The Protective escrita por Katherine Targaryen


Capítulo 10
Evolução




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Era meia noite em ponto, as únicas pessoas acordadas no acampamento eram Nicole, Sarah, Brandon, Nathaniel, Jeremy e eu. Todos aguardando ansiosamente minha transformação, o silêncio no quarto não passava despercebido. Por pura maldição do destino, eu nasci exatamente às 4:56 da manhã, e de acordo com minha mãe foi um parto difícil e demorado.

Em vez de beber, comer alguns petiscos e talvez até ficar louca, meu aniversário estava sendo resumido no momento exato em que eu iria me tornar algo fora de meu conhecimento, iria nascer novamente e eu sabia disso, não seria mais como antes, não vou conseguir manter o controle. Sabendo disso, chamei meus amigos para me ajudar. Eu estava tensa, e me segurando para não chorar. Naquele momento eu só conseguia pensar em minha família, e nem ao menos podia falar com eles. Brandon estava sentado do meu lado segurando seu livro com força, assim como Jeremy. Sarah estava roendo suas unhas com ansiedade quando Nathaniel colocou sua mão em seu braço, e levemente foi tirando-a de sua boca. Nicole estava com a cabeça encostada no ombro de Jeremy, aguentando firme para não dormir ali mesmo, percebendo isso, resolvi descer até o refeitório para pegar comida.

Desci as escadas cuidadosamente tentando evitar qualquer tipo de barulho, a escuridão tomava conta de todo o local, Lostwood era terrivelmente assustadora à noite. O refeitório era aberto e ficava ao ar livre apenas com o teto cobrindo a parte de cima, porém isso era apenas de manhã. De noite, tudo era fechado cuidadosamente para que os animais da floresta não roubassem nossa comida. Antes que pudesse ligar minha lanterna ouvi um barulho e logo me escondi debaixo de uma das mesas. Eu estava com medo, então vi uma pequena luz amarela, e quando finalmente liguei a lanterna lá estava Alexander parado em frente a geladeira aberta.

Estranhei aquela cena então fui até ele:

— Alex? — Perguntei pousando minha mão em seu ombro.

Ele se assustou e logo fechou a geladeira com força, quando virou-se para me olhar-me só conseguiu ver a forte luz branca de minha lanterna, e talvez estivesse pensando que era um sonho:

— Violet? — disse colocando a palma de sua mão para cobrir seus olhos — Desliga isso.

— Tá bom — concordei desligando a luz da lanterna— O que você está fazendo aqui?

— O que você está fazendo aqui? — Sussurrou.

— Eu perguntei primeiro.

— Eu perguntei segundo.

— Eu estava com fome então vim pegar um pouco de comida, e você? — Expliquei.

— Isso é meio constrangedor...Eu não posso te falar, mas também não quero voltar para o meu quarto.

Eu estava curiosa, mas se ele não quis falar quando perguntei, pensei que talvez fosse melhor assim. Peguei o que eu tinha que pegar e convidei Alex para meu quarto, ele achou estranho mas foi mesmo assim. Não gosto da ideia de deixar alguém sozinho naquele refeitório de madrugada.

Entrei no quarto e Nicole estava sem sua blusa, assim como Sarah e Nathaniel. Eles estavam sentados formando uma pequena roda, e no meio estava uma garrafa. Nathaniel, envergonhado quando viu que eu os peguei de surpresa e que estava com Alexander, deu sua blusa para Sarah. Sem saber o que estava acontecendo, perguntei:

— O que é isso?

— É um jogo. E o que ele está fazendo aqui? — Ela perguntou apontando para Alexander.

— Ele estava no refeitório e não queria voltar para o seu quarto então o chamei para o nosso. — Respondi.

Olhei para todos e pude ver o olhar de vergonha nos olhos deles, no entanto, diferente do que eles possivelmente estariam pensando eu resolvi trancar a porta do quarto e juntar-me à eles, então perguntei como o jogo funcionava:

— Como funciona esse jogo?

Eles sorriram e Alexander sentou-se ao lado de Jeremy.

— Bem, você gira a garrafa daí quando uma ponta parar em você e a ponta oposta em outra pessoa, ela irá te perguntar algo e se isso for verdade você irá tirar alguma peça da sua roupa, caso contrário você continua e ela bebe um gole de vodka. — Sarah explicou.

Eu estava muito perturbada com o motivo de que seria minha transformação, e isso acabou me fazendo esquecer que acima de tudo era meu aniversário. Entendi que a intenção de meus amigos era me distrair um pouco e eles tinham um ponto, se eu ficasse relaxada talvez eu conseguisse controlar a transformação. Sentei ao lado de Brandon e girei a garrafa. Suas pontas estavam apontando para Sarah e Jeremy. Sarah perguntou para ele:

— É verdade que você já saía com Nicole quando ela e Alexander namoravam?

Ao ouvir essa pergunta, percebi que Alex estava desconfortável então olhei furiosa para Sarah. Eles eram irmãos, mas não tinham medo de desafiar ou deixar o outro nervoso.

— Sim. — Jeremy respondeu um pouco desapontado e tirou sua camisa, como se ele já não fosse acostumado com isso, logo em seguida girou a garrafa e anunciou: Nicole e Brandon.

— Brandon, você é virgem. — Nicole afirmou rindo.

Eu tentei segurar minha risada. Não tinha nenhum problema nisso, porém a forma que Nicole falou foi o motivo dos risos.

— Muito engraçado Nicole — Ele ironizou — sim eu sou.

Por algum motivo, fiquei feliz por ser verdade. Eu não sabia se estava animada por ele ser virgem ou por ele finalmente tirar sua blusa sem que esteja sujo de sangue alheio. Mas enquanto eu pensava nisso, ele tirava seus sapatos e todos ficaram indignados. Brandon girou a garrafa e anunciou:

— Nathaniel e Violet.

Olhei rindo para Nathan. Mas percebi que ele iria me perguntar e não ao contrário:

— Violet, você já tomou banho nua no lago.

— O que? Que tipo de pessoa faz isso? — Gargalhei e bebi um copo de vodka.

— Todo mundo já fez isso Violet, é tipo um ritual. — Sarah disse.

Eu não fazia a mínima ideia da existência desse ''ritual'', mas com certeza isso não havia afetado minha opinião sobre isso, é loucura e eu não iria fazer. Girei a garrafa e fiquei surpresa quando suas pontas pararam em Alexander e Brandon:

— É verdade que você ama Violet? — Alexander perguntou.

Fiquei tensa, no entanto Nicole e os outros estavam sorrindo e aguardando a resposta. Brandon pegou um copo de vodka e bebeu. Estava em silêncio por um longo período e me dei conta de que não tinha sido a única surpresa, os outros estavam olhando para Brandon enquanto eu estava tentando desviar meu olhar do dele. Não entendi porque isso havia me afetado tanto, tentei esconder minha decepção e sorri. No momento estava confusa dos meus sentimentos e provavelmente ele estaria também, tentei ser compreensiva quanto a isso, então peguei outro copo de vodka e propus um brinde. Era minha última noite como uma adolescente comum e eu queria muito aproveitar.

— Vamos brindar e beber até as 4:56. — Fingi não estar dando a mínima para isso.

— Tive uma ideia. — Disse Jeremy — Vamos para a cabana.

— Mas eu estou de pijama. — Murmurei.

— Não tem problema, é uma festa particular.

Todos concordamos e fomos até a cabana. No caminho inteiro não havia dito nada para Brandon e eu nem queria, porém tentei mostrar que tudo ainda estava normal entre nós.

Quando chegamos na cabana, Nicole colocou seu celular conectado na caixa de som e bebeu alguns copos de bebida, ela parecia tão relaxada e que realmente estava se divertindo. Sarah estava sentada nos degraus da cabana com Nathaniel e eu podia ver suas mãos dadas, eles pareciam felizes juntos mesmo que estivessem bêbados eu sabia que eles realmente se gostavam, no entanto antes que eles se beijassem e eu presenciasse aquela cena, Alexander me chamou para sentar ao seu lado. Olhei para Brandon e percebi que ele estava distraído e precisava de um tempo sozinho, então resolvi aceitar a oferta de Alex, era a hora perfeita para perguntar:

— O que aconteceu que você não quis voltar para o seu quarto?

— Você sabia que Tommy é gay? — Ele perguntou olhando em meus olhos.

— Bem...sim eu sabia — Afirmei — ele me falou sobre um ex-namorado dele quando ficamos juntos na aula de ''química''.

— Eu não sabia.

— E depois que descobriu não quis voltar para o quarto? Isso é bem idiota de sua parte Alex. — Falei nervosa.

— Calma, eu não fugi por isso...— Alex bebeu um grande gole da bebida — Ele me beijou.

Eu não estava esperando por isso. Tommy era tímido e Alexander sempre se mostrou muito interessado em garotas, por que motivo Tommy pensaria que Alex iria gostar de rapazes? Porém antes que eu pudesse continuar, ele completou:

— E eu estou confuso. — Ele sussurrou em meu ouvido.

Reconheci que seu batimento cardíaco estava acelerado e sua respiração ofegante. Ele parecia nervoso então aconselhei:

— Você deveria voltar e falar com ele, não tem nada de errado nisso. Eu quase beijei Brandon quando estávamos no pier e agora estou arrependida de não ter beijado-o quando tive a chance, não cometa o mesmo erro que eu cometi.

Alex me agradeceu, respirou fundo e foi até o centro de Lostwood para falar com Tommy, em seguida Nicole me chamou para dançar. Eu estava me sentindo frágil e sentimental, entretanto Nicole estava eufórica mas de uma maneira relaxante, talvez até relaxante demais. Eu abracei a ruiva e ficamos dançando juntas, porém ela não estava conseguindo ficar em pé, Jeremy e eu não conseguíamos segurar nossas risadas. Ele apoiou Nicole em seus braços e olhou para ela de uma maneira tão intensa que dali surgiu um beijo.

Preocupada, fui checar o relógio e só faltava uma hora para minha transformação. A música estava tocando e todos pareciam tão felizes. Nicole e Jeremy não paravam de se beijar e dançar, Sarah e Nathaniel estavam rindo e olhando o céu, o que na verdade era meio esquisito uma vez que no céu não tinha sequer uma estrela, mas isso não importava pois eles estavam felizes. Alexander estava resolvendo as coisas com Tommy e eu estava torcendo para tudo dar certo.

Fui correr na floresta sozinha, minha cabeça estava lotada de pensamentos e ideias mas eu não sabia o que fazer, como agir, o que falar, eu estava perdida. A floresta de Lostwood tinha algo de diferente, ela parecia abrir sua mente e te ajudar nos momentos mais difíceis, eu sentia como se estivesse em uma casa de infância onde todas as vezes que visitara sentia a sensação de aconchego, a floresta era fria mas isso chegava a me agradar, além de sempre estar iluminada pela lua. Comecei a pensar se eu iria correr do mundo algum dia, ou se eu já havia corrido e só não tinha percebido ainda.

Desde pequena eu me achava diferente e eu gostava de ser assim, mas percebi que sou tão normal quanto qualquer outro ser humano na terra, o mundo é como uma árvore e nós somos as folhas que a compunham, todas são exatamente iguais mas algumas vão morrendo e sendo substituídas tão rapidamente que nem ao menos conseguimos perceber a diferença entre uma e outra. Então para que continuar resistindo se você é só mais uma folha que pode ser facilmente substituída?

Enquanto eu caminhava e deixava meus pensamentos me guiarem, me assustei com o pássaro preto que estava na árvore. Eu não sabia o que a presença daquele corvo significava, porém eu estava começando a me acostumar e desenvolver uma certa afinidade com o animal de olhos vermelhos. Dizem que os olhos são a janela da alma, e eu nunca havia entendido essa frase até eu finalmente olhar no fundo dos olhos daquele animal que parecia ser tão comum e só mais um no meio de vários.

Quando olhei em seus olhos, senti um frio na barriga e uma mistura de sensações desconhecidas, de repente no lugar do corvo estava a garota das sombras. Ela tinha uma enorme semelhança comigo, porém seus olhos vermelhos ofuscavam o resto de seu rosto que era pálido e frio. Eu senti vontade de abraçá-la, mas não sabia porque. Algo me dizia que ela estava sofrendo, seus olhos gritavam de dor e mostravam o quanto aquela garota já havia sofrido, e eu estava sentindo tudo aquilo. Me senti encurralada e sem saber para onde ir, só depois percebi que estava imóvel e perdendo a força de minhas pernas, coloquei toda a minha dor em forma de lágrimas, chorei como nunca havia chorado em minha vida, fiquei devastada e fraca. Como algo tão bonito pode causar tanta dor e sofrimento? Como algo tão assustador pode ter uma beleza tão inexplicável como essa?

Eu não estava conseguindo ver nada além dos olhos cor de sangue da garota, e quando fechei meus olhos uma imagem familiar surgiu em minha mente. Minha tia Julia estava segurando a garota pelos braços enquanto ela tentava se soltar e gritava com toda a sua força vocal, na sua frente estava minha mãe com uma faca. Gritei para ela não fazer isso, mas logo percebi que eu não poderia fazer nada para impedir aquilo simplesmente já havia acontecido e toda dor que o corvo sentiu eu estava sentindo também:

— Por favor para com isso! — Exclamei — Por favor! Não, não! Para! — Eu estava chorando e sem entender o que estava acontecendo.

— Isso é para o seu bem, Olivia. — Meredith disse enquanto enfiava a faca em seu estômago. Senti toda a dor de Olivia, eu senti a sua morte, uma morte causada pelas mãos de minha própria mãe.

Depois disso, tudo havia ficado tão claro, eu sou a folha que substituíra Olivia. De repente perdi toda a consciência, e tudo o que me lembro é de ouvir meus amigos gritarem o meu nome:

— Violet!

— Bran...

Eu estava deitada nas raízes de uma grande árvore, sem poder me movimentar e com uma grande dificuldade para respirar assim como para reproduzir as palavras. Ele veio correndo em minha direção assustado e preocupado, pude perceber pela sua voz que algo não estava certo. ''Não, droga, não!'' ele exclamou. Senti sua mão um pouco abaixo de meu peito, quando ele tirou pude ver a grande quantidade de sangue que estava ali. Brandon tirou sua camisa e pressionou o sangue do meu corpo com a mesma. Lembrei que Julia havia me dito que em alguns casos o indivíduo pode não sobreviver a transformação, eu sabia que depois de mim outra folha iria vir e talvez uma mais forte. Toda aquela história sobre ver uma enorme luz branca quando está perto de sua morte, é mentira, pois a única coisa que consegui presenciar foi o dia em que nasci. Sem saber se aquele seria meu fim, disse a Brandon:

— É a segunda vez que você fica sem camisa com uma pessoa ensanguentada em seus braços, — Observei sorrindo, porém as lágrimas que caíam com pressa de meu rosto eram visíveis — tome cuidado para não virar rotina.

— Quem fez isso com você? — Ele perguntou chorando.

— Eu fiz isso comigo mesma.

Fechei meus olhos suavemente, sentindo a paz que estava a tomar conta de minha mente e corpo. Minha boca não podia falar mas meus ouvidos podiam ouvir, minha alma já não estava mais lá.


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