O Piano escrita por Isabella Cullen


Capítulo 24
O menino e o piano


Notas iniciais do capítulo

Capítulo revelador, autora saindo correndo para trabalhar. Bom dia meninas!



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– Um... menino?

– Sim, um menino que conheci há muitos anos. Muito talentoso. Ele tinha o que nós chamamos de dom natural para a música. Entenda querida, você é uma pianista brilhante, mas porque ama o piano e sua estrutura básica. Esse menino é como se nascesse com a música dentro dele, pronto para tocar assim que suas mãos tivessem tamanho e força para isso.

Jean olhou para minha xícara e tomei um gole fazendo ele continuar sua história.

– Ele é claro precisava ser guiado e orientado. Precisava ser moldado para ser um bom pianista. Como um diamante que sai da mina, bruto e sem qualquer valor de mercado, ele precisava ser lapidado e polido. O melhor pianista que um dia eu já conheci. – ele tomou o último gole de seu café pedindo mais para o garçom num gesto discreto. Assim que foi atendido ele voltou para mim. – Esse menino como tantos outros tem uma história bem triste, sua família era muito pobre e não tinha dinheiro para custear seus estudos de música, e entre comida e música não fica difícil saber qual foi a escolha para alimentar cinco bocas desesperadas. Mas então a mãe dele em um momento de ideia começou a sondar uma casa que tinha um grande piano de calda antigo e descobriu que lá estavam precisavam de uma empregada. Ela começou a trabalhar na casa só para o menino tocar enquanto os patrões viajavam e ele poderia ter acesso ao instrumento.

– Oh... – uma lágrima caiu de meus olhos e a enxuguei.

– Sim, ela é uma mãe muito dedicada e que sempre foi aos seus limites por seus filhos. O menino se sentia mal por ver sua mãe se acabar para ele ter algumas horas no piano em uma sala que estava abandonada pelos donos. Ninguém tocava o piano e ele sempre achou que o piano estava ali esperando ele. Desejando ser tocado mais que tudo. A parte triste está para vir, ele ia desistir. Não aguentava ver sua mãe trabalhar daquele jeito por um sonho bobo e sem importância. Ele iria parar de tocar e mentir para a mãe dizendo que ele havia se enjoado daquilo. No dia que ele tomou essa decisão, apareceu uma pessoa na vida dele. Um anjo segundo ele que o salvou desses pensamentos e que o fez simplesmente tocar. Tocar melhor...

– Um... anjo?

– Sim, ela entrou na sala e como se a música fosse um meio de comunicação mais eficiente do que as palavras ele afirma até hoje que ali naquele momento houve mais palavras do que existem no dicionário. Ele disse que ela falava para ele: que lindo, toca mais. E isso o deixou ciente de que nunca poderia abandonar a música só trabalhar para ser o melhor que podia e fazer com que os esforços de sua mãe valessem a pena.

Meu coração se apertou dentro de mim e eu chorei um pouco mais. Jean me entregou um lenço gentilmente e eu aceitei vendo que nem tinha como não aceitar.

– Sabe, eu sempre achei essa história algo surpreendente. Como apenas a presença de alguém nos muda assim. Sem palavras, toques ou outros artifícios que se valorizam hoje. Ele tinha apenas seis anos e acredito que a menina também e mesmo assim... algo naquela sala aconteceu. Alguns acreditam em outras vidas, outros em almas gêmeas... não sei como nomear isso, mas eu reconheço um fenômeno quando o ouço ou vejo. – ele tomou um pouco mais de café e continuou. – Uns anos depois, ele já era um pianista renomado, novo e renomado. Sua família estava numa situação completamente diferente, mais rica e segura. E então eu encontrei uma menina, verdadeiramente uma menina, cheia de vida e sonhos. Ela fez algumas escolhas questionáveis e acabou entendendo que nem sempre o coração é o único que precisamos escutar, a mente da gente às vezes grita: não... não é isso... Mas ela era jovem e cheia de vida e eu realmente achei que ela teria mais tempo.

Eu era a jovem. Eu fiz escolhas na época que ninguém concordava muito, mas que eu queria fazer. Jovem e tola demais.

– Mas um dia quando ela acabou de se apresentar de maneira magnífica em um grande concerto eu perguntei: O que a fez tocar dessa maneira? E ela me respondeu: Meu menino. E naquele dia quando ela me contou como se tornou apaixonada por música e pelo piano eu soube que conhecia os dois. E foi então que as coisas complicaram, ela não estava bem e ele estava... distante. Tentando fugir... escapar do vazio que ela deixou quando casou.

– Do que você...

–Ele sempre soube quem era você. Edward soube quem era você assim que viu uma foto de sua família em um artigo em que seu pai era homenageado como empresário do ano. Ele correu para Nova York quando soube que estava morando lá, mas você casou com Jacob assim que ele conseguiu seu endereço. Então ele se tornou um observador. Um mero expectador de sua vida.

– Ele sempre soube... ele... se lembra de mim...

Ele sorriu.

– Nunca se perguntou o que havia no escritório de Paris? O que tanto tinha ali que ele precisou da ajuda da mãe e da irmã para tirar antes de vocês irem para lá?

– Paris não... não havia piano... – meus pensamentos estavam desorganizados.

– Você era a música. Ele tornou aquele escritório um verdadeiro baú com suas lembranças.

– Oh...

Eu olhei para os lados procurando por algo que nem mesmo sabia o que era. Atormentada com as revelações que Jean estava me dando.

– Foi você! – saiu como grito. – Edward ia discursar em um evento...foi você! Eu estava grávida...

– E por isso ele não ficou. Ele disse que não aguentaria aquela cena. Você grávida.

– Deus como as coisas puderam ser tão desencontradas e erradas?

– Não querida, acho que a coisas simplesmente tomaram o rumo mais longo, só isso, mas então eu queria me aposentar. – ele suspirou cansado. – Não tenho mais o mesmo ritmo, era você e Edward em lugares completamente diferente. Fugindo de vocês mesmos, sempre buscando algo mais e mais distante. Eu arranjei essa turnê e bom... se não fosse para ser acho que simplesmente não seria.

Respirei fundo algumas vezes. Pensei e repensei em tudo que tinha acontecido. Eu precisava de Edward, eu precisava do meu menino e do meu homem. Oh Deus! Que confusão!


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