Par Perfeito escrita por Laura Penha, Leyha Nyah


Capítulo 4
Conflitos




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"Ele despertava nela monstros e fadas, talvez um pouco mais que isso. O fato é que ele despertava coisas que ela nem ao menos sabia que poderiam ser despertadas. Sentimentos eram apenas um dos pontos da lista."



Logo depois de sair do colégio, fui ao shopping. Não, dessa vez não para ser escravizada, mas para buscar amor em livros. Amor e comida, porque sem gordura está afetando o funcionamento do meu brilhante cérebro, coberto pela minha brilhante testa. Eu precisava de um conselho e ele era o cara dos conselhos, portanto Kakashi me aconselharia e, o mais importante de tudo, me alimentaria.

Quando cheguei a livraria achei estranho. Konan não estava no balcão, senti então meu estômago se revirar. Calma, verminhos, não é nada demais, acalmei como pude, quando eu chegar em casa alimento vocês. Respirei fundo. - Kakashi? - Perguntei baixinho enquanto começava a adentrar a fileira principal e ouvi um barulho vindo da sala de troços e destroços. - Kakashi?

– Sakura! Oi, tudo bem? - Ouvi-o gritar antes de escutar outras coisas caindo e corri para dentro da sala, tossindo todos os meus órgãos para fora logo em seguida. Estava um poeiral só. Procurei por algum rastro dele e o achei embaixo de uma pilha de caixas.

– Por Kami-sama! Você tá bem? Fui tirando caixa por caixa até encontrar um Kakashi cinza, virado de cara para o chão. - Consegue se levantar?

– Uhum.

Fiquei esperando e nada. - Caham! - Pigarreei. - Tem certeza que consegue? Você tem essa capacidade?

– Minha máscara caiu. - Ele falou baixinho.

– Ah, por favor, isso não é hora pra metáforas! - Nesse instante eu senti que uma, duas, três gotas se formaram na testa dele, mesmo que eu não as estivesse vendo. - Aaah, a máscara literal, não é? Então eu vou sair da sala enquanto você... Né?

Alguns segundos depois ele saiu com um lenço enrolado na cara. - Ela rasgou. - Respondeu dando de ombros.

Eu nunca tinha sido curiosa para saber qual era o rosto dele, ou mesmo o por quê dele usar a máscara e nunca tirar, mas naquele instante minha mão estava criando vontade própria. Eu queria muito saber. Será que ele tinha lábios muito grandes? Ou os dentes pra fora? Ou não fazia a barba? E se ele tivesse uma cicatriz? E se ele só fosse tímido?

– O que te trouxe aqui?

– Você é feio? - Ele ficou com cara de bunda e eu reformulei minha frase rapidamente: - Preciso de um conselho.

Contei a história pra ele. Toda ela. Indo do dia em que espanquei Sasuke na loja até o convite para a festa.

– Você fez bem. - E concluiu: - Tem comida de graça.

Eu não sabia se caia para trás ou ria loucamente, decidi fazer os dois. Ele não achou engraçado, pelo menos os seus olhos não demonstravam um só sinal de riso, por isso me recompus. Meu estômago embrulhou e eu pensei que Kakashi tinha mesmo razão quanto a comida de graça.

– Na verdade, - Ele começou - não só pela comida, mas também pelas amizades que você não tem. - Nesse ponto eu quis falar dos meus muitíssimos amigos, contei dez nos dedos, mas visto que dois eram a Ino e o Naruto e o resto eram meus vermes, desisti. - Viu? Você tem que se socializar e fazer coisas de adolescentes normais.

– Você acabou de me chamar de antissocial e de anormal. - Kakashi me encarou como se perguntasse "E você não é?".

Respirei fundo. É, talvez não fosse tão mal assim. Só uma festa, com pessoas, bebidas, Vakarins dançando na mesa... Talvez fosse até divertido.

– Você tem comida aí?

****

Na dúvida do que vestir, coloquei só uma calça jeans, uma sandália baixa e blusa branca. Eu em mais um dia quase normal da minha vida. Passei lápis de olho me controlando para não furar minha retina, fora o fato que segurei minhas lágrimas até o fim do processo e jurei para mim que nunca mais me daria o trabalho. Sim, nunca mais.

Vi que o dinheiro do ônibus, o celular e minha identidade cabiam perfeitamente no meu bolso de trás, assim a bolsa era um acessório absolutamente dispensável. Conferi o cabelo uma ultima vez e desci as escadas. Me encaminhei direto para a cozinha e procurei algo comestível para forrar o estômago no percorrer da agradável viagem de ônibus, não achei nada, exceto alface, frutas e coisas com o nome light na embalagem. Como eu disse, não tinha nada.

Fechei a geladeira insatisfeita.

Mamãe e suas dietas...

– Não sabia que você estava em casa.

Pulei para trás enquanto engolia o coração que tinha subido até a minha boca.

Tentei articular algumas palavras, mas nada saia. Estado de choque. A reação foi dele. Encheu um copo de água e me deu. Quando bebi tudo, finalmente consegui falar.

– Você é doido? - Hidan ria enquanto eu o encarava - Cadê minha mãe?

– Ela foi comprar uns lances aí pro jantar. - Minha mente repetiu "uns lances aí" até eu ficar zonza, a culpa integralmente da comida integral. Dali a pouco a fome seria tanta que eu morreria numa sarjeta pedindo esmola. Exagero? Não, nem um pouco.

– Eu vou sair, - Avisei - ela já sabe. Qualquer coisa meu celular fica ligado pra sempre.

Fiquei olhando fixo para ele. Eu realmente queria muito que ele se afastasse, que saísse da frente para que eu seguisse meu caminho. Ele se mantia estático no meio da passagem da porta, me observando.

– Caham! - Pigarreei, ele riu de novo. - Você pode... sabe? Sair da frente?

– Posso. - Mamãe, querida mamãe, acho que seu namorado é retardado.

– E você vai sair?

– Depende. - Ele deu um passo na minha direção e eu automaticamente dei dois pra trás. - Ei, calma! Eu não mordo. - Hidan chegou mais perto. Comecei a tentar lembrar os movimentos do Karatê Kid, mas só lembrava de tirar, colocar e pendurar casaco. Então o gongo me salvou. Bem, quase isso, senti meu celular vibrar no bolso e atendi imediatamente.

– Alô, mãe. - A cara dele ficou vermelha, rosa e depois branca - Não, tá tudo bem. Você já tá voltando? Ah, okay. Vou sair agora. Tchau.

Passei entre ele e a parede bem rápido e corri para a porta da frente. Ainda ouvi seus passos me seguirem, mas a corrida até a parada de ônibus deve tê-lo deixado paradinho na porta da frente. Provavelmente arranjaria algum modo de falar comigo depois, me ameaçar. Eu já podia ouvi-lo falando com um sorrisinho irônico no rosto, "ela não vai acreditar em você". E o que eu diria a ela?

Então, mãe, seu namorado maluco quase me estuprou na nossa cozinha enquanto eu procurava algo gorduroso pra comer. À propósito, suas dietas estão me matando.

Ino ligou perguntando o que foi aquilo, "depois eu te digo", respondi com a voz trêmula. Depois percebi que estava chorando.

De nada adiantou passar o maldito lápis de olho.

****

Cheguei rápido na festa. O portão da casa gigantesca estava aberto, logo no gramado se via o pessoal do colégio bebendo. A música alta só permitia conversa por leitura de lábios, pode ser que nem isso.

Avistei Ino rapidamente. Ela usava um vestido preto básico, mas a maquiagem não era nada básica, nem o salto alto. Esse era um dos dias em que estava vestida pra matar.

– Ino! - Levantei o braço e ela levantou também em resposta.

– Vamos lá pra dentro. - Ela gritou. Foi me arrastando pelo braço até dentro da mansão. O barulho lá dentro parecia menor, me deu certo alívio. Fomos até um balcão e pedimos bebidas. Para mim, um coquetel sem álcool; para Ino, Vodca.

– Tem certeza? - Perguntei pra ela. - Se ficar doidona não vai ser eu quem vai te levar pra casa.

– Hm. Como se eu precisasse... - E como se eu não fosse boba o bastante pra te levar, completei mentalmente. - Você pode me explicar a história agora? Por que me atendeu como se eu fosse sua mãe? - Depois da pergunta virou o copo e encheu outra vez.

Meus olhos foram analisando as pessoas ao redor. - Bonita festa. - Comentei - Sabia que eu nunca fui à nenhuma?

Ela revirou os olhos como se me dissesse que ia arrancar toda e qualquer informação, custe o que custar. Revirei os olhos em resposta por que eu sabia que ela conseguiria, só queria me tranquilizar um pouco e ter certeza do que tinha acontecido.

Ouvi meu nome sendo chamado, pensei até em abraçar quem quer que fosse por me livrar da conversa constrangedora e incomoda, mas desisti quando vi o sorriso do playboyzinho. Sasuke estava normal, assim como eu. Calça jeans, blusa azul clara e um sapato esporte muito caro.

– Se divertindo? - Sasuke perguntou.

– Muito. - Respondi apontando para Ino com os olhos, ela pedia seu quinto drink.

– Não vai dançar? - Nesse momento, vi várias possibilidades de ele me humilhar, uma delas era colocar minha secreta dança sensual na internet para envergonhar minha família pelos próximos séculos. Pobres tataranetos...

– Eu não danço.

– Dança, sim. - Ino desmentiu. - Muito bem. Aprendi a dançar com ela quando a gente era criança. - Meu olhar fuzilou Ino, claro, ela não sentiu, mas pelo menos eu senti o prazer de fuzilar alguém (mesmo só no pensamento).

– Qual é a desculpa agora? - Ele perguntou.

– Bem, por onde eu começo? - Coloquei a mão sob o queixo usando a pose do pensador - Eu te dei um soco, você quer se vingar, logo, você é meu inimigo. Por que eu dançaria com meu inimigo?

– Você veio pra minha festa.

– E dai? Não prova nada. Não confio. - Depois completei por meus vermes - Além disso, eu vim pela comida que eu não estou vendo.

– É muita importância pra uma vingança.

– Oh, é sério? Quem foi mesmo que disse eu vou transformar sua vida num inferno? - Perguntei imitando seu tom de voz na última parte - Quem é que está dando muita importância a uma vingança?

– Você tem a minha palavra que minha vingança não vai acontecer hoje. - Ele falou ao meu ouvido, por causa da música alta. Não foi uma tentativa de me seduzir. Definitivamente, não foi. Embora minhas pernas tivessem ficado bambas por alguns segundos e minha pele tivesse se arrepiado em resposta. Claro, a voz rouca e sua respiração em contato com meu ouvido não tiveram nada a ver com isso. Juro que quase senti seus lábios encostarem.

Caí em mim mesma rápido o bastante para reagir a sua última frase, que tinha sido... Bem, repassei a conversa na minha mente para lembrar em que parte estávamos, até que falei com meu melhor olhar desconfiado - Posso confiar na sua palavra?

Ele sorriu torto. Procurei algum traço de maldade ou ironia, não achei nada.

– Ótimo, agora que estamos em trégua, onde está a comida?

Expulsei o jovem monstro Sasuke assim que chegamos a mesa com sobremesas, ainda sentia os arrepios pelo quase contato. Em um de meus segundos de reflexão profunda quis retirar o quase da frase, quis contato, quis tão intensamente que afastei a ideia.

Você o odeia, meu cérebro recitou o trecho como a um poema, odeia mesmo.

Eu o odeio, aceitei obediente com o coração palpitando forte.

****

Depois de forrar meu estômago com deliciosas trufas de chocolate, sentei sozinha em um dos sofás vermelhos de veludo no grande salão. As luzes piscavam tanto que achei que teria um ataque epilético.

Lembrei de Ino, que já devia estar bêbada, tentando vender seu corpo em uma das ruas de Konoha ou subindo em alguma mesa para dançar.

Levantei e me pus a andar por entre a multidão. Vi o grupinho de amigos de Naruto dançando alegremente, cada um a sua maneira. Quero dizer, Rock Lee não dançava, fazia uma espécie de luta-ginástica, sua arte consistia em chutar o ar, fazer algum símbolo estranho com as mãos e girar. Shino nem se mexia. Shikamaru, eu nem sabia onde ele estava. Neji dançava com a prima, que obviamente ficava de olho em Naruto, este ficava de olho nela. Engraçado, o amor é correspondido, mas entendido como unilateral. Uh, frase bonita, sinto-me filósofa (anotando).

Todos param de "dançar" de repente e entre eles vejo Ino aos gritos com Sai. Claro, eu não estava ouvindo nada, sobressaia-se à briga o pop estridente das caixas de som. Parecia grave. Não hesitei em chegar mais perto para escutar e, quem sabe, tirar ela de cima dele caso uma briga começasse.

– Bom saber que foi "bom"! E daí? Foi só bom? Aí tudo acaba assim? - Sai olhava ao redor preocupado. Parecia não querer que vissem a cena. Ino percebeu e usou como arma. - Deixa ouvirem, é bom seus amigos saberem o quão cafajeste você é.

Ele segurou o braço de Ino e começou a puxá-la para longe, evitar os olhares era a prioridade de Sai. Como ninguém se movia diante da ação dele, eu mesma fiz alguma coisa. - Você não vai levar ela pra canto nenhum. - Me meti na frente dele.

– Não se intrometa. - Seu olhar me petrificou por um instante, depois me toquei que ele estava tentando me dizer o que fazer. Fiquei irada.

– Olha aqui, - Comecei - ela está bêbada, acha mesmo que vou deixar os dois sozinhos?

Ino gargalhou alto, descontroladamente - A gente já ficou sozinho. Na dispensa do colégio, lembra? - E então continuou rindo - É engraçado, por que - interrompeu a frase com outra risada forçada e sofrida - depois disso eu deixei de existir pra você.

Ino estava tão machucada, tão ferida, que eu quis descontar tudo no ser pálido e imbecil a minha frente. Só agora todas as peças se encaixavam, só agora tudo fazia sentido. Não sei o quão burra eu sou para não ter notado antes. Sai e Ino tinham tido algo bem mais intenso do que alguns beijos, pelo menos para ela foi intenso, para ele, só um joguinho.

– Vamos! - Ele continuou a puxa-la e eu puxei seu ombro com força. - Quer parar, vaca rosa?!

Então eu explodi. Rosada e testa de marquise, tudo bem. Vaca rosa era um novo e ofensivo apelido que liberava o pior de mim. Embora minha experiência com homens confirmasse que eles odiavam ser batidos por mulheres e sempre procuravam por vingança, dei um soco certeiro em seu nariz e ele quase caiu no chão. O sangue escorria incontrolável.

Acho que quebrei, ops.

Ino estava com o pulso livre, vermelho pela força que ele usou, mas livre.

Sai veio para cima de mim com a mão fechada, só aí é que Naruto, os garotos e também Sasuke, que não sei de onde brotou, tomaram alguma providência.

Seguraram Sai e levaram para longe.

Ino chorava compulsivamente.

****

Ela está melhor? - Naruto veio perguntar depois. Ela estava deitada com a cabeça em meu colo, dormia profundamente. Confirmei com a cabeça.

Eram duas da manhã, a festa estava acabada. Agora estava na sala só o grupo que tinha presenciado toda a cena de antes. A música tinha acabado, as luzes estavam acesas e a conversa era quase inexistente. Um ou outro comentava que sacana Sai havia sido, e o assunto acabava. Tinham medo que Ino ouvisse em seus sonhos.

– Sakura. - Sasuke chamou pelo que me pareceu ser a segunda vez - Não se cansa de sair espancando todo mundo?

Eu sorri - Só espanco quem merece. Tipo playboyzinhos em lojas de sapato e safados que magoam minha amiga. - Dei de ombros.

– Toma. - Me ofereceu uma bolsa de gelo, fiquei confusa. Só depois ele apontou para a minha mão e eu pude ver que estava roxa e levemente inchada. Aceitei a bolsa com prazer e coloquei sobre a mão, comecei a sentir toda a dor que eu não senti na hora.

– Ótima vingança - murmurei cerrando os dentes.

– Como vocês vão voltar? - Hinata perguntou, interrompendo nosso momento de amigos-do-peito. Era a primeira vez que se pronunciava desde que a tinha visto.

– Eu levo vocês. - Sasuke se ofereceu.


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