Não entendo o motivo de tanta gente odiar acordar cedo. Tudo bem que as vezes estamos cansados, mas eu acho muito bom. Ver o amanhecer é tão mágico. Sempre adorei observar o céu e as coisas lindas que ele faz. Alem do mais, acordar tarde te faz perder muito tempo. Há muito que fazer em vez de ficar deitada na cama, esperando tudo cair do céu.

 E tem também a escola. Diferente de muita gente eu não a odeio. É melhor do que ficar em casa sem fazer nada e ouvindo minha mãe gritando comigo. E é tão bom aprender, como as pessoas podem não gostar? Claro que sempre tem aquela matéria que a gente não suporta. Que no meu caso é Geografia. Mas saber das guerras que mudaram o mundo, os efeitos da Química, a “mágica” da Física, a lógica da matemática, são coisas que me impressionam. Aprender sobre tudo isso, com certeza é melhor que lavar louça.

Mas apesar de gostar bastante, tem hora que cansa. Então estou dando graças por hoje ser sexta-feira. Depois de cinco tempos de aula e muita “conversa paralela”, como os professores gostam de dizer, finalmente chega a hora da saída. E agora vem a parte boa de eu ter abandonado o curso. Como agora eu não preciso ficar o dia todo na escola e volto no horário normal, Fay me chamou pra voltar com ela de carro, já que minha casa fica no mesmo caminho da casa dela. E é claro que eu aceitei, porque andar de ônibus é um saco. Se você nunca andou, nem queira. Enfim, fomos pra frente da escola e agora temos que esperar um pouquinho até o pai dela chegar.

Está tudo bem, até que... Quem é esse garoto olhando pra cá?

Os olhos dele estão fixos em minha direção enquanto ele se dirige pra fora do portão principal. Será que Fay o conhece? Penso em perguntar, mas acho melhor não, ela está bem distraída com o celular. Será que é pra ela que ele está olhando? Não. Eu sei que não. Eu sinto os olhos negros dele me encarando. Até que ele é bem bonito. Alto, branco, cabelo preto e liso, meio bagunçado. Com certeza possui descendência japonesa, pois os olhos são bem puxados. Olhos que ficam vidrados em mim por alguns segundos e depois vão embora. Que expressão era aquela? Ele nem sorriu, mas também não estava totalmente serio. Era como se tivesse dizendo algo com o olhar. Algo como: “Ei, to te encarando, isso não é só uma troca de olhares comum”. E eu percebi isso. Até porque foi a primeira vez que eu encarei de volta. Não sei por que, mas o olhar dele me chamou atenção, me prendeu e me obrigou a encarar, com uma expressão de duvida. Quem é ele?

Ficar pensando nisso não vai adiantar nada. Agora eu to aqui esperando a carona, e ouvindo o zumbido da conversa dos alunos que ficam de bobeira na escada da frente da escola. Quando o pai de Fay chega, descemos as escadas, passamos pelo portão principal, entramos no carro e ficamos conversando ate chegar perto da minha casa. Onde eu desço e vou embora.

Sim, eu acho mesmo que eu devo deixar essa historia pra lá. Mas sinceramente, sei que não vou conseguir. A única coisa que me veio à mente foi escrever. Claro, eu também acho que diário é uma coisa meio infantil, e não, eu não tenho um diário. Mas eu peguei um caderninho que não uso mais e coloquei em palavras o que aconteceu. Resolvi que aquilo não foi nada e mais. E que não ia mudar nada. Por isso decidi não contar a ninguém, vai parecer que eu estou desesperada por um namorado. Merda, eu não to. Melhor deixar isso só pra mim, até sumir com o tempo. Mas sabe quando lá no fundo, você sente que tem algo a mais? Eu senti. Ignorei, mas senti.

Depois de escrever, guardei bem escondido o caderno, e agora a única coisa que consigo pensar é: “Por que hoje tem que ser sexta-feira? Agora minha cabeça vai passar o fim de semana ocupada pensando num maldito aluno desconhecido. Droga”.