The First Fall escrita por LiKaHua


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Essa é uma OneShot sobre um personagem que muitas das minhas faadinhas de Frozen manifestaram gostar, inclusive uma em especial que já estava manifestando desejos pervertidos com o anjo u.u' então, para satisfazer o desejo dela, esta aqui uma one que faz parte de Frozen, que não será apresentada no livro, mas que pode ajudá-las a compreender o passado triste desse personagem que tantas amaram.
Boa leitura faadinhas.
P.S.: A atualização da fic Frozen será feita quando terminarem minhas provas!



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França – 1328

Foi no início dos tempos. Quando homens reinavam como absolutos, quando não havia temor dos céus, quando Deus era apenas um homem oculto atrás da imensidão azul que cobria o mundo. O mundo vivia um período de constantes conflitos, os homens eram cada dia mais sanguinários e sedentos de poder, na tentativa constante de conseguir mais e mais terras, de ascender perante outros, e no meio de todo o caos e devastação, vivia Lady Roberta de la Croix, uma jovem nobre que morava na aldeia do antigo reinado de Carlos Valois, filha de um marquês, era conhecida por sua bravura e doçura incomparáveis, e mesmo embora tenha sido solicitada pelo rei inúmeras vezes, recusava-se terminantemente a ceder a seus caprichos lascivos.
- Olá princesa! – A voz rouca do homem a fez parar. – Que faz por aqui sozinha?        

O pequeno vilarejo francês era repleto de casebres de madeira aparentemente obscuros àquela hora da noite, as lamparinas a óleo enfileiravam as ruelas ladeadas de pedras escuras e apenas a taverna estava aberta àquela hora da noite o barulho de homens gritando e copos batendo chamava atenção para quem se atrevesse a caminhar pelas vielas francesas, e Lady Roberta era uma dessas pessoas. Enquanto voltava da casa de uma de suas tias vivera a noite que mudaria sua vida para sempre.

- O que faço ou deixo de fazer não é da sua conta! – Respondeu com petulância.

- E quem você pensa que é para falar comigo desse jeito?! – Ele se aproximou e segurou-a pelo braço com força, puxando-a de encontro ao seu corpo suado, Roberta conseguiu sentir o cheiro forte de bebida e suor que ele emanava e lutou para não vomitar e piorar ainda mais a situação.

- És tu que não sabe quem sou! E sugiro que procures descobrir antes que eu o faça arrepender-se de tamanho atrevimento!

- Vou ensiná-la a respeitar um homem sua meretriz!

         A pesada mão dele levantou-se e o tapa fez com que Roberta caísse, sentiu o fio de sangue quente escorrer por seu nariz e um misto de fúria e adrenalina dominou-a, o homem cambaleou vindo em sua direção e ela tateou o vestido em busca do punhal que trazia preso ao corselet, mas não conseguia encontra-lo, o homem posicionou-se sobre ela e segurou seus pulsos pressionando-os contra o chão por um momento, ele forçou o espaço entre as pernas dela abrindo-as, Roberta não viu saída e previu o pior.

         O clarão intenso se intensificou por todos os lugares, ela fora obrigada a proteger os olhos com os braços, pois seus olhos doíam quando tentava ver através da intensa luz, ela se perguntava se aquele bêbado também presenciava aquele evento inusitado. O homem fora arremessado para longe  de Lady Roberta chocando-se contra uma parede e caindo no fim da rua. Aos poucos, a luz fora diminuindo de intensidade e ela viu o corpo do jovem prostrado no chão, a cabeça baixa deixava cair nos ombros e rosto seus cabelos dourados como ouro, a pele era branca como mármore e parecia reluzir como um diamante tocado pela luz, os braços eram, assim como o resto do corpo, de um atletismo invejável, Roberta nunca havia visto um homem tão desnudo daquela forma e não conseguia deixar de fitar cada músculo rígido e definido do corpo daquele deus que estava ali, diante dela.

         Seu corpo petrificara-se, ela não conseguia mover sequer o olhar daquela visão celestial diante de si, de onde ele havia surgido? Quem era?

==§§§==

         Todos os dias era igual. Ele ficava debruçado no chão de luz observando cada mortal e sua vida limitada. As guerras, o sangue derramado por tão pouco, a fé quase inexistente e em coisas inexistentes. O ser humano era ao mesmo tempo que fascinante, repugnante. Os séculos se arrastavam lentamente e nada parecia melhorar, o mundo parecia caminhar para a decadência a cada novo “deus” idolatrado, a cada nova guerra miserável, a cada nova atrocidade cometida. Ayel sabia que a vida humana era frágil e com apenas um estalar de dedos o criador poderia colocar fim a todos eles, e não conseguia entender porque em meio a tanta crueldade e falsidade que eles carregavam em seu coração ele não o fazia. Os anjos eram as criações perfeitas e incorruptíveis do criador, eles não se abalavam por emoções humanas, eles é que deveriam povoar a terra, ser amados pelo criador mais que os humanos impuros e cheios de pecados e defeitos. Desde a queda de Lúcifer, Ayel se perguntava se isso não seria injusto, embora concordasse que o agora demônio fora completamente errado em querer comparar-se ao altíssimo ele contestava o amor de Deus pelos humanos, eles eram criaturas desprezíveis, cheias de sentimentos escuros e completamente vulneráveis ao mal.

         Foi então que, certa vez, enquanto ele observava o mundo, ela destacou-se entre tantas criaturas deploráveis, desde sua infância a beleza encantadora e a doçura que enfeitiçavam enchiam os olhos do anjo de interesse e cobiça. Cobiça, um sentimento humano, como poderia ele, um membro da milícia celestial, estar sentindo algo daquela magnitude? A pureza da pequena Roberta o comovia, e enquanto ela crescia ele velava cuidadosamente cada passo que ela dava, observava a evolução do corpo escultural e o desejo o consumia cada dia mais, os cabelos negros como a escuridão que ele tanto condenava alcançavam a cintura delgada espalhando-se em cachos perfeitos, o corpo delgado ganhava formas delicadas que eram acentuadas pelos vestidos que o tornavam sedutores e atrativos, os lábios suaves, largos e parcialmente volumosos faziam-no sentir um desejo cada vez mais intenso de provar-lhe um beijo, os olhos perdidamente castanhos eram a verdadeira tentação que nem mesmo Lúcifer fora capaz de criar. O desejo de Ayel crescia com mais intensidade a cada dia e ele sabia que era terminantemente proibido qualquer anjo colocar os pés na terra a não ser invisivelmente os anjos da guarda destinados a algum humano.

- Estás enlouquecendo? – Perguntou Adonael, estarrecido diante da confissão do irmão.

- Eu preciso fazer isso e você vai me ajudar Adonael.

- Eu? Me perdoe irmão, mas não posso compactuar com tamanha insanidade! O que queres fazer é suicídio! Ir contra as leis do criador por capricho?!

- Não é capricho! Sabe o horror que ela viverá se eu não intervir?

- Para começar, nem deverias estar sentindo essas coisas, sentimentos humanos não fazem parte de nossa natureza. Que fizeste para manifestar esse desejo?!

- Não fiz nada. – Ele falou em defesa própria. – Ainda.

- Pois cuide disso sozinho. Eu não vou ajuda-lo.

- E se me atrapalhar eu mesmo vou destruí-lo!

- Esses sentimentos te cegam irmão. Não consegues ver?

- Por favor, Adonael... – Ayel suplicou. – Não me vire as costas irmão!

- Ayel... – Ele hesitou por um momento soltando um longo suspiro. – Tudo bem, terás apenas uma única chance! Vou desviar a atenção do guarda para que possas descer em segurança, mas lembra-te Ayel, dos olhos do criador ninguém escapa. Nem mesmo tu.

         O corpo de Ayel retesou, olhando novamente a situação ele sentia cada músculo do seu corpo queimar, já vira aquela cena inúmeras vezes antes, homens que violavam mulheres brutalmente, ele quase conseguia sentir o desespero, a dor do corpo sendo mutilado e rasgado por dentro sem consideração ou piedade, e depois as deixavam sangrar até morrer. Ele guiara cada passo de Lady Roberta cuidadosamente ao longo de toda sua vida, havia algo nela e ele não permitira que ela tivesse aquele fim, que sofresse aquela dor. Adonael se aproximou solicitando a presença do porteiro celestial e quando o mesmo se afastou dos portões, Ayel viu sua deixa para passar, tinha milésimos de segundo antes que Pedro o visse, tudo correu exatamente como ele planejou. Exceto a queda. O corpo do arcanjo caiu, a velocidade era de tal forma que suas vestes diluíam como se fossem de pó, as asas abriam e as penas voavam como se estivessem se desintegrando, mas ele não sentia dor, ainda não. O impacto fora intenso, a rua tremeu, a cratera ao redor de onde seu corpo caíra prostrado era enorme, mas Lady Roberta de La Croix estava lá, intacta, viva, observando-o com curiosidade e admiração.

==§§§==

         O corpo dele se ergueu, Roberta sentiu uma ponta de alívio e decepção quando viu que ele estava coberto com uma leve manta nas regiões íntimas, mas o resto do corpo estava completamente... Nu. Cada parte do corpo másculo daquela criatura divina fazia cada parte do seu corpo arder apenas de olhar, uma sensação nova e poderosa com a qual ela não estava conseguindo lidar muito bem.

- Quem sois vós, deus salvador de minha honra? – Ela perguntou, ofegante, extasiada pela emoção.

- Sou teu guardião, teu protetor, tua salvação e perdição, sou o ardente sonho que povoa tua mente. Sou teu Lady Roberta de La Croix.

         Ele falou aproximando-se dela a passos lentos, de início, Roberta sentiu um receio, mas a medida que ele ficava mais perto e ela era ofuscada pelo brilho de sua pele, pelo calor que emanava do seu corpo, o olhar tão intenso que parecia despi-la, havia algo nele que era profundamente atraente e perigosamente desejável. Ela observou mais atentamente os cabelos cor de ouro que lhe emolduravam o rosto, os olhos de um verde perigosamente intenso, os lábios cheios e macios, ela não estava entendendo nada, sua mente dava voltas enquanto os braços daquele ser celestial envolviam seu corpo:

- Que graça tenho eu para merecer de um deus o amor?

- A graça de ser a mulher que és.

         A resposta fora simples, mas suficiente para que Roberta deixa-se envolver plenamente por ele, ela fechou os olhos e sentiu o primeiro toque dos lábios, terno, suave, era como se ambos estivessem invisíveis ali no meio da noite naquela ruela francesa, eles estavam quebrando todas as regras do decoro, mas de que importava? Roberta queria senti-lo mais e mais, queria dar razão àquela loucura que a invadia internamente. Ela sentia em alguma parte do seu ser que já o conhecia, tendo ele ali tão próximo ao seu corpo ela parecia reconhecer a presença dele em outros momentos da sua vida, mas agora com o contato físico tudo tornara-se mais intenso, mais real, melhor. Ela imergiu no prazer que lhe dominou quando a língua quente invadiu sua boca explorando cada centímetro dela enchendo-a de calor, o centro do seu corpo latejou e Ayel percebeu que estava dominado por seu desejo cego, ele precisava dela e naquele momento precisava tomar uma atitude ou ia penetrá-la ali mesmo na rua.

- Eu vou soltar você – ele sussurrou no ouvido dela com a voz embargada. – Corra para casa, e deixe a janela aberta.

- Sim. – Ela sentiu os braços soltarem seu corpo e a sensação de insegurança lhe dominou.

- E Roberta... – Ele a segurou pelo pulso. – Aconteça o que acontecer, não olhe para trás.

Ela assentiu e quando a mão desprendeu o pulso que segurava ela correu sem hesitar e como ordenado não olhou para trás. Não conseguiu conter o riso enquanto o salto dos seus sapatos fazia alarde ao se chocar com o chão de pedra, porque estava se submetendo às ordens daquele estranho? Ela não sabia quem ele era ou de onde surgira, e mesmo que ele a tenha salvo de um destino cruel, isso não justificava sua atitude impensada, ela estivera prestes a entregar-se à ele. Era loucura.

==§§==

         O homem fitava Ayel com espanto, quase medo. O corpo estendido no chão e incapaz de se mover pelo peso que sentia depois de toda a bebedeira denunciou ao anjo que seria fácil lidar com ele.

- Eu observo este mundo há séculos, e já presenciei inúmeras vezes o que criaturas como você fazem com pobres e inocentes anjos indefesos, como Lady Roberta.

- O que...

- Silêncio! – A voz de Ayel ecoou fazendo a espinha do homem congelar. – Pierre Paul Le Coeur, trinta e dois anos, uma mulher, dois filhos, nove amantes e a péssima reputação de beberrão e jogador que você mascara hipocritamente durante o dia no seu “trabalho” de Conde. Eu tenho nojo de sua raça! Achas que por consequência de tua posição podes atacar assim qualquer jovem que caia em teu caminho? Fora este teu último erro mortal, prestais contas agora no inferno.

         A fúria de Ayel era implacável, ele percebeu que a intensidade de suas emoções se intensificou no momento em que seus pés tocaram a terra, o desejo, a luxúria, o ódio. Ele quebrou cada osso de Pierre lentamente, os gritos ecoavam por todos os lugares, por fim, sua mão penetrou a pele do peito e ele puxou o coração do conde para fora esmagando-o entre seus dedos.  O sangue começou a empossar embaixo do corpo inerte e o ano simplesmente levantou-se na sua calma e tendo agora sua fúria satisfeita. Ele tinha uma noite, apenas uma noite para sanar sua loucura com aquela mulher e percebera que ela o desejara tanto quanto ele a ela, mesmo sem nunca terem se visto. Apressando-se ele foi ao seu encontro, satisfazer de uma vez o desejo do seu coração.

==§§==

         Lady Roberta entrou no quarto, afobada, e tratou de anunciar que não queria ser importunada até o dia seguinte. Trancou a porta e apressou-se em abrir a janela. Quanto tempo ainda tinha? Correu até o banheiro e preparou um banho de rosas, não havia um minuto a perder, imergindo na água e sentindo a satisfação de estar limpa novamente, ela fechou os olhos e esqueceu-se do mundo, a imagem do estranho pairava em sua mente, não fosse pela intensa claridade ela poderia jurar que tinha visto asas majestosas em suas costas. Riu da sua própria insanidade, mas não conseguia deixar de lembrar de cada parte do corpo másculo, de cada pedaço firme que suas mãos tocaram, que ela sentiu apertarem seu corpo naquele abraço. Mesmo imersa na água quente, ela sentia o frio da ausência daquele corpo, nunca havia sentido aquelas sensações por ninguém nunca em sua vida. Sentiu uma sensação forte provocar um arrepio na sua pele e abriu os olhos saindo da água imediatamente. Quando chegou ao quarto viu o clarão da lua cheia penetrar pela sacada e se estender para dentro do quarto, e em pé sobre o balcão estava ele, como um anjo. Para sua surpresa, Roberta não sentiu rubor imediatamente até lembrar-se que trajava apenas uma fina camisola branca sobre o corpo molhado. Na impaciência de cobrir-se, ele a alcançou impedindo-a e tomando-a novamente em um abraço por trás sentindo os seios fartos pressionado contra seus braços torneados.

- Você...

- Shh... – Ele a impediu. – Só tenho esta noite.

- Apenas esta noite? – Ela sentiu a nota de dor em sua própria voz. – Quem é você?

- Eu a tenho protegido durante todo este tempo milady.

- E como nunca o vi?

- O fato de não vermos o amor não significa que ele não exista. E eu a amo desesperadamente e ardentemente desde que meus olhos a viram pela primeira vez. Não sabe como minha própria natureza me condena por tais sentimentos, mas sinto que se não puder vive-los neste momento terei a eternidade como tormento doloroso.

         Virando-a para ele os olhos receosos de Roberta encararam os seus, ele acariciou – lhe a face delicada sentindo que o corpo dela aprovara o estímulo, os lábios roçaram suavemente e a mão dela encaixou-se na sua nuca. Ela era tão frágil e ao mesmo tempo tão intensa que ele não conseguia conter-se, seu coração estava fora de controle, o beijo aconteceu mais intenso que antes, Ayel abaixou lentamente a camisola que envolvia o pequeno corpo dela e Roberta deixou suas defesas caírem juntamente com o tecido, as mãos envolveram as costas másculas dele sentindo cada músculo rígido novamente sobre seus dedos, ele a tomou nos braços e colocou-a sobre a cama admirando cada curva do corpo alvo, sua mão reconhecia cada parte sentindo a maciez da pele dela, ele a olhou por um momento antes de seus lábios alcançarem um dos seios, ele cobriu o outro com a mão enquanto sua língua estimulava o mamilo rígido, Roberta arfou sentia a túnica branca separando o falo rijo do seu corpo e a dor intensa no centro frágil voltou a ataca-la intensamente. Ayel sentia os estímulos provocarem cada resposta específica dela, sua mão desceu vagarosamente pela barriga lisa e seus lábios voltaram aos dela, os dedos encontraram a parte úmida do corpo delgado e afastaram suas pernas penetrando-a com eles, ela arqueou-se em resposta enquanto os dois dedos ágeis estimulavam, ele tentava ir devagar e prepara-la para que não machucasse no momento em que a penetrasse. Roberta apertou o lençol com força e soltou um gemido baixo, Ayel sentiu que ela estava pronta para explodir e com cuidado posicionou o falo rijo no centro úmido, o beijo ardente calou o gemido de dor que ela proferiu no instante que sentiu-se invadida.

         O corpo de Ayel fora tomado por uma força nunca antes imaginada, dentro de Roberta ele sentia um prazer e um amor nunca antes imaginado, ela arfava e gemia baixo enquanto ele movia-se cada vez mais intensamente no seu corpo, a devoção que ele sentia por ela era cada vez mais intensa, ele a protegeria de qualquer coisa, ela tornava-se o centro do seu universo assim como antes de ele a ter tocado, quando a observava do alto das nuvens. Roberta sentia-se completa, nunca imaginara que pudesse haver tamanha satisfação igual aquela, um prazer intenso e inexplicável como o que ela sentia enquanto Ayel movia-se oscilando dentro do seu corpo, um calor intenso e uma sensação de volúpia que aumentava gradativamente ao ponto de faze-la sentir que ia explodir. Quando finalmente ela sentiu seu corpo retesar e algo quente dentro do seu corpo, o suor dominava-lhe cada parte misturando-se ao suor dele, Ayel a beijou demoradamente antes de sair do corpo dela devagar. Roberta sentiu-se extasiada e imensamente feliz, ele a envolveu em seus braços beijando-lhe carinhosamente a cabeça.

- Eu a amo. – Ele falou simplesmente.

- Não entendo nada, mas sinto que o amo também... Que sempre amei.

- Eu passei tanto tempo olhando e protegendo você...

- Porque não pode ficar?

- Meu lugar não é aqui, meu amor...

- E onde é?

- Vigiando você, das nuvens. – O sorriso no rosto dele era triste. Não queria deixa-la, não depois de ter vivido aquela experiência única de perder-se e encontrar-se dentro dela.

- Nunca mais vou vê-lo?

- Nunca é um tempo muito longo para vocês, mortais... Para mim, podem ser o equivalente a minutos terrenos. Eu voltarei por você, lhe dou minha palavra.

         Mas ele não cumpriria aquela promessa... Nunca. Antes mesmo de voltar ao céu um dos irmãos de Ayel foi enviado ao seu encontro. Ele ainda estava no quarto de Lady Roberta, velando seu sono, quando Miguel apareceu em sua frente. Sua cabeça balançou em sinal de reprovação à conduta do irmão.

- Que estás fazendo aqui? – Ayel perguntou surpreso.

- Esta deveria ser minha pergunta. Como pudeste cometer tal crime irmão?

- E se toda a criatura é feita para amar, então seria este meu crime?

- Tu vens comigo. Agora. Terás ainda uma segunda chance, tua última.

Ayel levantou-se com pesar diante da ordem do irmão mais velho, seu coração desejava ficar ao lado de Roberta, amá-la novamente e novamente pelo resto de sua existência. Quando aproximou-se de Miguel, suas mãos foram atadas com as correntes da justiça.

- Sinto muito por isto.

Ele falou simplesmente quando a lança de Miguel penetrou o peito desnudo de Roberta que abriu os olhos sufocando e logo calou-se. Sua alma fora aprisionada em uma redoma de luz cinzenta e Ayel sabia que ela padeceria no purgatório pela eternidade. O corpo sangrando nu sobre a cama sem que o anjo pudesse protestar ou mesmo intervir encheu Ayel de revolta e dor. Ele havia planejado a vida ao lado dela, planejado um acordo no céu, desistiria de sua condição, desistiria do que fosse preciso por ela. Agora tudo estava acabado.

- Que tem Adonael a ver com isto?

- Ele também fora punido por ajuda-lo nesta vergonha! E agora encararás teu castigo.

- Serei mandado ao inferno. E de que me importaria agora? Acabaste de ceifar a vida dela. A minha vida.

- Não diga tolices! Já basta o que fizestes!

         Ayel abaixou a cabeça ciente de sua culpa na morte prematura de Lady Roberta, ela tinha toda uma vida pela frente e agora por sua culpa tudo estava acabado. Ele sabia de todas as implicações de amar uma mortal, eles não foram criados para amar nada além de seu criador, a morte dela havia sido a menor de suas consequências, porém, a mais dolorosa. Daquele segundo em diante, olhando o corpo inerte de sua única paixão verdadeira, Ayel jurara a si mesmo nunca mais se permitir amar ninguém enquanto existisse, no céu, na terra ou no inferno.

==§§==

         Gabriel, Miguel, Adonael e o criador, envolto em luz, estavam ali diante de Ayel exatos três dias após ele ter sido trazido para a terra. Ele já havia descartado a possibilidade de ser mandado para o fogo eterno, e agora já não importava mais sua sentença, ele não teria mais a doce Lady Roberta. Seu rancor por Miguel tê-la matado, por Adonael tê-lo entregue e por seu criador tê-lo castigado daquela forma eram intensos em seu coração.

- Tu não és mais a criatura perfeita que criei, Ayel.  Teu coração está repleto de emoções corrompidas que te tornam inadequado para o lugar que a ti destinei. Há algo que queiras argumentar em tua defesa?

Ayel permaneceu calado.

- Muito bem, volta a teu posto, nada te farei além de alertar-te que estás proibido de ver a terra ou mesmo de ultrapassar os portões da vida novamente. Não darei novamente nenhum aviso, cumpres o dever que te fora destinado na criação e abandona dentro de ti estes sentimentos que revestem teu ser de escuridão.

         E assim os dias de Ayel se seguiram, ele não via mais razão para existir e a alma de Lady Roberta ainda presa no purgatório lhe magoava ainda mais profundamente. Os séculos passaram lentamente e Adonael fora designado para proteger uma humana chamada Renée. Ayel vira ali a oportunidade esperada para vingar-se, ele cairia, mas aquele cuja primeira culpa recaía a morte de sua amada, cairia com ele pela eternidade.


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Notas finais do capítulo

E então? Como ficou? Gostaram? não gostaram? Comentem por favor.
Beijos faadinhas, até a volta!



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