Perto Demais Para Te Amar escrita por Jenny


Capítulo 21
Capítulo 21 - Seria um dom ou uma maldição?


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, esse capítulo será narrado pela Lydia, e não pela Jenny. Isso porque vamos focar na história da Lydia.
Espero que vocês gostem. Boa leitura (:



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Lydia

Tudo começou como se fosse um sonho. A última coisa concreta que me vem a memória é aquela interpretação ridícula da Jenny. Depois disso, só me lembro de encontrar Andrew implorando por socorro enquanto era possuído por alguma criatura. O que aconteceu entre essas memórias é o que me assusta.

Assim que sai daquela aula insuportável de inglês, fui engolida por animais, vulgo meus queridos colegas de escola, que corriam desesperados para o ginásio.

– Ei, tem como vocês tomarem cuidado? – eu consegui gritar. Ninguém me escutava, mas eu continuei falando – Eu mereço né? Demoro horas para me arrumar, para que vocês... Ei, não toca em mim.

Depois de muito empurra-empurra, consegui entra num banheiro. Enfim, tranquilidade. Bom, era o que eu pensava.

Caminhei até o espelho. Algo estava diferente em mim. Não fisicamente, já que sou a pessoa mais gostosa e desejada da escola. Eu diria que meu problema era psicológico. Recentemente, minhas noites são interrompidas por um mesmo sonho: um garoto que aparenta estar morto, cujo rosto é bem familiar, se levanta e corre atrás de mim. Minha mãe jura que não significa nada. Eu sei que deveria acreditar, já que minha mãe nunca erra quando o assunto é sonho, mas depois de ver essa cena quinze vezes, fica difícil pensar que é só imaginação.

–Lydia – uma voz chamou pelo meu nome. Eu não conseguia decifrar quem era, mas eu já ouvira aquela voz masculina em algum lugar – Eu preciso de ajuda. Você pode ser minha única esperança.

Ao meu redor não havia ninguém. Eu estava sozinha naquele banheiro.

– E como eu vou saber onde lhe encontrar? – eu disse com dificuldade de respirar.

– Acredite nos seus extintos...

Esperei que a voz me dissesse algo mais útil, mas nada aconteceu. Eu estava novamente sozinha. Só não decidi se isso era bom ou ruim.

–--------//---------

Quando eu finalmente saí do banheiro, não tinha mais ninguém nos corredores da escola. Nenhuma alma viva, nem mesmo o zelador, que sempre dormia na escada que levava ao segundo andar. Isso sim era um mistério...

Qual seria meu extinto? Sempre odiei essas respostas que não respondem aquilo que é perguntado. Quer saber qual é meu extinto? É pegar meu cartão de crédito e comprar todas as bolsas da Chanel. É poder fazer uma festa por final de semana – todos sabem que quando o assunto é festa, sou especialista. Eu tenho certeza que isso não ia me ajudar a salvar uma pessoa que eu não faço ideia de quem seja.

– Pode ser imaginação – eu disse para mim mesma – Não tinha ninguém naquele banheiro. Só você e seu lindo e perfeito reflexo. Você pode ir ao shopping que nada vai acontecer.

Fui até meu armário para pegar meu casaco. Tentei minha combinação, mas o cadeado não abriu como deveria. Tentei mais uma vez, e nada. Tinha cara de alguma brincadeira de mau gosto. Mas quem sabia minha senha para mudá-la? Allison? Muito fofa para fazer isso... Não conseguia pensar em outra pessoa. Talvez fossem os novatos, eles sempre fazem isso com os veteranos. Eu só tive azar de ter sido a escolhida da vez. Quem precisa de um casaco para ir ao shopping? Eu posso compra um novo lá e minha mãe não vai ficar brava – eu tenho uma ótima desculpa. Desculpe-me novatos, mas eu sou mais esperta que todos vocês juntos.

Dei um passo, mas logo fui detida. Meu pé encontrara algo escorregadio. Tive medo de olhar para baixo e me arrepender. Infelizmente, minha curiosidade venceu meu medo. Havia algo vermelho espalhado por todo o corredor – inclusive nos meus pés.

– Ai meu Deus – eu suspirei – Não seja sangue, não seja sangue, não seja sangue...

Para minha sorte, não era sangue. Era algo mais consistente, com um cheiro desagradável – algo parecido com fumaça.

Sei que deveria ignorar tudo e sumir o mais rápido daquele local, mas meu corpo não respeitava o que meu cérebro mandava. Eu não tinha mais controle sobre meu corpo. Eu simplesmente andei sobre aquilo e sai da escola. Diferente do meu plano, eu não fui para o estacionamento, eu andei sem rumo. Passei pela cantina, passei pelo gramado. Na minha mente não saia aquela voz me pedindo por socorro. Eu queria parar um pouco, mas meu corpo não dava sinal de cansaço. Desisti e continuei andado, quando finalmente parei.

Não demorei a perceber onde eu estava. Eu costumava matar algumas aulas para assistir o treino dos meninos naquele local, o campo de lacrosse. Por todo percurso que eu fizera, aquela coisa vermelha me acompanhara. Por algum motivo ela terminava na lateral do campo.

– Lydia!

Aquela voz de novo, mas dessa vez não era coisa da minha cabeça. Alguém realmente estava gritando pelo meu nome. E eu podia vê-lo sendo assassinado por algo. Aquilo, sem dúvidas, era o ser mais estranho que eu já tinha visto. No lugar de mãos e pés, ele possuía longas garras que estavam gravadas no pescoço do pobre menino. Sua boca era maior do que de um ser humano, além de possuir dentes nas bochechas, que ficavam amostra por causa do tamanho da boca. Ele não possuía uma pele normal, era formado por veias e ossos. Seu corpo estava coberto de sangue e seus olhos eram vermelhos.

Ele me olhou com medo. Depois olhou para o garoto – que naquele momento, já estava morto. Mais uma vez ele me olhou. Eu continuava paralisada na beira do campo. Olhei ao redor para ver se tinha mais seres como aquele, – para minha sorte não tinha – mas quando meu olhar voltou para aquele garoto, o monstro não estava mais ali. Imaginei que ele fosse me atacar, mas nada aconteceu. Aproximei-me do jovem. Aquele rosto me era familiar. Ai meu Deus, aquele era o Andrew. Ele era da minha turma de física. Tão jovem, tão morto.

Não sei explicar o porquê do próximo acontecimento, mas aconteceu. Eu produzi um barulho que nunca havia produzido antes. Era algo parecido com um grito, só que mais potente, mais alto. Nunca tinha ouvido algo parecido, mas eu não consegui segurar. Eu simplesmente gritei. Eu deveria estar muito assustada. Quem iria acreditar em mim?

– Isso é igual ao sonho – eu sussurrei.

No meu colo, Andrew começou a tremer. Sim, um morto começou a tremer. Eu o joguei e tomei um pouco de distância. Se não fosse pouco aquilo, o rapaz começou a se debate.

– Andrew... – eu disse, chorando – Pelo amor de Deus, o que está acontecendo? Se isso for uma pegadinha, eu juro que eu te mato.

Não era pegadinha. Algo estava acontecendo com ele. E por algum motivo eu era a única que podia ajudá-lo.

–--------//---------

Não demorou muito para que todos da escola se amontoassem em volta do Andrew – que ainda se debati no chão. A diretora pedia por calma, mas eu podia ver nos rostos dos alunos o medo que dominava aquele local. Ninguém tentou ajudar o rapaz, nem mesmo seus amigos.

– Lydia!

Alguém gritou meu nome. Procurei por algum rosto familiar, e para minha sorte vi Allison correndo na minha direção, junto com seus amigos.

– Lydia! – ela disse já do meu lado – Ai meu Deus, você está bem?

– Eu não sei como cheguei até aqui – eu disse, chorando – Meu corpo não me obedecia, eu não queria vim até aqui. Eu nem sabia que o Andrew estava correndo risco de vida...

Todos prestavam atenção em mim, menos a Jenny. Um pouco distante de nós, ela o encarava com os olhos cheios d’água. Enquanto Stiles dizia alguma bobagem, eu me distanciei e me aproximei dela. Era a primeira vez que eu não queria a insultar – eu percebi quão triste ela estava.

– Eu não sei o que aconteceu com ele – eu disse a olhando – Quando eu cheguei aqui, ele já estava sendo possuído por algo cheio de sangue. Eu travei, fui covarde. Não consegui fazer nada, só olhar ele morrer lentamente.

– Ele não está morto – ela ainda o olhava.

Eu precisava concordar com ela. Um morto não se mexia.

Um barulho de sirene ficava cada vez mais próximo, até que uma ambulância atravessou o campo e parou próximo da multidão. Alguns médicos correram já carregando seus aparelhos para socorrer Andrew. Eles o puseram numa maca e, com presa, voltaram para ambulância. Um dos médicos, antes de partir, disse a diretora:

– Vamos fazer o possível para salvá-lo... Talvez fosse melhor avisar os pais desse rapaz.

– Ele não possui ninguém que possamos ligar – ela o respondeu.

Foi a última coisa que eu escutei. Depois disso, só nos restava ver a ambulância correndo contra o tempo para salvar a vida de mais um inocente.

– Acho melhor nós irmos embora – disse Stiles pegando a mão de sua namorada – Ninguém quer ficar aqui, correndo o risco de acabar com cinco cortes na garganta.

Talvez o Stiles estivesse certo, ficar ali não ia ajudar em nada, mas eu não conseguia me desligar daquilo. Meu corpo negava meus comandos, ele se alimentava da tristeza e do desespero de todos ao redor. Eu estava tão vidrada nos movimentos dos policiais, que haviam chegado há poucos minutos, que não percebi Scott parado ao meu lado, também os observando.

– Eu lhe escutei, Lydia – ele sussurrou suavemente ainda não olhando nos meus olhos – Seu grito... Eu consegui escutar.

– Eu não sei do que você está falando – eu retruquei, nervosa.

Nossa conversa foi interrompida pelo Sheriff. Ele nos levou até a sala da diretora, onde nossos amigos já nos esperavam. Nós cinco nos apertamos num pequeno sofá amarelado, enquanto o Sheriff acomodou-se na cadeira da diretora. Ele colocou sobre a mesa algumas fotos do Andrew em vários momentos de sua vida até aquele momento. Depois, ele nos encarou.

– Por que toda vez que acontece algo nessa cidade, vocês estão no meio? – ele nos perguntou.

– Eu me faço essa pergunta todo dia antes de dormir – respondeu seu filho, o Stiles.

– Senhor – disse a Jenny – Nós não passamos de amigos dessa vez. Assim como qualquer outro, estamos chocados com que vimos. Queremos, desesperadamente, saber quem causou tremenda brutalidade com o nosso amigo.

Novamente a sala ficou em silêncio. Sheriff anotou algumas coisas, mas eu não consegui ler. Ele estava sério, com medo de começar uma nova onda de assassinatos em Beacon Hills.

– Alguém tem mais alguma coisa a dizer? – ele nos perguntou.

– Não! – eu menti.

Acho que senti que aquele não era o melhor momento para dizer sobre aquela criatura que eu vira. Talvez não passasse de imaginação.

– Então não cabe mais a mim esse caso – Sheriff parecia aborrecido com o caminho que aquilo estava tomando – Não posso mais cuidar desse caso, uma vez que meu filho está envolvido. Sinto muito, mas eu não posso fazer mais nada.

Ficamos sozinhos por um bom tempo exprimidos naquele pequeno sofá. Ninguém ousou dizer uma palavra, muita mentira nos rondava. Todos sabiam que eu estava escondendo alguma coisa, alguma coisa que podia mudar completamente a história. Do meu lado, Jenny contava, repetidamente, seus dedos da mão. Um, dois, três, quatro, cinco. Aquilo estava me deixando nervosa, não compreendia como aquilo acalmava uma pessoa. Um, dois, três, quatro, cinco. Um, dois, três, quatro, cinco. E a contagem continuava. Tentei a acompanhar, mas desisti na terceira contagem.

Do lado de fora, todos conversavam desesperados. Reconheci algumas vozes. Sheriff, a diretora, nosso técnico de lacrosse. Todos queriam respostas imediatas sobre o que acontecera com Andrew. Aquilo voltaria acontecer? Ele ia sobreviver? Nossos alunos estavam seguros na escola? Talvez ninguém conseguisse responder essas simples perguntas, mas uma pessoa estava determinada a respondê-las. Um rapaz alto, de vinte e poucos anos, entrou na sala. Seus olhos esverdeados procuravam por alguma pista sobre o ataque. Seu sorriso meigo não parecia demonstrar superioridade, mas quando ele começou a falar, percebemos que o rapaz não estava ali para brincadeira.

– Delegado Parrish – ele se introduziu, assumindo o lugar do Sheriff – Se vocês me ajudarem, eu posso ajudá-los.

– Já dissemos tudo que tínhamos para dizer – disse Scott.

– Por que eu tenho a sensação que isso não é verdade?

O delegado puxou a cadeira para mais próximo de nós, parando a dez centímetros da Jenny. Ela me olhou, como se dissesse que seria a última vez que mentiria para o rapaz. Seus olhos voltaram para o detetive. O jeito que ambos se encaravam era assustador, até parecia que ia sair faíscas. Já tinha ouvido falar que a garota não deixava os outros a intimidarem, já tinha até vencido um lobisomem/assassino com seu jeito frio de tratar as coisas, mas aquela era primeira vez que eu a via em ação.

– Não temos nada a declarar sobre o Andrew – ela disse, ainda encarando Parrish – Eu já disse uma vez, e vou repetir, não passamos de amigos em busca de respostas a tal crueldade.

– Então somo dois – o delegado a respondeu.


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