Todos estávamos de luto. Vestíamos preto a caminho do cemitério atrás da Cúpula. Haviam muitos túmulos naquele lugar, pensei em procurar o de Carolyn mas, me lembrei de que não queria vê-la.

Jordan foi declarado morto pelos especialistas do governo, eles não sabiam explicar como ele tinha morrido. Então contaram que tinha sido suicídio e que ele incendiou o próprio corpo, a pressão de estar aqui tinha sido demais para ele. Eu sabia que aquilo era mentira.

–É engraçado como todos morremos jovens aqui – constatou Aylin em um sussurro.

–A pressão em que vivemos aqui é muita – disse mentindo – Se não aguentarmos é o nosso destino.

–Credo Tessa, eu jamais me mataria – disse Rachel – Meu noivo tentou três vezes, espero que enquanto esteja fora ele não tenha conseguido.

Eu já havia tentado me matar duas vezes ingerindo remédios, mas meu corpo era super resistente e nada me aconteceu a não ser uma dor de estomago. Eu só sabia que estava errada no mundo, mesmo não sabendo o que.

–Nunca faria isso – menti.

Nós não falávamos nada na cerimônia, apenas prestávamos nosso respeito por ele em silencio. Rafaela estava com um buque de rosas azuis, estava bem próximo a cova.

–É preciso ter garra para suportar as dificuldades que vamos viver daqui para frente. Nós somos o que a Cúpula tem de mais importante e temos que aguentar o que vai vir pela frente – disse Rafaela – Perdemos um irmão hoje, ele não aguentou suportar tudo e nós vamos continuar nosso caminho por ele.

Comecei a chorar. Mas, não era de tristeza era porque eu sabia que tudo aquilo era uma baboseira sem tamanho e a culpa disso era minha e de mais ninguém.

–Oh, tadinha ela ficou emocionada – disse Rachel.

–É realmente uma linda cerimonia – menti limpando os olhos.

A garota estranha dos cabelos rosas que avisou a todos que ele estava morto apareceu do meu lado sendo amparada por alguém, ela me olhou com ódio nos olhos e disse:

–Você o matou – acusou-me.

–Do que você está falando? – me fiz de sonsa.

–Você o matou, sua vadia maníaca – gritou ela.

Rachel e Aylin me olharam buscando uma resposta e eu como uma boa cínica continuei a fingir que não fazia ideia do que ela estava falando. Se Theo disse que não viu nada porque a garota tinha visto?

–Você está cansada com tudo que aconteceu, só isso – disse.

A garota riu amargamente e balançou a cabeça em forma negativa.

–Você é sonsa ou é louca? Eu vi você queimando ele na luta, Jordan agonizou a noite inteira dizendo que estava queimando por dentro, que seus órgãos estavam pegando fogo e de manhã... – uma lágrima escorreu dos seus olhos – Ele estava daquele jeito, queimado de dentro para fora.

Fiquei quieta, um pequeno grupo se formou a nossa volta.

–Eu não sei como por diabos você fez aquilo Tessalha, mas você fez. Você matou meu irmão, Jordan não se suicidou você o matou – gritou.

Theo apareceu do nada, parou no meio de nós duas.

–O que está havendo aqui?

–Ela matou meu irmão – gritou a garota – Essa vadia assassina matou o Jordan.

–Isso é incabível – mentiu Theo muito bem – Ele se suicidou.

–Não, Jordan jamais faria isso – gritou – Ela o matou, eu vi e você também viu.

–Samyla – disse Theo – Você está de luto e todos respeitamos isso, mas acusar a Tessalha de algo impossível é anormal.

E lá estava ele, mentindo por mim novamente. Sem motivo algum, Theo estava me protegendo.

–É melhor você ir descansar – sugeriu ele.

–Não preciso descansar, quero que ela pague por isso. Essa garota matou meu irmão – chorou Samyla.

Rafaela que percebeu o quanto ela estava descontrolada chamou os enfermeiros que a levou aos gritos, certamente para tomar algum calmante fortíssimo.

–De que diabos ela estava falando? – perguntou Aylin.

–Isso tudo deve ser nervosismo – comentou Rachel.

Eu por minha vez não disse nada, Theo apenas me olhou e me ofereceu um sorriso qualquer.

–Vamos intrépidos, temos que lutar hoje – disse ele.

[...]

Theo me deu uma surra. Quase me quebrou dois dentes e abriu outro “rasgo” no meu lábio.

–Nossa quanta raiva nesse coração – disse alisando meu ombro que doía.

Só havia ficado nós dois na sala, além de tudo ele ainda me mandou ajudar a guardar tudo que foi usado.

–Você precisava de uma surra – sorriu.

–Jesus, porque eu precisava de uma surra?

–Pra saber que não se pode ganhar todas, você foi perfeita Tess. Eu precisava te dar uma surra pra você descer do pedestal em que todos colocaram você – disse – Para você se lembrar que sempre vai haver alguém melhor que você. Na vida alguém sempre vai te vencer.

Abri um sorriso idiota.

–Isso é tudo porque gosta de bater em meninas indefesas?

Theo estava próximo de mim arrumando os tatames, sorrateiramente fez com que seu corpo ficasse de frente para o meu. Me prensou contra a mesa das luvas de box e colocou no rosto aquele sorriso sem vergonha.

–Eu só estou te ensinando uma lição. Não quero que morra aqui dentro.

–E me bater é o único jeito de me ensinar?

–Você não é alguém que obedece muito as palavras, então tem que ser algo que te marque como uma surra.

Seu corpo pressionava o meu, suas mãos seguravam minha cintura. Theo encostou sua boca na minha. Sua boca era macia como uma almofada e gelada como um cubo de gelo. Suas mãos foram para o meu cabelo trazendo meu corpo para colar junto ao seu. Minhas mãos tremulas afagavam seus cabelos bronze.

Ele se afastou de mim, fechou os olhos com uma dor explicita no rosto.

–Eu sinto muito Tess – disse ele.

–Pelo que?

Theo olhou com mais atenção para mim, então abriu um sorriso torto.

–Você está quente – comemorou pegando meu rosto em suas mãos.

–Sim Theo – confirmei – Pessoas vivas são quentes.

–Você não entende – murmurou.

–Então me explica – pedi.

–Gostei muito de beijar você Tess – disse ele se aproximando novamente.

Estávamos extremamente perto um do outro, nos beijaríamos novamente se Adam não tivesse aparecido na porta.

–Desculpe interromper a putaria de vocês mas, a Rafaela quer passar as instruções aos que vão a Sidartha. Ela está com os recrutados na sala de reuniões e veja, vocês não estão lá.

Adam sorriu e saiu da sala, Theo não tinha se movido um centímetro longe de mim.

–Terminamos isso depois, querida – sussurrou próximo ao meu ouvido.

–Isso o que?

–Não se faça de sonsa – sorriu.

Ambos nos olhamos e sorrimos.

–Temos que ir, partimos amanhã cedo – informou – Não quer ficar para trás quer?

[...]

Fomos para a sala de reuniões que ficava um andar a cima, todos estavam sentados por lá e obviamente nos olharam quando entramos juntos.

Rafaela logo começou a falar, me sentei ao lado de Rachel.

–Essa viagem não é só para fazer vocês saírem daqui. Como sabem estamos em guerra e a qualquer momento tudo pode mudar, temos que conhecer o território inimigo – disse ela – Assim como temos a certeza de que a Cúpula recebe espiões mesmo com toda a segurança vocês vão para examinar o campo inimigo. Serão três dias, claro divirtam-se mas, não esqueçam da missão principal. Conhecer os inimigos. Nós fizemos a mala de vocês com as roupas como a deles, nos seus quartos estarão as roupas que vocês partiram. Perguntas?

–Como vamos chegar até lá? – questionou Alice – Com o ônibus?

–Ele deixará vocês a cinco minutos da cidade – esclareceu Rafaela – Mais alguém?

Ficamos quietos, estávamos ansiosos em ir.

–Aproveitem para mudar a aparência, é importante. Aqui isso é proibido, mas lá não – sorriu – Aproveitem, boa viagem e nos vemos em três dias.

E então ela saiu da sala.

–Saímos amanhã cedo, durmam e estejam prontos – orientou Theo.