Riesen Goliath escrita por Zateno
Notas iniciais do capítulo
Agradeço aos estudios Sony pela música dos elfos e duendes
Às margens de um penhasco coberto pelo manto amarelado da relva seca, a brisa carregava o odor putrefato do corpo de um Krieg em decomposição. O aroma fétido parecia se intensificar conforme o tempo passava. Carniça, podre carniça mefítica.
Uma área de cerca de vinte quilômetros quadrados estava tomada por esse odor, e foi essa a recepção que Christ teve ao despertar.
Suas pálpebras pesavam como chumbo, seu corpo se encontrava entorpecido. A boca, numa quebra de expectativas, estava úmida graças ao negro sangue. Os fios ruivos de seu cabelo lhe tapavam a face, que em uma feição de dor implorava por apenas uma pessoa. Uma baixinha de cabelos castanhos, pouco referida como Princesa de Midgard.
Os dedos, ao recuperarem o movimento, deslizavam pelo cabo de Frieden. A pele de seu indicador direito suavemente ia se cortando ao toque do fio da lâmina, que abria caminho para o sangue negro lentamente fugir do dedo.
Novamente a cor vinho, dada pelos glóbulos retornou.
–Paga-pau! – Christ se ergue gritando. –Não, não, o que foi isso? – Resmunga ao tirar o cabelo já sujo do rosto. Sua cabeça parecia presa em um elástico, suas têmporas, profundas.
Reparou em seu próprio corpo e estava com o peito exposto, a camisa preta, rasgada e surrada estava presa em um galho da floresta, agora abaixo do penhasco.
–Fez merda, não é mesmo, moleque? – Uma voz rouca questiona docemente.
O homem tinha o cabelo grisalho, demasiadamente longo e ao mesmo tempo curto por estar mal cortado, uma barba rala, supostamente cortada para ser grande, mas falha. Galhos e ossos prendiam um pequeno rabo de cavalo por cima do penteado, o que combinava com a face magra e ossuda.
–Ótimo, um coroa. – Christ sussurra. – Grande destino.
O homem parou de esfregar as roupas em uma bacia d’água e virou para o baixinho. Seus olhos possuíam as cores mortas mais belas que Christ já vira, e o brilho de seu olhar? O brilho de um pai.
–O que veio fazer por aqui, Christ? – O homem caminha até o garoto. Usava uma túnica improvisada com uma pelugem branca, já amarelada, revestida de manchas, mas com o cheiro ótimo. – Aqui não é lugar para garotos. Isso me inclui, sabe como é, né – Sorri. Dentes perfeitos.
Christ inicialmente estranha a atitude do homem, mas acaba cedendo:
– Já estou afundado até o pescoço na merda mesmo... Como sabe meu nome, velho?
O homem de cabelos grisalhos estende o braço, oferecendo um pedaço de pano ao ruivo. Um poncho. Christ veste-o. Esverdeado e escuro, pequenas imagens feitas à mão. O símbolo de afeto do senhor ao assinar “Bale”.
–Prazer, meu nome é Jared.
–O Pioneiro?!
–O seu primo de segundo grau.
Christ ficou cerca de noventa segundos encarando aquele olhar. Lágrimas começaram a enturvecer sua visão e então ele vestiu a roupa. Cabia perfeitamente.
O ruivo contou toda a situação para seu primo, que atenciosamente ouviu enquanto comiam um prato de uma sopa estranha, batizada pelo próprio mestre-cuca de “sopa de meleca”, por ser bem mole.
–Ouve aqui garoto, o homem que bota a bunda gorda naquele trono há de fazer qualquer coisa para eliminar a oposição – ele tenta avisar o que seu primo já sabe.
–Jared, era eu quem continha o lorde bumbum mole – retruca – mas agora, veja onde estou. Tenho medo do que esse homem pode fazer, as pessoas são cegas, demasiadamente cegas.
Poucas semanas passam e apenas frases de bom dia são ditas, quando em uma noite, Christ levanta chorando.
O velho se levanta, ajeita a robe, prende o cabelo desgrenhado em um estranho rabo de cavalo e sorri.
–Você ainda é puro, não é mesmo?
–Está perguntando se eu já... – Christ faz movimentos obscenos com as mãos, ficando tão vermelho quanto seu próprio cabelo, mas com um sorriso concupiscente no rosto.
–Claro que não, moleque safado! – Jared ri. – Estou falando dos Kriege. Você não os enfrentou não é mesmo? Por favor, diga que não manchou sua alma com aquele sangue.
Christ repara nos olhos de seu primo e vê a esperança de um homem de bem, um homem injustiçado. Levanta o manto dado por Jared e lhe mostra a marca cravada em seu braço.
–Vê? Eu não posso fazer nada além disso, apostei todas as minhas fichas no que fiz quando me encontrou. Eu preciso dela, Jared.
–Entendo. – Ele estende a mão direita ao Christ e sugere uma volta pelos arredores.
Duas gerações dos Bale caminharam quietos penhasco abaixo, cantarolando e cantando uma ou duas canções de Uppgard, saudosos do lado bom da vida:
–Era uma vez um elfo encantado que morava num pé de caqui.
–Em cima morava um duende safado, que vivia fazendo pipi!
–Então o elfo se aborreceu e na porta do duende bateu...
–Foi nesta ocasião que eles então se casaram!
Ambos caem na gargalhada, oferecendo ao esplendoroso terror de Null um feixe de alegria e esperança. Rolam pela relva amarelada, pegam galhos e pedras do chão, prendem com cordas e cipós e fazem uma pequena guerra entre eles:
–Na cabeça são dois pontos! – Christ grita e logo após recebe uma pequena pedra na têmpora.
–Panaca!
O ruivo se escondeu em um rio enquanto Jared ficava por entre as árvores, acima de seu primo, apenas observando. Quando o baixinho tirou a cabeça d’água, o velho saltou:
–A voar!
Ao tocar a água, uma terceira voz, metálica, ri. Aqueles olhos cintilantes e imensos os encaravam. O segundo Krieg.
Por entre as árvores da outra borda do rio, um corpo de cerca de sessenta metros se erguia, robusto e amedrontador. Bastou a risada para assustar os dois homens, e a visão de seu corpo os pôs a correr.
–O último a chegar em casa é mulher do duende safado! – Desafia Christ.
–Isso não é hora, garoto.
Suados e assustados, apenas pegaram o necessário para enfrentar um Krieg: Frieden e um arco curto, que Jared jurava funcionar.
Correram em direções opostas, obrigando o Krieg a decidir, e nesse tempo, puderam observá-lo bem. Possuía uma pequena cauda, como de uma tartaruga e era levemente corcunda. A base de suas quatro patas curtas pareciam estar em carne viva e sua cabeça era enorme, com uma juba verde enegrecida na frente do rosto rochoso, marcado por dois rubis oculares.
Mais uma risada é dada pelo Krieg ao esmagar a bacia de roupas sujas de Jared e virar na direção do mesmo.
O velho pegou uma flecha da aljava improvisada de madeira e em um golpe de sorte atirou na perna direita da tartaruga, que ligeiramente se curvou. Ele olhou para Christ, que assentiu com a cabeça do outro lado do terreno.
O ruivo correu para dentro da mata e aguardou o sinal do seu primo por entre as árvores.
Uma flecha. Duas. Sete.
Jared conseguiu estontear completamente o Krieg, e berrou:
–Agora! – O velho corre para debaixo de troncos em decomposição se protegendo de qualquer risco, e por uma freta observa Christ. O garoto era genial.
Correndo pelas árvores, conseguiu se segurar em um cipó e cair na pata inferior direita da tartaruga, e com Frieden arrebentou seu tendão de Aquiles, levando um banho de sangue colossal. O Krieg cedeu mais, tombando para sua lateral direita, acompanhado de um berro gutural humano.
–Não, garoto... –Jared pôde observar a face de Christ. Marcas negras brotavam de seu rosto como tatuagens, formando uma mandala similar à dos Kriege. O garoto segurou no casco do animal, percorreu todo o seu corpo até poder agarrar-lhe a juba. Saltou.
Por entre os pelos, uma luz azulada combatia o brilho vermelho dos olhos. Era o ponto fraco.
–Traga-me Megan! –Ele grita ao abrir a cabeça do Krieg, adentrar seu cérebro e o estraçalhar, arrebentar cada pedacinho do sistema nervoso. –Traga-me Megan!
O gigante rola quando seu ceifador atinge seu cérebro, urrando com sua voz metálica, removendo troncos e mais troncos do solo até se erguer e tombar em direção ao tronco decomposto de Jared, que correu desesperadamente para longe.
Mais um Krieg morto.
Jared foi até a cabeça da tartaruga-leão, aumentou a abertura de sua cabeça e viu um corpo desacordado, sem mais marcas no rosto. Removeu a massa encefálica que obstruía a passagem e retirou o corpo de seu primo. Tão pequeno, tão frágil. Tão injustiçado.
Ele limpa os olhos imundos de sangue e massa encefálica e calmamente apoia a cabeça do ruivo em seu colo.
–Me desculpe garoto, me desculpe.
Da abertura putrefata da cabeça do Krieg, as sombras negras novamente correm.
–Puta que o pariu, isso não aconteceu com o Ton. –O velho tenta correr com Christ nos braços, mas não é veloz e forte o suficiente, conseguindo apenas virar as costas para proteger seu primo.
Seu peito é atravessado, a visão obscurecida.
–Caqui...
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Espero que esteja bom :3