Eu sinto como se eu fosse uma pessoa diferente agora. Não, meu corpo não mudou, tampouco minha personalidade. O que mudou foi o mundo ao redor.

Em um minuto eu era o padrão e em outro eu já era o perigo.

O garoto de branco, que revelou chamar-se Marco, está nos guiando por entre a mata do chamado "Mundo dos Sonhos". Consegui fazer com que meu pé ficasse curado logo. Esse mundo é... Como se qualquer coisa que eu tirar na cabeça aconteça, apareça. Como em um sonho. Se eu quiser, aparece um dragão aqui e agora. Se eu quiser, chovem balas e o céu muda a cor.

Eu posso conseguir, se eu imaginar.

– Aqui. – diz Marco, indicando um tipo de barracão de madeira gigantesco. É como... Como uma casa na árvore. Só que milhares de vezes maior. – Esse é o lugar onde vocês vão tirar todas as suas dúvidas.

Ele e Leon se teleportaram para cima, e eu olho para eles, chutando a raiz da árvore.

– Eu sou normal, esqueceram?

– Imagine, mi amor. – grita Leon, com um sorriso no rosto.

Fecho os olhos e me imagino nas alturas ao lado de ambos. Ali estava eu.

Entramos. O lado de fora da casa na árvore não diz nada sobre o tamanho interior. Milhares, milhares, milhares de pessoas-sonho andando no interior da enorme casa furta-cor.

Todas pareciam reconhecer Marco, mas olhavam para mim e Leon com estranheza. Aperto fortemente a mão do meu namorado. Eu só quero ir pra casa. Me esforço para pensar em lembranças do lar e manter a calma. Foi a pior coisa que fiz.

O ambiente ao meu redor pouco a pouco foi se transformando na sala de minha casa á medida que eu pensava nela.

Todos os olhares se dirigiram a nós, assustados, chocados. Meu coração acelerou e esmaguei a mão de Leon sob a minha.

– Pessoal, pessoal! – grita Marco, na tentativa de acalmar o povo. – Esses são Leon e Violetta. Lembram de quando chamamos ele pra cá? Pelo visto, ocorreu algo e... Trouxe a humana...

Ele mal pôde terminar sua frase e já podia se ouvir um burburinho "humana?" "humana!".

– Espera aí – interveio Leon. – como assim vocês "me chamaram"?

Marco sorriu.

– Leon, todo mundo aqui é igual você. Só estamos aqui porque quem nos imaginou nos deixou esquecidos no fundo de suas mentes. Os que não estão conosco ainda vivem nas mentes de seus humanos. Você foi... Uma excessão que conseguiu sair. Cada um de nós tem um poder especial. Todos sabemos teletransportar e comunicar por telepatia. Mas uns tem visões, outros sabem mudar as coisas de lugar com os olhos, várias outras coisas. Um de nossos sonhos teve uma visão de que você estava tendo problemas no mundo humano, e reunimos os que tem poder de teletransportar outro indivíduo para te trazer pra dentro. Mas houve uma falha e... – todos os olhos dirigiram-se a mim. – Ela veio. Mas isso não vem ao caso. Você é um de nós. Vamos te ensinar o que precisa saber, te ajudar a descobrir seu poder especial, e torná-lo mais forte. E, quanto ao problema lá fora, cuidaremos depois. Eu sou o primeiro que chegou aqui. Eu sou o chefe da Legião Sonhada. E você... Bem-vindo á família. E

Várias pessoas-sonho correram na nossa direção e vieram a abraçar Leon e Marco em um gigantesco abraço em grupo.

Ele estava ali com os iguais dele, sua família, e eu era só... A que não deveria estar ali. A estranha. A "falha no plano". A humana.

Eu só queria sumir.

Lentamente, uma transparência banhou meu corpo e eu literalmente sumira. Eu não tenho lugar pra ir. O jeito é perguntar a Marco o que fazer comigo.

Encosto-me na parede da casa e deixo meu corpo transparente cair no chão, até a confusão chegar ao fim.