Delicate escrita por Trixie Ray


Capítulo 1
Capítulo único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/421334/chapter/1

Delicate

“We might kiss, when we are alone. When nobody’s watching, we might take it home. We might make out, when nobody’s there… it’s not that we’re scared, it’s just that it’s delicate.”

(Giane e Fabinho)

Os dois se olharam por um longo tempo até que Fabinho balançou a cabeça e começou a andar para longe de Giane, uma expressão de ressentimento em seu rosto.

“Espera, Fabinho.” Demorou apenas cinco segundos para que ela entendesse que ele havia saído andando, porém esses cinco segundos foram o suficientes para fazer com que ele se afastasse dela. “Espera!” Ela calculou que teria que correr para conseguir alcançá-lo, já que ele andava a passos largos.

A única coisa que ela não pensou foi que estava usando sapatos com saltos, uma combinação não muito boa quando alinhada a corrida e uma calçada desigual. O resultado que ela esperava era alcançá-lo, podendo então segurar o seu braço e fazê-lo virar. O resultado que ela conseguiu foi correr três passos e torcer o pé.

“Ahhh!” Foi mais um grito de surpresa do que de dor. Dor ela sentiu quando seu corpo tocou o chão, caindo de quatro ela conseguiu ainda arranhar seus joelhos e mãos.

Mas isso fez com que o cabeça-dura do Fabinho parasse de se afastar, na verdade, ela conseguiu fazer com que ele desse meia volta e corresse até ela.

“Droga! O que você tava pensando, garota?” Ele ajudou Giane, fazendo com que ela se sentasse e tocou seu tornozelo, já um pouco inchado. “Você vai ter que pôr gelo nisso.” Fabinho continuou seu exame para os joelhos dela.

Giane ignorou o incômodo dos machucados e estendeu uma mão, tocando o rosto do garoto à sua frente.

“Eu queria te alcançar, Fabinho.” Os dois se olharam nos olhos, sem dizer uma só palavra por alguns segundos. “Eu acredito em você, já te disse isso milhares de vezes, você tem que começar a acreditar em mim.”

Ele tentou se afastar, mas dessa vez ela o segurou pelo braço antes que ele pudesse fugir dela.

“Não, não vai embora.” A mudança de tom na voz dela fez com que ele parasse de tentar fugir dali, mas ele continuou de costas para ela. Era mais fácil desse jeito.

“Giane, ninguém nunca vai acreditar que eu mudei. Eu vou ser o bode expiatório. Sempre.” Ele riu sem humor.

“Mas eu vou sempre acreditar em você. Você mudou!” Ela tentava fazer com que alguma razão entrasse na cabeça dele. “Eu sei que você mudou. Eu vi.” Ela olhou para suas mãos. “Eu senti.”

“Garota…” Ele disse, mas não sabia como continuar, então ficou quieto.

“Eu vi o seu olhar antes de você tentar ir embora, agora a pouco. Era um olhar de ressentimento...” Giane continuava a olhar suas mãos e seu tom de voz era baixo, inseguro. “Você se arrependeu de ficar comigo?”

Sua última pergunta fez com que ele se virasse para ela, dessa vez fazendo com que ele tocasse em seu rosto, numa tentativa de fazer com que ela olhasse para ele.

“Do que você tá falando?” Ele perguntou, mas não esperava uma resposta. “Eu pensei que você tinha se arrependido de ficar comigo.” Ela franziu a testa.

“Você pensou que eu não acreditava em você, não é?” Ela balançou a cabeça em negativa. “Você é mesmo um bobo. Quando você vai acreditar no que eu digo?”

Ele estava pronto para responder com um de seus comentários grosseiros que aparentemente somente Giane replicava à altura, porém a garota se aproximou dele com um sorriso no rosto a mirar sua boca, deixando claro o que ela pretendia fazer em seguida.

“So why do you fill my sorrow with the words you’ve borrowed, from the only place you’ve known? Why do you sing Hallelujah, if it means nothing to you? Why do you sing with me at all?”

(Amora e Bento)

“Giane, Giane, Giane! Você só fala dela, Bento!” Amora começou a gritar em mais uma das inúmeras brigas que o casal vinha tendo desde que se casaram. “Você se lembra de mim por acaso? Eu sou a sua mulher!”

“Chega, Amora!” Bento levantou sua voz, mas nada comparado ao tom de Amora. “É claro que eu falo sobre a Giane, ela é a minha melhor amiga e está envolvida com aquele canalha do Fabinho!” Ele bufou ao lembrar-se do outro rapaz e teve de respirar fundo para se acalmar. “E eu não falo só sobre a Giane.”

Bento murmurou a última parte, mas a It-Girl ouviu do mesmo jeito e elevando a voz ainda mais.

“Ah, é verdade.” Ela disse; sarcasmo cobrindo todas as palavras. “Como podia me esquecer da santinha do pau oco da Malu?” Ela riu com malícia. “Pelo menos agora todos podem ver o que eu sempre soube: ela sempre quis atenção.”

Bento estava cansado daquilo; todos os dias as mesmas brigas.

“Não sei por que você se deu ao trabalho de brigar com o Erico naquele dia, ela é uma piriguete, Bento, não tem como negar isso. Todo mundo já sabe que ela fica com qualquer um.” Amora deu uma risada seca e balançou a mão logo dispensando o assunto. “Não sei por que você ainda se dá ao trabalho de se preocupar, ela é obviamente uma vadia.”

“CHEGA!” Amora parou de falar no mesmo instante em que Bento deu um soco na parede. Dessa vez o rapaz precisou de mais do que respirar fundo para se acalmar. Os dois ficaram em silêncio por vários minutos; Bento olhando a parede que ele havia acabado de socar e Amora olhando para as costas de seu marido, com uma expressão de terror nos olhos. “Dessa vez você realmente passou dos limites. Eu quero que você saia da minha casa.” A voz de Bento saía baixa de sua boca, o que deixava Amora com muito mais medo.

“Bento-” Ela pausou para mudar o tom de sua voz, deixando-a mais doce. “Bento, eu sou sua esposa.”

“Nós já conversamos sobre isso, Amora. Você claramente não é mais aquela menina por quem eu me apaixonei.” Ele se virou lentamente para ela. “Você não insultou só a sua irmã, você insultou a minha também. Eu quero você fora daqui.” Ele balançou a cabeça e algumas lágrimas começaram a cair de seus olhos. “Quando eu voltar, é melhor você não estar aqui.”

Com isso ele passou pela porta. Amora pôde ouvir o motor da van da Acácia Amarela depois de alguns instantes. Lágrimas também caíram de seus olhos, pois dessa vez ela sabia que Bento estava falando sério.

“We might live like never before, when there’s nothing to give, well how can we ask for more? We might make love in some sacred place; the look on your face is delicate.”

(Malu e Maurício)

“Sai daqui, Mau. Por favor, me deixa sozinha.” A voz dela saiu firme, apesar de por dentro ela se sentir em um completo caos. Seus olhos passavam dúvida, mas a raiva que Maurício estava sentindo no momento não permitiu que ele notasse isso. Ele simplesmente balançou a cabeça e saiu do quarto da garota.

Ver a porta se fechando foi tudo o que bastou para fazer com que Malu caísse no choro e subsequente no chão. Ela sentia uma dor irracional no peito, uma dor puramente emocional. Ela não queria chorar, e não sabia por que estava se sentindo assim, abandonada. Ela havia deixado claro o que ela queria e o Maurício também deixou claro que não iria ficar sentado passivamente enquanto ela entrava em sua própria jornada para se conhecer melhor.

Não... não havia razão para se lamentar. Ela havia feito sua escolha e não se arrependia dela, afinal, ela estava conseguindo descobrir do que ela gostava e do que ela não gostava. Ela estava usando e estava sendo usada. Ela estava a ter o seu momento e não se lamentava por isso. Mas uma parte dela esperava que ele não tivesse falado sério quando disse que não iria estar lá para ela.

Seu corpo foi tomado por soluços ao perceber que ela queria o Maurício de volta. Ela queria parar com sua busca e ficar com ele, mas depois de tudo, será que ele a aceitaria de volta? Então, pela primeira vez ela se sentiu irracionalmente suja por ter ficado com tantos caras. Ela balançou a cabeça, lembrando que ela quis fazer isso e ela havia aprendido com tudo isso.

“Foi tudo em vão.” Ela sussurrou, fechando os olhos – uma tentativa fútil de tentar parar as lágrimas que continuavam a cair copiosamente, mas tornou a abrir rapidamente quando sentiu braços há muito conhecidos em volta de si e o cheiro familiar que Maurício tinha.

“Ei.” Ele continuou segurando Malu em seus braços, passando uma mão em seu cabelo e a outra em suas costas. Mas ela continuava a chorar. “Ei, ei. Eu estou aqui, Malu."

"Não, Mau." Disse Malu entre soluços. "Você só está aqui agora por pena-" outro soluço interrompeu o que ela dizia. "Eu... eu acho que não viu aguentar se você ficar aqui agora e depois ir embora... olhando pra mim com a expressão de nojo que você estava quando saiu agora a pouco." Ela espalmou suas mãos contra o peito dele, usando sua pouca energia para tentar se afastar do abraço protetor que ele lhe dava. "Por favor, Mau-."

A única coisa que fez com que ele tirasse seus braços do lugar onde estavam foram as palavras dela.

Ao invés dela se acalmar sem o abraço dele, ela apenas sentiu mais dor. Sua testa se enrugou e ela lutou para não deixar um gemido passar pelos seus lábios, mas foi em vão e no momento em que o som chegou aos seus ouvidos, Maurício tornou a abraçá-la.

"Eu acho que sempre vou estar aqui para você, Malu." Ele parou de falar, pensando com cuidado em suas próximas palavras enquanto ela criava mil cenários em sua cabeça a partir do que ele havia acabado de falar. Alguns eram bons, mas a maioria tinha um fim ruim. "Eu sei o que eu disse antes, Malu... eu sei que eu te magoei muito nos últimos meses com as minhas palavras e minhas atitudes." Ele pausou mais uma vez, lembrando-se de um momento vários meses atrás e não pôde evitar a pequena risada que escapou por seus lábios. "Lembra quando você disse que eu estava sendo machista por não querer que você ficasse com outros caras? Não era machismo, sua boba." Ele afastou o corpo do dela o suficiente para que pudesse olhá-la. "Era ciúmes, Malu, aquele monstrinho verde. Eu não queria que você ficasse com ninguém porque eu queria você comigo.

"Você havia pedido espaço e ao invés de te ouvir eu apenas briguei com você. Olhando agora eu sei que se nós tivéssemos ficados juntos naquele momento nós perderíamos muito... talvez até a nossa amizade. Eu amo você, Malu e eu quero ficar com você."

"Mau,-"

"Não, me deixa terminar." Ele olhou fundo nos olhos dela. Finalmente as lágrimas haviam dado uma trégua, mas com o rumo da conversa, ela temia que elas voltassem sem aviso prévio. "Eu espero.” Ele repirou fundo. “Eu espero você, eu quero finalmente estar aqui para você e fazer o que você me pediu: dar espaço. Você sempre foi uma ótima amiga pra mim, Malu, e está na hora de eu começar a agir como seu amigo. Eu só posso esperar que você queira ficar comigo no final." Ele passou uma mão em seu próprio cabelo, um gesto que mostrava como *ele* estava nervoso e inseguro. "E mesmo se você não quiser... bem, eu não quero perder a sua amizade."

Malu podia ver que ele iria continuar seu discurso por muito mais tempo se ela não falasse nada e por esse motivo ela tomou uma decisão, levando em consideração tudo que ele estava dizendo. Sem pensar muito, ela fechou o espaço entre eles e o beijou.

Levou apenas dois segundos para que Maurício respondesse o beijo. Ele conseguia sentir as bochechas molhadas dela e isso fez com que ele tentasse passar para ela o quanto ele havia falado sério antes. Não querendo abusar da sorte, ele se afastou, pronto para dar o espaço que ela tanto havia pedido e ele tanto havia negado.

"Não, Mau." Ele piscou, pensando que ela não queria mais sua amizade - não que ele pudesse culpá-la por essa decisão. Ela sempre esteve lá para ele e ele não podia dizer a mesma coisa. "Eu não quero mais espaço." Ela apertou sua mão e agora sua voz mostrava a fragilidade que ela sentia por dentro. "Eu quero você."

Ele travou o olhar com o dela, paralisado com o que ela havia dito, mas logo um sorriso começou a aparecer nos dois rostos.

"Fica comigo, Mau." Ela abaixou o olhar simplesmente para travá-lo novamente com o dele. "Faz amor comigo?"

Ele estudou o rosto dela por alguns instantes, procurando algum sinal de hesitação.  Ele notou como ela mordia o lábio inferior e sabia que esse era o seu gesto nervoso, mas notou também o leve rubor em sua face. Ela estava se sentindo vulnerável, não hesitante.

Ele sorriu mais uma vez para ela com um sorriso de cumplicidade e se inclinou em direção dela. Os lábios tocando com carinho.

Fim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Delicate" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.