Helena (HIATUS) escrita por Manu


Capítulo 1
Capítulo I -“Parecia Que Alguém Havia Me Possuído"




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Helena. Helena era o nome da minha irmã. A irmã que eu acabei de matar...

Foi estranho. Em um momento eu estava olhando para ela sentada, lendo um livro. E no outro... Ela estava morta bem na minha frente, e eu com o sangue dela sobre os meus dedos e sobre uma faca.

O que eu tinha feito? Aquela era a minha irmã. Não de sangue, porém de alma!

Fiquei em estado de choque.

Não, eu não queria ter feitor isso... Não... Não mesmo! Mas então porque eu o fiz?! Foi como num piscar de olhos... Eu entrei no quarto dela e cravei a faca no peito dela. Foi tão simples que eu nem percebi o que tinha feito... Era como se não fosse eu que tivesse feito aquilo. Como se outra pessoa tivesse tomado o meu corpo naquele instante e tivesse feito o que fez. Olhei para o corpo que sujava o chão de sangue e então foi aí que finalmente a ficha caiu.

— Helena... — Sussurrei ajoelhado ao lado dela. Meus olhos lacrimejaram. — Helena...

Meus olhos não mentiam... O cenário na minha frente muito menos. Eu havia matado Helena. Eu havia, realmente... Matado...

Minha respiração se tornou mais forte à medida que a verdade vinha à tona e lágrimas começaram a cair do meu rosto.

— Helena! — Exclamei e me agarrei ao corpo dela. Eu não acreditava no que tinha feito.

Chorei sem parar. Minha... Pequena...

— Helenaaa! — Gritei coma cabeça virada para o teto.

Eu ofegava.

De repente ouvi um barulho vindo da maçaneta da porta. Alguém devia ter me ouvido.

— Nick? — Chamou uma mulher enquanto a maçaneta era rodada. — Aconteceu alguma coisa?

Senti meu corpo tremer e olhei para Helena com meus olhos molhados. Não. Ninguém poderia saber que eu havia matado Helena.

— Ei, Nick! — A mulher gritou,remexeu a maçaneta com mais força e bateu duas vezes na madeira da porta. — Abra esta porta, Nick!

Desesperei-me. Olhei novamente para o rosto inocente da minha querida irmã. Engoli em seco e soltei-a, mesmo que não quisesse.

Andei até a porta.

— Está tudo bem Norah! Não se preocupe.

— Então o que foram esses gritos?!

— Os gritos...? — Pensei um pouco. — Helena estava lendo meu diário, então eu gritei com ela.

— Ah, é? Ela está aí dentro também? — Falou Norah desconfiada.

— Hã... Está... — Olhei para o corpo ensanguentado. — Dormindo. Ela está dormindo. — Menti.

O silêncio se pôs. Norah ainda parecia estar desconfiada. Norah é a dona do orfanato onde eu e Helena moramos.

— E você? — Indagou. — O que você está fazendo no quarto dela?

— E-eu? — Pensei um pouco, porém nenhuma desculpa me veio à mente. — B-bom, eu... — Respirei fundo, rodeei meus olhos pelo quarto e vi a montanha de livros da Helena. — A-ah, eu...! Vim pegar alguns livros emprestados dela!

— E por que trancou a porta?

Meu coração quase parou.

— Para... Hã... Para... — Fechei meus olhos violentamente, tentando formular uma explicação. E formulei. — Para que ninguém a acorde. Não se preocupe, eu já estou saindo.

Norah ainda sentia um pouco de desconfiança no outro lado da porta, entretanto ela se rendeu. Soltou a maçaneta da porta entonando um “hum...”.

— Não demore muito. — Ordenou ela antes de sair dali.

— Sim.

Suspirei de alívio e deslizei até o chão. Aquele foi um dos momentos mais tensos da minha vida.

E agora? Eu havia matado alguém. O que deveria fazer? Como esconderia o corpo? Como carregaria o corpo? Como limparia o quarto sem sair dele?! Como?!

Olhei logo para trás de Helena: a janela do quarto. Fui até ela e a abri. O orfanato têm dois andares e o quarto de Helena — na qual ela divide com mais três garotas —, fica no primeiro. Contando que aqui não existe “térreo”, pois o lugar é pobre demais para desperdiçar espaço...Bom, Talvez...Se eu conseguisse carrega-la...

Suspirei.

Eu vivia bem aqui... Vivia. Terei que fugir, ao menos que eu queira ser preso ou algo do tipo... Eu matei Helena. Inconscientemente, mas matei. E a Lei pretenderá fazer com que eu arque com as consequências... Porém, não posso pagar por algo que nem sei se fui eu certamente que fiz.

Eu amo Helena, mesmo que minha atitude tenha simulado o contrário.

Sabe... Eu ainda consigo ouvir a voz dela sussurrando meu nome em minha mente. “Nick... Seu babaca!”, ela dizia rindo.

Peguei um cobertor e olhei para ela no chão. Caminhei até ela, abaixei-me, enrolei-a no cobertor e a peguei no colo.

Carreguei-a para fora do quarto, ultrapassando a janela com lágrimas derramando-se outra vez do meu rosto.

“É tão idiota que não sabe nem ler direito!”, eu ainda lembrava.

Caímos no chão em meio à grama, com ela por cima. Levantei e fui andando pelo jardim com ela deitada sobre meu ombro, como se estivesse me abraçando.

Era triste o fato do corpo dela não esboçar mais nenhuma reação, que sua boca também não pudesse mais reproduzir nenhuma frase sequer...

Já se passava das oito e meia da noite e o sol já havia perdido seu brilho fazia um bom tempo. Andei sem rumo pela cidade com minha pequena nos braços, até que começou a chover...Tive então que parar e me abrigar debaixo do teto de uma lanchonete fechada. Dormi ali mesmo, com Helena ao meu lado.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? :D