Estou encarando Leon, esticado no tapete, comendo uma barra de chocolate. Faz uma semana que ele veio morar no meu quarto, e ele pegou meio que um trauma de maçãs. Eu já parei de deixar ele dormir no tapete, mas ás vezes ele mesmo prefere ficar ali.

– Cara, me amarrei mesmo nessa parada de chocolate. É melhor do que aquela... Maçã.

– É, eu tô ligada.

Leon tem comido apenas doces ultimamente, bolos, balas, tortas (mas nada de maçãs)... Mas o que ele mais gostou até agora foi chocolate. Bolo de chocolate, achocolatado, brigadeiro, sorvete...

Ele estende um bloquinho de chocolate na minha direção.

– Toma um pouco.

– Ah, meu amor, agora estou tentando escrever a música para o exercício do Pablo.

– Isso te impede de comer um pouco de chocolate?

​Olho para ele, sorrindo.

– Claro que não.

Cerca de um segundo depois de eu ter pego o chocolate, ele se transporta para o meu lado, na cama, e olha dentro do meu diário.

– Ei, quem disse que você pode ler? – digo, tirando o diário da vista dele.

– Por quê eu não posso?

– Porque são coisas de menina.

– Fui criado pela mente de uma menina, posso entrar na mente de uma menina, sou o sonho de uma menina, e não posso ler o diário de uma menina?

Pra falar a verdade, não tem nada que ele possa ver mesmo por aqui.

Ele começa a se espreguiçar, e murmura:

– Vamos ver o que se passa nessa sua linda cabecinha.

– Leon, nem pense em...

Então, ele some.

Hummm... Vejamos o que temos aqui... Oh, memórias de musiquinhas, que legal.

– Leon, não mexa aí!

Ah, gostei dessa aqui, como é... "Como quieres que te quieras si te quiero y tu"...

Dou uma risada ao ouvi-lo cantando minha música.

– Pare com isso, seu bobo!

Não, essa música é legal... Errr... "No quieres que te quiera como yo quiero quererte".

​– Ei!

Então ele começa a cantar Como Quieres, e eu dando risadas, e pedindo-o para parar. De repente, papai entra no quarto sem mais nem menos.

– Com quem está falando, Violetta?

– Ahm... Eu estava no telefone.

– Não está segurando seu celular.

– É que... Caiu no chão.

– Com quem estava falando?

– Meu namorado.

– Ah, é, o Tomás.

– Não, não era o Tomás. – respondo, sem pensar.

– O quê? O seu namorado não era o Tomás?

– Não... – digo, baixinho. – É o Le... Leon.

– Eu não conheço nenhum Leon, quem é esse garoto?

– Eu... Vou trazê-lo para jantar aqui amanhã.

* * *

Estou agora sonhando, no cenário do nervosismo, que consiste em terra seca ao lado de um rio rochoso e turbulento, com muitas pedras no meio. Pedi para Leon entrar em minha mente enquanto eu estivesse dormindo, para ele fazer parte do sonho.

Estou tentando imaginar a roupa perfeita nele, e, assim que eu imagino algo, ele aparece vestido nesse modelo.

– Violetta, minha Lady, eu já cansei de trocar de roupa, e trocar, e trocar, e trocar, dá pra decidir logo?

Atiro meus braços ao redor do pescoço dele.

– Leon, você é mais que perfeito. Mas para meu pai te aprovar, tem que ultrapassar os limites de perfeição.

Coloco as mãos no cabelo dele, arrastando a franja para o lado.

– Tira a franja, eu fico com calor, droga. – reluta ele, colocando o cabelo pra trás, deixando tudo bagunçado.

– Mas eu gosto com a franja.

– Eu não!

Depois de muita briga, decidimos por uma camisa quadriculada de botões, calça jeans e all star, e sem a franja, mas ao mesmo tempo arrumadinho.

– Agora sim, você está perfeito. – digo, puxando-o para mim.

– Achei que eu fosse mais que perfeito.

– Só com a franja. – levo meus lábios aos dele, dando um rápido selinho. – Brincadeira. Você fica perfeito de todos os jeitos.

Então, as coisas ficam meio embaçadas.

* * *

Angie está na porta do quarto.

– Violetta, por acaso isso é hora para dormir? Seu namorado já vai chegar!

– Uhummmm...

Me levanto, e, assim que Angie sai, ajeito meu vestido, que é rosa com alguns brilhinhos, e estava todo amassado.

Em seguida, Leon sai da minha mente, e diz:

– Eu vou me transportar para a porta.

– Boa sorte. – digo, dando um beijo que teria sido bem longo se não fosse o meu desespero para ele ir logo para a porta e acabarmos logo com isso. Ainda temos a eternidade para nos beijar, não precisa ser agora.

– Sabe que mesmo que o seu pai me recusar, eu vou continuar comendo seu chocolate e dormindo na sua cama, né?

Balanço a cabeça, e então ele some, e poucos segundos depois, ouço a campainha tocar lá embaixo. Saio do quarto correndo, e gritando:

– Eu atendo!

– Olá de novo. – diz Leon, quando o vejo novamente do lado de fora.

– Olá de novo.

Então, meu pai surge atrás de mim, e diz:

– Olá, sou o pai da Violetta, Germán.

– Prazer em conhecê-lo. Eu sou o Leon... – me dou conta de que o Leon não tem sobrenome. Rezo secretamente para ele inventar um. – Errr... Leon Vargas.

– Oh, muito prazer.

Eles apertam as mãos, e nós vamos jantar.

Lá, tive que inventar várias coisas para encobrir Leon. Inventamos que ele veio da Espanha, que o seu pai (que no caso, não existe) é um grande executivo, e que ele vem de família muito rica. Até parece. Tão rico que come os restos de chocolate em pó que sobram no potinho.

– Então, Leon, você é muito bom rapaz. Pode namorar a minha filha.

– Muito obrigada, senhor Germán.

Levo Leon até a porta.

– Mandou bem.

– Obrigada, Lady.

Então ele vai desaparecendo, mas ouço uma voz atrás de mim:

– Violetta, por quê esse garoto desapareceu?