A menina olhava sentada para os gatos no quintal. Pensava como seria bom ser um animal ao invés de ser humano. Vejamos como ela diz: gatos são livres para fazer o que quiserem, gatos podem ir para qualquer lugar, podem sentir o prazer desta vida.

Os humanos não prestam se machucam, não são livres, tem coração como os gatos, mas o coração é frio. Os ‘’demônios’’ matam os seres humanos com apenas palavras. Frios. Mas ela dizia ‘’E se eu fosse um demônio? Não quero nem saber. ’’ A menina – que mais parecia uma boneca de porcelana – deixou as lágrimas rolarem até o chão como se não tivesse havia séculos.

Se ficasse nesta vida só iria atrapalhar a vida dos seus próximos; fazendo com que os mesmos a machucassem. Ela precisava ir embora, sumir, ir pra outro mundo. Mas a menina tinha medo.

Foi até a cozinha - no armário e abriu a gaveta pegando um gilete. Suspirou bem forte e quando já estava prestes a realizar o ato, se lembrou de algo ou de alguém que fez com que ela largasse o objeto, xingando-se.

Se encostou ao armário deslizando até sentar no chão abraçada com os joelhos. Olhou para o céu ensolarado e viu (como em todos os outros lugares que recordava) uma memória dos dois. Sorriu mas logo se entristeceu com a imensa saudade.

Levantou-se e foi até o quarto, calma. Era sempre assim. Ele - mesmo tão distante – enxugava suas lágrimas.