Capítulo 2: Homenagem aos mortos

Yugi estava sentado a uma cadeira, e em frente do mesmo, havia uma mesa e pela janela próxima dos cômodos via a chuva passar. Já era mais de meia noite, e Yugi estava em seu computador, estudando novas táticas. Uma réplica do Enigma Milenar estava sobre um criado mudo, ao lado de seu baralho que estava guardado em uma caixa dourada com refinarias egípcias.

- Ah. . . - suspirou, passando as mãos pelos seus cabelos espetados

Agora, já estava muito mais velho. Agora a pequena e aconchegante loja de jogos de seu avô era um incrível magazine de games, tendo seu nome mudado para Trusdale, em homenagem ao próprio, que havia falecido há poucos anos atrás. Yugi já nem duelava mais como jogador pro, apesar de sempre ser chamado para muitos campeonatos. Queria somente viver a vida, ter sua família, ensinar seus filhos a duelar. . . Era isso que era importante para ele agora. Tinha acesso a praticamente todas as cartas, pois sua loja era patrocinada pela KC e também pelas Ilusões Industriais.

Ainda sentado na cadeira do computador, pegou o seu baralho. Passou cada carta bem devagar, lembrando toda a emoção e bons momentos que passou junto com as mesmas. Lembrou-se de seus amigos, que há tempos não via mais. Joey tinha se mudado para uma cidade do interior, para criar sua família lá, junto de sua irmã. Téa foi para os Estados Unidos, ser uma bailarina, sonho de infância da mesma. Tristan virou um executivo e foi morar na cidade grande. Yami. . . Aquele faraó carismático com quem havia dividido pensamentos e até mesmo a alma por um longo tempo. . . Agora, tinha ido embora.

Pegou uma folha de papel, não uma folha qualquer, mais sim uma folha que tinha bordas douradas, toda decorada em papel cartão. Ao inverso da folha, era um papel totalmente prateado com o logo de uma fundação que Yugi havia aberto. Começou a escrever uma carta, e escrevia em inglês, como se fosse para somente uma pessoa entender. Nela havia endereços e nomes de ruas pouco conhecidas e muito sombrias da Duel City.

- Kaiba. . . - falou, sozinho no quarto - Eu sei que você ainda quer sua vingança. . .

Dirigiu-se ao guarda-roupa, e após, puxou uma gaveta que ficava bem no fundo do mesmo. Era uma madeira um tanto quanto bonita. Dentro da gaveta, havia muitas cartas e um envelope branco com escritas em latim. Enfiou a carta dentro do envelope e, pediu para que seu filho mais velho entregasse na porta da Kaiba Corporation. O filho não se importou de fazer esse favor, afinal, ia sair mesmo.

Um dia depois...

Já era de manhã bem cedo mesmo, e Yugi estava em sua cozinha, lavando legumes para provavelmente fazer uma sopa. Julgava que seria um dia frio, então, nada melhor do que uma boa sopa para ajudar a esquentar os ânimos. . . Pela ultima vez, pois. . . Aquele. . . Seriam os últimos dias. Após lavar tudo e os deixar de molho, foi fazer o café. Preparou um sanduíche para si e comprou pão para o resto de sua família. O primeiro a acordar sempre era seu filho mais novo, e o mesmo vivia pedindo o pai a um duelo. Só que dessa vez não haveria um duelo diurno. . .

O rei dos jogos se arrumou rapidamente após comer o sanduíche e foi ler os jornais. Ótimo, nada de demais. Seto ainda não tinha feito nenhuma loucura. Mas aquilo era somente o inicio. Andando muito rápido, se locomoveu por mais ou menos 10 quarteirões, até chegar a um totalmente deserto.

Lá, o vento soprava tão forte que uivava. O sol, tampado pelas nuvens, sucumbia perante toda aquela onda cinza. O chão, ainda molhado da chuva de ontem dava um aspecto totalmente sinistro aquela parte da cidade. Não era para menos que lá Yugi estava perto do velho cemitério. Tudo isso para rever uma pessoa que o fazia sentir-se melhor: Trusdale.

Passou por várias covas, vendo vários tipos de anjos esculpidos ou não por marfim negro. Aquele lugar não era assustador, era apenas o lugar de descanso eterno para muitos. Yugi até gostava de ficar por lá antes de ter uma família.

Não demorou muito, já estava no túmulo de seu avô. Avô que o cuidou tão bem e o ensinou a ser quem era hoje em dia: uma pessoa bondosa e acima de tudo, com um ótimo senso de justiça.

Sabia que lá jazia Trusdale, pois, em volta da lápide, havia muitas rosas vermelhas e brancas. Também havia dois soldados de pedra, parados, como se estivessem em uma guarda eterna. O epitáfio somente dizia:

"Croyez en vous et vous serez dans votre contrôle total,

Croyez en vous et vous aurez votre monde entier,

Croyez en vous et que tu seras aveugle"

Yugi sempre se emocionava ao ouvir aquela palavra. Isso fazia ele sentir-se equilibrado, longe do mundo, mais perto de tudo. Só precisava ouvir aquela frase mesmo para estar preparado para o que estava por vir.

Voltava para a casa, mas antes passou na floricultura e comprou um lindo buquê cheio de camélias para sua mulher. Passou também na confeitaria e comprou um recheado bolo de chocolate para seus filhos. Ao chegar a casa, se deparou apenas com um bilhete de que a família tinha saído para fazer compras. Guardou tudo e então desceu, indo para a loja atender os clientes.

Garotos chegavam e saiam, na maioria das vezes para pedir um autógrafo. Mas, naquele dia chegou um garoto totalmente diferente. Ele queria um baralho inicial, o que quase ninguém comprava mais devido ao fato de existirem baralhos estruturas.

- Tem certeza? – indagou Yugi – Você quer mesmo o baralho inicial?

- Sim! – respondeu – Eu acredito então eu posso ganhar com esse baralho!

- Esse é o espírito! – respondeu Yugi

O baralho inicial não tinha lá grandes atrativos. Somente alguns White Magical Hat, Saggi the Dark Clown. A melhorzinha mesmo ali era uma Fire Princess. Os restos eram simples e poucos conhecidos. O garoto comprou alguns Boosters também básicos, porém teve uma sorte grande de encontrar cartas um tanto quanto raras, como Mirror Force, Gate Guardian e outras.

- Yugi, já vou indo! – despediu-se

- Ok, obrigado por comprar aqui! – falou

- Sempre que precisar irei voltar e assim que eu achar que elevei meu nível como duelista, irei voltar e comprar cartas melhores! – disse o jovem

O rei dos jogos apenas respondeu com um sorriso e um tchau, e ao ver que finalmente as atendentes da loja estavam chegando, voltou para sua casa. Sua família já tinha voltado das compras e já estavam comendo o bolo. Sua mulher estava toda boba com as lindas camélias que havia ganhado de presente.

Após o almoço, que foi um delicioso prato de macarrão, sendo escolhida a sopa para a janta, Yugi estava em seu quarto novamente, arrumando as ultimas cartas do baralho quando seu celular toca.

- Yugi? – indagou a voz

- Fale logo, Kaiba. – respondeu Yugi

O clima na voz dos dois era pesado. Pareciam dois estranhos, e ambos estavam sérios, sem nenhuma brincadeira ou expressando emoção no rosto senão preocupação.

- Isso precisa mesmo acontecer assim, Yugi? – indagou Kaiba

- Sim, precisa Kaiba. – respondeu – Não quero ninguém perturbando a minha família sobre esse duelo.

- Nem eu quero, Yugi. – respondeu Kaiba – Mas precisamos elevar isso a um local tão extremo?

- Sim. . . – respondeu – Ou duelamos no Mausoléu simbólico do faraó aqui na cidade ou não iremos duelar.

- Ok. – confirmou Kaiba

- A madrugada, estarei lá. – falou Yugi – E você?

- É lógico que também estarei. – respondeu – Nada de empresa ou qualquer outra coisa. Somente a vingança.

- E você Kaiba, só continua a pensar em vingança. . .

- Yugi. . . Breve você sentirá tudo o que tenho que carregar no peito por todos esses últimos anos.

E assim, Yugi apenas pode ouvir o barulho do telefone de Kaiba sendo batido furiosamente. É, aquele era o ponto extremo de onde um ultimo duelo poderia te levar. Era o começo do fim.