POV Mel

A única coisa que eu queria fazer naquele momento era chorar. Não era certo separarem nós duas, já que desde o nosso nascimento nunca ficamos mais de dois dias longe uma da outra. Mas eu tinha que ser forte. Pela Ju. Ela era muito mais frágil do que eu, e sempre chorava por qualquer coisa. Juro, eu já vi minha irmã chorando por que quebrou uma unha. Terminar o colégio... Depois vem a faculdade, quem sabe se ela não quer fazer lá em Londres... O bom disso tudo é que eu iria realizar meu sonho de ir pra Toronto, sempre quis ir lá, desde que estudamos isso em geografia, e mamãe disse que tinha ido lá e achou maravilhoso, então tenho essa ideia na cabeça...

- Deveríamos ir falar com o diretor. Não está certo. – falei engolindo o meu choro.

- Sim, deveríamos. – Ju falou limpando as lágrimas e erguendo a cabeça. – Ele tem que nos ouvir.

E saímos em uma marcha um pouco lenta para o nosso normal. Íamos em direção à direção e suspirávamos lentamente já sabendo o que iria acontecer.

POV Ju

- Não. – o diretor falou repetidamente. – Será impossível – ele deu ênfase ao “impossível” – trocar o destino de vocês. E também, era o sonho de você, não é?

- Sim, mas não quer dizer que queríamos ir ao intercâmbio, separadas. – dei uma ênfase exagerada ao “separadas”. – Diretor, quebra nosso galho.

- Sinto muito Juliana, não posso. As inscrições já acabaram, e as vagas foram preenchidas. Mudar de destino apenas duas semanas antes da viagem seria um pouco de loucura.

- DUAS SEMANAS? – nós duas gritamos e nos olhamos.

 Não evitei uma lágrima cair do meu olho. E outra, e mais algumas 150 lágrimas brotaram, e eu percebi que eu tinha perdido o meu chão. Eram dezesseis anos juntas, e não seria fácil pra ninguém. Estávamos em maio, nossos professores tinham entrado em greve por incrível que pareça. Nossa escola é uma das melhores do país, e passamos QUATRO MESES sem ter aula nenhuma. E a volta as aulas, para alguns era uma despedida da galera, inclusive para nós duas. Voltamos para a aula, que agora era de Português, mudas, quietas e sem vida. Ingrid olhou pra mim, e veio me abraçar.

- Amiga tudo vai ficar bem. Você vai ver...

Eu dei de ombros e saí andando para a minha cadeira. Era incrivelmente ruim o suficiente ficar longe dela por algumas horas, quem pode prever como vai ser ficarem meses?

By MC