A Corrida Universal escrita por Thiago Olivieri Dantés


Capítulo 12
Cap. XII / O Mecanismo da Corrida




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É com muito desprazer que descrevo a seguinte cena.
As pessoas derrubavam, pisoteavam e machucavam umas as outras, na tentativa de pegar as cédulas, que lhes escorregava pelas mãos e faziam novas investidas para escapar de outras mãos. Eu tinha que tirar Mariana dali, e rápido.
Algo que me chamou muito a atenção, e que por pouco eu ia esquecendo de relatar, é que mesmo correndo, as pessoas não saíam do mesmo lugar. Olhei para Agnaldo, que logo captou meu olhar interrogativo e disse:
- Sim, é isso mesmo que está vendo. O pior, é que eles acreditam piamente que estão se locomovendo, mas é só uma ilusão da realidade. Faz parte do sistema.
Fiquei sem resposta. Agnaldo soltou uma de suas risadas sarcásticas e começou o que eu suspeitava ser mais um de seus monólogos, enquanto preparava um fumo de rolo:
- Heitor, vou explicar-te o mecanismo da corrida, preste bem a atenção.
Pelo tom inicial e o final da voz, só pudia mesmo ser mais um de seus monólogos.
- O chão, é como (Eu estava certo) um tipo de esteira. Seu funcionamento consiste no impulsionar que nossos bilhões de corredores causam ao correr atrás das cédulas vivas. Com a ''esteira'' em movimento, acionam-se as engrenagens, que por sua vez, fazem girar as moedas gigantes atadas por uma espécie de corrente, fazendo assim com que nosso planeta esteja sempre em movimento. Entendeu ou quer que desenhe?
  Acendeu seu fumo, deu uma longa tragada e com os olhos fitos em um ponto fixo no chão, e ao mesmo tempo que expelia fumaça pela boca e nariz, balbuciou estas palavras em um tom quase inaudível , como se falasse consigo mesmo:
- As pessoas estão certas, ao mesmo tempo que estão erradas, quando afirmam que o dinheiro é o que movimenta o mundo... Mesmo que não estejam tão certas quanto a verossimilhança do que dizem.
  Era realmente muita loucura para um único louco. Eu poderia mesmo concluir que era louco meu amigo, mas com aquelas moedas gigantes, cédulas vivas, um chão que se locomovia, e a personificação de virtudes e desvirtudes - Sim, virtudes e desvirtudes, pois há quem creia piamente que a ganância é uma virtude, acredite, leitor. - como organizadores de uma tal Corrida Universal, como poderia eu dizer oque é, e oque não é loucura?
  Depois de alguns poucos minutos de reflexão disse á Agnaldo:
- Acredito que o mundo continue com seus movimentos rotação/translação com ou sem corrida.
- Concordo plenamente, mas... Diga isto a eles.
  Na pista de corrida a ''luta'' entre as cédulas continuava com o mesmo vigor de outrora. ''Que os deuses protejam minha Mariana'' eu pensava comigo mesmo.
  Vi que um pequeno número de pessoas, com muita dificuldade, conseguia agarrar algumas notas e logo eram conduzidas pelas damas á Zona de Conforto.
- É nisto que consiste a corrida para eles. - Disse Agnaldo - Só almejam entrar na ZC. Há entre eles uns que somente querem uma quantia de cédulas necessárias para a sobrevivência, e outros que as usam por uma boa causa, mas são raros.
- E oque acontece lá dentro?
- ''Zona de Conforto'' este nome já responde por si.
Eu pensava comigo mesmo: '' a esta altura Mariana já deve estar lá dentro... Vou busca-la'' mas me veio a cabeça a ciência de que eu teria de participar da corrida se quisesse entrar. Felizmente me veio uma ideia: '' posso esperar na porta, é isso.'' Levantei decidido e contei meu plano para Agnaldo que disse:
- Então vamos juntos, mas antes quero te mostrar uma coisa. Ele estendeu a mão para que eu o ajudasse a levantar, segurei, e com alguns resmungos e certa dificuldade levantou e juntos caminhamos em direção a uma ponte. O cheiro de seu fumo era nauseante.


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