Um fino, mas forte raio de sol passou pela pequena fresta que a cortina mal fechada deixava. A luminosidade encontrou os olhos ainda fechados de Hermione que se remexeu pelo colchão. Rolou a procura de um canto escuro e só o conseguiu quando rolou —literalmente— para fora da cama, caindo no chão duro.

—Ah.

Sentou-se enquanto tentava entender o que havia acontecido. Levantou e jogou os pesados cobertores em cima da cama, calçou as pantufas que pareciam com botas. Desceu as escadas lentamente, no sofá apenas os cobertores que emprestara para George. Um cheiro de manteiga derretida inundou seu olfato, seguiu o perfume de comida até a cozinha onde encontrou o ruivo cozinhando, ou tentando.

—Ah, bom dia! —Disse meio sem jeito enquanto tentava virar uma panqueca.

Hermione riu.

—Bom dia! —Serviu-se de suco de laranja. —Você sabe que eu que deveria estar cozinhando, não é? Você é a visita!

George tirou a massa um tanto queimada nas bordas e olhou para Hermione.

—Na verdade me sinto na obrigação de cozinhar para você! —Disse um tanto sem jeito.

—Por quê? —Hermione senta-se na bancada.

—Você cozinhou e cuidou de mim por algum tempo e mesmo brigados não me deixou sozinho! —Pela primeira vez as bochechas de George tomaram uma cor avermelhada.

—Espere aí! Você ficou vermelho? —Hermione não conseguia esconder a surpresa. —Nunca pensei que te veria vermelho por tão pouco!

—Certo, vamos deixar minhas bochechas de lado! —Colocou um prato sobre a mesa. —Vamos comer.

O café da manhã foi agradável e tranquilo, comentaram sobre como as coisas aconteceram no intervalo de tempo em que estiveram separados.

—Ouvi Harry dizendo que você conseguiu recuperar uma memória...

Hermione olhou para seu prato.

—É, na verdade foram várias memórias que vieram em um único sonho. Mas ainda não é o bastante! —Continuou a comer.

—Você e meu irmão já estavam juntos naquela época? —George perguntou um tanto curioso.

Hermione sorriu corada.

—Até o momento em que me lembro... Não. —George abriu um sorriso. —Olha, não quero esconder nada de você, mas seu irmão já havia começado com as investidas logo no inicio do ano!

—Ele foi rápido! —Hermione precisou concordar com o ruivo à sua frente. —Hermi, eu preciso voltar. Falei que só iria pegar um ar e não voltei para casa ainda!

—Eu entendo. —Hermione abraçou George já em pé. —Até mais.

George caminhou até a lareira e as chamas verdes o engoliram.

Hermione sentou-se e foi surpreendida pelas chamas novamente, George havia voltado.

—Me esqueci de te entregar isso! —Em sua mão uma coisa colorida. —Eu ia te entregar ontem, mas precisava conversar com você antes.

Hermione segura o embrulho timidamente.

—Na verdade... —Caminha até a sala e tira de dentro de um armário uma caixa azul. —Comprei algo para você também, eu ia pedir para Gina te entregar, ou enviar pelo Acxel...

George segurou o embrulho e murmurou um “obrigado”. Dessa vez George se despediu e não voltou.

Hermione após ver as chamas verdes se desfazerem andou até o embrulho, desatou o laço e escorregou a fita grossa no papel. Tirou a tampa da caixa e em seguida o papel fino que cobria um tecido escarlate. Levantou a veste e se deparou com o antigo uniforme de quadribol de Fred, junto de um pulôver da Grifinória. No fundo da caixa um pergaminho dobrado sob um livro.

“Hermione, descobri que você é uma ótima batedora, e guardou muito bem esse segredo. Achei que esse uniforme lhe deixaria feliz, ele adorava quadribol e acredito que te trará boas lembranças. O pulôver não era dele, senti seu perfume e estou devolvendo com muito esforço, pois eu realmente queria guardá-lo comigo. O livro... Bem, era o livro preferido dele, acredite, estou revirando os olhos.”

Hermione então pegou o livro.

—Hogwarts: Uma história. —Riu. —Que ironia.

Guardou o livro e o bilhete dentro da caixa, voltou para o seu quarto, onde dobrou perfeitamente o uniforme de quadribol com o sobrenome Weasley desenhado nas costas da capa, ajeitou o pulôver na prateleira mais alta e guardou a caixa em uma prateleira vazia.

.....

George passou na Toca avisando que esteve com Hermione e estava bem, em seguida aparatou para sua casa/loja. Sentou-se na escrivaninha de frente para a janela e colocou a caixa azul em cima. Desatou a fita, jogando-a em um canto da sala. De dentro da caixa —aparentemente encantada— George tirou o exemplar de Quadribol Através dos Séculos de dentro da caixa e sorriu, nunca lera aquele livro, por mais que Wood pedisse para ler e anotar as estratégias, nunca chegou perto do exemplar. No fundo da caixa, dois ingressos para o jogo de Quadribol da seleção Irlandesa contra a Bulgária. Aparentemente era uma partida amistosa, já que as duas seleções estavam classificadas para a Copa Mundial de Quadribol. Correu a mão pelos pergaminhos espalhados sobre a mesa, apanhou uma pena mergulhando-a na tinta fresca e iniciou sua escrita. Estava prestes a entregar a carta e um embrulho para sua coruja quando escutou batidas na porta.

—Gina? —A garota entrou enfurecida pela porta. —O que aconteceu?

—Ronald aconteceu! —A garota gritava.

George riu baixinho, mas voltou a postura séria pedindo para que a irmã lhe contasse detalhes.

—Harry me convidou para caminhar perto do lago, e aquela cabeça de cenoura foi junto! —Andava de um lado ara o outro. —Aquele... Argh, não me deixou nem sequer segurar a mão de Harry!

—Calma irmãzinha, você está quase soltando fogo pelas narinas! —Gina olhou-o com um olhar mortal. George levantou as mãos em rendição. —Por que ele não deixou que segurasse a mãos de Harry?

Levantou uma sobrancelha enquanto aguardava a resposta da irmã irritada que só faltava cuspir fogo.

—Porque quando fui dar a mão para o Harry ele simplesmente se enfiou entre nós! —George não conseguiu segurar a risada alta e longa, porém, o rosto de Gina tomou uma tonalidade vermelha de raiva. —Eu deveria te azarar George Weasley, não sobraria nenhuma orelha para contar história!

—Rony é muito sem noção! —Retrucou.

Gina jogou-se no sofá perto do irmão e tapou o rosto com as mãos.

—Ao extremo! —Os dois riram da situação. —Mas e você e a Hermione?