O Ateliê escrita por saoren


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Bom, pessoas, finalmente eu consegui escrever um capítulo grande e satisfatório, para quem gosta de ler longos, espero que gostem e desculpem se ficou muito grande.



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Prólogo - 2013

– Gosto de vir para cá, me sinto livre, posso correr, posso me esconder, posso embrenhar-me na floresta e ainda saber onde estou, diferente da cidade, que ando pela mesma todos os dias e ainda sou capaz de perder-me.

Capítulo

As três horas seguintes, para Caroline, seriam uma tortura, a ansiedade e a saudade de chegar na casa da avó aumentavam a cada vez que a menina pensava em seus cantos favoritos daquela casa.

Talvez ela estivesse lendo demais coisas dos séculos passados e misturando tudo em sua cabeça, na verdade, era até legal. Mas era tão importante sentar-se naquele monte pedras que dava vista para o rio corrente, com todas aquelas plantas primitivas ou escalar a árvore de frente para a varanda da avó e sentir-se no topo do mundo ou até mesmo naquele velho ateliê que ninguém mais entrava porque tinham medo de pegar alguma doença.

O lugar era até aconchegante, com um vitral em meia-lua que refletia a luz do sol de forma tão graciosa e sombria, iluminando o cômodo pela metade, e mesmo de frente, havia um quadro inacabado que começava a se deteriorar em meio à poeira.

Quando chegou, Caroline foi direto falar com a avó, subiu para arrumar suas coisas, diga-se jogar suas bolsas na cama e despedir-se de seus pais, que viajariam o final de semana todo.

– Comporte-se. Nos veremos na segunda-feira. – comentou a mãe ao seu ouvido.

– Mãe, não me ligue, está bem?

A mãe sabia que Caroline não gostava de tecnologia quando ia para o interior. Ela achava que poderia sobreviver sem isso quando estava com seus livros, sua árvore e seu ateliê com seu quadro inacabado.

Assim que saíram os pais, a avó foi para a cozinha.

– Vovó, estou aqui na frente, me chame se precisar de algo, está bem?

No tempo que levou para escalar o sabugueiro, conseguiu, pelo menos, três arranhões pelas pernas e quase caiu quando um galho ameaçou partir-se.

– Ótimo jeito de começar uma escalada, que saudade – falou ela para si, ironicamente.

– Sabe, esse galho devia ter se partido quando você ainda estava nele – falou Augusto, sorrindo -, adoraria te ver quebrar um braço.

Os dois se conheceram ainda pequenos e quase sempre se encontravam quando ela chegava para ficar com a avó. Ele era a única companhia que ela gostava de ter por perto além da avó ali.

– Ficaria feliz em quebrar o braço se o galho caísse na sua cabeça. – os dois riram enquanto ele começava a escalar também -, sabe aqueles cogumelos venenosos do outro lado do rio? Vou mandar minha avó picá-los e colocá-los no seu almoço.

– Já ouviu falar que vaso ruim não quebra fácil? – Augusto falou quando se sentou próximo de Caroline – É lindo, não é?

– É, paraíso existe mesmo – e começou a cantarolar Paradise, de Coldplay.

– Escuta, Caroline, tenho que te contar uma coisa. Eu recebi uma notícia, mas não está nada confirmado ainda.

– Conta, então - Augusto estava tão nervoso que suspirou de alívio quando ouviu a voz da avó de Caroline -, mas depois do almoço.

Ele orava rigoroso para que ela esquecesse o assunto por hora.

Na ida ao ateliê, tocava uma música no celular de Augusto, os dois pareciam ter um vício de toda vez que estavam juntos escutarem Coldplay. A medida que The Hardest Part se desenrolava, Augusto tomava coragem para contar de vez sua notícia.

– Caroline? O que você faria se ganhasse uma oportunidade única? Iria até ela ou ficaria na esperança de uma outra?

– Depende de qual decisão eu teria de tomar. O que estaria deixando para trás. Por quê?

– Ontem eu recebi um convite de uma empresa multinacional por causa de uma redação e um pessoal que cuida da parte administrativa quer me levar para a Itália e que eu more e termine os estudos lá também.

A reação de Caroline foi tão indelicada que o amigo chegou até a se assustar:

– Como assim? Você vai me abandonar, Augusto? Sabia que você é uma das duas razões de eu sair da minha casa e vir para cá?

Augusto ficou sem palavras diante do que Caroline falou. "Como ela é linda. Até com raiva. De mim.", mas logo em seguida ele entendia também que havia certo egoísmo nas palavras dela.

– Eu tinha medo dessa atitude sua, Caro. De verdade - ele replicou enquanto via a menina se trancar e ficar carrancuda.

Daquele momento em diante, Caroline se esforçou para não chorar ou falar com Augusto.

– Acho que está na hora de descer e ir para a biblioteca um pouco.

– Ah, não, Caro. Eu já te conheço. Você vai passar a tarde toda naquele lugar morfado, sem falar até com sua avó. Não faz isso.

– Hm, pelo menos não vou deixá-la só e ir para a Itália. Não venha mais aqui, está bem? - e assim desceu, indo em direção à entrada da casa.

Na verdade, ela não foi até a biblioteca, foi para o ateliê pelos fundos da casa. Lá ficou o resto do dia. Não sentiu fome ou vontade de falar ou de sequer mover-se. O tempo passava e Caroline sentiu o clima esfriar e escutou sua avó chamá-la.

Mudou a fisionomia para que a mesma não notasse que havia algo de errado. Mas por que ela ficou tão chateada por seu melhor amigo poder ter uma vida melhor? Ela sabia a resposta, mas não conseguia admitir para si. Talvez... talvez ela realmente gostasse dele. Não, não "gostasse", amasse. Essa era a resposta certa e como num daqueles momentos de pânico, Caroline sentiu uma súbita falta de ar, o coração bombeava mais rápido, a respiração acelerou e o som de seu sangue era audível. Seu rosto corou, e, mesmo no escuro do quarto, Caroline teve seu insight .

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Faltando apenas dois dias para Augusto partir, Caroline sentia a vontade de falar com ele aumentar, explicar tudo que sentia e por fim, não menos importante, se desculpar com ele.

No sábado, sua avó ficou sabendo sobre o ocorrido e concordou, relutante, em atender todas as ligações de Augusto, dando desculpas ao rapaz de que a neta não se sentia bem ou não podia falar, pois estava no banho e outras coisas sem pé nem cabeça.

Sem conseguir ficar mais tempo longe dela, Augusto decidiu que, mesmo que não quisesse, Caroline teria de ouvi-lo até a última palavra sem interrompê-lo. Se preciso fosse sequestraria a garota por alguns momentos e falaria. No fim das contas, não foi nem necessário: Caro se encontrava naquele ateliê sujo e empoeirado, escutando Swallowed In The Sea, também do Coldplay. Ele sentia falta de escutar as músicas da banda naquele rádio velho.

Compartilharam bons momentos ali, como na vez o primo chato dele foi lá também e não parava de falar a coleção de quadros que os pais dos amigos tinham. Ele se gabava por qualquer coisa e os dois decidiram colocar cola no sapato dele para que grudasse na meia e ele ficasse um pouco desesperado, porque ele pirava por qualquer coisa também.

Augusto respirou fundo e chamou.

– Caroline - ela não respondeu e, assim, ele rumou para a cadeira de balanço em que ela estava.

– Caro. Preciso falar. Preciso ser ouvido e mesmo que você finja não se importar, eu sei que se importa, porque você é minha amiga. A única.

Uma lágrima seca, um choro silencioso sucedeu as palavras do rapaz e de repente Caroline não conseguia parar de soluçar.

– Ah, Caro, por que você não entende? Eu preciso ir. Não quero te deixar, deixar nossa amizade, nossas memórias nesse lugar. Eu nunca saí daqui e essa é minha oportunidade e a gente ainda vai se encontrar, eu sei que vai. Eu passei o dia anterior todo pensando em como te dizer isso. Eu te amo, Caroline. Você é uma das coisas boas na minha vida que não vai se perder nunca - ele falou, já de joelhos, segurando a mão dela que descansava no braço da cadeira.

Pareceu até que, com essas palavras, ela acordou daquele devaneio e mirou Augusto nos olhos, como se quisesse comprovar que tudo que ele havia dito era verdade, e era.

– Ah, Augusto, você não sabe o quanto eu tentei negar isso ontem. Eu não tive coragem de te ligar ou ir na sua casa, e eu ia deixar passar a oportunidade de te ver pela última vez aqui e te confessar isso - o choro silencioso se tornou um som caótico que saía da boca dela.

Ele se levantou e a pegou pela cintura, abraçando-a forte. Augusto gostava de abraços, aqueles que significavam afeto, carinho, amor. Segurou-a bem perto e chorou também.

– Eu te amo tanto, tanto, Augusto! E só ontem eu vim perceber isso, como eu sou estúpida!

– Shhh - ele sinalizou silêncio com o dedo indicador nos lábios dela - Não é, não. Nós não sabíamos, mas sentíamos, Caro.

E assim, Augusto e Caroline se beijaram. Algo que beirava a insegurança e a surpresa. Insegurança por nenhum dos dois nunca terem feito aquilo antes, e surpresa porque parecia algo surreal.

Nada de línguas nervosas, apenas o pressionar de lábios, a maciez e quentura da boca do outro. A calmaria do ambiente antigo dava um ar de inocência a tudo. E lá naquele rádio velho tocava o refrão da música:

And I could write a song

A hundred miles long

Well that's where I belong

And you belong with me

Not swallowed in the sea...

Os dois se separaram e se olharam, com a respiração ofegante, para logo depois juntarem as testas e dançarem calmamente, com a luz do vitral de meia-lua iluminando o recinto com um ar sagrado, ao som dos rouxinois e cotovias, que por obra da natureza, foram enviados para ali para celebrar o momento.

Epílogo - 2057

Augusto e eu não havíamos nos encontrados mais, nem enviamos fotos e, com o tempo, paramos de enviar mensagens um ao outro. Quarenta e quatro anos se passaram e eu jamais esquecerei aquele dia.

Minha avó já foi para junto de seu companheiro há muito, e há muito também sou viúva. Meus filhos se mudaram com meus netos e hoje prefiro permanecer comigo mesma.

Augusto foi e sempre será meu primeiro amor, e em alguns dias nos veremos de novo. Ele conseguiu me encontrar, não sei como, e enviou-me uma carta avisando que não via a hora de nos reencontrarmos e sermos realmente felizes agora.

Não pude nem negar que queria isso, pois ver meu Augusto é sempre um prazer imenso. Tudo que respondi na minha carta em resposta foi "Eu te amo tanto, tanto, Augusto!"


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Notas finais do capítulo

Eu comecei esse trabalho em março desse ano, fiquei sem ideias e parei, daí eu tava olhando me pc aqui, encontrei e consegui terminar. Gostaram?



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