Tudo aconteceu rápido, rápido demais. Em um instante estávamos alegres e risonhos e, no outro, eu já não conseguia assimilar quase nada. No curto e abrupto momento da colisão, cacos de vidro quebraram estridentes e espalharam-se dentro da van como espinhos e a porta, que foi atingida por alguma coisa, agora parecia querer se soltar a qualquer momento. Olhei para o chão e vi que estávamos sobre o que restava das janelas. A van tinha tombado de lado e, mesmo com o cinto de segurança, muitos de nós - inclusive eu - fomos jogados para o lado pelo impacto do acidente.

Tentei me mexer para alcançar a Laís, que estava inconsciente há poucos centímetros de mim, mas meu braço esquerdo e principalmente meu ombro estavam com uma dor insuportável. Eu queria gritar ou falar qualquer coisa, contudo, meu corpo inteiro estava em colapso. Senti como se tivesse sido cortada em pedaços. Não houve gritos depois disso, nem o som de pessoas se levantando. Estávamos vivos, só que ao mesmo tempo mortos, congelados do tempo.

Algo latejava dentro de mim, roubando minhas forças como se quisesse devorá-las até o fim. Quanto mais lutava para manter os olhos abertos, mais as imagens à minha volta ficavam translúcidas. Alguma coisa parecia me chamar, buscando me levar para outro lugar. E foi assim até que, sem forças, fechei os olhos, mergulhando na escuridão.

***

Abri os olhos lentamente. Tentei me mexer, mas meus braços não me obedeceram. Todo o meu corpo doía.

–Ela acordou - ouvi uma voz doce e familiar dizer.

Meus pais entraram em meu campo de visão e vieram para meu lado. Minha mãe estava chorando e soluçando alto enquanto que meu pai tinha os olhos vermelhos e cansados.

–Mãe, pai... - comecei, mesmo percebendo minha voz sumir aos poucos - o que aconteceu? Cadê todo mundo?

Eles desviaram o olhar.

–O que aconteceu? - perguntei novamente, já sentindo uma escuridão a se espalhar dentro de mim.

–Gabi! - uma nova voz exclamou, chegando aguda em meus ouvidos.

Passos ansiosos anunciaram a aproximação de alguém.

Era Laís. Ela não me olhou nos olhos, só pegou minha mão e a apertou, como se quisesse me dizer algo. Tentei sorrir para ela, porém aquele aperto parecia ser algo que não merecia sorisso nenhum.

–Laís... o que aconteceu? – repeti, deixando o medo tomar conta da minha voz - Por favor, me diga.

Ela não falou nada, mas eu vi o tremor, o desespero a tomar conta do corpo dela. Mas não era somente ela. Eram todos. Tudo ao redor deles mostrava que algo estava errado, muito errado.

Senti Laís apertar novamente minha mão.

–Não adianta ficar escondendo isso – os olhos dela me fitaram escuros, num aviso antes do pesadelo - Ela precisa saber.