The Prince Of My Ballerina escrita por Isabelle Masen


Capítulo 6
Capítulo 5 - Especial




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CAPÍTULO 5 - Especial








 

Fiquei calada e senti todo sangue sumir de meu rosto quando vi ele ali: Billy Black com seu olhar indecente pra mim enquanto batia na porta de minha casa. Caramba, até em minha casa ele fica me olhando com essa cara de cavalo com sono! Quanta audácia!


 

--- Oi Bella - falou meu apelido sem ser permitido, e eu senti minha mão tremular na maçaneta para fechar a porta na cara dele. Engoli em seco, naquele momento senti medo - não vai me convidar pra entrar? - ergueu uma sobrancelha e eu tentei me recompor.


 

--- Meus pais não estão - falei tentando soar firme, mas dava pra perceber a agonia oculta em minha voz. Ele deu um sorriso torto, mas não aqueles sorrisos belos e apolíneos que o Mozart dá, mas sim um sorriso sombrio, que as criancinhas têm pesadelos todas as noites. Aqueles sorrisos que as mães tentam ocultar das mocinhas desde cedo…


 

--- Mas o assunto é com você, querida - falou e deu um pigarro. Ergui as sobrancelhas quando ele tentou dar um passo, bloqueando a porta. Ele notou o movimento e me olhou, suspirando.


 

--- Estou com visitas, não posso demorar. Pode falar daí mesmo - falei tentando soar educada, mas estava berrando por dentro.


 

--- Tudo bem, eu vim aqui pedir desculpas pelo que eu fiz hoje. Eu acho que te assustei e… - assustou? Ele tentou me matar! - eu só quero que a gente se bem - falou dando ênfase no “dê”, mas não entendi o por que disso. Sabia que havia algo no fundo de suas palavras, mas não decifrava o que era. Dei um meio sorriso, pois ele parecia sincero com seus argumentos.


 

--- Certo, eu te desculpo - falei e ele sorriu, e quando vinha me abraçar eu quase o empurrei escada abaixo quando…


 

--- BELLA! ME AJUDA, TO PEGANDO FOGO, VEM LOGO! - Alice berrou e eu bati a mão na testa, corando. Acho que até Garrett, que está lá no portão comendo novamente escutou e interpretou mal o berro da maluca da minha amiga.


 

--- Acho melhor eu aplacar o fogo dela - falei e o homem deu um sorriso malicioso. Porém tenho uma leve desconfiança que não era por causa das palavras de Alice, mas mesmo assim decidi ignorar, pois ele acabou de se desculpar. Arregalei os olhos - não nesse sentido… Quer dizer, eu vou apagar, mas…


 

--- Entendi, mas acho melhor você se calar antes que…


 

--- PORRA BELLA! TA DIFICIL ISSO AQUI! - A louca gritou denovo.


 

--- Melhor eu ir, tchau - praticamente bati a porta na cara do homem, denovo.


 

--- Alice o q… Que porra é essa? - acabei soltando um palavrão que até ela parou o que estava fazendo pra arregalar os olhos. Quando sorriu e começou a falar, eu levantei uma mão - cala boca!


 

--- Hahahaha! Bella xingou, hahahahaha! - gargalhou esquecendo que a frigideira estava pegando fogo.


 

--- Caramba! Como isso aconteceu? - falei correndo desnorteada pela cozinha, procurando qualquer coisa pra apagar aquele estrago.


 

--- Eu me distraí com o gato do canal de culinária e… Bella, apaga isso logo e sem mais perguntas! - avisou tentando mudar de assunto e eu bufei.


 

--- Mas eu não entendo… Aqui tinha sistema de incêndio e… - dito isso água começou a sair do teto e um bip bip soou pelo lugar, fazendo Alice estacar assim como eu.


 

--- O que está… - Brigitte apareceu correndo e também parou olhando pra mim e Alice, que começou a chorar de nervosismo.


 

--- Eu sou a culpada, tudo bem, me julguem! - foi teatral e desabou de joelhos no chão, com a água do sistema escorrendo por seus cabelos.



 

(...)



 

--- Não precisava ter feito todo aquele dramalhão, sabe que meus pais gostam de você - falei enquanto afofava o travesseiro de seu quarto.


 

--- Ué, não é você que coloca a saia de palha pra salvar o mundo? - comentou deitando na cama.


 

Decidimos dormir na sua casa, pois eu não queria ficar pra ouvir a bronca de minha mãe. Meu pai é mais liberal e com certeza arranjaria um fogão novo e até uma cozinha nova se quisesse, mas minha mãe tinha uma estranha mania de economizar cada centavo.


 

--- Por que?


 

--- Ah, por que em quem você acha que sua mãe colocaria a culpa? Nunca ela colocaria em mim ou você, mas sim nos empregados.


 

--- Nem tinha pensado nisso - falei tomando um choque de realidade.


 

--- Mas agora que estamos aqui e não tem ninguém pra atrapalhar… - ela deitou de lado pra me fitar. Arregalei os olhos.


 

--- Olha, você é bonita e tudo, mas eu gosto de homens - deixei claro e ela deu um tapa no meu braço.


 

--- Não bobinha, quero falar do pianista. Eu sinto que ta rolando alguma coisa - piscou pra mim e senti meu rosto ruborizar.


 

--- N-não, você está imaginando coisas e… - ela caiu na gargalhada.


 

--- Bella, você não sabe mentir, que droga! - falou - assim não tem graça!


 

--- É, e aquela cirurgia? Eu estava certa? - mudei de assunto rapidamente, embora eu realmente quisesse saber sobre a cirurgia nos joelhos. Seus olhos brilharam e ela fitou o teto.

--- Eu vou falar com meus pais amanhã e com certeza eles vão aprovar. Você vai ver, irei superá-la! - piscou e eu ri.


 

---Você é bem melhor que eu, Allie. Já disse pra não se deixar levar pela opinião dos outros - falei com sinceridade.


 

--- Ta ta, você é um exemplo pro mundo e as pessoas deveriam ser como você, blá blá blá. Boa noite Bella - falou virando pra parede.


 

--- Boa noite, Allie - falei e fechei os olhos, caindo na inconsciência.




 

(...)



 

De manhã, graças aos “treinos particulares” de Alice, chegamos duas horas antes no estúdio, ou seja, 5h40 da manhã. Ela ligou pro Mozart - que eu até hoje não sei o nome - e ameaçou quebrar o piano caso ele não chegasse. Ela foi bem persuasiva, até tentou chamá-lo por algum apelido, o qual ele censurou rapidamente. Não entendo até hoje por que ele não quer que eu saiba o seu nome, embora seja divertido chamá-lo de Mozart.


 

--- Quinhentos e trinta e quatro, quinhentos e trinta e cinco… - Alice colocava a perna atrás da cabeça e depois na frente, já quinhentas vezes. Suava mais que um porco enquanto eu apenas assistia e configurava meu celular numa música clássica pra ela, o que não era difícil já que meu aparelho só tinha esse conteúdo musical.


 

--- Amiga, não acha que já ta bom de tanto aquecimento? Quando a maître chegar você vai ficar cansada e não fará nada direito - falei cruzando os braços e ela começou uma sequência de giros em um pé só.


 

--- Se você consegue, eu consigo. E não fale de mim, é fácil pra você, você é alta, oras! - falou, nervosa.


 

--- Não é questão disso…



 

--- Mas cadê o E… - começou e nesse exato minuto a porta foi aberta pelo pianista. Ta de sacanagem comigo, né destino?


 

--- To aqui - falou estendendo o dedo. Estava com uma blusa preta escrito “Ramones” com um símbolo em baixo, uma calça caqui e um sapatenis marrom, e pra me matar de vez, óculos escuros estilo ray ban. Reprimi um suspiro mordendo o lábio enquanto ele andava com o casaco no braço, o mesmo preto de couro que ele usou para me cobrir.


 

--- Desculpa acorda-lo tão cedo - Allie se desculpou.


 

--- Não… - ele tentou falar mas ela o interrompeu.


 

--- Ok, ok, sabe aquela música tema da Rose do Titanic? - não entendi e uni as sobrancelhas. Que música é essa que eu não sei?


 

--- Titanic? - ele perguntou tirando os óculos e Alice fez uma careta incrédula.


 

--- É, aquela near, far, wherever you are… Bella, canta ela aí - passou a bola pra mim e eu dei de ombros.


 

--- Não conheço essa.


 

--- O que? - disse, incrédula - mas conhece pelo menos o Jack, né?


 

--- Quem?


 

--- Ah, não acredito - passou a mão nos cabelos molhados - vocês dois nunca ouviram falar no Titanic? No naufrágio, no filme, no Leonardo DiCaprio?


 

--- Já ouvi falar no filme - o Mozart se defendeu.


 

--- Assistam esse filme, se possível hoje a tarde, por favor! Essa é a única música que eu danço bem! - ela disse, dramática - hoje vocês podem ir na minha casa?


 

Ele olhou pra mim para que eu decidisse.


 

--- Fala alguma coisa - falei pra ele, nervosa.


 

--- Por mim ta tudo bem - ele deu de ombros finalmente.


 

--- Ta - falei já ficando vermelha.


 

--- Yupi! - Alice pulou, feliz - e você sabe a do cisne negro? - um sorriso automático se formou em meu rosto, e os dois me olharam com curiosidade.


 

--- Foi a música da minha primeira apresentação, eu tenho a coreografia de cor até hoje - falei orgulhosa.


 

--- Eu vou tentar tocar ela, posso sr. pianista? - pediu fazendo o Mozart sorrir.


 

--- Com tanto que você não quebre o piano, sim - deu de ombros e eu senti um peso em meu bolso, e em um piscar de olhos Alice estava sentada no banco em frente ao piano. Mexeu em algo nas pernas e começou a dedilhar no piano, tocando com muita perfeição pra quem tinha acabado de conhecer. Tanto eu quanto o Mozart nos surpreendemos.


 

--- Vai Bella, dança! - falou e eu, meio desnorteada, me coloquei na primeira posição.


 

Comecei a executar os primeiros passos com leveza, porém, quanto mais vida eu dava aos movimentos, mais sentia meus dedos doerem por causa da posição que estava. Quando girei? Nossa, fui ao inferno. Porém estava dançando bem, o olhar do Mozart sob mim afirmava isso.


 

De esguelha o espionei e ele tinha deixado sua mochila cair, enquanto me fitava com um brilho de admiração no olhar. Ele é tão lindo… Não consegui conter o rubor que apareceu em minhas bochechas.


 

Quando a música acabou, outra começou, e eu fiquei confusa.


 

Alice sorriu amarelo.


 

--- Esse é o novo pianista - falou mostrando meu celular, que tocava outra música. Eu e o Mozart nos entreolhamos e rimos e eu descobri que ele tem uma covinha no queixo esquerdo.




 

(...)




 

--- Pas Promenade - a maître disse e eu a obedeci, com o rosto contorcido de dor. Meus pés doíam demais, e eu sentia as bolhas dos calos que se formavam em meus dedos mindinhos.


 

--- Espacate - falou e eu finalmente pude respirar, abrindo minhas pernas e fazendo círculos invisíveis com os pés no ar, na tentativa de aplacar a dor. Eu sei que poderia simplesmente parar de dançar, a maître não hesitaria em me apoiar, mas era só comigo. Se Rosalie ou Irina quiserem parar, vão para a terceira barra ou até pra casa, para não voltarem mais. Sempre odiei ser algum tipo de “excessão” ou prioridade.



 

Alice e algumas outras garotas fitavam o volume na horizontal de minha sapatilha, local que eu evitei olhar por conta da frescura de “parar e descansar”.



 

--- Segunda linha - a maître disse a Rosalie, que prontamente obedeceu sem perder o ar “superior” que tinha com ela. Sempre tiveram um tipo de competição, já que Rose já tinha “dado uns pegas” no filho dela. Mas graças à política de professores e alunos ela fora proibida de criar qualquer tipo de implicância com Rose, mas todas nós já notamos que ao se referir à loira ela tem um certo desdém na voz. E Rosalie tem um orgulho fortíssimo, diz que não sairá da Juilliard - que é uma das melhores escolas de Ballet do mundo - por conta de um cara que não a merecia e por uma mãe encapetada.



 

--- Bella - Irina sussurrou e eu movi lentamente a cabeça para que a maître não notasse - aproveita que está aí na frente e passa uma rasteira nessa baranga por mim?



 

Eu e algumas garotas que ouviram ela falar também.


 

--- Quietas! Bem, agora estão dispensadas, até amanhã - falou e deu um aceno. Alice me ajudou a levantar.


 

--- YAY! Pronta pro filme? - disse animada enquanto eu andava até minha sacola.


 

--- Não sei, estou com muita dor nos pés - falei enquanto sentava e tirava minhas sapatilhas.


 

--- Você prometeu - ela fez um biquinho e Rosalie se aproximou.



 

--- Prometeu o que?




 

--- Assistir Titanic hoje lá em casa - falou e Rosalie revirou os olhos, sentando ao meu lado.


 

--- Não existe filme mais chato que esse - advertiu.


 

--- Ei, o LeoDiCappz era um gato!


 

--- Era. Agora está gordo, barbudo e parcialmente careca.


 

Alice bufou e desabou ao meu lado.


 

--- Mas o pianista é bem maneiro, eu sei que ele vai - ela disse.


 

--- O pianista vai? - Rosalie arregalou os olhos - me conta essa história direito - sentou ao meu lado e Alice começou a sintonizar Rosalie com os últimos acontecimentos.


 

Meu olhar estava perdido enquanto eu ouvia apenas burburinhos das vozes de Allie e Rose. Sentia estar sendo observada, só não sabia distinguir de qual direção.



 

O Mozart caminhou até nós e sentou no meu outro lado.



 

--- Ainda vai ter o lance do filme? - perguntou com sua voz melodiosa, fazendo Alice abrir um sorriso maior que o mundo.


 

--- Vai, mas a princesinha aí ta com os pés doendo - disse com uma careta e o Mozart imediatamente pousou o olhar em meu pé.


 

--- Mas você estava dançando tão bem… - disse erguendo uma sobrancelha, um tanto incrédulo. Ruborizei.


 

--- Fofo, ela dança bem até com as mãos amarradas - falou e Rosalie riu, assim como ele.


 

--- “Ela” também está ouvindo a conversa - me intrometi, cansada de ficar vermelha na frente dele.


 

--- Mas não está participando! Vai ou não vai? Decide logo!


 

--- E se eu procurar a música na internet? - Mozart abriu um meio sorriso.


 

--- Não é a mesma coisa - Allie fez um biquinho.


 

--- É só uma música!


 

--- É o LeoDiCappz!



 

--- Foda-se! - não controlei e todos me olharam de olhos arregalados. Levei as mãos a boca, envergonhada. Que diabos estava acontecendo comigo?


 

--- Bella-boca-suja - Rose riu.


 

--- É culpa desses calos infernais - disfarcei tirando a sapatilha.


 

--- Você vai, né?


 

--- Não me deixe sozinho nessa - o Mozart sussurrou em meu ouvido, me fazendo estremecer. Olhei pra ele e ri com sua cara de cachorro pidão super fofa.


 

--- Ta bem, vocês me convenceram - revirei os olhos.


 

--- YAY!


 

--- Múu! - Rosalie gritou, contagiada pela animação de Alice, mas acabou fazendo o som errado, provocando risos até mesmo da maître que ainda estava na sala.


 

--- Nunca mais fale “yay” perto de mim - Rose disse entredentes pra minha amiga.



 

(...)




 

Depois de almoçar rápido, coloquei uma calça de moletom preta, uma blusa de alças verde, um suéter cinza com gola V por cima e uma sapatilha preta básica, saindo para a casa de minha amiga.



 

Cheguei quase vinte minutos antes do combinado, e a mãe de Allie me dissera que ela tinha ído almoçar fora. Sentei no chão apoiando as costas em sua cama enquanto tirava a sapatilha e massageava os pés machucados. Doíam como navalhas.


 

--- Cara, eu passei por um restaurante e vi a Alice dando em cima do garçom! - O Mozart irrompeu a porta e sentou na poltrona perto da janela, tirando os óculos escuros.


 

Como estava lindo.


 

--- Não podemos culpá-la, ela anda meio necessitada de alguém pra aquietar tanta euforia - ele riu, provavelmente com o duplo sentido.


 

Desci o olhar pros meus pés enquanto fazia movimentos circulares nas veias.


 

--- Parece mal - falou olhando pros mesmos.


 

--- Eu estou mal - sorri de canto.


 

--- Esquece isso - falou puxando as mangas de sua blusa - está na hora da famosa massagem do dr. Mozart - disse e eu comecei a balançar a cabeça.


 

--- Não, não, eles estão horríveis - ergui as sobrancelhas e abracei os joelhos.


 

--- Não, o meu amigo Emmett tinha pés que pareciam mãos de macaco, os seus não podem ser pior, vamos - disse sentando ao meu lado e gesticulando para eu esticar o pé. Ri de sua comparação.


 

--- Me dá! - pediu com tom de voz brincalhão e eu ri, entregando um pé a ele ainda temerosa - ugh! - ele exclamou com uma careta quando os viu e eu os puxei imediatamente.


 

--- Viu? Eu falei pra você - disse sem tirar meu sorriso.


 

--- Estava só brincando - ele gargalhou pegando em meus pés novamente. Seu toque duro porém delicado os amaciava lentamente, provocando ondas de êxtase sobre meu corpo. Seus dedos de pianista eram largos e irrevogavelmente quentes e acolhedores, largos mas com um toque fino, único; como veludo. Áspero e delicioso em meus pés. Seria constrangedor dizer que queria que ele me tocasse em algum lugar que não fosse meu pé desgastado e ridículo?



 

Me senti um tanto especial com seu toque.



 

--- Viu? - falou com um sorriso satisfeito.




 

--- Você não é nada persuasivo - falei com sarcasmo e ele ergueu as sobrancelhas, sugestivamente.


 

--- Você poderia reclamar da dor e simplesmente parar com a aula - falou apertando, empurrando e amassando meu pé com delicadeza, fazendo a dor repugnante desaparecer gradativamente.


 

--- Acho muito egoísta - dei de ombros - você sabe, com as outras meninas. Acha que ela pararia a aula pra alguém como Alice?


 

--- Está certa - disse concentrado em meus dedos - posso fazer uma pergunta? - ergui uma sobrancelha, surpresa.


 

--- Claro - falei enquanto meus olhos traçavam uma linha visual entre a curva perfeita de sua sobrancelha à seus lábios carnudos e avermelhados, que hesitaram antes de perguntar.


 

--- Por que você dança? - perguntou e ergueu uma sobrancelha perfeita, me olhando.



 

--- O que?


 

--- Eu só acho meio… - deu de ombros, balançando a cabeça - rígido. Você tem um jeito de dançar que… Que me surpreendeu. Você se entrega, não se deixa abalar só por isso aqui - apertou levemente meu pé - você dança com graça. Nada é páreo pra você naquele salão. Mas você poderia dançar algo mais… Liberal. Que mostrasse todo o seu poder.


 

--- Tipo o que?


 

--- Hip hop - deu de ombros e eu dei um meio sorriso, ainda meio ruborizada com tantos elogios à minha pessoa.


 

--- Hip hop? - ri.


 

--- É - ele deu um sorriso torto be-lís-si-mo - é bem ágil mas não exige tanta pieguice como o ballet.


 

--- Pieguice? - mordi o lábio, risonha - você já dançou hip hop?


 

--- É, eu manjo alguns passos - deu de ombros fitando a janela de minha amiga. Fechei os olhos quando ele fez algo com os dedos no ponto G da dor, provocando um efeito sanfona nela - melhor, né?


 

--- Muito… - murmurei ainda de olhos fechados, mas saiu mais como um gemido indescente. Abri os olhos tentando reparar meu pequeno deslize e vi um Mozart me fitando intensamente, mordendo os lábios em algum pensamento que não sabia decifrar.


 

Mantive o olhar por alguns segundos, o clima silencioso dava uma reviravolta turbulenta em meu estômago, como borboletas. Minhas mãos queimavam quando ele se aproximou um pouco mais de mim.


 

--- Ah meu Deus! Eu estou namorando, vocês não vão acreditar! - Alice arrombou a porta eufórica, quebrando o “clima” que estava se instalando.


 

--- O garçom? - o Mozart perguntou.


 

--- Sim! O Jasper! - disse com um sorriso maior que a cara.


 

--- Isso é ótimo! - sorri assim como o Mozart.


 

--- Ah… - Alice fitou meu pé nas mãos do pianista, com uma expressão de nojo. Eu e ele tratamos de nos afastar, mesmo eu querendo gemer quando ele chegou um pouco pro outro lado - ai que nojo, você está pegando no pé de bailarina dela! - disse levando uma mão à boca.


 

Ri um pouco, sem graça.


 

--- Eu vou pegar as pipocas, e quando eu voltar não quero ver uma cena dessas por aqui! - disse autoritária e saiu novamente.


 

Olhei pro Mozart no mesmo momento que ele me olhou, e sete segundos depois desabamos em uma gargalhada alta.





 

(...)





 

Agora o filme já estava começando, as luzes estavam apagadas e a janela estava fechada. Alice e eu nos acomodamos com o Mozart no meio, pois diz ela que na hora H ambas precisaremos de alguém pra aplacar nosso choro. Não entendi bem, mas topei, pois se a contrariasse naquela altura do campeonato acho que seria atirada pela janela.


 

--- Essa parte é as lembranças da Rose velha, ela vai contar pro capitão gostosão o que aconteceu na juventude dela.


 

--- Para de contar o filme, Alice - o Mozart pediu, tentando se concentrar.


 

--- Não estou contando, essa é só uma parte importante, como também no final quando o navio…


 

--- Alice! - a repreendi e ela se encolheu.


 

--- Tudo bem, tentei ser legal, somente isso.



 

O filme já estava perto do final, eu realmente estava ficando um tanto sentimental quanto às cenas do Jack tentando ficar com a Rose ainda sem nada estar acontecendo, e quando depois da primeira cena de amor deles o navio fora arranhado pelo iceberg já comecei a roer as unhas. Estava com a curiosidade à flor da pele, tentada a cutucar Alice para perguntar o que acontecia. Espiei algumas vezes a reação do Mozart, ele estava estático, concentrado como se lembrasse de alguém durante algumas cenas.


 

Quando o Jack morreu afundando para que Rose sobrevivesse, as lágrimas tomaram meu rosto à assalto por que invadiram mesmo minhas bochechas, me fazendo soluçar tão alto que meu peito doía. Alice se encontrava da mesma forma que eu, mas como era muito mais sensível que eu ela gritava enquanto segurava o braço do homem ao nosso lado, que tentava contê-la ao mesmo tempo que ficava maravilhado com a perfeita atuação da Kate Winslet.



 

Sem conseguir me acalmar, comecei a tremer. Mas congelei completamente quando o Mozart tocou minha mão com seus dedos largos e de uma maciez muito confortante. E, como se não bastasse o choque que eu estava, ele ainda acariciou a parte de cima com o polegar, fazendo aos poucos meus batimentos voltarem ao normal. Me senti uma fera sendo acalmada por um domador, a sensação era incrível. Que diabos era aquilo?


 

Quando a mulher contava a última parte de sua vida e as fotos da Rose real apareciam, senti um aperto no coração, como se estivesse no lugar dela, como se sentisse aquela dor. Meio que de repente e sem controle de minhas ações, enterrei o rosto no peito do Mozart e o abracei. Ele estremeceu um pouco, e quando eu comecei a me afastar com medo de que ele tivesse reagido mal, ele passou um braço por minha cintura, me envolvendo e subitamente me trazendo uma paz imensa. Sentia que nada poderia me destruir, que estava segura, acolhida. Nada poderia me fazer mal. Ele estava ali, e assim eu ficaria bem.


 

Ele me envolvia cada vez mais, e senti correntes elétricas percorrerem cada centímetro de meu corpo quando ele afundou a cara em meu cabelo, aspirando profundamente. O lugar que seu nariz tocou congelou completamente, enquanto o resto de meu corpo permanecia imóvel. Eu queria levantar e correr para o mais longe possível, pois sentia minhas pernas queimando um calor que eu nunca sentira, mas levantar dali parecia ser pecado.



 

Quando menos esperei, apaguei, flutuando em seus braços.


 


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