Primeira vez

Com você eu não sei, mas comigo foi bem assim. A primeira história sempre é igual, seja lá quem fez. Garanto que todos já passaram pela fase de pegar o caderno surrado de matemática e começar a escrever igual a um louco. O estranho é que na primeira fic, a partir do momento em que a gente começa a escrever, as ideias surgem igual a uma avalanche, e você fica tão eufórico que quer colocar todas elas de uma vez na mesma história.

Bem, daí você já sabe: Novidades e ideias demais, conteúdo e sentimento de menos.

Ou seja: Fica uma droga. Daí você joga aquilo no lixo no inferno de tanto ódio porque deu errado, e fica de luto durante uma semana, dizendo que nunca mais vai tocar em um lápis. Só que então a sua mãe te pede pra fazer uma listinha para o supermercado, e você toca em um lápis. É, sua promessa foi ralo abaixo.

Daí você recomeça denovo. Que tipo de história é comum para a primeira vez? Uma de adolescentes idiotas que vão pra escola, são perseguidos por professores, tem um inimigo que sempre se dá mal e um amor.

Você mais ou menos gosta daquela história, até porque você é iniciante, não tem senso crítico. E você começa a escrever no ponto de ônibus, no meio da aula, na educação física, durante a tarde, enquanto vê sua novela das nove e também durante a madrugada, enquanto poderia muito bem estar dormindo.

E o mais irritante é te perguntarem “O que é isso?”. E começam a inventar teorias: É só conteúdo da aula, é uma carta pro peguete, é o diário, é um testamento...

Nossa, como ele adivinhou que você estava morrendo?

E aquele texto todo mal escrito... Uma hora está sendo narrado em terceira pessoa, outra hora por primeira pessoa. O palavreado é o mais banal e casqueiro possível. Claro, além dos erros – ou assassinatos – de português. E o código de MSN não ta fora disso, num é miguxu? Sem falar no personagem principal que deve ser uma garota de 16 anos, acertei? Ela e uma adolescente, não se pode tirar algo muito profundo ou alguma moral dessa história.

Bem, você não está fazendo aquilo pra conseguir fama e fortuna, pelo menos você tem consciência de que está uma porcaria, e ninguém gosta de porcarias – exceto os fãns de crepúsculo.

Se bem que, mesmo sendo um show de horrores, é necessário. Afinal, é errando que se acerta; sem tentar nunca se consegue; três esquerdas fazem uma direita.

Ainda pego o meu caderninho do curso de inglês á cerca de dois anos atrás, mais ou menos, e releio minha primeira fic. Ah, nostalgia... Dá vontade de me matar. Como eu pude ter coragem de ter feito aquilo, e ainda, publicado? Que vergonha...

Então você finalmente termina sua primeira fic, sente orgulho e felicidade, mesmo não estando tão boa quanto outros. Mas o que vale é a experiência, você nunca conseguirá chegar perto daqueles que você admira se não tentar.

Então você pula algumas folhas daquele caderno e (re)começa a escrever.