estava vazia, mas ele gostava dos que havia preenchido. Fotos de Phoebe, dos pais, Quentin e Yan, das viagens que já tinha feito, do castelo na primavera. E até de Aron, se quer saber.

Jasper não possuía fotos de si mesmo.

Ele riu, a garrafa de uísque em mãos, ao se lembrar de que a mãe não permitia bebidas em seu quarto. Era outra regra estúpida, nas palavras de Jasper. Ele ainda não acreditava que ninguém havia descoberto seu esconderijo, um fundo falso no baú onde guardava algumas de suas roupas. Fazendo companhia para algumas garrafas de vinho, uísque envelhecido e a coleção de canivetes, estava sua agenda.

Não era um diário. Era só uma agenda surrada, a capa de couro gasto, em que ele anotava qualquer coisa. Planos de fuga, rotas específicas do castelo, uma frase ou outra que ele tinha gostado em algum livro. No meio das páginas, cartas e cartões-postais, bilhetes e esse tipo de coisa. Mesmo assim, ele nunca mostraria aquilo para alguém.

– A mim mesmo, afinal. – brindou, bebendo direto do gargalo. O destilado desceu rasgando por sua garganta, mas Jasper não se importou.

–x–

– Você realmente não tem juízo, Jasper. – Phoebe murmurou, andando de um lado para o outro no quarto.

– Mas a culpa não é minha. – murmurou ele, um pouco mais alto do que gostaria, a voz arrastada. – Lacey me abordou no meio do corredor.

Era verdade, afinal. A garota da província de Carolina simplesmente havia se jogado nos braços do príncipe, com a desculpa de que havia tropeçado. Ah, faça-me o favor! Mas Jasper estava tão desnorteado que não conseguiu entender o que ela estava dizendo. Ele realmente não devia ter bebido tanto assim.

– Ela me agarrou. – completou, a cabeça entre as mãos. – e eu bati a cabeça naquela estátua estúpida.

– Jasper – a irmã se sentou ao lado dele, acariciando seu ombro. – você sabe que esse tipo de garota está aqui atrás de somente uma coisa. E não é você.

Ele sabia, afinal. Lá no fundo, sabia. Soube disso assim que o pai lhe dissera sobre A Seleção. Peter lhe disse que haviam aquelas que estariam ali por ele, em busca de um vida melhor, em busca de um marido. Aquelas que se importariam com ele. E também haviam aquelas que queriam a coroa, e só a coroa.

Jasper achava aquilo uma baboseira. Ele era a coroa. Era tudo a mesma coisa. Todo mundo queria pertencer à Casta Um. Todo mundo queria ser da realeza. Todo mundo queria ser como Jasper.

Menos ele mesmo.

– Phoebe, eu vim aqui pra você fechar esse corte. – murmurou, irritado. – se eu fosse pra enfermaria, contariam para a mamãe e ela iria me perguntar porque tenho esse rombo no meio da testa.

– Não seja exagerado. – murmurou ela, tocando o corte acima de sua sobrancelha esquerda. – é pequenininho, só precisa ser limpo. A sua sorte é que eu tenho um kit de primeiros socorros aqui.

Ele realmente tinha batido a cabeça. Saíra do quarto pouco depois do Sol se pôr, já um pouco bobo por conta da bebida. Queria perguntar a Yan se este tinha falado com Lily, mas não havia nenhum criado por perto para transmitir o recado. Ao surgir no corredor, perto das cozinhas, encontrara Lacey.

Deus lhe perdoe, mas ela estava linda. O vestido vermelho favorecia seu corpo e as pernas torneadas. As pernas. Jasper não percebeu o que estava fazendo até sentir os lábios da garota contra os seus. Ele podia sentir o gosto do uísque se misturar com o gloss labial de Lacey. E era viciante.

Até que seu equilíbrio o traiu. Jasper cambaleou por alguns segundos antes de se chocar com uma das milhares de estátuas espalhadas pelo castelo. Ele pôde ouvir Lacey murmurando um "desculpe". O príncipe apenas acenou com a cabeça, e a garota sumiu tão rápido quanto tinha aparecido.

Jasper achou o som de seus saltos ecoando no corredor extremamente irritante.

– Obrigado. – murmurou após sentir Phoebe colocar um pequeno curativo em seu corte.

– Não há de quê. – disse ela, sorrindo.

A princesa passou os dedos pelo cabelo do irmão. Jasper se inclinou à seu toque, os olhos fechados.

– Promete pra mim que não vai sair por aí agarrando todas elas? – Phoebe tinha um tom brincalhão, mas ele sabia que era coisa séria.

– Eu tinha acabado de beber uísque direto do gargalo. – Jasper abriu os olhos, sacudindo a cabeça. – papai me fez criar uma listinha do primeiro corte. Umas dez, pelo menos.

– Mas você nem as conheceu direito.

– Eu sei.

– Você pode estar mandando a sua alma gêmea embora sem nem perceber! – Phoebe se levantou, indo até a penteadeira. Jasper revirou os olhos, sabendo que ela começaria algum desses discursos sobre amor verdadeiro.

Por favor, sua irmã tinha apenas quinze anos. O que raios ela saberia sobre amor verdadeiro?

– Eu vi Yan caminhando pelo bosque – disse, por fim. – ele estava com aquela Quatro de Lake. Lily.

– Ah, você os viu? – Jasper tentou não parecer muito interessado no assunto. Phoebe faria um escândalo se descobrisse que pedira a Yan para conversar com Lily. A princesa provavelmente começaria a fazer os preparativos para o casamento dos dois. Credo!

– Sim. – respondeu ela, sorrindo para ele pelo espelho. – ela é bonita, não é?

Jasper não respondeu. Ele encarou as paredes lilás do quarto da irmã. Para falar a verdade, sim. Lily era bonita. Ou talvez só interessante. Ele não tinha certeza.

Ele gostaria de ter certeza.

– Achei todas elas bonitas. – respondeu, num tom vago.

Phoebe colocou as mãos na cintura, se virando para ele.

– Eu não perguntei o que você achou das outras selecionadas. – disse, num tom autoritário. – perguntei o que achou de Lily. Eu vi o que você fez durante o almoço. Você queria que ela olhasse para você, que falasse com você. Você queria ter a atenção dela.

Meu Deus, ele não deixaria uma adolescente lhe dizer o que ele quis ou deixou de querer. Jasper se pôs de pé, visivelmente irritado.

– Eu gosto de ser o centro das atenções. – era um tom um pouco rude, mas não se arrependeu. – pela primeira vez em anos eu sou o centro das atenções, Phoebe.

Ele ergueu a palma da mão aberta para a irmã, tocando o centro com o dedo indicador esquerdo.

– Eu tenho todas essas garotas aqui. – disse. Phoebe arregalou os olhos perante seu ato. – e pretendo manter todas assim. Com Lily não vai ser diferente.

E deu as costas, abrindo as portas do quarto, deixando uma Phoebe estupefata para trás.


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