Eu sabia que agora ele não iria voltar, ele já deve ter achado outra que realmente importasse com ele. Ele não queria olhar mais na minha cara, eu sentia isso. Mas tudo que eu queria era que ele olhasse para mim, me abraçasse, brincasse comigo do mesmo jeito de sempre, com o mesmo carinho de sempre. Agora estava só, num imenso vazio dentro de mim mesmo naquela enorme casa cheia de vampiros. A mansão era tão vazia, tão incompleta sem Jacob.

            Já iria completar um ano que Jacob foi embora e três dias que eu não saia do quarto dele. Não tinha mais fome, nem vontade de falar, de andar, muito menos de viver. Depois de um dia isolada no quarto dele, a minha família começou a me incomodar novamente, a única coisa que eu queria e que eles não ofereciam era o Jacob de volta.

            Eu sabia que era impossível ele voltar, ele me odeia por todo o sempre. Minha garganta já estava dolorida de tanto gritar o nome dele e o cheiro que tinha no quarto era só o meu, eu não sentia mais o cheiro amadeirado e tão bom dele, agora só tinha cheiro de vampiros, e isso me deixou mais eufórica ainda.

Abri o grande closet dele com as roupas enormes, cheirei uma por uma numa velocidade inacreditável e agora nada mais tinha o cheiro do meu melhor amigo. Um choro desesperado surgiu mais forte dentro de mim, e o nome dele ecoava cada vez mais, e ah, fiquei até feliz ao escutar um chorinho...

Flashback (visão de Jacob, narração de Nessie)

            Nós andávamos pela floresta de La Push, o ultimo dia em Forks antes de mudarmos para Juneau. Eu tinha 4 anos com corpo de 12, mas isso não era problema para Jake. Ele me levava no seu pescoço na velocidade normal, andava rapidamente no meio das altas árvores da reserva que não havia mais o tratado. Ele me ameaçava de brincadeira que iria me jogar no chão, segurava forte no seu rosto e passava imagens aleatórias para ele.

            Chegamos à praia de La Push, desci do seu pescoço, sentamos num tronco e pegamos algumas pedrinhas e começamos a atirar no mar, e sem querer quase acertamos uma velha caduca que passava. Qualquer coisa para nós era motivo de risada.

            Então peguei um pouco da areia fina e joguei nele, e ele não deixou barato e logo jogou em mim, também:

            _ Ah! É assim então, monstrinha?_ adorava quando ele me chamava assim

            Ficamos por 20 minutos jogando areia um no outro, no fim nós estávamos parecendo dois churros. Meu cabelo ficou cheio de nós e areia e foi um custo tirar tudo aquilo da minha cabeça. Entramos no mar para tirar toda aquela areia do nosso corpo, mas logo começamos a jogar água um no outro. Era tão bom momentos assim...

            Fomos até a casa do Billy e ele pegou uma roupa minha, pois sempre deixava uma malinha na casa do pai de Jake, pois adorava ver sessões de filme de terror com ele. Ele me deu um casaco dele, e nós voltamos pela floresta, eu sobre o corpo de lobo que galopava rápido de volta a antiga mansão Cullen. Ao chegarmos a casa, ele tampou meus olhos e subimos para o quarto dele, ele tirou as mãos dos meus olhos e me avisou:

            _Não abra os olhos monstrinha! Se não ficará sem! _ eu decidi que não iria espionar, só porque ele me chamou de monstrinha...

            Ele não demorou mais que um minuto e logo falou que eu poderia abrir os olhos. Nas mãos dele havia um grande embrulho, ele me entregou cuidadosamente e abri. O lobinho de pelúcia marrom-avermelhado era lindo, e mesmo assim correu uma lágrima pelos meus olhos. Ele viu minha satisfação pelo presente, e me avisou que sempre que ele estivesse com a matilha, era pra eu pegar o grande lobo de pelúcia, que era como se ele estivesse ao meu lado. E assim eu fiz, todas as vezes que ele saia, eu pegava o lobinho para ser meu Jake substituto, mas com o passar do tempo eu não pegava mais a pelúcia dele.

            Deixei a pelúcia na cama dele, levantei e pulei nos seus braços e ele me rodou por todo o seu quarto, e eu disse:

            _Nossa Jacob, eu amei! Obrigada meu lobinho predileto!

            _Por nada monstrinha, você merece. _ ele disse e me deu um beijo babado na bochecha. _ Agora durma, Ness. Troque de roupa e durma.

            Ele me conduziu para o quarto, entrei no banheiro e troquei de roupa. Ele pegou minha coberta, cobriu-me e me deu um beijinho de boa noite, desligou a luz e antes de fechar a porta, ele disse:

            _Monstrinha, durma. Tenha sonhos felizes, não se esqueça de sonhar comigo!

            Ele foi para seu quarto e logo dormiu sonhando comigo, e eu agarradinha ao lobo de pelúcia, sonhando com ele.

Fim de flashback.

            Agora escutava dois choros, um era meu e o outro era dele dentro da minha cabeça. Vê-lo chorando, me fazia pior. Pensei então, se eu conseguia escutá-lo talvez ele conseguisse escutar a mim.

            Jake! Ouça-me Jake! Eu te amo tanto! Eu preciso de você, eu preciso! Eu preciso!

            O choro dele aumentou, e vi que ele conseguiu me ouvir, mas apenas pensou que era mais uma ilusão da cabeça dele

            Jake! Volte! Não é uma ilusão, estou mesmo na sua cabeça! Eu descobri porque você foi embora, me desculpe. Eu preciso de você, volte!

            Ele não estava convencido, e ele pensou: Eu te amo muito, minha monstrinha.

            Após ele dizer essas seis palavrinhas, o choro cessou e não ouvi mais nada. Como era possível? Eu precisava dele como companhia pelo menos na minha cabeça, nem ao menos uma mera ilusão! Corri para meu quarto e ‘escalei’ o meu closet na procura do precioso lobinho de pelúcia. Encontrei no fundo do meu closet, abracei o presente que ele me deu, cheirei apenas um pouquinho, saberia que se eu ficasse muito com o lobo iria perder minha única esperança de sentir o cheiro dele.

            Sai do meu quarto, entrei no dele e deitei-me na enorme cama dele, fiquei acariciando o grande lobo que estava em minhas mãos, e por curiosidade abri o zíper que havia perto do pescoço da pelúcia. Não era só uma curiosidade, havia algo em mim que gritava, como um instinto para que eu abrisse o lobo.

            Sim, era realmente um instinto. Ao abrir o grande lobo, vasculhei por meio das plumas e encontrei um envelope vermelhinho. Tinha uma ansiedade enorme de ver a mensagem, mas peguei cuidadosamente com medo de estragar uma recordação dele. As palavras eram poucas, na letra simples dele:

            Parabéns minha pequena detetive! Você mostrou que é uma fuxiqueira de primeira! Como uma recompensa pela descoberta, tem um pequeno pingente de lobinho para você colocar na coleirinha da sua pelúcia! Parabéns senhora inteligência, eu te amo muito minha monstrinha detetive!

PS: ah, cuidado para não estragar o pingente, você é forte!

Jacob.

            O mundo girava contra mim, não queria achar mais nada que fosse dele, tudo me fazia sofrer! Aquelas palavras grudaram na minha cabeça, o papel já estava amassado de tanto pegar nele. Mas a frase “Você é forte” era a que mais tinha destaque dentro de mim, porque sem o Jacob eu era fraca, oca, vazia, um nada. Que falta ele fazia, tanto quanto sua voz, suas palavras, brincadeiras, sorrisos, carinhos, proteção, todo o seu amor de família por mim. Ele era meu melhor conselheiro, minha melhor companhia, meu melhor amigo, o que eu tinha de melhor.

            Não, eu não era forte. Não sem Jacob. Arrumei uma corrente de prata e coloquei o lindo pingente de lobo que ele fez para mim, coloquei a corrente no meu pescoço e fechei os olhos, apertando o lobinho contra o meu coração, para ver se me acalmava, que me deixasse nem que ao menos com um pouco mais de esperança. Chorei baixinho, me desliguei de um mundo e passei pra outro dos sonhos, como uma doce ilusão, mesmo numa terrível depressão.