- Cheguei! – gritei assim que entrei na casa antiga e, sendo boazinha, caindo aos pedaços onde morava.

- Levy! Não grite! – berrou minha mãe, de outro cômodo. Pelo aroma, deduzi que era a cozinha. Fiz uma careta.

- Ok! – gritei em resposta e subi as escadas correndo. Entrei em meu quarto e fechei a porta, antes que minha mãe desse uma bronca ou surtasse legal.

E ela o fez, com certeza, mas não consegui escutar.

Abri as cortinas e, em seguida, abri a janela. Meu quarto foi iluminado e meus livros ganharam destaque.

Sorri, satisfeita, e deitei na cama. Tirei um caderno e um lápis da bolsa e comecei a escrever furiosamente. Precisava ganhar aquele concurso. Precisava muito.

Tá, tudo bem, talvez não precisasse tanto assim. Mas Lucy Heartfilia participaria daquele concurso de redação. E uma das coisas que mais gosto de ver é Lucy Heartfilia perdendo. Aliás, eu acho que gostaria de ver, pois Lucy sempre ganha de mim. Sempre.

E ela ganha de mim em tudo. No estilo, no conselho estudantil, nos esportes (certo, todos são melhores nos esportes que eu, mas tudo bem), na criatividade, nos seios (todas as garotas tem seios maiores que os meus, e até uns garotos gordos. Tento não ficar irritada com esse fato triste)... Até nas notas ela consegue empatar comigo. Não tenho a menor ideia de como. Eu só não achei o defeito dela. Só isso.

Não que eu seja vingativa, apesar de ser, só que Lucy Heartfilia fora minha melhor amiga, eras atrás. Até ela se tornar a Loira Poderosa Que Adora Detonar A Levy.  Deve ser divertido. Nunca experimentei.

E depois disso ela se tornou uma pessoa horrível. Muito mesmo.

E esse concurso de redação é minha oportunidade perfeita. Pois, eu sei que leio mais que Lucy. Talvez isso ajude.

Talvez não.

Não fazia ideia.

Comecei a rascunhar algo sem sentido no caderno quando sons de guitarra invadiram meu quarto. Tapei os ouvidos. Odiava rock. Mesmo. Mas, naquele momento, odiei todo e qualquer tipo de música.

Fui até a janela e vi que na casa ao lado, ou devo dizer, mansão ao lado, estava com uma janela aberta. Deixe me contar mais sobre onde eu moro. Eu moro no lugar onde os ricos moram. Minto. Minha casa, infelizmente, fica em um bairro de ricos. Essa casa foi herdada do meu avô. Quando ele a construiu, não havia mais ninguém aos arredores.

Infelizmente, com o tempo, não havia permanecido assim.

De uma hora para outra, enormes castelos (sim, tem alguns que realmente se assemelham a castelos) surgiram, sem que nada pudesse ser feito para impedi-los.

De uma maneira rápida: a única casa feia e normal era a dos McGarden.

Eu sabia conviver bem com isso. Meus pais não.

Me escorei na janela.

- Ei! Com licença! – gritei. O rock parou. Suspirei, aliviada.

Um garoto enorme, monstruoso, com cabelos grandes e pretos, olhos igualmente pretos e um monte de piercings apareceu na janela da outra casa. Ele parecia emburrado. Na verdade, me deu até um pouco de medo. Tentei parecer normal.

- O que foi? – resmungou.

Ah, parabéns pela excelente educação!

- Poderia, por favor, abaixar o volume? É que estou estudando. – pedi, cruzando os dedos.

O garoto sorriu.

- Claro. – disse, e desapareceu no quarto.

Respirei fundo e voltei a me deitar. Até que não era uma pessoa tão ruim assim e

You, what do you own the world?

How do you own disorder, disorder,

Now, somewhere between the sacred silence,

Sacred silence and sleep,

Somewhere, between the sacred silence and sleep,

Disorder, disorder, disorder.

Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Além de não ter abaixado o volume, ele aumentou ainda mais. Fui até a janela e vi que ele estava ali. O garoto riu e eu fiquei emburrada. Fechei a janela e as cortinas.

Que idiota.