O preço de uma refeição

  Era uma noite quente de primavera, às margens do rio Indera, alguns animais famintos assistem a chegada de um pedaço de tronco, trazido pela correnteza, dele se emitia um som parecido com um choro para nós, para os animais... Uma refeição em potencial.

 Eles já se preparando para pegar aquele pedaço mal cortado de tronco, ouvem um barulho vindo de trás da moita atrás deles, as onças já ficam em alerta com as orelhas em pé, segundos depois uma criatura grande e feroz pula parecendo que veio do nada rosnando e correndo na direção das onças, que preferiram não ficar pra descobrir que criatura era aquela e correram assustadas abandonando sua presa.

  A criatura se aproxima do rio com um andar um pouco desengonçado, suas escamas roxas refletiam a luz do luar, que iluminava seu corpo e suas asas ainda muito pequenas para suportar todo o seu corpo, era um filhote de dragão. Ele puxa o tronco para a margem para saber o porquê de aquelas onças ficarem tanto tempo rodeando o rio.

  Ele olha e se surpreende por alguns segundos, e uma luz fraca ilumina seu rosto, ele cheira aquela criatura aparentemente era um filhote de humano.

 -Hsss Humano? Mas eles não aparecem muito por aqui – pensou ele - mas no fim, não importava, não deixava de ser uma refeição.

 Com a boca já salivando ele se prepara para comer o filhote, coloca o bracinho do bebe na boca, mas quase que instantaneamente sua língua começou a queimar e aquela dor foi se espalhando por sua boca inteira, uma dor quase insuportável. ele cospe arranhando um pouco o bracinho do bebe com os dentes, fazendo com que a criança começasse a chorar .

 O dragão meio assustado e com muita raiva dá uma patada no bebê que rola alguns metros e some em uma moita.

  Já meio irritado ele pensa em deixar a presa pra lá, mas depois de ter se machucado tanto para poder comê-la ele não iria largá-la tão facilmente. mas ué? Onde estava o filhote? Teria fugido? Não... Aquilo nem deve saber andar. Ele começa a procurar farejando a área quando seu focinho bate em alguma coisa que rola pro lado, e ressurge o maldito filhote.

 -Droga de filhote esquisito Hssss, de repente meu pai saiba como eu faço pra comer essa porcaria de uma vez – sai resmungando carregando o filhote na boca. 

                                                           ***

 O filhote de dragão escondeu a presa até o dia seguinte, mesmo ainda jovem ele sabia que perturbar o pai dele era o mesmo que cometer suicídio.

 No dia seguinte o dragãozinho acorda mais cedo, esperando encontrar seu pai antes que ele saísse para caçar.

 Quando estava saindo de sua toca deu de cara com aquela criatura imensa, tão grande que bloqueava a luz do sol acima dele, aquele olhar rancoroso em sua direção e uma voz tão grave que chegava a estremecer a terra.

 -Hssss Saia da minha frente antes que eu resolva te esmagar. - Era seu pai, e aquelas palavras o fizeram querer sair correndo dali, mas ao invés disso ele tomou coragem e pôs o filhote na frente do pai.

 - O que é isso criança insolente? Oferenda? Hsss Essa merdinha não vai me satisfazer.

- não senhor, é um filhote, acho que é de humano só que tem escamas ele é meio esquisito Hunf não consegui devorá-lo – O dragão respondeu de cabeça baixa com receio de acabar sendo ele o devorado.

- HAHAHA você é muito patético mesmo, não consegue nem comer o que caça. Será que não aprende nada do que eu lhe ensino Ari? Eu tenho que te dizer sempre a mesma coisa? Nós dragões das profundezas somos o topo da... – antes que ele pudesse terminar seu discurso matinal sobre como os dragões são superiores aos humanos, ele vê uma luz aparentemente saindo da criança seguido de um calafrio. Ele para, olha, chega mais perto, cheira e se afasta novamente. Com uma de suas garras ele vira o bebê de frente e nota que a luz vinha do braço da criança, ele então começa a fincar a ponta de sua unha na mão do filhote, mas, para sua surpresa e espanto do jovem Ari, a unha começou a dissolver conforme ele ia tentando enfiá-la na mão do bebê.

O dragão fita perplexo a própria unha por alguns segundos.

-hfsss... Estranho... Ari não coma esse filhote por enquan...

Novamente ele foi interrompido, mas dessa vez por rugidos e explosões, sua ilha estava sendo atacada por dragões negros. Não havia tempo para ficar lá e descobrir o que era aquela marca esquisita na garotinha.

 -Ari, pegue o filhote e se esconda.
-Mas... E o...

-AGOOORA - Ele gritou, um grito que parecia mais ser um rugido