Ok, eu admito.

Foi minha culpa sim ter perdido o controle. Mas, na minha atual situação, eu poderia perdê-lo a qualquer momento, certo?

Errado.

Também admito que foi minha culpa não ter expulsado Gajeel do Clube da Leitura, assim como eu ter ignorado completamente o Clube da Leitura, ter sentado ao seu lado, e ficar a refletir sobre a vida.

Só que aí começa a parte de que não foi minha culpa inteiramente. É claro que eu não sabia que ele iria cantar uma música que eu adorava quando criança. E eu também não tinha me tocado que todos na biblioteca escutaram nossa conversa, e, é claro, a música.

Ah, não. Escutaram a pequena Levy cantando!

Eu realmente perdi o controle àquela hora quando Bisca me trouxera de volta à realidade. A realidade de que, talvez, Gajeel estivesse muito mais perto do meu passado do que eu gostaria.

Foi apenas por isso que eu o enxotei dali. E depois decidi ajudá-lo a achar um clube.

Esse havia sido meu primeiro erro.

Na manhã seguinte, quando eu ainda estava procurando onde havia deixado a faca para passar manteiga, escutei batidas na porta.

Corri para abrir, e quando o fiz, um Gajeel de uniforme olhou para minha mão.

Abri a boca para dar uma bronca que nem era sete ainda (é claro que eu não diria que dormi mal graças a ele), quando Gajeel me interrompeu.

– Por que está apontando uma faca pra mim? – perguntou, levantando os braços se rendendo.

A faca esteve em minha mão o tempo todo.

Céus, o que estava acontecendo?

– Há, há, há. – Revirei os olhos. Gajeel abaixou os braços e deu o seu habitual sorriso irônico.

Voltei para a mesa e deixei a faca. Incrivelmente perdi a fome. Peguei a bolsa e conferi se meus livros estavam ali. Depois virei e me deparei com Gajeel olhando uma foto em família.

Estremeci.

– Pare de se intrometer e vamos. – chamei.

Gajeel voltou sua atenção a mim e deu de ombros. Fiquei vigiando suas costas e depois o segui.

Ainda não era o momento.

Caminhamos em silêncio o caminho todo, até que Gajeel o quebrou quando chegamos na escola. Ele se encostou em seu armário de um jeito que, tinha certeza, quase todas as garotas suspirariam.

Mas não eu. Eu estava irritada com todo aquele drama.

– O que foi? – perguntei, vasculhando meu armário.

– Nós vamos onde hoje? – devolveu.

Eu encolhi os ombros.

Depois de muito refletir, decidi que, como Gajeel era um garoto, apesar de ser dramático como garota quando colocava o som no máximo para mostrar sua insatisfação, uma boa ideia seria algum clube de esporte.

– Ao Clube de Tênis? Também podemos ir ao de natação, basquete, vôle. – Tive que contar, achei que ele fosse gritar de felicidade, dizer que me ama e me rodopiar. O que, é claro, acabaria com meus dedos em seus olhos por ele ser tão atrevido.

Sim, eu furaria seus olhos.

Só que Gajeel apenas piscou os olhos ônix sem motivação alguma.

– Ahn, e o que achou? – murmurei.

– Tanto faz. – Deu de ombros. Estava frustrada. – Mas você fará comigo.

Na hora assenti sem pensar direito.

Foi quando estava na quadra, rebatendo a bola com a minha cara, que percebi uma coisa: talvez eu morresse sem ao menos me formar. Terminamos no Clube de Tênis e acabei optando por vôlei.

E eu quase morri na quadra de vôlei. Gajeel, por outro lado, jogava incrivelmente bem.

Os jogadores pararam por pena de mim e pelos berros de ameaça que Gajeel proferiu ao garoto que me acertava.

E, apesar da minha cara estar dormente, eu gostei de ter conhecido o time de vôlei masculino, pois todos tentavam me animar com piadas de esportes, que eu ria, não por entender, mas porque, se não o fizesse, choraria de dor.

Ainda sim, aquilo foi melhor do que se eu tivesse conhecido o time feminino, o qual Lucy Heartfilia era a capitã.

Depois de toda a experiência, Gajeel parecia frustrado. Eu segurava um copo de milkshake gigante, que o garoto que fez questão de estragar ainda mais minha cara, resolveu comprar como um pedido de desculpas.

– Eu não quero mais nenhum clube de esporte. – resmungou.

– Por quê? – perguntei, com um pouco de raiva. Apesar de eu estar em seu time, Gajeel conseguiu ganhar.

– Porque – A voz de Gajeel sumira, e, por um instante, a única coia que realmente fazia barulho era a minha sucção do milkshake. – se todos os caras dos clubes de esporte derem em cima de você como fizeram hoje no Clube de Vôlei, eu terei de esmurrá-los.

Eu cuspi o milkshake, e riria do que Gajeel falava, não fosse o fato de ter engasgado.

Depois de terminar de tossir, lancei um olhar curioso à Gajeel. Ele realmente estava emburrado.

– Gajeel – mordi os lábios para não rir. – eles não estavam dando em cima de mim. Estavam apenas sendo gentis após o estrago que devem ter feito em meu rosto. – Tomei mais um pouco de milkshake. – E tem mais, por que eles iriam me querer se tem a Lucy?

Gajeel me deu medo. Parecia que a atmosfera ao nosso redor ficara incrivelmente pesada.

– Lucy Heartfilia não é tudo isso que você pensa. – Foi a vez dele revirar os olhos. – Parece que só você acha que ela é tudo isso.

– Ela é tudo isso. – argumentei.

– Não é não. – retrucou.

Bufei.

– E se, em algum universo paralelo, eles realmente tivessem ficado minimamente interessados, por que isso importaria a você? – questionei. Essa vez estava interessada na resposta.

– Bom, em um universo paralelo eu talvez pensasse diferente, então não posso dizer. – Ele deu um sorriso irônico. Quis ser forte e diferente para bater nele.

Há, há, que engraçado.

– E o que vai fazer em relação aos clubes?

– Acho que vou fazer teatro. – murmurou.

Novamente tínhamos ficado até tarde na escola. O sol já começava a baixar.

– Então, nada de clube de esporte? – Ele negou com a cabeça. – Nem clube de música?

Ele negou outra vez.

– Por enquanto não.

– É o Clube de Teatro? –perguntei.

Ele assentiu.

Sorri porque, de repente, Gajeel Redfox não pareceu mais tão irritante.