Moments escrita por Evs


Capítulo 1
One-shot


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! ♥



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Shut the door, turn the light off

I wanna be with you

I wanna feel your love

I wanna lay beside you

I cannot hide this even though I try.

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Parecia estranho, mas ele gostava de vê-la dormir. Ela abraçava a coberta contra seu queixo e respirava de um jeito gracioso, soltando o ar pela boca com um suspiro. Seu sono era pesado – o que talvez tenha sido o motivo de sequer imaginar que Cato estava visitando seu quarto todas as noites desde que chegaram ali, acariciando seu cabelo e olhando-a dormir.

Gostava de mexer em seu cabelo. Clove sempre negava que era vaidosa, mas sentindo as mechas macias e perfumadas entre seus dedos notava que era o contrário. Hidratava-o toda semana, geralmente na quarta ou quinta-feira...

– ...Cato? – murmurou, e por um momento Cato ficou sem ação. Não sabia se a respondia, se fingia não estar ali ou saía correndo. – O que... O que faz aqui?

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Heart beats harder

Time escapes me

Trembling hand touch skin

It makes this harder

And the tears stream down my face…

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Poderia ter dito e feito mil coisas, mas ao invés disso simplesmente sorriu e acariciou seu rosto. Seu coração estava disparado e suas mãos tremiam um pouco, mas tentava disfarçar. Cato imaginava que ela bateria nele, gritaria com ele, o xingaria ou jogaria algo nele, mas ela apenas pegou gentilmente sua mão e abraçou-a nas dela, piscando cansada e olhando fixamente em seus olhos.

Respirou pesada e profundamente, olhando em volta. Em outra ocasião Cato diria que ela estava checando o quarto, procurando algo que possa feri-la, algo que ela devesse atacar – mas estava apenas olhando. Talvez olhando como ele próprio olhara, nesses últimos dias... pensando que talvez fosse a última vez que veria um quarto. Que deitaria em uma cama, que sentiria o forte ar-condicionado congestionando suas vias respiratórias. A última vez que se veria sem preocupações, sem angústias, sem medo...

Mas não podiam sentir isso. Nenhum dos dois. Eram carreiristas, certo? Um dos dois certamente venceria os jogos. Treinamento pesado, resistência física, armamento garantido pela Cornucópia. Mas por que então sentia esse vazio, esse medo? Cato continuava acariciando os cabelos negros de sua aliada.

Clove desviou o olhar e aparentemente engoliu um soluço, tentando disfarça-lo com uma tentativa falha de expressão indiferente. Cato assustou-se – esperava isso de qualquer garota, menos da garota das facas. Assustou-se mais ainda com o toque repentino do abraço da garota, que praticamente pulara em cima dele, jogando-se em seu colo e puxando-o para perto pela nuca. Sentiu o ar de um suspiro longo em seu pescoço e abraçou-a forte pela cintura.

– 500 crianças em nosso distrito – murmurou pesadamente, a voz ainda sonolenta – e eu tinha de vir para cá logo com você, Cato...

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If we could only have this life for one more day

If we could only turn back time

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 Cato congelou, ainda interpretando suas palavras. Pensara exatamente a mesma coisa desde que o diretor da academia anunciara que quem o acompanharia na arena seria ela. 200 garotas fortes, altas e atléticas, então por que ela? Perguntou-se tolamente sabendo a resposta – poderia atravessar o pescoço de boa parte delas apenas com uma faca arremessada. Se sabia de seu potencial, então por que sentia tanta insegurança, tanta dor? Era outra pergunta que ele já sabia a resposta.

Clove puxou a mão de sua nuca até seu rosto, acariciando-o. Soltou o abraço e encarou-o, sorrindo gentilmente. Era engraçado como ela estava “mais alta” que ele daquela forma, sentada em seu colo. Brincava com seus cabelos loiros e com sua barba rala, rindo baixinho com as reações do garoto. Parou e encarou fixamente os olhos azuis de Cato, segurando seu rosto com as duas mãos. Sem pensar e quase que automaticamente, Cato afastou a franja de seu rosto e beijou-a, tão calmamente quanto aquilo deveria ser.

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You know I’ll be your life

Your voice, your reason to be my love

My heart is breathing for this moment in time

I’ll find the words to say…

Before you leave me today

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Poderia estar pensando em milhões de coisas, mas sua mente estava completamente vazia. Para que pensar, para que raciocinar se estava com ela? Clove guiava seus reflexos. Poderia seu primeiro beijo ser também o último, sim. Mas de que isso importa, se é o primeiro, segundo ou último, se seria o melhor? De que importa se seria com a sua Clove?

Clove se encaixava perfeitamente em seus braços fortes, como se fosse aquele seu lugar. Cato sentia como se estivesse protegendo-a – e era isso o que queria e iria fazer. Não ligava para o fato de provavelmente morrer em função de protege-la – se ela continuasse sã e salva estava bom para ele.

Clove parou e abraçou-o, forte. Tão forte que poderia sufoca-lo se não fosse Cato. Ouviu um soluço estrangulado e sentiu uma lágrima molhar seu ombro, o que abriu um buraco em seu coração. Clove suspirou e ergueu a cabeça, olhando para o teto tentando dispersar as lágrimas.

– Eu não quero... – respirou fundo. – Eu não posso ficar sem você, Cato.

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Close the door

Throw the key

Don’t wanna be reminded

Don’t wanna be seen

Don’t wanna be without you

My judgment is clouded like tonight’s sky.

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Apertou seu abraço, sentindo seu cheiro, encoberto pelo cheiro forte e doce do sabão-em-pó da Capital. Quanto tempo sonhara poder sentir esse cheiro de perto? Tinha quase de cor.  Suave, doce, incrível e ao mesmo tempo não chamava muita atenção... Assim como ela. Era uma mistura de Lavanda com alecrim, com algumas notas de noz moscada e... cravo. O pleonasmo em seu perfume o hipnotizava, o viciava, e o fazia se lembrar de seus primeiros dias juntos, do dia em que se conheceram, de suas primeiras palavras, frases um para o outro. Era insignificante para qualquer outra pessoa, menos para eles. Cato se lembrava bem de todos os dias que passou com a baixinha da rua de trás...

– Ei! – uma garota muito mais baixa que ele exclamou quando esbarrou nela, correndo para pegar o brinquedo que tinha caído e rolado rua abaixo. – Olhe por onde anda, paspalho!

– Cale a boca, tampinha. – Ele disse, empurrando-a. A menina, de cabelos negros presos em uma só trança, ao cair sentada, agarrou seu tornozelo, fazendo-o se esborrachar no chão.

Cato virou para trás furioso, prestes a socar a garota, que sustentava um sorriso maldoso sentada no chão. Respirou fundo e olhou para seu joelho, que ardia bastante, sangrando. Irritado, levantou-se – a garota ria alto, seus olhos negros o encarando, com expressão de realizada – e chutou seu cotovelo, fazendo-a cair. Saiu batendo os pés, com o joelho ardendo e sangrando, e, ao chegar na rua de sua casa, olhou para trás. A garota estava com o rosto vermelho por segurar o choro e com a mão em sua própria nuca. Sentiu algo passando perto de sua orelha, voando, mas ignorou pela dor. Entrou em casa e se deixou ser medicado por sua mãe, que, preocupada com seu joelho, logo o mandara lavá-lo.

Algumas vezes, quando ia à padaria ou ao supermercado, via a mesma garota, mas fingia não ver. Evitava o sentimento de culpa por talvez tê-la machucado – Por que se sentir culpado? Ela tinha o feito cair, também. Mas era inevitável, apesar de tudo, esquecer-se do seu olhar duro quando a insultou de “tampinha”.

Em seus 13 anos, já na academia de tributos, viu uma garota, novata. O instrutor a apresentava as armas e tipos de ataque que podem se adequar a ela – com ênfase nos arcos e navalhas. Cato ficara um tanto impressionado com a forma como ele a subestimava, falando com aquele tom com o qual conversamos com animais de estimação. Apertou os olhos e congelou, reconhecendo a baixinha que tinha puxado sua perna daquela vez. Via-se que ela estava irritada pelo modo como ele se referia a ela, e, após ele mostrar a última área de treinamento, ela deu a entender que poderia se virar sozinha. O instrutor deixou-a sozinha e Cato decidiu se aproximar, apertando seu ombro, assustando-a.

– Esqueceu seu achocolatado aqui? – disse, em tom de deboche. A garota pareceu nervosa, mas retrucou rapidamente.

– Vim procurar meu merthiolate aqui, porque parece que alguém anda usando demais. Bundão. – Ela apenas virou-se e, tentando esconder um sorriso, andou para longe dele, indo para seu primeiro treino físico. Aquele dia descobriu seu nome. Clove, um pleonasmo. Agridoce como o próprio cravo...

Alguns meses depois, Cato avistou a mesma garota, que estava um pouco mal-falada na academia por sua falta de habilidades em combate. Detestava admitir, mas andara observando-a. O treinador ao menos se esforçava para fazê-la apanhar menos na aula de esgrima – ela não tinha o mínimo de destreza ou equilíbrio com o florete, ou com o sabre, ou qualquer outra espada longa que a dessem, de uma ou duas mãos. O mesmo desastre ocorria com lanças, maças ou, pior, machados – não conseguia levantar o machado do chão. No arco-e-flecha, era razoável apenas, não era melhor do que ninguém. Em lutas corpo-a-corpo, se destacava por sua esquiva, mas sua força de ataque não compensava.

Nesse dia, ele a viu saindo da arena de arquearia. Estava com uma face amargurada, seu rosto inchado como se fosse chorar. Como foi a última a sair da arena, Cato a puxou e tapou sua boca, a trazendo para um vestiário vazio e segurando-a forte.

– Me solta – ela dizia, desesperada mas ainda durona em seus 1,53.

– Escute – Cato disse, baixo, tapando a boca da morena. – Aquele dia, você arremessou meu brinquedo. E foi longe, tão longe que não achei ele. E você arremessou algo em mim também, eu não vi, mas eu senti passando de raspão em minha orelha. Acho que sei o que pode te valorizar aqui.  – Levou a mão até seu bolso e pegou uma faca, aquela faca dourada que tinha feito os olhos de Clove brilharem nos últimos dias. Seus olhos escuros arregalaram-se de medo.

– O-O que você vai fazer comigo? – ela disse, tentando manter o tom baixo.

Ele a soltou.

– Eu du-vi-do – ele disse, fingindo um sorriso malicioso – você acertar essa faca naquele x.

Cato desenhara um X em vermelho em um dos armários. Era discreto, quase imperceptível, mas Clove olhou-o determinada. O loiro percebera o quanto ela estava precisando provar seu próprio potencial. Fixou o olhar no ponto X e atirou a faca, que fincou à 3cm abaixo do x.

Cato sorriu discretamente enquanto a garota olhava decepcionada.

– Treine isso. Terça-feira que vem, naquele terreno perto de casa, às 20h. – E saiu, sabendo que faria grande diferença no treinamento da garota.

Clove apareceu pontualmente na próxima semana, e na outra, e na seguinte. A cada semana ela ficava melhor no arremesso de facas, até que um dia Cato sugeriu que ela jogasse uma faca na cadeira do instrutor-chefe – para mostra-lo seu potencial. Após acertar a cadeira exatamente abaixo de suas pernas, o instrutor resolveu dar uma chance para ela no treino especial em arremesso de facas – que era acessível somente aos jovens que obtiam altíssimas pontuações em arco-e-flecha e arremesso de lança. Em pouco tempo era a melhor da academia em arremesso de facas, navalhas, punhais, em manuseio de besta e até em arco-e-flecha melhorara, e isso combinava com sua esquiva perfeita, sua agilidade e sua capacidade de se esconder em lugares improváveis.

Em pouco tempo, Cato e Clove se tornaram grandes amigos, visto que as garotas não gostavam de Clove pela sua falta de habilidade e os garotos invejavam o alto nível de Cato. Treinavam juntos, compartilhavam experiência, se completavam em combate. Mas nunca pensaram em disputar os jogos juntos.

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Undecided

Voice is numb

Try to scream out my lungs

But it makes things harder

And the tears stream down my face

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Cato forçou-se a inalar outra vez o perfume de Clove. De que adiantava ir para os tão cobiçados Jogos Vorazes, que todos os jovens na academia cortejavam, se não poderia ter como recompensa final esse abraço, esse aroma? Respirava cada vez mais ofegante. Limpou a garganta, decidido a dizer tudo o que tinha hesitado por 4 anos.

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If we could only have this life for one more day

If we could only turn back time

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– Queria poder fugir daqui. – Disparou, e Clove soltou o abraço, olhando em seus olhos outra vez. – Apenas eu, você, nossa roupa do corpo e... – engoliu em seco. – Queria ter tido coragem de demonstrar o que eu sinto antes. Queria poder ficar com você... viver o resto da minha vida ao seu lado. Queria ter tomado essa iniciativa antes.

A garota dos olhos negros, cabelo liso bagunçado e pijama curto colocou o polegar sobre seus lábios e sussurrou em seu ouvido.

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You know I'll be

Your life, your voice,

Your reason to be my love

My heart is breathing for this

Moments in time

I'll find the words to say

Before you leave me today

.

– Shh – ela disse, beijando-o outra vez, da mesma forma calma. – E quem disse que você não pode passar o resto da sua vida comigo? – Cato nunca a vira assim. Parecia, ao mesmo tempo que triste, madura. Ela aceitara mais do que ele a situação. – Vem aqui. Fica comigo. Faz essa noite valer a pena pra a gente... – disse, mole, mexendo em seu cabelo, olhando em seus olhos.

Clove deitou-o na cama de solteiro, beijando-o. Cato não se incomodava mais com o forte ar-condicionado. Sentia os cabelos lisos e sedosos da garota caindo em seu rosto, e suas mãos passando em seu cabelo, deslizando para o pescoço...

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Flashes left in my mind

Going back to the time

Playing games in the street

Kicking balls with my feet

(…)

Cato não conseguia deixar de pensar no amanhã, no que aconteceria, o quanto ficaria ao lado de Clove, quando poderia soltá-la. Lembrava-se de sua infância, de antes dela, de como tudo ficou depois de conhecê-la... Parar de pensar era menos incômodo. Iria apenas aproveitar as primeiras e provavelmente últimas horas que passaria ao lado de sua pequena, ao lado de sua garota das facas, a que cheirava a cravo...

(...)

Dancing on with my toes

Standing close to the edge

There's a part of my clothes at the end of your bed

As I feel myself fall

Make a joke of it all

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Clove deitou ao seu lado, respirando fundo.

– Dorme aqui comigo? – disse, e Cato viu seus olhos marejados.

– Não precisava nem pedir. – Respondeu, abraçando-a. – Me deixa ficar com você o resto da nossa vida? – Olhou fixamente em seus lindos olhos castanho-escuros.

– Por favor... – Murmurou, apoiando a cabeça em seu peito. Cato acariciou-a, seus cabelos, seu rosto, tudo o que podia. Tentava não se importar com o fato de que os Jogos começariam amanhã. No fundo, desejava que o amanhã nunca chegasse... Desejava poder ficar ali para sempre, sentindo aquela garota, a melhor arremessadora do Distrito 2, a única pessoa que conseguira derrubá-lo, sua garota, que cheirava a alecrim, lavanda e cravo...

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You know I'll be

Your life, your voice,

Your reason to be my love

My heart is breathing for this

Moment in time

I'll find the words to say

Before you leave me today

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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Se gostaram, por favor, deixem uma review criticando os pontos negativos e acentuando os positivos, assim poderei melhorar minha escrita~
Obrigada por lerem!