Pov Annie

Cheguei no prédio de Thalia entrando sem nem ao menos responder a saudação do porteiro. Estava abalada demais, com raiva demais. Apertei o botão para chamar o elevador e enquanto aguardava prendia o cabelo pra trás. Não me surpreendi quando entrei no elevador e estava tocando uma música do Green Day afinal, não podia se esperar outra coisa quando Thalia era a síndica.

Cheguei ao andar da punk e caminhei direto até a porta de seu apartamento. Toquei a campainha freneticamente ao perceber que a porta estava trancada. Lá de dentro, pude a ouvir me xingando por isso.

Ela abriu a porta e atrás dela pude ver o apartamento que dizia mais sobre a moradora do que qualquer outra coisa. A mobília era gótica, sofás e detalhes pretos, que contrastavam com as paredes claras com linhas vermelhas... E isso sem falar naquele tapete com a bandeira do Reino Unido que eu tanto amava. A única coisa que eu não gostava muito era aquela caveira desenhada no centro da sala de jantar. Era quase tão sinistro quanto os abajures peculiares espalhados em pontos estratégicos. Como eu disse, havia muito de Thals naquela decoração.

Ela me encarou mais profundamente como se perguntasse o que estava havendo.

Bom, eu já estava cansada de lutar contra aquele turbilhão de lágrimas então, quando a morena me deu passagem, ataquei-a com um abraço forte, chorando em seu ombro.

Senti suas mãos em meu cabelo e fui me acalmando. Sendo minha melhor amiga desde sempre, Thals me conhece como ninguém. Era engraçado nos ver juntas depois de adultas, se me lembro bem, tudo começou na terceira série, quando ela bateu pra valer em alguns garotos que roubaram a minha boneca.

Thalia é morena e tem olhos azuis elétricos que, quando ela está brava, da para ver trovões neles, é sinistro cara, de verdade, ela é meio punk e seu apartamento reflete isso, a sala é branca com linhas vermelhas e uma caveira desenhada no meio e uma fileira de espelhos, a mobília é gótica, sofás pretos, um tapete com a bandeira do Reino Unido e abajures que parecem aqueles de vampiros.

Depois de alguns minutos sem palavras, apenas choro, consegui me acalmar. Ela me puxou pela mão até o sofá e nos sentamos uma de frente para a outra.

– O que aquele idiota fez? – Acusou de primeira. Como eu disse, ela me conhece bem como ninguém mais. Eu hesitei. Seus olhos azuis elétricos denunciavam quanta raiva estava sentindo. Era como se eu pudesse ver raios dentro deles naquele momento. É tenso.

Por algum motivo nunca revelado, Thalia nunca gostou do Luke. Desde a primeira vez que ela o viu, implicou com ele. Eu sempre o defendi, sempre tentei mudar sua opinião em relação ao meu namorado, mas tudo foi em vão. Parece que ela estava certa afinal.

Certa ao me dizer que aquilo daria em merda. Certa ao me dizer que ele era um covarde e idiota de marca maior. Certa quando disse que eu acabaria machucada por ele.

Droga, eu merecia todos os “eu te avisei” que ela quisesse me dizer.

Eu suspirei e comecei a contar-lhe a história tendo que por muitas vezes segurar o choro. Além do choro, quase tive que segurá-la também, já que ela queria tirar satisfações com Luke...

Ok, estou sendo leve. Ela queria matá-lo.

Depois de mais um tempo tentando juntar os meus pedaços, ligamos para nossas outras amigas. Coração partido era sinônimo de festas do pijama. Eu precisava de um pouco de bom astral e convidar Silena, Rachel, Piper, Reyna, Katie e Clarisse para passar um tempo conosco foi ótimo, mesmo eu estando um pouco relutante a aceitar a ideia quando Thalia sugeriu.

A noite se resumiu em planos de vingança. Eu tive que rir. Silena prometeu que apresentaria à Luke o poder das baixinhas. Hipocrisia da parte dela, considerando que ela era a mais alta de nós. Reyna e Rachel foram mais específicas, juraram pintar a casa dele de rosa e ainda jogar gliter! É, seria uma boa... Luke é discreto, morreria ao ver sua casa em tons pastel com tamanha extravagância de um dia para o outro. Clarisse não concordou, ela implorou para que a deixássemos usar suas habilidades de lutadora profissional para quebrar todos os ossos do loiro... Também era boa ideia, mas era melhor nos vingar de Luke sem que Clarisse precisasse ir para a cadeia. Katie sugeriu que o envenenássemos com algumas ervas que resultassem em indigestão, mas mudou de ideia e disse que seria mais interessante se implantássemos drogas na casa rosa purpurinada dele enquanto ele estava no hospital por ter quebrado todos os ossos enquanto provava do poder das baixinhas.

Depois dessa ameaça hedionda, acho melhor que Luke abra bem os olhos. Jogamos mais conversa fora, as meninas me diziam como agir para mostrar o que ele perdera, ora me diziam que precisava sair e conhecer novas pessoas nas baladas. Enfim, estavam me fazendo me sentir muito melhor.

Estávamos quase adormecendo enquanto “assistíamos” Dias Com ela quando escutamos um grito histérico de Silena.

– Já sei! Na noite de amanhã, iremos a uma festa!

Eu fiz careta. Ainda não estava preparada para isso. Estava pronta para protestar quando fui interrompida.

– ...E eu vou te apresentar a um boy magia lindo de morrer que é amigo do Charles.

Franzi o cenho. Como assim? Eu acabara de sair de um relacionamento de anos! Silena já queria me amarrar outra vez? Eu ainda estava me recuperando!

E a propósito, Charles é o namorado da Si. Ele é dono de uma rede de borracharias por todo o país. Estranho não? Quero dizer, não o fato de ele ser o dono da rede de borracharias e tal, mas o fato de Silena namorá-lo! Foi um choque quando ela nos apresentou a ele. Não era feio nem nada, muito pelo contrário, mas veja bem, Silena é a patricinha! Estilista, modelo, cheia dos contatos e tudo o mais e eu conheço pessoas que matariam por aqueles cabelos brilhantes. Todas a imaginávamos namorando um advogado mauricinho e metrossexual. Sua irmã, Piper, é igualmente linda, mas de um jeito diferente. Ao contrário da irmã que tinha os olhos muito azuis, Pipes, como nós a chamamos, é castanha e tem olhos tipo caleidoscópio. Eu tenho dificuldades para acompanhar as mudanças de cores deles. Ela não se arrumava como Silena, era mais natural, gostava da beleza interior e não se importava com a aparência. Isso irritava Silena, mas não havia nada que pudesse fazer.

– E não adianta protestar, eu não estou te consultando. Você vai e ponto.

Suspirei em rendimento. Ela não estava blefando, se ela colocou isso na cabeça, eu iria a tal festa. Não havia nada que eu pudesse argumentar com a morena. E outra, eu precisava de diversão. Quem quer que fosse esse amigo de Charles, não podia ser pior do que ficar em casa sentindo pena de mim mesma.

Boy magia, me aguarde e, por favor, seja melhor do que Luke.

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Thalia

Silena