Volta Pra Mim! escrita por Capitã Sparrow


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá o/
Não tenho o que falar...
Então... Bora ler o/
kkk
XOXO



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O pastor falava para um grande grupo de pessoas. Todos vestiam preto e podia-se ver uma grande dor em seus olhos. Uma mulher estava mais a frente, e o pastor falava olhando pra ela. Doces palavras tentando acalmar o pobre coração de uma mãe que sofre sem seu filho. A mãe estava extremamente pálida e chorava incansavelmente. Seus olhos negros não tinham brilho algum. Estavam avermelhados e ardiam, mas ela não parava de chorar.

A mãe olhou para os lados, mas tudo que via era morte.

Sua visão estava turva pelas lágrimas que não se cansavam de cair, e ela não sentia mais vontade de segurar o guarda-chuva.

Ela fechou os olhos e levantou a cabeça em direção ao céu. Os primeiros pingos gelados tocam sua pele e se misturam com suas lágrimas quentes.

Uma garota se aproxima da mãe oferecendo seu pequeno guarda-chuva. Ela recusou.

Seu filho adorava brincar na chuva quando pequeno. Saltava entre as poças e corria em meio à chuva deixando a mãe furiosa por uma febre que poderia acontecer.

Seus hábitos não mudaram mesmo com o passar dos anos. Peter amava a chuva. Sentia-se acolhido por ela. E a mãe sempre se preocupava com seu filho que poderia acabar doente.

Mas não fora uma febre que matara seu filho. Foi ela. E, culpava-se constantemente.

Seu amado filho estava morto.

E a chuva viera se despedir de um companheiro de longas datas.

O pastor terminou de falar e começaram a baixar o caixão. A mãe se aproxima devagar e grita para o filho que não pode mais ouvi-la.

— Volta pra mim! Voltaaa!!!

Ela cai de joelhos chorando descontrolada.

O pastor gentilmente a abraça:

— Ele está apenas dormindo.

— Foi minha culpa! – a mãe soluça nos braços do pastor que tenta acalmá-la.

— Não se culpe criança. Não foi sua culpa.

***

Peter, apesar dos 25 anos, ainda amava a chuva. Adorava pegar a moto e sentir as gotas geladas contra sua pele. Tinha a sensação de liberdade. De ser capaz de qualquer coisa.

Era uma tarde chuvosa e Peter acabara de chegar em casa. Seus cabelos pretos estavam totalmente molhados e seus olhos verdes brilhavam alegres. Usava uma jaqueta preta de couro e calça jeans. Estava ensopado.

— Filho! Você vai pegar um resfriado!

— Eu to bem mãe. – disse com algumas risadas carinhosas, diante a preocupação da mãe. – Essa chuvinha não vai fazer nada. – se inclinou para abraçá-la.

Norah não resistia a esse abraço do filho. Não se importava com o fato dele estar completamente molhado. Ele sempre conseguia o que queria desse jeito. O modo como ele colocava todo seu amor e carinho em um abraço... Sentia-se sortuda por ter o melhor filho do mundo.

— Você joga sujo! – disse a mãe, se desvencilhando do abraço e, começando a rir – E realmente está uma sujeira! – riu ainda mais diante do estado do filho – Vai logo tomar uma banho quente e tirar essas roupas molhadas.

Peter sorriu e começou a subir as escadas, obediente.

— Ah! Mãe?

— O que? – Norah virou-se para encará-lo novamente.

Ele pulou em cima da mãe, quase a derrubando no chão.

— Filho! Você quase me derrubou! – disse em tom repreensivo.

— Eu nunca te deixaria cair, mãe. Nunca deixaria que se machucasse.

— Eu sei Peter. – sorriu carinhosa. – Agora pare de enrolar! Já para o banho! – disse rindo.

— Ok, ok. To indo.

A mãe ficou na cozinha. Estava terminando a torta de pêssego que o filho tanto gostava. Assim como Cristopher, seu marido. Norah sacudiu a cabeça tentando espantar tais pensamentos.

“Ex-marido.” Corrigia-se.

Peter tinha apenas 4 anos quando seu pai fugiu com a vocalista da banda em que tocava. Depois disso, nunca mais ouviu falar de Cristopher. Ela era apaixonada por ele. E sofreu muito. Mas manteve-se forte pelo filho. Passou a odiá-lo por tê-la abandonado. Mas odiava-o principalmente por deixar Peter crescer sem pai.

Passou a culpar a música. E, embora tivesse sido uma grande pianista, abandonou a carreira e desistiu da música. Nunca mais tocou.

Mas, agora, Peter seguia o caminho do pai. Queria ser guitarrista.

E Norah temia. Temia ser abandonada novamente. Tinha medo da solidão.

Sempre se manteve forte pelo filho. Mas tinha a alma frágil. Prestes a se despedaçar. Peter dava forças a ela. Forças pra continuar. Ela não suportaria perdê-lo também.

***

O dia seguinte amanheceu nublado. E a chuva começou forte e impiedosa logo no começo da tarde.

E, como sempre, Peter iria sair. Só que dessa vez ele iria para o ensaio da banda. Peter amava a música, mas sempre tomara cuidado, pois esse assunto afetava a mãe. Ela não aceitava que ele fizesse faculdade de música. Queria que ele fizesse qualquer outra coisa.

Ele se lembrava de sua mãe tocando piano quando era pequeno. Sonhava em ser um grande músico, assim como ela tinha sido. Ele queria que ela superasse seu pai e voltasse a tocar.

Todo aniversário, Norah perguntava o que ele queria de presente, e desde pequeno só tinha uma resposta.

“Eu quero que volte a tocar, mamãe.”

Faltava apenas uma semana para seu aniversário. E ele sabia o que iria pedir.

***

Peter desceu as escadas e foi comer um pedaço da torta de pêssego que a mãe fez especialmente pra ele.

— Está uma delícia mãe! – disse de boca cheia.

— Eu sou uma excelente cozinheira. – disse sorrindo convencida.

— E muito modesta. – Peter riu, dando ênfase no muito.

Mãe e filho riram juntos.

***

Norah não lembrava como a conversa tinha chegado a esse estado, mas lembrava do final da briga.

— Você tem que fazer uma faculdade decente filho!

— Eu sou um músico!

— Você não pode viver disso! Música não põe comida na mesa! Precisa criar responsabilidades!

— Eu estudo e trabalho mãe! Não me chame de irresponsável!

Os dois gritavam e Norah segurava as lágrimas como podia.

Peter também lutava contra as lágrimas. Odiava brigar com sua mãe.

— Você não pode viver de música! Precisa ser alguém! – Norah gritou sentindo uma lágrima escorrer pela sua face.

— Eu vou ser um grande guitarrista!

— E vai me abandonar? – Norah não mais conseguia controlar suas lágrimas.

— Por que você não consegue entender que EU NÃO SOU MEU PAI?

Num impulso, Peter pegou as chaves da moto e saiu na chuva.

— Não vá filho! – Norah correu desesperada, mas ele já estava indo embora.

— Peter!!!

A mãe caiu de joelhos no chão se encharcando cada vez mais com a chuva forte.

“Deus cuida dele!”

Tinha medo do que poderia acontecer. Seu filho nervoso, de moto, na chuva...

— Deus!!! – Norah gritou para o céu.

Ela decidiu que não ficaria parada. Pegou as chaves do carro e foi atrás do filho.

Ela não sabia pra onde ir então só seguiu a avenida movimentada. Mas, em um ponto, a avenida estava interditada. Uma fileira de carros se estendia por alguns metros e Norah viu uma moto caída no chão.

A moto de Peter.

Norah saiu do carro e correu em direção ao acidente. Peter já estava sendo colocado em uma maca e levado para ambulância.

— Peter!!! – a mãe correu até ele, mas foi impedida pelos médicos.

— Eu sou a mãe dele! Me deixa ver meu filho! – Norah estava em estado de pânico. Seu coração estava apertado e seus olhos ardiam de tanto chorar.

Os médicos embrulharam-na em um cobertor e a deixaram ir junto na ambulância.

Norah não largava a mão do filho que estava desacordado.

Os médicos faziam os primeiros socorros enquanto a ambulância “voava” em direção ao hospital. Após a massagem cardíaca, Peter abriu os olhos com dificuldade e viu sua mãe chorando ao seu lado.

— Mãe... – sua voz era muito fraca, quase um sussurro.

— Shh. Está tudo bem. Mamãe está aqui com você. – Norah tentava sorrir mostrando que tudo acabaria bem, mas as lágrimas teimavam em escorrer pelo seu rosto.

— Mãe... Eu estava voltando. Voltando pra você...

Norah chorava ainda mais. O médico lhe falou que seu filho sofreu o acidente, pois tentou fazer o retorno quando um carro o atingiu.

— Eu sei filho. Agora estamos juntos. - ela mal conseguia falar.

— Eu tenho um pedido...

Norah segurava a mão de Peter com força. Não o deixaria ir. Não permitiria.

— O que você quiser filho.

Ele respirou com dificuldade tentando manter-se acordado para aquelas últimas palavras.

— Eu quero que volte a tocar, mamãe.

— Você vai ficar bem e vou tocar pra você. Vou tocar...

— Eu te amo, mãe.

— Eu também te amo, filho.

Ela respondeu, mas o filho já tinha fechado os olhos. A máquina indicava zero batimentos cardíacos.

— Filho! Peter! – Norah apertava a mão dele com força, como se fosse impedir que ele fosse embora.

Os médicos tentaram de tudo, mas quando chegaram ao hospital, Peter já estava morto.

Os médicos tentavam controlar a mãe que gritava desesperada em meio ao choro

— Peter!

— Volta!

— Volta pra mim!

***

Todos já haviam ido embora e Norah ficou ajoelhada na frente do túmulo de seu filho, que se fora tão jovem. Ela chorava em meio à chuva, mas não ligava. Agora entendia o que seu filho sentia. A chuva tentava consolá-la e a acolhia.

Após algum tempo, Norah se levantou e foi andando para casa.

Seus pensamentos estavam confusos, pensava em seu filho morto e lembrava-se de momentos de sua infância.

“Quero que volte a tocar, mamãe.”

Norah começou a correr quando essas palavras vieram a sua mente.

Chegou em casa e se dirigiu para o sótão, sem se importar com os rastros que deixava pela casa.

Ela desceu as escadas e andou até o instrumento. Não tocava há 21 anos, mas Peter sempre fez questão de manter o piano em boas condições, aguardando pelo momento que sua mãe voltaria a tocar.

Norah abriu o piano e um pedaço de papel meio amarelado caiu no chão. Ela pegou e se surpreendeu com as letras infantis.

“Quero muito que volte a tocar, mamãe. Eu quero ser músico assim como você quando eu crescer. Quero que todos ouçam a música que toca no meu coração. Te amo mamãe.”

Ela leu e releu várias vezes.

Agora sabia... Peter se inspirava nela e não no pai. Ele nunca a deixaria...

Norah sentou e repousou o papel no colo. As lágrimas escorriam pela sua face pálida.

Seus olhos negros voltaram a brilhar quando tocou as primeiras notas. E, foi como se nunca tivesse parado de tocar.

O som da melodia preencheu seu coração e ela sorriu ao sentir que seu filho havia voltado pra ela.


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Notas finais do capítulo

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