Raphael Volencroft era um garoto de 13 anos, era espevitado, os cabelos sempre em desalinho, seus olhos mostravam grande paciência. Ele era como o mar: calmo, às vezes se agitava, e sempre estava onde queria estar. Ele morava em uma pequena fazenda, em uma casinha feita de madeira, era resistente, apesar de tudo. Seus pais eram pobres, tinham que cultivar a própria comida e o inverno sempre lhes custara caro.

Perto de sua casa havia uma floresta, era grande e mesmo os experientes se perdiam por lá facilmente, no meio dela as ruínas do que fora o castelo da família real ainda permanecia por lá, e logo em frente às pedras caídas havia três árvores, mortas, porém resistentes, nada crescia em volta delas por pelo menos 3 metros. Todos conheciam essa história. Raphael, em uma noite fria, em seu quarto acendeu a lareira para se preparar para contar pela ducentésima vez a lenda da Árvore Trigêmea para a irmã, Livie.

– Era uma vez uma família de reis e rainhas, os Griffits, eles moravam no maior castelo já construído no mundo, suas paredes eram tão altas que se podia avistá-las mesmo pelos montes mais longínquos. – começou Raph, Livie ajeitou-se em sua cama, trazendo a coberta por cima do nariz, mesmo após ter escutado aquela história várias vezes não conseguia repelir o medo.

– Diziam que a família Griffits apesar de ser mais rica que metade da população sempre foram desgraçados devido a uma bruxa. Seu nome era Evangeline, ela havia sido amada e depois rejeitada por Sid Griffits, e com ele teve um filho, Oliver Griffits, criança esta que cresceu aprendendo a odiar o pai, e quando teve idade suficiente foi com ele para o castelo e jamais perdoou o que Sid fez com sua mãe.

Raphael parou de contar para ter certeza de que sua irmã continuava acordada.

– Esta com sono? Posso parar e continuar amanhã – sugeriu

– Não, não! Termine logo – retrucou a pequena Livie

– Tudo bem! Pois então, Oliver decidido a se vingar por sua mãe, acabou morrendo pelas mãos do próprio Sid, e foi enterrado em frente ao castelo sem que ninguém soubesse. Evangeline, dando por falta a presença do filho foi ao portão de ferro que protegia a grande construção e começou a gritar injúrias e pragas: “Vocês mataram meu filho! Amaldiçoados sejam! Que sua família viva em desgraça, e que toda vez que um Griffits estiver às portas da felicidade, que o infortúnio venha a visitar-lhes!”, e assim, para concretizar sua maldição cortou a própria garganta, regando com seu sangue os restos do filho morto que jazia abaixo de seus pés.

Livie tremeu por baixo das camadas de tecido. Raphael, tomando aquilo por um incentivou, continuou:

– Então, depois de algum tempo, naquele mesmo lugar onde Evangeline e Oliver morreram começou a crescer duas árvores, porém eram mortas e exalavam maldade, nem mesmo os pássaros pousavam em seus galhos. Toda vez que Sid olhava para aqueles troncos era tomado por uma agonia e uma insuportável dor física, uma noite em que bebera demais foi até os portões para tentar queimá-las, mas em um ato de loucura acabou por se enforcar naqueles galhos. Ele se tornou a terceira árvore.

– Essa história é assustadora – comentou Livie – você acredita nela?

– Não sei – falou Raph descontraidamente – mas que tem três árvores idênticas na floresta, isso tem.

O garoto levantou-se e foi para sua cama, do outro lado do pequeno quarto mal iluminado. Livie sentou-se na cama com repentina empolgação.

– E se ...

– E se , o quê? – perguntou em um tom que já sabia que viria por aí uma ideia totalmente fora de questão

– E se fossemos até a floresta? Para ver as Árvores Trigêmeas!

Eu bem que sabia que era algo do tipo, pensou Raphael, desanimado. Às vezes o espírito aventureiro de sua irmã cansava-o.

– Talvez amanhã. Agora, vá dormir. – e assim apagou o fogo da lareira.