Lenalee abriu os olhos, piscando várias vezes para se adaptar a claridade. A janela estava aberta e a luz da manhã entrava... a manhã parecia estranha... Sonhara com algo que no momento não conseguiu recordar, de repente a janela chamou a sua atenção. Não se lembrava de, na noite anterior ter recolhido as cortinas mais escuras, que ficavam por trás das cortinas mais claras de um branco transparente, que no momento esvoaçavam levemente... Levantando-se para se alongar, sentiu quase que instantaneamente suas pernas estremecerem, fazendo-a arrepiar-se e se encolher... ‘Que friiio.’ pensou fazendo uma cara como se estivesse preocupada... Aproximando-se da janela pode enfim ver que a claridade na verdade era apenas passageira... O céu estava agora quase branco, isso porque nuvens densas começavam a se juntar um pouco rápidas demais, como se quisessem acompanhar o vento, e fazendo isso cobriam o sol. Lenalee dessa vez apoiada na janela pode sentir o vento bater mais violentamente contra o seu corpo, o que a fez estremecer de frio mais uma vez. Segurando cada extremidade da janela deu uma última olhada para aquela estranha paisagem, percebendo que gotas começavam a cair levemente anunciando a chuva. Porém, antes que outro vento a pegasse desprevenida fechou as imensas janelas antigas de uma só vez. Quando começou a se trocar alguém deu leves batidas na porta.
- Quem é? – Perguntou Lenalee parando de se trocar.
- Ohayooo Lenaleeee !!!! – Disse Komui, pelo visto Komui nii-sama estava na porta de seu quarto.
- Onii-sama... – Lenalee deu um sorriso com a boca fechada, que levantou levemente os cantos de cada lado dos seus lábios.- ... Hu, ohayoo Onii-sama... não entre agora, onegai!
- Hai, eu só queria lhe pedir para passar na minha sala antes de ir para o refeitório... Tem uma pessoa que eu quero lhe mostrar. – Dizendo isso com uma voz um pouco mais sério do que de costume. Sem nem esperar uma resposta Komui apenas ajeitou seu óculos e saiu correndo...
     ‘Onii-sama que me mostrar uma pessoa?’ – pensando com um misto de preocupação e surpresa. – ‘Quem será?’
     Com um pouco de curiosidade, Lenalee não demorou muito para se arrumar e fez uma maria-chiquinha nos seus longos e brilhantes fios um pouco mais rápido que o de costume... Ao sair de seu quarto fez o sentido contrário que geralmente fazia para ir para o refeitório. No meio do caminho encontrou Kanda, segurando a sua mugen com os braços cruzados e andando de olhos fechados, parcialmente calmo.
- Ohayoo Kanda-kun – Disse Lenalee parando de frente para ele e lhe acenando com a mão, esperou que este o respondesse antes de prosseguir.
- Ohayoo Lenalee... – Kanda disse com aquela sua voz grossa, porém, mais calma e menos arrogante que o normal. Deu uma leve olhada e, quando encontrou os grandes olhos da morena, não o sustentou por muito tempo e recomeçou a andar, como se nada tivesse interrompido sua caminhada até o refeitório.
     ‘Será que o nii-sama não chamou o Kanda? Ou ele não quis ir?’  - Não demorou muito para ela chegar no escritório do seu irmão. Quando bateu na porta percebeu que o murmúrio de uma possível conversa se extinguira. Resolveu não esperar que alguém a pedisse para abrir a porta e resolveu saciar de uma vez por todas à sua curiosidade.
- Nii-saan... – Lenalee abriu a porta devagar e quando olhou em volta não havia apenas o seu nii-san na sala, mas três pessoas. Com o susto que tomou e sentindo o rosto esquentar fez uma mesura e disse:
- Ohayoo Gosaimashita. – Levantou-se então e torceu o lábio num sorriso constrangido.- Muito prazer! – Dizendo isso voltou-se para o seu irmão e aguardou que este dissesse algo.
- LENALEEEE... – Berrou Komui com uma cara divertidamente chorosa, mexendo as mãos para que ela se aproximasse.
     Quando a menina o fez, Komui colocou uma das mãos em seu ombro, enquanto a outra segurava a xícara  de café. A menina então virou-se para os desconhecidos que a fitavam e encarou os olhos descontraídos de um. Ele era bem baixo... Bem, basicamente tinha à altura de uma criança de 6 à 8 anos no máximo, um cabelo num penteado indescritível, já era idoso, se é que se poderia dizer, não ao julgar pela altura, porém, seu rosto em si era cheio de manchas e rugas, o que o diferenciava de uma criança, tinha os lábios caídos como uma cara que repreendesse alguém se juntasse com o olhar severo e um tanto vago. E por fim uma mancha escura em volta dos olhos que pareciam olheiras mas que descobriu mais tarde ser apenas maquiagem, o que o deixava com uma cara de panda.
- Esse...- Disse Komui estendendo à mão que antes segurava a xícara de café agora postada na mesa indicando o senhor que acabara de descrever.-... é o bookman.
- Bookman?! – Indagou Lenalee puxando de sua mente da onde  havia ouvido essa palavra.
- Se dá o nome de Bookman à pessoas de um clã de homens que registram cada momento histórico que não pode ser escrito nos livros, pelo menos alguns deles, àqueles que precisam ser omitidos ou considerados secretos..- Disse Komui.- Este clã passa essas informações de geração em geração. De Bookman para o seu aprendiz... Ou futuro Bookman... Estou errado?- Perguntou ajeitando seu óculos e ainda fitando o senhor sentado no sofá.
     Bookman apenas mexeu positivamente a cabeça, olhando de esguelha para o maior ao seu lado que estava com as mãos apoiando a cabeça, com um olhar divertido e um sorriso ‘bem humorado’.
- E este...- Disse Komui rompendo o silêncio que havia se formado depois de se dirigir à Bookman.- ... é o Bookman junior...
- Ou Lavi.- Disse o menino que ainda sorria e olhava de Lenalee para Komui.
- Isso.- Terminou Komui.
     Lenalee agora tinha sua atenção voltada para o menino que se chamava Lavi e ele sustentava o olhar dela, ainda com um sorriso agradável que embelezava o seu rosto. Como queria descrevê-lo?  Aliás!!! Como poderia descrevê-lo? Talvez pudesse ela começar do início, com suas primeiras observações, julgando como ele poderia ser... Melhor... Como uma primeira intenção.
     Lavi era um garoto alto, não tão alto quanto seu irmão, mas chegava bem perto. Mesmo que ele estivesse sentado, era fácil perceber. Ele era magro, seus cabelos que poderiam cair repicadamente na altura de seu queixo como ela descobriu depois estava quase todo jogado para trás. Uma bandana que lhe foi colocado na altura da testa fazia com que sua franja caísse na altura do nariz cobrindo um de seus olhos de um verde aguado e distante. Sua bandana era preta e tinha um nó um pouco abaixo da metade de seu coro cabeludo, bem próximo da nuca. Por falar em cabelo... Taí uma coisa que se Lenalee não descrevesse não fazia quase toda a diferença entre suas vestes e o resto de seu corpo. Seus cabelos, que havia dito que por causa da bandana estavam jogados para trás, grande demais para estar  simplesmente arrepiado, estava, - se é que se pode dizer  isso literalmente- cuidadosamente arrepiado, como se a bandana fosse para estar simplesmente lá, parecia perfeitamente encaixada de modo que deixava sobressair seus cabelos de um ruivo altamente chamativo, um vermelho sangue que se você ver pela primeira vez não esquece nunca mais... Era tão brilhante... Lenalee chegou a dar um sorriso sem nem perceber tamanha beleza daquele garoto... Mas, havia uma coisa nele, que não eram as suas vestes esquisitas que podiam, ou melhor, que chamavam mais atenção que seu lindo cabelo. No seu olho direito havia um tapa olho, o fio que o prendia passava por debaixo de sua orelha e a outra pela testa e se perdia na bandana... Dava um ar triste naquele belo rosto. Por fim, suas vestes um tanto surradas eram uma calça normal marrom, com uma camisa verde musgo que na gola em ‘v’ tinham três botões, aquela parte estava aberta. Como se não bastasse mais uma ‘anomalia’, em cada mão tinha uma luva que ia ate o cotovelo do mesmo verde da camisa. Quando Lenalee parou suas observações e voltou à fitar Lavi, ele ainda a olhava, mas não sorria mais... Parecia ate um pouco incomodado.
- Muito prazer!!! – Disse Lavi com uma voz animada, quase gritando até..
- Hu.. Okaeri! – Lenalee abriu um largo sorriso mostrando seus dentes brancos. Um sorriso sincero de ‘Bem Vindos à Minha Família’ sabe?
- Não a trouxe aqui apenas por isso Lenalee...- Komui pegou novamente sua xícara de café azul com um coelhinho rosa dando língua que a menina já conhecia e falou na sua voz habitual, uma voz infantil de quem fala com uma criança de dois anos.- ... queria que você fizesse mais café para o seu nii-sama e depois apresentasse os nossos novos exorcistas ao resto do QG sim?
- Hai, nii-sama!- Lenalee pegou a xícara de café e fez um gesto para que os dois a acompanhassem e saiu do escritório com os dois em seu encalço.