Dinho fica nervoso, mas decide que Lia não tem nada haver com sua vida pessoal.

Dinho: Desculpa, mas a partir de que momento você passou a fazer parte da minha vida pessoal?

Lia: A partir do momento que eu fiquei completamente apaixonada por você, quando você passou a existir dentro de mim, quando eu passava noites em claras pensando em você e quando dois de cada três pensamentos meu era para você.

Dinho: ...

Ela vai se aproximando lentamente dele e começa a acariciar seu rosto.

Lia: Me deixa eu te ajudar, desabafa comigo vai, eu prometo que eu não conto nada para ninguém do que você me falar aqui.

Dinho: Ta bom eu te falo, é o único jeito pra você me deixar em paz. Deixa eu falar logo antes que eu me arrependa.

Dinho: Tudo começou quando minha família teve que se mudar do Rio para São Paulo. Na época eu devia ter uns doze anos. Meu primeiro dia de aula foi meio tenso já que todos os alunos ficavam comentando e falando sobre mim, eu me lembro que tinha um garoto filho de um mecânico que de cara começou a implicar comigo, eu não era muito de digamos “levar desaforo pra casa”. Então nós começamos uma discurção feia inclusive logo em seguida saímos no tapa, e ele levou a pior, ele ficou com muita raiva. Na época nós fomos expulsos, e antes de ir embora ele disse que eu iria pagar muito caro por aquilo. Eu não dei muita atenção, mas depois começou a surgir uns boatos na escola de que o pai dele era um traficante. Dia depois a nossa casa foi invadida por alguns bandidos e entre eles estava o garoto, seu irmão e seu pai. O pai dele estava armado ameaçando meu pai. Por sorte a empregada conseguiu ligar para a policia sem que os bandidos percebessem. Quando a policia chegou eles se apavoraram e o pai do garoto mandou todo mundo correr, fugir, mas antes de sair o garoto atirou em minha direção. Eles conseguiram fugir. Porém o tiro pegou no meu peito esquerdo. Eu fiquei em estado vegetativo por três meses em um hospital em São Paulo. Depois foi transferido para a Espanha onde teria um melhor atendimento, ainda passei dois meses na UTI. Desde então eu fiquei com um trauma de armas, até hoje eu ainda tenha a cicatriz da marca do tiro.

Ele fez uma pequena pausa.

Lia: Uau. Mas até agora eu ainda não entende que garota você magoou nessa historia toda.

Dinho: Três anos depois, eu já tinha quinze anos. Era um típico pegador usava e jogava fora todas as garotas. Aí eu conheci uma garota que mudou completamente minha vida, eu era louco, completamente apaixonado por ele. Uma noite a gente ficou e tudo mais. Eu não quis admitir o que eu sentia, sempre a maltratei, a humilhei na frente de todos, só que quando não a tinha ninguém olhando eu ficava com ela, jurando amor, dizendo que eu ia mudar, só a iludindo. Eu comecei a perceber que ela andava meio estranha... Simplesmente da nada ela... Ela morreu- Dinho já chorava a essa altura- Ela tinha câncer. Engraçado dias antes de isso acontecer ela tinha me pedido uma coisa... Meu amor. E eu a neguei. Disse pra ela sumir da minha vida... e ela foi. Infelizmente a gente não pode voltar no tempo e concertar o que a gente fez de errado. Apesar de tudo eu amava ela, nunca queria que isso tivesse acontecido. E eu me sinto culpado...

Ele ia se levantando para ir embora, mas Lia pegou em sua mão fazendo ele olhar para traz.

Lia: Você não teve culpa.

Dinho: Sabe você foi a única pessoa que eu consegui contar isso.

Dito isso Lia abraça e ele aceita o abraço.