Nove Meses Depois

Meus cabelos estavam enormes novamente, sorria ao penteá-los diante do espelho. Hoje não vai haver treinamento, por isso estou de jeans e camiseta. Trancei meus fios ruivos. Não era um dia para se comemorar, pelo menos não para mim. Completava nove meses que Theo estava em coma.

O governo está ainda no nosso pé, Amélia sabe que não morri e está sempre procurando oportunidades para me matar, eles fazem testes mensais em todos. Para ter controle.

Nos últimos nove meses as coisas não tem ficado mais fáceis, Noah o garoto que veio de Palmwoods era fumante assíduo. Ele me apresentou ao meu infeliz vicio, fumar me deixa mais calma. Mesmo com todos aqueles protestos não deixei de fumar. Aquilo me acalmava.

O estresse dos últimos meses me deixou descontrolada, foi prescrito remédios para me deixar mais calma. Ter que treinar pessoas dia e noite, fazer simulações, debater estratégias, ouvir Rafaela me enchendo, Katrina atrás de mim. É um inferno, os remédios me fazem bem, contudo me fazem dormir por horas.

Lize apareceu correndo escancarando a porta do quarto, ela estava ofegante e com o rosto debulhando em lágrimas.

–O que foi? – pergunto.

–Theo – e tudo que ela diz.

–O que aconteceu com ele?

–Venha, você tem que vir.

Ela me puxava pelo corredor e sentia meu coração batendo forte, obviamente como qualquer reação humana penso no pior. Penso que ele morreu enquanto dormia.

Corremos para a enfermaria, há grande movimentação e isso só faz meu coração bater ainda mais forte. Abrimos espeço e entramos no quarto. Meus olhos não acreditam.

–Theo?

Theo está de olhos abertos recostado na cama. Está pálido e aparentemente fraco mas, está de olhos abertos sorrindo, um sorriso doente e fraco contudo é um sorriso.

Lize sai deixa nós dois sozinhos. Meus olhos se encheram de lágrimas, corri para ele e o abracei com ternura. Quando nos soltamos ele beija minha testa.

–Nunca mais faça isso – sorrio.

–Ah anotarei na minha agenda – brincou.

Entrelaçamos nossos dedos.

–Quer me contar como esteve nos últimos nove meses? Algum namorado novo que eu tenha que matar?

–Não, nenhum namorado – sorrio – Mas, sua amiga me deu trabalho.

–Adam me disse – riu – Você quebrou o braço de a costela dela. Essa é minha garota.

–Está acordado desde quando?

–Desde ontem à noite, Adam veio me ver – disse.

–Porque ninguém me chamou?

Houve-se um silêncio.

–Ele me disse o estresse em que você tem estado nos últimos meses, concordei em deixar você dormir – disse.

Teria que dar uma surra em Adam mais tarde, ele não tinha direito de contar o que estava acontecendo comigo. Ele não tinha direito de preocupar Theo com os meus problemas.

–Eu estou bem, Theo – garanti

–Você sabe que não está e eu sei que não está, mas não vamos discutir isso agora – sorriu.

Theo puxou-me gentilmente e beijou meus lábios, aquele gesto gostoso que só depois de feito me fez ver como realmente senti falta daquilo. Seus lábios roçando nos meus.

–Meu Deus, como senti sua falta – murmurei enquanto nos separávamos – Parece que só voltei a respirar agora.

–Você ficou sozinha esses meses sozinha?

Engoli em seco, esperava que Adam não tivesse contado nosso deslize dois meses atrás.

Flashback Dois Meses Atrás

O governo deu uma festa na base de treinamento, eles nos forçariam a festejar só para lembrarem que estão no poder independente do que façamos. Por isso estávamos todos arrumados para a festa, não podia ficar com Theo e tinha que festejar.

–Relaxe um pouco Tessa, Theo está bem e protegido – diz Adam – Eles sabem que se mexerem com ele é o fim para a trégua de qualquer coisa que temos.

–Não consigo relaxar – disse com um cigarro charmosamente em entre os dedos – Sou uma pilha de nervosos.

–Vamos beber um pouco, só um pouco para você se relaxar – sorri ele amigável – Olhe para Rachel, está se divertindo.

Rachel estava nitidamente bêbada dançando agarrada a Noah. Katrina estava bem longe de mim o que era bom. Aylin ria de alguma coisa ao lado de um carinha desconhecido. Lize tinha ido dormir.

Adam pegou dois copos de conhaque e nós nos servimos. O gosto era forte, mas bom. Parecia dar um choque de realidade com a mente, transformando o imaginário em realidade.

Alguns milhares de copos depois e nós dois estávamos dançando colados lado a lado na pista. Nossos corpos roçavam um no outro, estávamos domados pela bebida. Corremos rindo para o corredor como loucos, saímos da vista de todos.

Tropecei nos meus próprios pés, Adam me puxou pelos braços mantendo-me em pé. Seu corpo propositalmente pressionou o meu contra a parede, seus lábios encontraram com os meus em um beijo estralado.

Minhas mãos foram para o seu pescoço, em um ímpeto de desejo enrolei minhas pernas em sua cintura. Eram tantos meses sozinha que aquilo parecia reconfortante pelo tanto de álcool no meu sangue.

Estávamos tão bêbados que não emitamos sons, seu quarto era naquele corredor. Nós caminhamos até ele, voltamos a nos beijar vorazmente na cama. Adam tirou minha blusa e beijou minha barriga.

Então comecei a chorar, Adam saiu de cima de mim e me puxou para o seu peito fazendo eu me deitar nele.

–Calma, Tess – disse Adam – Me desculpa, sinto muito.

–Não podemos fazer isso com ele – chorei.

–Eu sei Tess, eu sei – beijou minha testa.

E nós dormimos naquele estado, se alguém entrasse no mínimo pensaria bobeira.

Fim do Flashback

–E foi isso que aconteceu – disse abaixando a cabeça de vergonha.

–Eu te amo, Tess – Theo levantou meu rosto e beijou minha testa.

–Theo, você ouviu o que acabei dizer? – sussurrei – Beijei seu amigo.

–Escutei – sorriu – E amo você, porque mesmo depois de nove meses você ainda é minha. Adam me disse sobre o beijo, alegou milhares de vezes que vocês estavam bêbados e que ele jamais iria tentar algo contra sua vontade. É claro que eu dei um soco na cara dele, mas compreendi.

–Você bateu nele?

–Bati, meu amigo ou não ele beijou minha namorada – sorriu – Vocês dois são o que tenho de melhor, mesmo eu estando quase morto e correndo o risco de não voltar mais ainda assim vocês me respeitavam.

–Eu te amo Theo, você poderia ter morrido e mesmo assim meu coração penaria para pertencer a outro – beijei-o – Adam foi meu melhor amigo nesses meses, mas você é o amor da minha vida e não houve um dia apenas em que não pedi para ver você sorrir de novo.

Ele me puxou pela gola da camisa, beijou meus lábios calorosamente.

–Eu tenho que dizer uma coisa... – começou Theo – E se isso mudar o que pensa de mim Tess, tudo bem eu vou entender. Não quero que fique comigo por nada a não ser amor.

–O que? – perguntei.

Theo suspirou, senti meu coração se acelerando novamente.

–Desde que acordei – fez uma pausa – Não sinto minhas pernas.