Minha mãe estava voltando da mercearia, quando sentiu dores fortes e desmaiou no meio do Distrito 5. Ela nunca me contou direito o que havia acontecido, porém me disse que quando recobrou os sentidos estava em uma cama, sem suas roupas de baixo e com uma dor abdominal insuportável. Uma moça de cabelos loiros naturais, que não devia aparentar mais de 25 anos, chamada Lydia, a resgatou do chão frio e a levou pra sua casa e ajudou minha mãe no parto, no meu parto.

Minha família nunca foi pobre, mas também nunca foi tão rica, e nunca será, graças ao meu pai que gastou metade da nossa herança (herdada de minha vó, que ninguém sabe como conseguiu, e que morreu sem revelar), em bebidas. Ele era alcoólatra, sim, era, pois morreu no sexto mês de gravidez de minha mãe. Nunca fiz questão de ter um pai, vivo bem sem um, mas é difícil ir à escola, ver pais buscando seus filhos, e saber que aquilo nunca iria acontecer comigo, nunca.

Não tenho irmãos, meu pai foi o primeiro amor da minha mãe, e depois de sua morte, quis viver solitária, sem ninguém, jurou isso a si mesma. Já eu sempre quis ter um namorado, minha mãe sempre me apoiou, mas os garotos mais legais, interessantes, são os que menos olham pra mim, aliás, são os que menos olham pra qualquer tipo de garota, são desinteressados. Meu primeiro beijo foi com 11 anos foi na saída da escola, por causa de uma brincadeira boba chamada ''beijo de teleguiada'' que me desafiaram a brincar. Foi péssimo, o garoto até que era bonito, mas era babaca e sempre tive repulso de chegar perto dele, o beijo foi péssimo. Desde lá nunca mais beijei e nunca mais vou beijar.