Par Perfeito escrita por Laura Penha, Leyha Nyah


Capítulo 1
Fim da paz


Notas iniciais do capítulo

AVISOS:
— Antes de tudo me sinto na obrigação de dizer que eu demoro a postar, mas quando postar vou fazer capítulos mais longos
— A categoria principal é comédia
— Sem plagio, né galera? É feio e ninguém gosta.
— Os personagens de Naruto pertencem a Masashi Kishimoto, etc.
Boa leitura, minna ;*



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A vida me ensinou muitas lições, mas eu, como a idiota otária que sou, sempre acabo aprendendo depois de errar quatrocentrilhões de vezes. As lições mais importantes que levo comigo a todo momento são: Soprar a comida quente antes de comer, que aprendi depois de muito queimar minha língua; e parar de me apaixonar tão facilmente.

Às vezes acho que minha mãe me deixou cair de cabeça quando era bebê. Só assim pra eu sofrer tantas desilusões amorosas. Teve aquela vez no jardim de infância, aquela na alfabetização, no parquinho aqui perto de casa e até no consultório do dentista. Já tentei até ir a um psicólogo pra ver se isso era normal, mas quando entrei na sala e vi aqueles olhos enormes e verdes me encarando curiosos, lindos, desisti.

Deve ser culpa ou da internet ou da genética.

Bem, tenho muito orgulho em dizer que em dois anos depois que entrei no ensino médio não me apaixonei por ninguém e espero continuar assim.

Quero dizer, dói muito ser rejeitada, mas meu medo parece que ultrapassou as fronteiras da rejeição. As pessoas se aproximam de mim na melhor das intenções e eu saio correndo para as colinas. Não sei nem se consigo manter uma conversa saudável com alguém sem começar a embolar, gaguejar, inventar ou inverter palavras.

- Sakura. – Era Ino me chamando durante a aula de história. Me virei discretamente e movi os lábios perguntando um “que foi?”.

- Alguma coisa a adicionar a aula, Haruno? - É incrível como as coisas são, foi só eu abrir a boca e o professor Asuma se teleportou para o meu lado.

- Você não gosta nada de mim. – murmurei, mas depois de ver a cara de bunda que ele fez balancei as mãos meio sem jeito e amenizei a voz. – Não, professor.

Ele continuou com a mesma cara antes de se dirigir ao quadro outra vez e começar a escrever coisas que eu nem sabia que tinham acontecido, já que eu não tinha nascido quando aconteceram.

História é interessante, porém inútil (mas caso você esteja lendo minha mente agora, professor, eu amo história).

- Sakura. – ouvi outra vez, mas fiquei bem quietinha, assim a culpa seria toda dela. – Me dá uma força com as matérias?

- Tsc. – outra vez o professor Asuma se virou e me encarou, e então voltou a escrever com o pincel azul coisas incompreensíveis. Aliás, ele é mesmo incompreensível. Só implica comigo.

Chouji, do outro lado da sala, come aquelas malditas batatinhas crocantes sem parar. Karin fica apertando o sutiã para fazer os pequeninos e quase inexistentes peitos dela chamarem a atenção de alguém.  Shikamaru dorme profundamente em todas as aulas, mas consegue ter as médias tão altas quanto as minhas. Naruto... Bem, fica irritando o Neji de todas as formas possíveis, o que talvez seja seu jeito de chamar a atenção de Hinata, que por outro lado passa a aula vermelha. Shino alimenta as formigas de estimação. Rock lee fica mandando beijinhos para mim durante a aula. Eca.

Ninguém tá interessado em saber esses garranchos escritos no quadro, por que, no final, todos acabam pescando tudo de mim. Então, a não ser que você seja professor de história ou guia turístico, isso será inútil na sua vida profissional.

Quando acabou a aula suspirei aliviada, enfim paz.

- Sakura, você não me respondeu.

E a paz acaba... – Tudo bem. Eu ajudo. – Respondi, mesmo sabendo que as provas já começavam daqui a dois dias.

*****

Marquei a última questão do gabarito e saí da sala.

Depois de um final de semana tentando explicar a Ino o que era uma equação do segundo grau. Depois de cinco dias de provas longas e cansativas estávamos ansiando por férias (sim, ansiando, por que eu tenho uma estranha atração por palavras difíceis).

Ino saiu saltitando tal qual uma gazela. – Eu consegui! Caramba, eu consegui! A gente tem que comemorar, cérebro mágico.

- Hoje não dá. Vou ajudar minha mãe na loja.

Minha mãe tem uma loja de sapatos no shopping e eu meio que sou uma das “contratadas”, entre aspas por que eu não recebo absolutamente nada. Ela chama de trabalho voluntário, mas eu sei que “trabalho escravo” seria bem mais apropriado, só falta as chicotadas. Como agora eu entraria em férias, minha mãe não largaria nem um pouquinho do meu pé. (Entendeu? Largar do pé, loja de sapatos. Oi.)

- Sua mãe tem que te dar um descanso, sabia? Já pensou em cobrar seu salário?

Kami-sama, me dê paciência, por que se me der força, não vai prestar. – Sabe que eu não tinha pensado nisso ainda?

Fomos caminhando até a saída quando vimos embaixo da árvore os garotos, em especial Sai, que não parava de olhar para nós. Eu sabia da queda de mais de trinta metros que Ino tinha por ele, então dei um sorriso para ela.

– Você acha que eu... Você sabe...

- Vai lá. Ele te encara direto.

Ela olhou meio sem jeito para mim e depois para o grupo de garotos. – Vem comigo? – Pediu. Depois explicou – Eu não tenho um pretexto, mas você é amiga de infância do Naruto. É motivo mais que suficiente, né?

Forcei um sorriso. Era incrível a habilidade manipuladora dela. Se eu não fosse tão solitária, se ela não fosse a única a falar comigo... Arg!

Me vi caminhando até eles. Naruto logo gritou meu nome e acenou loucamente, enquanto as pessoas paravam e olhavam a cena. Baixei minha cabeça na esperança de que a vergonha fizesse minha franja adquirir propriedades mágicas que me permitissem ficar invisível.

Acho que não funcionou por que logo senti um abraço apertado me envolver.

Droga de saga Harry Potter.

- Sakura-chan! – E Naruto só fungava no meu pescoço. Senti a meleca quente encostar na minha pele. Eca.

- Oi, Naruto. – Olhei para Ino e ela estava quase escrevendo uma plaquinha dizendo “PUXE ASSUNTO, SUA ANTISSOCIAL!”. – Então, como foram as provas?

- Bem, eu acho.

- Recuperação?

- É. Sim. Aham.  Com certeza. – Esse era o Naruto que eu conhecia. Pra falar a verdade fazia pouco mais de dois meses que eu não tinha uma conversa decente com ele.

- E ela? Você já... – Com isso até o Shikamaru abriu os olhos e se levantou pra escutar melhor.

Neji se meteu na conversa – Ela?

- Como você esconde essas coisas – Começou Gaara com um olhar mortal – dos seus amigos? – Quando são amigos normais faz sentido contar as coisas, mas fala sério, ele tatuou a palavra amor na testa, o que só pode significar duas coisas: ou uma aposta perdida ou uso de drogas (talvez os dois).

- Hehehe. Que é isso, gente? Não tem ninguém.

- Ninguém, é? – Perguntei inocentemente. – Mas você tinha me dito que gostava muito da-

Naruto voou pra cima de mim e nós dois caímos no chão, ele por cima de mim. Depois ouvimos a risadas de todos ao redor e ele sorriu maleficamente. – Quer que eu conte pra todo mundo dos seus romances frustrados?

- Não. Você não faria isso, por que você é meu melhor amigo, e você quer o melhor para mim e não quer me ver sofrer bullying igual acontece nas escolas norte-americanas. – provavelmente essa foi a maior frase que eu já pronunciei. Respirei fundo e então dei um sorriso torto.

Levantamos. Lá longe pude ver Hinata observando a cena. Droga, se tivesse algum jeito de dizer que a gente é só amigo sem parecer idiota. Pensei em gritar “OÊ, MEU AMIGO TE AMA!”, mas ela já tinha dado meia volta.

- Conta, Sakura. – Eles insistiam.

- Vocês querem mesmo saber? – Sorri e continuei. – Ela é bem peludinha, branca e pequenininha. – Dei uma pausa vendo suas caras de interrogação. - Naruto gosta muito da Cookie.

- Pera, - Neji falou – Cookie é um cachorro?

- Cachorra. – Corriji. – Naruto a ama com toda a sua vida, vive passeando com ela pra cima e pra baixo, compra até brinquedinhos. – Naruto estava sem graça e eu continuei - Eu pensava que vocês sabiam.

Todos reviraram os olhos e começaram a procurar outra coisa interessante para falar, tipo as folhas da árvore, as nuvens do céu, a graminha verde e os peitos da diretora Tsunade.                

- Tenho que ir embora. Você vem Ino? – Virei-me e ela já não estava lá. Procurei o Sai também, mas ele tinha sumido. Então depois de alguns cálculos complicados em provável nível de faculdade presumi que eles estivessem juntos. Era isso que ela queria, mas senti que alguma coisa ali estava muito, mas muito errada. Mesmo assim fui embora.                

Depois de trinta minutos de superlotação pude respirar aliviada e entrar naquele grandioso shopping. Antes de começar o inferno dos sapatos de grife, parei em frente a uma livraria. Era costume meu comprar um livro novo toda semana, nem que fosse só um guia turístico barato. A garota do balcão, Konan, acenou para mim. Procurei por Kakashi, já que era ele quem sabia de todos os livros que chegavam e saiam na loja, além disso ele é um exímio conselheiro para qualquer situação e, como já acabava o ano, eu iria fazer meu pedido no templo. Aí vem a pergunta: O que pedir?                

Passei o dedo pela estante de livros de romance policial e em seguida conferi: nem um pouquinho de poeira. Kakashi zelava por cada centímetro e eu, em três anos de visitas semanais, nunca vi um único livro com a capa amarelada.                

- Procurando algum em especial?                

Me virei e sorri. Ele estava sentado numa cadeira, logo no fim do corredor lendo um livro que eu presumo ser erótico, já que nenhum livro de respeito teria a palavra “amasso” e a figura de um casal de agarrando na frente.                

- Tem algum novo?                

A máscara tampava seu rosto, mas eu o imaginei sorrindo. – Sim. Você vai gostar.                

Ele deu um salto repentino da cadeira e foi para a “sala de troços e destroços”, como ele chamava. Voltou rápido, trazendo um embrulho vermelho nas mãos.               

- Adivinha.               

- Um livro? – Perguntei sorrindo amarelo.                

- Por que você acha isso? Só por que estamos em uma livraria e nós dois gostamos de ler? – Eu devo ter ficado com uma expressão bem assustada, por que ele começou a rir. – Você acertou. Mas esse é um livro especial.                

- Especial? – Estendi as mãos para pegar o embrulho e assim que as mãos dele saíram de cima eu rasquei o papel de presente e então vi por que era tão especial. – Você publicou? Caramba, você publicou! – “Flor de menina” era o nome no livro e logo abaixo “Kakashi Hatake” indicava meu amigo.                

- E esse é o primeiro exemplar. – Eu devia estar com os olhos cheios d’água.              

  - Vai autografar pra mim?               

- Já fiz isso, - eu ia olhar no mesmo instante, mas ele segurou minha mão. – Prefiro que você olhe depois.               

- Ãnh? – Olhei para o livro e depois para ele. – Por que?                

- Eu escrevi pensando no que ela não viveu, é o que eu desejo que você viva. – Eu sabia muito bem de quem estava falando. “Ela” era sua filha de cinco anos que tinha sido morta em um acidente de carro há oito anos atrás. Ayame.                

Kakashi, de um modo ou de outro, quando comecei a vir aqui ele me adotou como filha e eu, a ele como pai, já que nunca conheci o meu.                

Abracei o livro contra o peito. Meu coração estava inconstante e minhas lágrimas não saiam de meus olhos por bem pouco. – Não é um livro tarado, né? – Minha voz estava trêmula, mas ele pôde identificar algum traço de brincadeira e sorriu.                

- Não.                

- Também tenho um presente pra você. Eu ia dar só no ano novo, só que já recebi o seu, então... – Tirei da bolsa um globo que eu mesma tinha produzido no grupo de artes. Dentro eu fiz uma espécie de miniatura dele, de mim e de como seria Ayame. Cerejeiras ao redor e quando balançava o globo caiam pequenos floquinhos cor-de-rosa, representando as flores das árvores caindo. – Toma.               

Ele recebeu o presente e ficou encarando fixamente o globo. – Sua mãe não vai brigar se não chegar logo? - Eu fingi estar surpresa e corri para fora da livraria. Sabia que ele estava emocionado, não queria tomar dele essa saudade pela filha perdida.                

Cheguei a loja atrasada e vesti a farda vermelha com o nome ”Haruno Shoes” escritos em letras garrafais. Prendi meu cabelo longo em um coque e fui em direção ao balcão.               

- Atrasada.                

- Oi, mãe. Boa tarde. – Respondi sorrindo enquanto observava ela cruzar os braços em reprovação. Claro que eu vou chegar cedo no lugar onde trabalho feito louca e não sou remunerada. – Superlotação. – Falei dando de ombros.                

- Vá atender os clientes, querida. E se lembre das regras.            

Ah, as regras. Se tinha algo que eu odiava eram as regras de atendimento ao cliente. Temos que ser educados ao extremo, estar sempre sorrindo e dizer bem-vindo toda vez que um cliente entre, mesmo que ele fique entrando e saindo sem parar. Além disso, segundo as regras o cliente é quase Kami-sama. E isso tudo me leva a crer que vendedor é a segunda pior profissão, perdendo apenas para professor de história.                

Fui para a frente da loja e fiquei esperando alguém entrar, até que um garoto da minha idade, talvez mais velho, parou na minha frente. Ele tinha os cabelos bagunçados e olhos escuros, embora parecesse relaxado e largado parecia ser só mais um playboyzinho filhinho de papai.

Me curvei. – Boa tarde, senhor. – Sorri.                

Estava indo tudo bem, eu achava, até que o idiota passou por mim, não me deixando alternativa senão segui-lo. – Posso ajuda-lo?               

- Sim, traga sapatos.                

- Sociais ou-                

- Aqueles com laços pra amarrar.                

- Alguma preferencia por cor, senh-                

- Faça seu trabalho, porra.                

“Sorria”, diziam as regras. “Apesar de tudo, sorria”, “O cliente sempre tem razão”. Fui para onde estava o estoque da loja e peguei cinco dos melhores pares e levei-os enfileirados na minha frente. Eu mal enxergava, mas consegui chegar até a poltrona em que ele já estava alojado.               

Só em ver os sapatos ficou com a cara estupefata. – Eu disse pra fazer o seu trabalho.                

- Eu fiz, senhor. Trouxe os melhores sapatos da loja. – Eu tinha elevado um pouco minha voz e as pessoas começaram a me encarar. – Me desculpe.                

- Depois desse comportamento você ao menos devia calçar o sapato nos meus pés.                

Era muita humilhação pra um dia só. Peguei uma caixa de sapato e joguei em seu colo. – Pra que serve suas mãos se você não usa?

- O que você disse? – Ele perguntou com um sorriso estampado nos lábios, nesse instante eu soube que eu, mesmo sendo quem sou, posso odiar alguém.

- Daqui a pouco até frauda sua vou ter que trocar. – E o sorriso cínico continuava lá, zombando de mim. – Olha, - Coloquei o sorriso no rosto outra vez – senhor, se o senhor estiver aqui só pra me fazer perder a paciência, parabéns, você conseguiu. Mas se não for comprar nada, saia logo desse estabelecimento antes que eu chute sua bunda.

- Você? Chutar minha bunda?

- Duvida?

Quando ele me mostrou aqueles dentes de novo, fechei meu punho e bati com toda minha força na sua cara. Ele caiu no chão e passou um tempo sem reação. Ouvia murmúrios por toda parte. Não dava nem cinco segundos pra minha mãe chegar, por isso peguei ele pelo braço e o obriguei a me seguir até lá fora. Deixei-o sentado na praça de alimentação e pedi ao senhor Ichikaru, da lojinha de ramen, me arranjar uma sacola com gelo.

- Toma. – Ofereci ao imbecil que ainda estava desnorteado. Ele colocou na bochecha, perto do canto da boca. Queria ter acertado no olho, mas ele é mais alto que eu, então teria sido mais complicado. – Tá bem? – Perguntei balançando a mão na frente do seu rosto.

- Sim, você não bate tão forte.               

- Hahaha, engraçadinho. – Dei meia volta e fui para a sapataria, onde minha mãe com certeza estaria esperando alguma explicação. O lado bom é que ela é minha mãe, então vai me perdoar, e o outro lado bom é que nunca, jamais, vou ver aquele garoto outra vez na minha vida.


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Notas finais do capítulo

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