O som dos passos pesados e apressados cessam, mesmo que eu ainda não enxergasse nada sei muito bem que há várias pessoas paradas em minha volta. Não sei ao certo se eu devo arriscar perguntar quem são, mas não custa nada tentar...

— Quem está aí? — pergunto em um tom desafiador, se eles tentarem algo contra mim utilizarei minhas técnicas que aprendi quando era uma guardiã de minha terra natal. Mas ninguém respondeu, apenas começaram a rir de algo que não entendi, eu por acaso fiz uma piada?

— Olhem só, uma elfa perdida aqui em nosso mundo — uma voz grave corta os risos, seu tom era puro sarcasmo. — E ainda acha que pode fazer esse tipo de pergunta para nós — aos poucos meus olhos se acostumam com a escuridão e consigo distinguir o que há em minha volta. — Ué, ficou calada por que elfa? Está com medo de nós? — o rapaz de antes pergunta colocando ênfase em sua última frase.

Aperto a barra de meu vestido com a mão direita, esse comentário realmente me deixou irritada, mas não cairei nos insultos dele, responderei no mesmo tom. — Eu, com medo? — pergunto irônica com uma risadinha de desdém. — Como se reles seres humanos fossem me deixar amedrontada — levo minha mão que antes estava ocupada com o tecido até minha boca, encostando as costas de minha luva em meus lábios enquanto ria sarcasticamente.

— Você está apenas fingindo, não conseguirá nos enganar elfa tola — outro rapaz diz com um sorriso debochado em seu rosto, como meus olhos já se encontram dilatados, consigo ver cada um que estava me cercando, conto mentalmente e no total são seis rapazes. — Fingindo? Nossa, depois eu sou a tola? Olhe para si mesmo antes de falar nesse tom comigo, jovem “asqueroso” — rebato lançando um olhar sarcástico.

Percebo que consegui deixá-lo bravo, uma vitória para mim e um passo para o desastre. Bem, já que cheguei até aqui, vamos até o fim. — Oh, ficou irritado? Será que foi por causa que eu disse uma verdade? — rio novamente, o garoto fecha o punho e dá um passo em minha direção, mas antes que conseguisse se aproximar mais, o seu outro companheiro coloca a mão em sua frente.

— Ela está brincando com você, não percebeu isso? — seu tom de voz é sério, seus olhos negros se voltam para o local onde me encontro. — Então você quer brincar, elfa? Já que é assim, terá um pouco de diversão — parece que ele é o líder do grupo, além de vestir roupas mais extravagantes, no momento em que estalou os dedos os outros rapazes começaram a agir fechando um círculo em minha volta.

— Oh, então querem mesmo me enfrentar? — fico em posição de batalha observando eles se aproximarem cada vez mais, levo minhas mãos para as minha costas onde sempre deixo meu arco. — Mas o que? — sussurro baixinho ao apalpar o local onde deveria estar minha arma, praguejei mentalmente ao perceber tarde que os elfos além de me deixarem no mundo humano, tiraram qualquer meio para eu me defender.

— Hee, está procurando sua arma? Devo alertá-la de que será em vão? Não há nada em suas costas para a sua infelicidade — o humano atrás de mim me avisa, apenas suspiro e fecho meus olhos. — Então você desiste de lutar, elfa? Sabe que não é nada contra nós — o líder de antes fala, não necessito ver seu rosto para ver seu sorriso vitorioso.

— Não, ainda não... — digo ao vento abrindo rapidamente meus olhos e atacando com um chute vertical para cima na pessoa do lado direito. Como meu ataque foi inesperado, além de atordoar o resto do grupo, consegui nocautear acertando o indivíduo bem no queixo. Nessas horas agradeço meu treinamento com os melhores elfos.

— Peguem-na! — o “chefão” grita, fazendo com que todos viessem correndo para cima de mim. Penso nas aulas de combate corpo a corpo e respiro fundo, teria que botar tudo que aprendi em vários anos em prática nesse exato momento. Mas tinha apenas um problema... o vestido comprido. Olho para a barra dele e tento rasgá-lo, mas não consigo, o tecido é muito resistente para não ser rasgado tão facilmente, o que me fez ter mais vontade ainda de xingar os elfos. — Aproveitem que ela está parada!

— Tsch — resmungo olhando em minha volta, o golpe certeiro de antes foi sorte já que essa roupa não foi feita para uma pessoa se movimentar livremente. Como consegui uma abertura, tento correr até ela para sair desse beco e das garras desses humanos nojentos. Para o meu azar, tropeço na barra do vestido e caio no chão, meus braços ardem por causa do impacto contra o piso.

— Agora você não escapa, maldita elfa — um deles agarra meu cabelo puxando-o com força, minha cabeça subitamente vai para trás, a sensação de meu couro cabeludo se rasgando era imensa. — Agora diga quem é tolo, vamos, diga! — ele grita bem perto de minha orelha direita quase me deixando surda, eu não tinha mais escapatória...

Antes que eu pudesse reagir e tentar pelo menos soltar meu cabelo, dois outros rapazes seguram com força meus braços que ardiam. Eu estava presa e sem condições de fugir, eles conseguiram ganhar, então esse seria meu fim?

Fecho meus olhos esperando o pior, ouço eles falando entre si decidindo o que farão comigo, escolhendo entre matar ou violentar. Suspiro pesadamente sem que percebam, parando de resistir às garras dos inimigos. — Então agora se rendeu, você até que é esperta para uma elfa — o ser que segurava meu braço direito comenta vitorioso.

Apenas ignorei o que falavam, abri meus olhos lentamente tentando observar o céu noturno com minha cabeça semi levantada. As nuvens que escondiam a grande lua cheia começaram a se dissipar, como é lindo observar o último luar de sua vida. As palavras para dizer que a noite estava bela estavam prestes a sair de meus lábios, mas paro imediatamente meu comentário ao perceber um vulto sobre os prédios que formavam esse beco.

— Então está decidido! Vamos matá-la primeiro para que ninguém nos atrapalhe se ela gritar — o líder fala animado, ele olha para mim com um sorriso malicioso, eu já sabia o que ele planejava ao ouvir ele retirando do bolso de trás de sua calça algo de metal, provavelmente uma faca ou algo assim. — Diga adeus, elfa — ele aponta uma pequena adaga para meu rosto, se aproximando aos poucos.

Quando o pequeno objeto afiado fica a poucos centímetros de meu rosto, por um momento pensei que aquele era mesmo meu fim até o segundo seguinte em que vejo uma pedra média acertar precisamente a cabeça do garoto. Todos ficam chocados assim como eu, direcionando os olhares para local de onde aquilo veio. A poucos metros de onde estamos, um ser estranho está parado nos observando por detrás de uma máscara.

— Q-Quem...? — essa foi a única palavra que sai de meus lábios e corta o ar frio da noite.