Thalia tinha decidido ir ao barzinho, afinal. Mas seu coração – dilacerado, pisoteado, jogado no lixo – não estava naquele lugar. Estava com uma certa morena de olhos cor de chocolate do Harlem.

“Hey, Thally, não é o fim do mundo. Ela não vai ser sua pra sempre. Claro que ela ia se casar um dia,” disse Tom, dando um tapinha nas costas da irmã mais nova, tentando consolá-la, mas sem sucesso.

Sim, é o fim do mundo, Thalia pensou.

As duas tinham se conhecido no ensino médio; Thalia era a irreverente repórter do jornal da escola, e Lysbeth era a tímida e competente fotógrafa. Elas tinham se conhecido no baile da primavera do segundo ano enquanto o cobriam – e nunca mais tinham se separado.

No início, aconteceu uma amizade tímida, que se tornou algo a mais nas férias de verão. O romance durou até Thalia ingressar na faculdade de jornalismo, encerrando-se de forma dramática. As duas nunca mais tinham mantido contato – pelo menos até aquele momento.

“Ela só pode estar de brincadeira comigo!” choramingou Thalia um pouco alto demais.

Charlotte afagou o cabelo ruivo de Thalia, pesarosa.

“Sinto muito, Thally.”

“Você devia falar com ela,” sugeriu Tom, pensativo. “Deixe-a ser feliz, fique perto dela, mas como amiga. Afinal, vocês sempre foram, antes mesmo de namorar.”

“Sim, eu deveria...” Thalia tentou falar, mas começou a soluçar. Deu um suspiro. “Mas não sei se estou pronta para entregá-la a outra pessoa. Garçom, me vê mais um on the rocks, por favor.”

“Chega de beber, Thalia,” disse Tom numa voz autoritária. O garçom titubeou, mas o olhar penetrante de Tom o deteve. “Vamos para casa.”

Chegando em casa, Thalia chorou por mais ou menos uma hora, até se decidir. Pegou o telefone e discou o número de celular que conhecia de cor e que tinha se tornado tão familiar para ela.

“Alô?” uma voz doce e tímida atendeu.

“Lizzy? Sou eu, Thalia.” Ela disse, os olhos ainda marejados de lágrimas, mas segurando os soluços. Ouvir a voz de sua amada a quebrava por dentro.

“Thally?” a voz de Lysbeth se tornou mais animada, e Thalia podia até imaginar o sorriso que estava nos lábios do amor da sua vida. “Meu Deus! Estive esperando sua ligação já faz semanas! Como você está?”

“Estou bem,” mentiu Thalia. “Pois é, né.”

“Recebeu meu convite? Com certeza sim.”

“Recebi.”

“E você vai?”

Thalia titubeou. Ela não sabia o que dizer.

Tenho que apoiá-la em tudo, afinal, ela pensou. Afinal, ela foi minha melhor amiga antes de ser minha namorada.

“Thally? Ainda está aí?” Lysbeth perguntou vacilante.

“Sim, eu vou.”

“Que ótimo! Pode me encontrar no lugar de sempre? Precisamos combinar uns detalhes!”